Teria nascido por volta de 1510
na aldeia do Marmeleiro, termo de Tomar e aprendeu com o pai a arte de
sapateiro. Autodidacta, instruiu-se e cultivou-se devido à grande inteligência
que possuía. Muito sabedor em tudo o que dizia respeito à religião, era um
homem cheio de virtudes. Segundo a tradição, fez muitas profecias que se
realizaram e daí ser conhecido pelo “Sapateiro Santo”.
Contemporâneo do Infante D. Luís,
pai de D. António, Prior do Crato, do Cardeal Infante D. Henrique, mais tarde
Rei de Portugal e do Rei D. Sebastião, foi muito considerado por eles,
principalmente, por D. Sebastião que o chegou a ouvir em Conselho.
Era pessoa tratada com muito
respeito e provas de estima.
Consta que D. Sebastião, indo em
dia de grande solenidade à igreja de S. Roque, o meteu consigo dentro da cortina,
o que só competia aos filhos e irmãos dos reis.
Sempre que podia esquivava-se às
provas de estima com que o queriam presentear nunca pretendendo distinções e
honrarias. Preferindo sempre viver na humildade com que nasceu.
Aos treze anos estava em Setúbal
servindo o Duque de Aveiro e foi nesta altura que começou a revelar as suas
tendências proféticas, pois parecia que uma voz falava por ele.
Veio a fixar-se em Évora, certamente, protegido pelo Cardeal
Infante D. Henrique e lá se instala com a sua tripeça de sapateiro. Também é lá
que arranja companheira.
Durante a estada em Évora,
morando numa casa debaixo do Aqueduto da Prata, foi durante esse tempo guarda
da Universidade daquela cidade.
Existindo alguma atribulação
devido ao casamento, o cardeal-infante que o estimava convidou-o a mudar a sua
residência para Lisboa. Aceite o convite, estabeleceu-se na Rua Larga de S.
Roque, nas proximidades do Colégio da Companhia de Jesus e apesar de ter sido “nomeado”
por D. Henrique enfermeiro dos seus criados, continuou a trabalhar na sua arte
de sapateiro para os mais desfavorecidos. Simão Gomes acabou por pedir escusa
daquelas funções e em compensação o Cardeal nomeou-o seu escudeiro e sapateiro
pessoal.
Como a peste grassava em Lisboa,
o sapateiro-santo procura refugiar-se em Punhete com sua mulher, mas não o
deixaram entrar devido ao perigo de contágio, ele ou a companheira podiam vir
afectados e por isso ficaram dez dias de quarentena.
Estando El-Rei em Tomar e
desejando ir para Almeirim, os moradores de Punhete fizeram uma ponte de barcas
no rio Zêzere por onde passou El-Rei e toda a fidalgia que o acompanhava e mais
gente e foi então agasalhar-se nas Casas Nobres que possuía junto ao Tejo e que
agora eram de D. Francisco de Sande, o que muito satisfez o rei.
Sabendo do conceito que o rei tinha por Simão Gomes,
rogaram-lhe que pedisse a Sua Majestade que por sua mercê fizesse aquele lugar
em vila pois tinha condições para isso.
Em comitiva e com Simão Gomes à frente, dirigiram-se à
residência provisória do rei e quando este o viu demonstrou muita alegria e
disse-lhe: “Aqui estais Simão Gomes?” e Agradeceu a toda a comunidade o que
fizeram pelo séquito real e perguntou-lhe se o queria ir ver a Almeirim ou se
queria dele alguma mercê.
Beijando-lhe as mãos, o sapateiro-santo não se fez rogado e
disse-lhe: “Senhor, este lugar de Punhete é quase todo de meus parentes, e me
agasalharam aqui, assim eles como a mais gente, com muita caridade por amor de
Deus, pois vim como peregrino e faça-me Vossa Alteza mercê de querer, e mandar
que daqui em diante seja vila e deixe se ser aldeia. Em resposta El-Rei
disse:”Quero, mando que Punhete seja vila, com todos os privilégios, que por
este título lhe pertencerem, e se lhe passe logo a provisão deste mercê, que
Simão Gomes me pede”.
Alberto Pimentel refere que isto se teria passado em 1569,
mas a verdade é que a elevação a vila teve lugar em 30 de Maio de 1571.
Entre outras profecias, são atribuídas a Simão Gomes a derrota
de Alcácer-Quibir, a morte de D. Sebastião, o domínio espanhol e a restauração
com a aclamação de D. João IV.
Faleceu a 18 de Outubro de 1576 aos
60 anos de pedra na bexiga e foi sepultado na igreja de S, Roque.
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Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937-40,
Director-Editor, Abel da Silva, 1940.
Portugal Antigo e Moderno, Dicionário (...) Augusto Soares d`
Azevedo de Pinho Leal, Vol IX1880, p 572.
Ribatejo, Casos e Tradições – II Vol." de Francisco Câncio.
Do texto adaptado do original de Manuel Carvalho Moniz, in
Dominicais eborenses. Évora: Câmara Municipal de Évora, 1999, (Col. Novos
Estudos Eborenses, 4), p. 128.