segunda-feira, 28 de junho de 2010

Os meios de vida

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 7 DE FEVEREIRO DE 1991)



Pelo que dissemos em temas anteriores, não podia deixar de ter sido a agricultura a principal actividade dos varzeenses, ainda que esteja passando por um período de quase abandono.

Cereais e azeite são ainda apontados como principais produções agrícolas. A cerealicultura era já importante na Idade Média na zona do Bairro, fornecedora principal dos celeiros de Santarém.

No século XIV dá-se a diminuição da vinha em benefício do olival, pomares e terras de pão. Os famosos olivais de Santarém já estavam verdadeiramente definidos nos finais do século XV. (1)

Além do trigo, nas terras mais pobres, semeia-se a cevada ou a aveia. Nas várzeas e terrenos mais frescos, o milho. Sementeiras também de fava e grão.

Pinho Leal (2) no último quartel do século XIX, além das vinhas refere a existência de pomares de excelentes frutos.

“A agricultura é feita nas grandes propriedades por processos pouco perfeitos mas não muito primitivos. Quase não há terrenos incultos”. É assim que informa o Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40.



As lavras feitas com juntas de bois, as mondas e as ceifas pelas mulheres e a debulha pelos animais, já desapareceram tanto na grande como na pequena propriedade, pois são trabalhos efectuados por processos actualizados com maquinaria que vai do simples tractor à debulhadora-enfardadeira.

Consta ter sido o varzeense Virgílio Elói, comerciante do ramos que o primeiro ou dos primeiros tractores para a freguesia, logo seguido pelos principais lavradores que substituíram assim as várias juntas de bois que possuíam para os seus trabalhos.

Pelos finais da década de cinquenta, alguns pequenos proprietários ainda possuíam a sua junta de bois para utilizarem nas suas terras e para trabalhar à jeira.

Já não foram estes agricultores que adquiriram tractores, mas sim gente mais nova e com outras concepções de trabalho.

Por estas alturas, um agricultor nosso vizinho, não consentia que tractores lavrassem nas suas propriedades, visto lhe destruírem o olival, uma vez que as raízes das árvores, segundo a sua opinião, ficavam afectadas.

Os velhos olivedos que davam trabalho a tanta gente de fora e a que já nos referimos em tema próprio, têm de ser reconvertidos a fim de se tornarem rendíveis.

Ao declínio da cultura do trigo e ao semi-abandono do olival, seguiu-se uma curta expansão da fruticultura com a plantação de pomares, principalmente macieiras, pereiras e uvas de mesa, utilizando novas técnicas. Não tardou também o semi-abandono.

Os varzeenses possuem bons hortejos junto dos vários cursos de água em que a freguesia é pródiga.

***
A pastorícia a nível de rebanho parece nunca ter sido de grande agrado deste povo, ainda que nas maiores quintas existissem sempre rebanhos, não esquecendo os da Mafarra, a que já nos referimos. Um ou outro, nunca deu expressão significativa a este tipo de actividade.



Típico e significativo é a criação daquilo a que se chama “o carneiro de porta”.

Actividade que apesar das transformações havidas, nunca abandonou esta gente e tem por base famílias de recursos modestos.

Compra-se um borrego nos mercados de Santarém que se cria o mais próximo possível da habitação – daí o nome – ficando assim debaixo de olho.

Uns, prendem-nos pelo pescoço, outros pelo pé e movimentam-se no círculo que a corda, presa por estaca de ferro ou de madeira, lhes permite.

Quem não tem terrenos à porta, vai amarrá-lo onde pode e a protecção é maior. Por questões de pastagem, climáticas e outras, por vezes mudam-se de sítio no mesmo dia.

Ao cair da noite lá vão buscá-los pois há necessidade de os proteger. É trabalho mais destinado ás mulheres e onde os filhos também ajudam.

Na maior parte dos casos, porque são sós, criam-se bonitos exemplares que muitas vezes são vendidos para abate local.

Com o produto da venda compra-se outro borrego e ainda sobram alguns patacos. Funcionam como um pequeno mealheiro.

Há quem prefira a ovelha ao carneiro, optando pela criação, baseando o lucro nas crias que vendem.

Grande número de varzeenses continuava, ainda há pouco, a criar o seu “carneiro de porta” que em alguns casos são dois ou três.

Outros optam pela criação de gado bovino para abate, em regime estabular.

Normalmente criam um ou dois exemplares, ainda que haja quem o faça em maior número e então começamos a entrar naquilo a que se chama pecuária.

Belíssimos exemplares daqui saídos abastecem os mercados vizinhos, quando não levados para centros de consumo mais distantes.

Há também os que se dedicam ao gado bovino mas para a produção de leite e aqui impera, pelas suas qualidades, a raça turina.

Estas explorações estão ligadas de uma maneira geral, a uma rede de recolha diária, a que se chama, “o leite da bilha”.

Já vão aparecendo em diversos locais aramados que possibilitam a pastagem de gado bovino, aparecendo muitos exemplares da raça “charolesa””.

Também o porco goza de interesse do varzeense, criado em pequenas explorações para venda e em exemplares isolados para consumo próprio.

O varzeense sempre que se afasta da agricultura, cai na pecuária, pelo que é uma actividade basilar da freguesia.

A criação de gado originou entre a população conhecimentos que levaram ao aparecimento de negociantes de gado que se deslocavam a mercados e feiras bem distantes.



A propósito diremos que há trinta e dois anos, um “velho amigo” visitou-nos a mais de três centenas de quilómetros de distância, quando se deslocava para una afamada feira no centro do país.

***
Nunca foi zona virada para o comércio e o pouco que tinha lugar, era de natureza agrícola.

Existiam nos principais aglomerados populacionais, estabelecimentos mistos – mercearia, vinhos e riscados.

A Casa Eloy em Vilgateira, teria sido o principal estabelecimento comercial da freguesia. Além de mercearia, vinhos e fazendas, tinha talho, padaria, objectos e produtos dos mais variados ramos.

Em 1882 a Junta de Paróquia”deliberou requerer a criação de uma estação postal no sítio de Vilgateira, pois sendo uma das freguesias mais populosas do concelho fazem-se grandes transacções comerciais e agrícolas e por isso tem muita concorrência”.

Prestava-se a servir gratuitamente de chefe postal, António Galache. (3)

Em 1918 é indicado José Eloy, comerciante, para encarregado da estação postal de Vilgateira. (4)

Pensamos de interesse referir que após a implantação da República procurou-se criar um mercado anual na aldeia de Vilgateira, o que aconteceria no dia 15 de Agosto. A escolha deste dia parece-nos estar relacionada com a Festa de Santo António.

A proposta foi apresentada em 11 de Dezembro de 1910, em sessão de Junta, pelo membro da mesma, Joaquim Eloy. Depois de aprovada foi presente à Comissão Municipal Republicana.

Chegaram a ser oferecidos terrenos para as transacções de gado e madeiras, por parte de José Eloy e de D. Ludovina Angélica da Silva. O “Largo de Sto. António” era reservado para outras transacções, entre as quais, quinquilharias. O proponente informava que se contava com o prometido apoio dos lavradores locais.

A verdade é que o assunto nunca mais foi abordado em sessão de Junta, pelo que não terá obtido a indispensável autorização nem mesmo o apoio generalizado da população.

O velho tipo de comércio, com o decorrer dos anos, sofre naturais transformações e hoje, ainda que se mantenha, tem aspectos diferentes, não restando nenhum ao modo antigo.

As velhas tabernas, quase desapareceram, dando origem aos cafés-bares-cervejarias, mais ou menos actualizados, aparecendo mesmo jogos de tabuleiro e as mercearias, a minimercados.

Além destas actividades, podem-se indicar uma ou outra oficina artesanal sem grande significado.

Sobre a transformação do grão em farinha e da azeitona em azeite, já nos referimos em temas próprios.

É preciso não esquecer que na zona do Alto do Mocho, grande parte pertencente a esta freguesia, estão instaladas várias indústrias de certo gabarito mas que, por enquanto, pouco ou nada dizem à freguesia no aspecto de interligação.

***

Sem indústria, a cerealicultura está quase abandonada, acontecendo o mesmo aos pomares. Os velhos olivais estão na mesma situação. Quem vive e trabalha na freguesia, tem na pecuária a sua maior receita. Mas a grande maioria dos varzeenses que ali vivem, não têm nela a sua principal actividade, deslocando-se por vezes a terras distantes.

Grande parte trabalha na cidade de Santarém e seus arredores, no campo comercial ou industrial, ocupando os vários escalões e muitos em prestação de serviços do sector administrativo.

Nos princípios do século, todos os varzeenses se ocupavam na sua freguesia. Raramente se deslocavam à cidade. Ainda conheci na aldeia de Vilgateira uma velhota que me dizia nunca ter ido a Santarém!

Hoje, além dos reformados, pouca gente válida mantém o seu modo de vida nas suas aldeias. Todos os dias se deslocam a Santarém e outros locais para a sua ocupação, mas após o trabalho regressam à sua aldeia, ao seu casal, às suas vivendas, algumas bem isoladas.

Repetimos o que já escrevemos nestas páginas (5): - A Várzea começou a constituir um dormitório da cidade de Santarém.

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NOTAS

(1) - Santarém Medieval, Maria Ângela V. Rocha Beirante, 1980
(2) – Portugal Antigo e Moderno.
(3) – Acta da Sessão da Junta de Paróquia de 18 de Junho de 1882.
(4) – Acta da Sessão da Junta de Paróquia de 19 de Junho de 1918
(5) – Temas Varzeenses, “O tipo de habitação”, in Correio do Ribatejo de 21 de Junho de 1991.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Frei Duarte de Araújo

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 9 DE FEVEREIRO DE 1996)



[Papa Gregório XIII -(1572-1585)]

Religioso da Ordem Militar de Cristo e geral da mesma Ordem.

Natural de Tomar, faleceu na mesma cidade em 17 de Abril de 1599, diz-se de adiantada idade.

A sua acção foi decisiva para a conservação da sua Ordem já que conseguiu demover o Papa Gregório XIII da sua extinção, obtendo dele uma bula em que eram ampliados os seus privilégios.

Publicou: “Vida de Santa Iria Virgem e Mártir, Coimbra, 1597”
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira

Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40

Dicionário Bibliográfico Português, Vol.II, 1859, p. 205

terça-feira, 22 de junho de 2010

Fernão Lopes de Castanheda

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 2 DE FEVEREIRO DE 1996)

[Fernão Lopes de Castanheda. Des. de JV]

Teria nascido à volta de 1500 mas de concreto foi em Santarém que viu a luz do dia.
Era filho natural do licenciado Lopo Fernandes de Castanheda.

Ingressou na Ordem de S. Domingos que abandonou para seguir para a Índia com seu pai que tinha sido nomeado Ouvidor Geral de Goa, embarcando na armada do Governador, Nuno da Cunha, no dia 18 de Abril de 1528.

Lopo de Castanheira já tinha ocupado, entre outros, os cargos de juiz de fora em Estremoz e Coimbra.

Esteve cerca de dez anos no Oriente onde, além de pelejar, compulsou material escrito, investigou cartórios e arquivos, conheceu muitos locais e contactou com capitães e fidalgos que foram realizadores de muitos acontecimentos sobre a passagem dos portugueses por aquelas paragens.

Regressou a Portugal em 1538 sem recursos monetários e sobrecarregado de família.

Teria ingressado na Universidade de Coimbra com o fim de frequentar o curso de bacharel em Artes, mas acaba por ser nomeado bedel da Faculdade das Artes da mesma Universidade (1545) e depois guarda do cartório e livraria, para poder manter-se.

Durante cerca de vinte anos trabalhou na obra que intitulou HISTÓRIA DO DESCOBRIMENTO E CONQUISTA DA ÍNDIA PELOS PORTUGUESES, caracterizada por uma narrativa minuciosa, dando todos os pormenores do pitoresco e da paisagem.

Considerado um cronista imparcial, de grande probidade e honestidade literária, a sua obra foi mais apreciada no estrangeiro do que no seu próprio país e isto talvez devido ao descontentamento de muitos que não desejavam ver relatados certos factos com tanto rigor histórico.

O trabalho dedicado a D. João III, organizado em dez volumes, saiu o primeiro em 1551, com segunda edição em 1554.

Os restantes volumes foram saindo até ao VIII, altura em que a rainha D. Catarina proibiu a impressão dos restantes volumes e isto devido a pressões da fidalguia que não via com bons olhos a revelação dos seus ascendentes.

Entretanto o trabalho é traduzido para francês, castelhano, italiano e inglês.

Foi efectuada uma edição completa em 1833.

Este trabalho constitui uma das mais seguras fontes de informação para o estudo da epopeia lusa no Oriente.

Fernão Lopes de Castanheda, que muito honra ser filho de Santarém, faleceu a 23 de Março de 1559, ficando sepultado na igreja de São Pedro, em Coimbra.

Há muito que o seu nome faz parte da toponímia escalabitana.
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Santarém na História de Portugal, J. Veríssimo Serrão, 1950
Santarém no Tempo, Virgílio Arruda, 1971
“Aquele Cronista da Índia”, Capitão Nuno Beja, in Vida Ribatejana, nº especial de 1953
"Fernão Lopes de Castanheda, Um Historiador Santareno do Séc. XVI", Martinho Vicente Rodrigues, in Santarém, os Homens e a Cidade na Época dos Descobrimentos, 1995
Dicionário de História de Portugal, Vol. I, dir. Joel Serrão
Dicionário Ilustrado da História de Portugal, Edições Alfa
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira

domingo, 20 de junho de 2010

Duas mentiras

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 23 DE ABRIL DE 2004)

A passagem recente do dia 1 de Abril fez-me recuar no tempo pois é um dia significativo na minha vida, tendo começado, tanto quanto eu me lembro, em 1960, por isso, já lá vão quarenta e quatro anos! Depois desse, outros se foram verificando que os meus papéis registam.

Antes do de sessenta, uns bons anos antes, mas que não posso precisar pois era um rapazeco, o dia das mentiras funcionou no MEU BAIRRO e de que maneira! Tanto assim, que nunca mais o esqueci.

Ao fundo da rua principal do meu bairro, a chamada Avenida, frente à casa que minha família habitava, vivia, em prédio já desaparecido, um casal, bons vizinhos, gente muito pacata, mais velhos do que os meus pais e de que me lembro três filhos. Talvez nesta altura, já todos tivessem a sua vida própria. Era um rapaz, mais velho e duas raparigas, sabendo ainda hoje o nome de todos, apesar de pelo menos há cinquenta anos não os ver nem saber por onde param! Tenho mais na memória uma delas, então uma jovem alta muito viva que me apaparicava dando-me guloseimas – junto dela estava sempre protegido, fosse de quem fosse! Esta família tinha vivido antes no Pátio Augusto Manuel, igualmente no MEU BAIRRO.

À noite, quando o marido chegou a casa para jantar, a mulher disse-lhe que tinha encontrado fulano, dando-lhe a notícia que tinha morrido o Dr. Sicrano, médico lá na terra, pessoa muito considerada e a quem deviam muitos favores, sendo o funeral no dia seguinte.

Ora o nosso bom vizinho, cuja profissão obrigava ao uso de farda, mas que não era militar, nem polícia, contactou os seus chefes no sentido de obter a competente dispensa e no dia seguinte, logo ao raiar da manhã monta a velha pasteleira, de gravata preta, lá vai vencendo a custo os cerca de nove quilómetros que o levavam à sua terra e isto numa estrada esburacada e por alcatroar.

A Ti M. ... quando o viu partir, esfregou as mãos, dizendo para consigo, já te enganei. Fez as camas, arrumou a casa e à hora habitual, pega na alcofa de esteira e vai a caminho do mercado que ainda ficava longe, com o seu andar pachorrento, fazer as compras diárias.

O homem, logo que chegou à terra, perguntou à primeira pessoa que encontrou, então todas as pessoas se conheciam, onde se encontraria o corpo do Dr. Fulano, ao que o outro lhe terá retorquido:- O quê ? morreu, só se foi agora pois ainda ontem à noite o vi. Só então o nosso bom vizinho viu que tinha caído na esparrela pois era o 1º de Abril! Não perdeu mais tempo e inverte o sentido de marcha. Só havia um caminho a seguir, procurar vingar-se da mentira que a mulher lhe tinha pregado. À medida que ia arquitectando a mentira, pedalava com mais força para chegar a tempo.

[Casa próxima do local onde o "caso" aconteceu, mas na Rua Almeida Garrett. Foto JV]
Uma vez em casa e como tinha calculado, a mulher tinha ido à praça e ainda não tinha regressado - aparece sempre uma vizinha ou uma amiga que faz perder algum tempo na conversa e hoje o almoço podia ser mais tarde já que o marido tinha ido para o funeral, ah ! ah!

O nosso Amigo, apesar de míope, era desembaraçado, pega na sua farda habitual de trabalho, enche-a como pode de trapos e papel, constrói o melhor possível o boneco e pendura-o com um cinto numa trave do quarto e, ó pernas para que te quero, foi enfiar-se na cave.

Sentiu o abrir da porta da sua M... e ficou de ouvido atento, que lá de ouvir, ouvia bem.

Depois de arrumar as compras, era natural que fosse ao quarto mudar de roupa, para estar mais à vontade. O grito profundo de grande aflição não se fez esperar e o nosso vizinho, para evitar a viuvez teve que correr depressa para dizer que estava vivo!

A mentira foi bem pregada, mas podia ter dado mau resultado.

Nunca me esqueci disto, ainda que no texto haja um pouco de criação, o fundamental, é real.
Quem se lembra disto que tão badalado foi no MEU BAIRRO?

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Manuel Augusto de Almada e Castro

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 26 DE JANEIRO DE 1996)

Nasceu em Abrantes a 10 de Janeiro de 1829.

Seguiu a carreira militar sendo oficial do exército.

Foi autor de uma lista de antiguidades dos oficiais inferiores de cavalaria e infantaria… precedida de todas as obrigações dos oficiais inferiores de infantaria nos diferentes serviços de escala, Lisboa, 1864”.

Reformou-se como major em 1885, tendo falecido quatro anos depois
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira

Dicionário Bibliográfico Português 1893, Vol XVI, p. 393

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Mariana de Abreu

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBAREJO DE 26 DE JANEIRO DE 1996)

Natural de Abrantes, faleceu bastante jovem. Apesar disso alcançou perfeito conhecimento do latim, filosofia e da música.

Deixou um catálogo de Varões insignes em Armas até ao tempo de D. João da Costa e um tratado de filosofia Moral e outro de retórica.

Viveu na primeira metade do século XVII.
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terça-feira, 15 de junho de 2010

Os casamentos

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 31 DE JANEIRO DE 1992)



[Igreja Matriz da Várzea antes do restauro. Foto JV]

Além de todos os motivos de interesse que os casamentos encerram, dos espirituais aos materiais, têm sempre dados etnográficos que é interessante conhecer.

Do norte ao sul do país, de região para região, encontramos (ou encontrávamos) mais ou menos pronunciadamente, diferenças, nem sempre situadas na mesma área.

A freguesia da Várzea e mais propriamente, todo o Bairro e até mesmo zonas circunvizinhas, apresentavam um casamento com características bem definidas e que rigorosamente se cumpriam.

Os anos rodaram e essas características, por diversos factores socioeconómicos, começaram a desaparecer. Hoje, pouco ou nada resta.

Pensamos, apesar de tudo, ter interesse para os vindouros saber como decorriam ou pelo menos conhecer os traços fundamentais dos casamentos dos seus avoengos.

***
Os derriços ocorriam a caminho das fontes, nos trabalhos agrícolas e nos últimos tempos nos bailaricos de aldeia, onde as raparigas, sempre com as mães atrás, nunca faltavam, não fossem perder casamento.

Regra geral, os rapazes de uma aldeia iam procurar companheira a aldeias vizinhas.

Nessa época, para haver casamento, era necessário construir casa pois não existia com facilidade habitação para alugar. Era por isso, preocupação dominante do mancebo, conseguir terreno para a edificar.

Algumas vezes provinha da cedência por parte dos pais ou futuros sogros ou outros familiares, quando não oferecido, vendido simbolicamente. É uma das razões, entre outras, da existência de muitas casas isoladas pois na altura não se colocava o problema da energia eléctrica, água ao domicílio e outras infra-estruturas, afinal acabadas de chegar, podendo mesmo dizer-se que são dos nossos dias.

Era por isso o homem que dentro das suas possibilidades tinha de pôr de pé a casa que ia albergar a futura família.

Além das ferramentas necessárias para o trabalho, quase sempre agrícola, levava uma mala com roupa pessoal: calças, camisas, ceroulas, lenços e pouco mais.

[Torre sineira. Foto JV, 2010]Tudo o que era recheio da casa, competia à mulher que, quase desde que nascia, a mãe começava a fazer o enxoval, já que, para uma casa é preciso muita coisa e as despesas são grandes.

Nesses tempos, pouco ou nada se comprava feito. Quase tudo era confeccionado pela mão da mulher que bem nova ia aprendendo com familiares e vizinhas.

Além de estar preparadas para executar todos os trabalhos agrícolas (apanha da azeitona, mondas sachas, ceifas, etc.), era importante que soubesse fazer calças e camisas de trabalho para o marido e filhos, pôr uns fundilhos e remendar com perfeição.

Como já disse, o enxoval era quase todo feito pela mão da jovem que se punha ao despique com as raparigas da sua idade.

Faziam lençóis e almofadas, travesseiros e toalhas. Grande parte da roupa interior. Cobertas para cama, tapetes e almofadas de retalho como já referimos quando tratámos do artesanato. “Naperons” e rendas.

Os pais iam amealhando como podiam para fazer face às despesas da boda; louças, mobílias e o mais necessário.

Há cerca de trinta e cinco anos e em resposta à nossa discordância pela pouca divisão das despesas, a nossa interlocutora, que tinha tido a sorte, no seu dizer, de ter quatro rapazes, justificava: Elas (noivas) vão receber um homem que tem a obrigação de ganhar para elas uma vida inteira!

Era assim que as varzeenses justificavam o uso, o hábito e a tradição.

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[Um dos últimos casamentos, ao modo antigo, realizado na Várzea. Anos 60 do século passado]

Ao noivo competia dois padrinhos e à noiva uma madrinha que a vestia de branco, véu comprido e ramo natural da flor da laranjeira, se fosse caso disso e estivéssemos na época da floração.

[D. Cecília, uma das últimas cozinheiras de "casamento" e na altura já retirada. Foto JV, 1961]
Há cinquenta anos o noivo vestia de preto ou azul escuro, gravata de tom escuro, camisa branca e sapato preto.

Nos três dias antes do casamento os noivos faziam a “visita” aos padrinhos, levando-lhe uma travessa de arroz doce e meia dúzia de bolos de noivo. Às outras pessoas levavam um prato de arroz doce e dois bolos. A isto, correspondia sempre uma oferta monetária ou qualquer outra por parte de quem era contemplado.

À porta do quarto os noivos eram felicitados pelos convidados que os presenteavam e em troca recebiam bolos de noivo que levavam para suas casas.

A ementa baseava-se em produtos locais e naturalmente os pratos eram à base de carne – o tradicional carneiro ou borrego guisado com batatas e as aves de capoeira: galinhas, patos e perus corados nos fornos de cozer pão que na aldeia existiam.

[Portal da Igreja Matriz. Foto JV, 2010]De doçaria eram os bolos de noivo que pontificavam. Bolo seco em forma de ferradura, feito aos alqueires, guardava-se em arcas de castanho. Além disso, havia o arroz doce.

É dos nossos dias o aparecimento do pão-de-ló e sucessivamente a restante doçaria, mas o belo bolo de noivo nunca perdeu o seu lugar e parece ser a única reminiscência do casamento de outros tempos.

Durante a boda havia vivas aos noivos lançados pelos convivas, uns já muito conhecidos, outros, criados na altura pelos mais verbosos.

Damos dois exemplos:

Viva a noiva mais o noivo
Quando se lhe tira o chapéu,
No meio dos seus saberes
Parecem uns anjos do céu.

Estas casas estão caiadas,
Quem seria a caiadeira,
Foi o noivo mais a noiva,
Com um raminho de oliveira.


[Escadório onde contiuam a pousar noivos e convidados. Foto JV]
Ao fim de um mês, os noivos voltavam a fazer a “visita” aos padrinhos, levando-lhe novamente uma travessa de arroz e meia dúzia de bolos de noivo.

Hoje é raro haver boda e quando há, é servida numa pastelaria ou restaurante da cidade.

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NOTA

Ainda que realizado bastante longe da freguesia, à boda do nosso casamento, servida num restaurante-café da cidade, não faltou o tradicional bolo de noivo, oriundo da nossa aldeia.
Casamento sem este bolo, não era casamento!

domingo, 13 de junho de 2010

Joaquim da Costa

(PIBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 26 DE JANEIRO DE 1996)

Pintor, nascido em Abrantes em 1753, foi discípulo do grande pintor paisagista francês, Jean Pillement, primeiro e depois do seu irmão Manuel Costa, pintor de teatros e pintor habilíssimo.

Foi pintor de carruagens reais e cenógrafo.

Em 1803 esteve ao serviço do teatro do Salitre, em Lisboa, pintando para essa casa de espectáculos. Manteve-se nessa actividade até 1812.

Foi autor do novo teatrinho do Bairro Alto.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Nuno da Fonseca Cabral

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 26 DE JANEIRO DE 1996)

[Castelo de Abrantes]

Desconhece-se quando nasceu e morreu mas sabe-se que é natural de Abrantes.

Fillho de Bernardo da Fonseca, foi doutor na Universidade de Coimbra em Direito Civil e professor da cadeira de Instituta, em 1600, obtendo a de Código em 1601 e a dos Três Livros, em 1604.

Foi nomeado desembargador da Casa da Suplicação em 1614 e corregedor do crime da Corte em 1623.

Foi autor de: “Oração do Auro do Juramento de El-Rei D. Filipe, Nosso Senhor… a 14 de Junho de 1619” e “Oração no Auto das Cortes… a 18 de Julho de 1619”.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Dicionário Bibliográfico Português, 1862, Vol. VI, p.312

quarta-feira, 9 de junho de 2010

À borda do Tejo

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 18 DE ABRIL DE 2004)

[Ómnias]

É velha a romaria que os escalabitanos fazem em Honra de São José, protector dos operários, às Ómnias, no dia 19 de Março que desde 1977 é feriado municipal no concelho de Santarém.

Fi-la algumas vezes pela mão dos meus familiares nos meados da década de quarenta, princípios da seguinte, quando ainda tinha alguma expressão tal romaria que a pouco e pouco foi desaparecendo.

Após 1975 houve tentativa de revitalizar tal prática, ao ponto do dia 19 de Março passar a ser Feriado Municipal, mas disso só conheço o que li na imprensa local.

Quando eu era menino, várias famílias do meu bairro não deixavam de ir à romaria de S. José, como era o caso por exemplo da família Duarte com os seus sete elementos ou da família Pires, mais numerosa. Os vizinhos combinavam e partiam juntos. Os mais pequenos, como era o meu caso, ainda dormitavam, mas o fresco da manhã, espevitava-nos.

Atravessávamos a estrada das Padeiras, seguíamos pela travessa das Velhas que tinha um comprido muro de uma Quinta e que no outro lado tinha umas casitas onde moravam e vendiam carvão e seus derivados, duas velhotas, vestidas de preto, irmãs e que talvez fossem gémeas, o que não posso precisar. Daí nós lhe chamarmos a rua ou a travessa das Velhas e onde íamos comprar tão indispensáveis produtos, na época. Esta rua ia desembocar na Rua do Matadouro, mais propriamente na Avenida Laurentino (Veríssimo).

Depois de passarmos ao largo do Cerco de S. Lázaro, cortávamos à esquerda, seguindo a calçada da Junqueira.

Mas afinal não é sobre a romaria a S. José (ou das Ómnias) que nos propusemos escrever mas sim sobre os passeios à borda do Tejo.

Nessas alturas trabalhava-se todo o sábado, só o domingo era dia de descanso ou então algum feriado ou dia santificado. Nestes últimos, por vezes havia uma dispensa de chefes e patrões!

No MEU BAIRRO, no Verão, com a forte canícula, muitas famílias tinham o hábito de ir passar o dia livre à margem do Tejo, beneficiando da fresquidão dos banhos e das sombras que os salgueirais proporcionavam

O trajecto já o indicámos. A calçada da Junqueira era estreita e esburacada e a poeira era mais que muita. O que valia é que raramente passava um veículo automóvel (quando isso acontecia, ficava tudo branco). O tráfego era constituído por veículos de tracção animal e animais de carga e sela que já era suficiente para nos empoeirar.

Desejava-se a chegada à Fonte da Junqueira, do lado direito da estrada, com o seu enorme paredão de alvenaria, estruturado de pedraria e encimado por objectos decorativos de interesse artístico. Se a memória não me falha, eram quatro as bicas que continuamente deitava o precioso líquido que nos dessedentava. Ouvia logo dizer que bebesse agora porque depois escusava de pedir porque não havia! Então, enchíamos a barriga.

Não faltavam os tanques de pedra cheios para que os animais bebessem e recuperassem forças para continuar as caminhadas.

[Tejo e borda d`Água num guache de Vitor Faria]

Depois, para mim a sempre desejada passagem no túnel, sobre o qual passava o comboio e quando isso acontecia, era uma festa, o gritar de alegria, o adeus.

Estava-se próximo. Os homens, então chamados chefes de família, escolhiam o lugar para assentar arraiais, na margem do rio, e que nós designávamos por borda do Tejo. Procuravam-se sítios espaçosos, proximidade de água potável (havia quem bebesse do rio, fazendo um poço no areal) e onde os salgueiros proporcionassem boas sombras.

As famílias mais amigas ficavam sempre muito próximo para se proporcionar um melhor convívio. Depois da limpeza do terreno, as crianças entravam logo na brincadeira, correndo umas atrás das outras, sendo a areia uma atracção. Havia sempre limites fortemente impostos pelos pais por causa da proximidade da água, já que o Tejo era falso com as suas correntes e remoinhos.

Os homens construíam as suas fornalhas cavando a terra de aluvião que com a sua contextura compacta, isso proporcionavam. Depois era ir à lenha, tarefa em que gostava de ajudar e que consistia em recolher raízes e outra lenha que as águas iam trazendo e armazenando pelas margens, principalmente quando as invadiam.

Nas Ómnias, onde além de uma quinta existiam algumas construções dispersas e mesmo uma taberna, adquiriam-se nas hortas que povoavam a zona (ómnia significa precisamente horta, pomar de plantação variada) produtos hortícolas de boa qualidade e a preços inferiores aos do mercado.

Mesmo aqui, as sopas substanciais (legumes e hortaliças) não eram dispensadas pois eram elas que aconchegavam o estômago, como os pais diziam e... bem. Hoje comem-se pizas, hamburgueres e outra comida sintética!

Depois, como era “festa”, lá vinha o peixe assado (sardinha, bacalhau, então comida de pobres, fataça ou enguia, estes últimos adquiridos aos pescadores das Caneiras) e isto quando não se fazia uma caldeirada, o que era frequente. O vinho ia-se comprar à taberna que ainda fica longe e quando lá ia, calhava-me às vezes um pirolito, o que era uma alegria.

Comia-se e bebia-se sentado no chão onde se estendiam alvas toalhas. Banco, nem pensar, a não ser algum madeiro a jeito que aparecesse ou um tronco de árvore mais propício pela sua pronunciada inclinação. Levava-se o indispensável pois tudo era transportado a braços. As alcofas, metiam-se as asas numa vara para que dois as pudessem levar melhor, chegando mesmo, nas famílias mais numerosas a utilização de padiolas. A verdade é que todos tinham que ajudar.

Cantava-se, declamava-se, faziam-se jogos, mostravam-se habilidades, tudo com a presença e o olhar atento dos pais. Estes, jogavam às cartas enquanto as mulheres lavavam a louça no rio, com a ajuda das filhas mais velhas. Um ou outro entusiasta, aproveitava o tempo para pescar e raramente se fazia um passeio de barco, alugado a um pescador que sempre aparecia a oferecer os seus serviços. O banho era para os homens e rapazes feitos, os miúdos e o sexo feminino molhava os pés até aos joelhos. Dormir uma soneca, sabia bem.

[Caneiras, típica aldeia de pescadores]
Ao cair da tarde, arrumavam-se as coisas para o regresso ao bairro e agora, não se ia para a “festa” mas vinha-se da “festa” ! Além disso, era sempre a subir!

Há sessenta anos, as coisas eram assim. A vida muito difícil para quase todos. O pouco dinheiro que se ganhava, e era só um a ganhar, tinha que ser esticado. Não havia dinheiro para praia ou para férias. O Tejo era a praia dos tesos, como se dizia! Havia contudo um grande sustentáculo para ajudar a vencer as dificuldades da vida, era a existência da família. O bom e o mau era dividido e compartilhado por todos. O que se passa HOJE? Meditem.

Aqui fica mais uma MEMÓRIA DO MEU BAIRRO que o tempo ainda não diluiu. Até quando?

segunda-feira, 7 de junho de 2010

P. Manuel Cordeiro

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 26 DE JANEIRO DE 1996)

Nascido em Abrantes em 1586, faleceu em Lisboa a 9 de Março de 1649.

Jesuíta, missionário no Mazagão e qualificador do Santo Ofício, funções que exerceu no seu regresso de Roma, onde foi penitenciário da Basílica de S. Pedro.

Formou-se em Coimbra depois de professar e ensinou Teologia.

Escreveu:- “De Obligatipnibus Clericorum Soecularium Et Regularium, Lisboa, 1646.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O espaço, onde e como é

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 24 DE JANEIRO DE 1992)

Se pensamos que a maioria dos nossos leitores são, possivelmente, varzeenses conhecedores da sua terra, admitimos também a existência daqueles que nada têm a ver com a freguesia, não conhecem bem onde se situa e como são os seus terrenos, tanto no aspecto topográfico como geológico.

Se tivesse sido o nosso propósito haver uma ordem esquemática na apresentação dos temas, possivelmente este teria sido o primeiro ou dos primeiros e não dos últimos, como irá ser.

Verdade seja que nos mais de trinta temas publicados, várias referências têm sido feitas a este assunto, mas que agora pretendemos confirmar e fundamentalmente ampliar.

***

[Mapa da freguesia. Des. de JV]

A freguesia da Várzea, uma das vinte e oito que constituem o actual concelho de Santarém, a que sempre pertenceu, situa-se no “Ribatejo do Norte”, em pleno Bairro uma das três regiões consagradas pelo uso regional.

Zona compreendida na parte livre de inundações da margem direita do Tejo (1), e medianamente acidentada e ondulada, constituída por terrenos argilo-arenosos ou argilo-calcários (2), deficientes em azoto e ácido fosfórico. (3)

Linhas de águas numerosas (4) mas que não passam de pequenos ribeiros (5), originam alguns terrenos planos e irrigados (várzeas) que estão na origem da sua designação toponímica.

[Várzea de S. Martinho. Foto JV, 2009]

São terrenos próprios para a cultura da oliveira, a sua maior riqueza, que aqui encontra as melhores condições para o seu habitat (6), cerealicultura, principalmente o trigo que ocupa (ocupava) o espaço livre nos olivais, a vinha, que origina vinhos vigorosos, encorpados, secos e abertos e, nas terras baixas (várzeas) excelentes frutos e mimos hortícolas.

Ocupa uma área aproximada de 25 km2. (7)

Confina com as freguesias citadinas de São Nicolau e S. Salvador e comas rurais de Azóia de Baixo, Romeira, Abitureiras, Moçarria e numa pequena faixa com Almoster.

Moçarria foi criada em 1922 por desanexação de Abitureiras.

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Está passado o “bilhete de identidade”.

Quem desejar adquirir uma ideia mais concreta, além de percorrer a freguesia deverá postar-se com mais detalhe em lugares que lhe proporcionem um abranger do horizonte.

Costuma chamar-se a estes sítios, miradouros e há maravilhosos por esse país fora.

O miradouro das Portas do Sol em Santarém, é um dos mais apreciados e nas nossas andanças profissionais, da Beira ao Algarve, algumas vezes nos foi referido esse facto por quem bebeu essa surpreendente paisagem que nunca mais esqueceu.

Como é de esperar, a freguesia não nenhum desses locais aproveitados no sentido de miradouros propriamente ditos.

Já dissemos que é constituído por terrenos levemente ondulados. É na zona norte que encontramos as cristas dessas ondulações e consequentemente é aí que se situam alguns miradouros naturais donde podemos desfrutar bons panoramas.

[Quinta da Narcisa. Foto JV, 2009]

Da Quinta da Narcisa admiramos, em dias límpidos, a alcantilada capital do Ribatejo e por enquanto, ainda algumas torres dos seus templos, já que outras foram barradas por torres habitacionais.

Separam-nos velhos olivedos. É paisagem interessante.

Do Alto da Olaia, onde se encontra o actual cemitério, admiramos os excelentes terrenos que circundam a Quinta do Freixo.

Da torre da Igreja Matriz, no Outeiro, apercebemo-nos do que é, em grande parte, a freguesia e a nossa vista espraia-se pela Romeira, Moçarria, Aramanha, Vilgateira, Aroeira e Casais do Maio. Estes Casais, salpicados de fogos, são a zona mais elevada da freguesia com cotas superiores a 100 e onde os desníveis são mais pronunciados, proporcionam-nos alguns trechos onde a oliveira é rainha e os regatos gorgolejam no fundo dos vales cobertos de hortejos e árvores de fruto.

Se fizermos isto, ficamos com uma ideia muito exacta do ESPAÇO da freguesia – ONDE E COMO É.

NOTAS
(1)–Boletim da Junta Geral do Distrito de Santarém, 1936, p. 19.
(2)–“A Autonomia Regional do Ribatejo sobre o Aspecto Agro-Climático”, Eng. Agrónomo Eduardo Mendes, in Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40, p. 76.
(3)–“A Evolução Agrícola do Ribatejo”, Eng. Agrónomo Ruy F. Mayer, in Boletim da Junta Geral do Distrito de Santarém, nº 37 a 42, 1933, p. 75.
(4)–Vide “A Água, esse precioso líquido”, in Correio do Ribatejo de 13 de Setembro de 1991.