Reinaldo dos Santos nasceu a 3 de Dezembro de 1880 na Rua
das Varinas, em Vila
Franca de Xira, filho de Clemente José dos Santos e de D. Maria
Amélia Pinheiro dos Santos e neto paterno de Clemente José dos Santos, Barão de
S. Clemente, faleceu aos 89 anos, mais precisamente a 6 de Maio de 1970, em
Lisboa.
Seu pai era um conceituado médico em Vila Franca de Xira e
Reinaldo era o mais novo dos seus cinco filhos.
Termina os estudos primário e secundário na sua terra natal
e matricula-se em Lisboa em Medicina no ano de 1898, curso que conclui e, 1903
com 13 valores. Destaca como Professores Carlos Tavares e José Gentil
considerando os outros muito autoritários. Ainda apanha como Professor Ricardo
Jorge, transferido do Porto, este teria sido para ele o modelo de Professor.
Vai, entretanto, para Barrancos ocupar o lugar de médico
municipal, onde se encontrava um grande amigo da família, que confrontado com a
desilusão do jovem médico resolve conceder-lhe uma verba para estagiar em
França e a partir daí nunca mais parou.
Vai para Paris fazer o estágio em clínicas conceituadas e no
mesmo âmbito visita Clínicas em Bóston, Chicago, Filadélfia e Nova Iorque,
entre outras.
Em 1906 defende Tese de Doutoramento com Aspectos cirúrgicos das pancreatites
crónicas.
Ao nascer-lhe o 1º filho em 1907, não esqueceu de homenagear
o seu mecenas, João Afonso de Carvalho, dando-lhe o nome de João Afonso Cid dos
Santos.
Regressado a Lisboa dedica-se à sua maior paixão, a cirurgia,
sendo cirurgião dos Hospitais Civis de Lisboa.
Concorrendo a Professor Extraordinário da Faculdade de
Medicina de Lisboa em 1908, é aprovado no concurso em mérito absoluto.
Em 1910 dá um Curso Livre de Urologia no Hospital do
Desterro apresentando o seu novo aparelho e método de uroritmografia.
Estagia nas principais clínicas europeias e é nomeado Membro
da Associação Francesa de Urologia, o que acontece também com a Associação
Alemã.
É vastíssima a sua actividade no país e no estrangeiro,
limitamo-nos apenas a referir algumas mais ligadas ao nosso país.
Vice-Presidente da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa e
mais tarde seu presidente. Esteve em França, na 1ª Guerra Mundial, como
cirurgião nos Hospitais Ingleses do Norte de França. Consultor de cirurgia do
Corpo Expedicionário Português (C.E.P.) como Capitão (português) e Major
(inglês).
Em 1916, devido a uma carta que escreve ao Professor Doutor
Oliveira Feijão, o Conselho da Faculdade delibera desligá-lo do serviço, sem
vencimento e instaurar-lhe imediatamente um processo disciplinar.
Regressado a Portugal, escreve a alguém dizendo que continua
suspenso, apesar das repetidas reclamações que não têm seguimento, com a
desculpa de que a Faculdade está em férias. Ironiza dizendo que na Faculdade de
Medicina a Justiça está de férias!
Reinaldo dos Santos era cada vez mais crítico do sistema de
ensino em Portugal.
Foi agraciado com a Medalha de Ouro de Bons Serviços na
Grande Guerra.
Membro da Société
Internationale de Chirurgie.
Em 1928 realiza a sua primeira arteriografia e pouco depois uma
aortografia translombar.
Devido às suas descobertas de alto valor científico não
surpreende que lhe seja atribuída a medalha de Ouro da Sociedade Internacional
de Urologia.
Na última aula que proferiu na Faculdade de Medicina
criticou a censura, a perseguição de intelectuais, a deficiência da educação e
a escassez de meios com que se debate o Instituto de Alta Cultura.
Estas são brevíssimas palavras sobre o Professor Doutor
Reinaldo dos Santos apenas no campo da Medicina, mas não foi só esta ciência a
ocupá-lo.
É interessante verificar que o Dr. Reinaldo dos Santos
destaca-se noutros campos, principalmente no das Artes.
Numas férias, após o curso e na Figueira da Foz, acompanha
Henrique de Vilhena e participa em campanhas arqueológicas conduzidas por
Santos Rocha, um advogado que deu muito a esta área da investigação.
1924– Académico correspondente da Real Academia de Belas-Artes
de S. Fernando (Madrid), Membro da Academia de Belas-Artes de Sevilha.
Foi um dos dez vogais Efectivos e Fundadores da Academia
Nacional de Belas-Artes de Lisboa.
Sócio Honorário do Grupo dos Amigos do Museu Nacional de
Arte Antiga, , Membro Honorário da Academie
Royal d’Archéologie de Belgique. Membro Titular e Fundador da Academia
Portuguesa de História, 1938 – Um dos quatro Académicos Honorários da Real
Academia de Belas-Artes de S. Fernando (Madrid), 1939 – Sócio Honorário da
Sociedade Nacional de Belas-Artes, 1940 – Plano, orientação e prefácio do
Inventário Artístico de Portugal.
O grande apego à Medicina não lhe retirou a vontade de
apreciar e estudar formas de arte como a pintura, escultura, Arquitectura,
Mobiliário, Azulejaria, Faianças, Ourivesaria, Vidragem, Iluminura e Tapeçaria
e sobre todas elas acabou por publicar trabalhos após aturados estudos.
Descobriu em Pastrana (Espanha) tapeçarias que reproduzem a
conquista de Arzila, no Norte de África, por D. Afonso V, atribuídas a Nuno
Gonçalves, pintor que mereceu o seu estudo. Sobre este assunto, publicou em
1925 de colaboração com Jorge Cid uma monografia.
Em Toscana (Itália) vira a sua atenção para outro pintor
português, Álvaro Pires de Évora. Um dos mais importantes quadros deste pintor
voltou a Portugal em 2002 adquirido por uma Instituição Bancária.
Na área da Arquitectura publicou trabalhos sobre as Sés de
Lisboa, Évora e Coimbra e também sobre Igrejas e Ermidas regionais.
Não lhe passou despercebida a origem histórica do Mosteiro
de Alcobaça e da Batalha, tal como as Igrejas de Santa Clara e de S. Francisco,
em Santarém e a de Santa Iria do Olival em Tomar.
O seu interesse pela Arquitectura Portuguesa incidiu
sobretudo sobre o Estilo Manuelino, identificando em 1922 Francisco Arruda como
sendo o Autor da Torre de Belém, símbolo da Arte Manuelina.
Deu a público dezenas de trabalhos sobre várias áreas que
abordou com sentido técnico.
Conviveu com as principais personalidades da sua época,
entre os quais Almada Negreiros, Aquilino Ribeiro, Afonso Lopes Vieira, Raul
Brandão, Eugénio de Castro e Jaime Cortesão.
Reinaldo dos Santos que a toponímia portuguesa recorda em
Instituições e ruas, é sem qualquer dúvida uma grande figura nacional, com uma
versatilidade surpreendente e difícil de encontrar.
_____________________________________
Dicionário de História do Estado Novo, Dir. de Fernando Rosas
e J.M. Brandão de Brito, Volume II, Bertrand Editora, Venda Nova, 1996.
Lello Universal, Dicionário Enciclopédico Luso – Brasileiro,
II Vol. Porto, 1975.
História de Portugal. Joaquim Veríssimo Serrão, Volumes XIV a
XVII, Editorial Verbo.
“Alguns Valores da Província do Ribatejo, Octávio de Campos
”Vida Ribatejana, nº Comemorativo dos
Centenários da Fundação e Restauração de Portugal, Dir.Ed. e Prop. de Fausto
Nunes Dias, Vila Franca de Xira, 1940.
Wikipédia, a enciclopédia livre