segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Simão Gomes

Teria nascido por volta de 1510 na aldeia do Marmeleiro, termo de Tomar e aprendeu com o pai a arte de sapateiro. Autodidacta, instruiu-se e cultivou-se devido à grande inteligência que possuía. Muito sabedor em tudo o que dizia respeito à religião, era um homem cheio de virtudes. Segundo a tradição, fez muitas profecias que se realizaram e daí ser conhecido pelo “Sapateiro Santo”.

Contemporâneo do Infante D. Luís, pai de D. António, Prior do Crato, do Cardeal Infante D. Henrique, mais tarde Rei de Portugal e do Rei D. Sebastião, foi muito considerado por eles, principalmente, por D. Sebastião que o chegou a ouvir em Conselho.

Era pessoa tratada com muito respeito e provas de estima.

Consta que D. Sebastião, indo em dia de grande solenidade à igreja de S. Roque, o meteu consigo dentro da cortina, o que só competia aos filhos e irmãos dos reis.

Sempre que podia esquivava-se às provas de estima com que o queriam presentear nunca pretendendo distinções e honrarias. Preferindo sempre viver na humildade com que nasceu.

Aos treze anos estava em Setúbal servindo o Duque de Aveiro e foi nesta altura que começou a revelar as suas tendências proféticas, pois parecia que uma voz falava por ele.

Veio a fixar-se em Évora, certamente, protegido pelo Cardeal Infante D. Henrique e lá se instala com a sua tripeça de sapateiro. Também é lá que arranja companheira.

Durante a estada em Évora, morando numa casa debaixo do Aqueduto da Prata, foi durante esse tempo guarda da Universidade daquela cidade.

Existindo alguma atribulação devido ao casamento, o cardeal-infante que o estimava convidou-o a mudar a sua residência para Lisboa. Aceite o convite, estabeleceu-se na Rua Larga de S. Roque, nas proximidades do Colégio da Companhia de Jesus e apesar de ter sido “nomeado” por D. Henrique enfermeiro dos seus criados, continuou a trabalhar na sua arte de sapateiro para os mais desfavorecidos. Simão Gomes acabou por pedir escusa daquelas funções e em compensação o Cardeal nomeou-o seu escudeiro e sapateiro pessoal.

Como a peste grassava em Lisboa, o sapateiro-santo procura refugiar-se em Punhete com sua mulher, mas não o deixaram entrar devido ao perigo de contágio, ele ou a companheira podiam vir afectados e por isso ficaram dez dias de quarentena.

Estando El-Rei em Tomar e desejando ir para Almeirim, os moradores de Punhete fizeram uma ponte de barcas no rio Zêzere por onde passou El-Rei e toda a fidalgia que o acompanhava e mais gente e foi então agasalhar-se nas Casas Nobres que possuía junto ao Tejo e que agora eram de D. Francisco de Sande, o que muito satisfez o rei.

Sabendo do conceito que o rei tinha por Simão Gomes, rogaram-lhe que pedisse a Sua Majestade que por sua mercê fizesse aquele lugar em vila pois tinha condições para isso.

Em comitiva e com Simão Gomes à frente, dirigiram-se à residência provisória do rei e quando este o viu demonstrou muita alegria e disse-lhe: “Aqui estais Simão Gomes?” e Agradeceu a toda a comunidade o que fizeram pelo séquito real e perguntou-lhe se o queria ir ver a Almeirim ou se queria dele alguma mercê.

Beijando-lhe as mãos, o sapateiro-santo não se fez rogado e disse-lhe: “Senhor, este lugar de Punhete é quase todo de meus parentes, e me agasalharam aqui, assim eles como a mais gente, com muita caridade por amor de Deus, pois vim como peregrino e faça-me Vossa Alteza mercê de querer, e mandar que daqui em diante seja vila e deixe se ser aldeia. Em resposta El-Rei disse:”Quero, mando que Punhete seja vila, com todos os privilégios, que por este título lhe pertencerem, e se lhe passe logo a provisão deste mercê, que Simão Gomes me pede”.

Alberto Pimentel refere que isto se teria passado em 1569, mas a verdade é que a elevação a vila teve lugar em 30 de Maio de 1571.

Entre outras profecias, são atribuídas a Simão Gomes a derrota de Alcácer-Quibir, a morte de D. Sebastião, o domínio espanhol e a restauração com a aclamação de D. João IV.

Faleceu a 18 de Outubro de 1576 aos 60 anos de pedra na bexiga e foi sepultado na igreja de S, Roque.

_______________________________________________

Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937-40, Director-Editor, Abel da Silva, 1940.

Portugal Antigo e Moderno, Dicionário (...) Augusto Soares d` Azevedo de Pinho Leal, Vol IX1880, p 572.

Ribatejo, Casos e Tradições – II Vol." de Francisco Câncio.

Do texto adaptado do original de Manuel Carvalho Moniz, in Dominicais eborenses. Évora: Câmara Municipal de Évora, 1999, (Col. Novos Estudos Eborenses, 4), p. 128.