(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 25.10.1991)
A zona ocupada pela freguesia da Várzea teve vida-animal na pré-história, como provam os achados de 1919 na Quinta do Marmelal, quando da abertura de um poço (fragmentos de uma grossa defesa de Proboscidiano e um pequeno dente de Rhinoceros, incompleto).
Na Aramanha também quando da abertura de um poço, um dente de Hyotherium e fragmentos de dentes de Rhinoceros.
A caminho da Quinta da Pimenteira foram encontrados outros elementos de menor interesse (1).
Como se vê, os antepassados dos elefantes e dos rinocerontes viveram por aqui.
***
Os ginetos ou gatos-bravos teriam sido abundantes, pelos menos na zona de Vilgateira, a quando da fundação da aldeia, advindo-lhe daí o nome.
Após o desaparecimento de animais de maior porte, a par dos gatos bravos, ainda existem texugos e raras raposas.
Os caçadores podem encontrar coelhos, lebres e perdizes.
A passarada está representada por melros, pardais de trigo, cotovias, verdilhões, poupas, toutinegras, piscos, felosas, carriças, pintassilgos e chapins, entre outros.
De aves noctívagas, aparecem a coruja e o mocho.
Quanto a espécies domésticas, a criação de gado ovino ainda é do gosto destas gentes e os velhos carneiros da Mafarra tiveram fama e foram o orgulho do Doutor Oliveira Feijão (2).
[Craneiros merinos]
Em 1968 a Junta de Freguesia informa da existência de rebanhos de carneiros merinos na Quinta da Mafarra e pertencentes a Carlos Malfeito Monteiro (3).
Também o gado cavalar teve aqui expressão com a coudelaria da Quinta da Granja, ferro Ribeiro Tropa. Foi fundada em 1930 com éguas adquiridas às Casas Cadaval e Sílvio Augusto de Figueiredo, às quais foram depois juntas mais outras com ferros da Comenda, Irmãos Infante da Câmara e António Rodrigues Duarte.
Isento foi vendido para reprodutor à Fonte Boa, Ulino e Ufano distinguidos com menções honrosas na Feira da Golegã de 1858 (4).
Em regime estabular cria-se gado bovino para abate e leiteiro.
Os asininos eram abundantes mas com a abertura de estradas e o aparecimento de maquinaria foram naturalmente desaparecendo, o que também aconteceu às juntas de bois, substituídas pelos tractores.
Continua a criar-se o porco em cativeiro, tanto para consumo próprio como para vender.
Perus, patos galinhas e coelhos fazem parte do açougue familiar. Principalmente em quintas, faisões e pavões.
O cão, velho companheiro do homem, tem aceitação neste povo como guarda ou auxiliar na caça.
A enguia pesca-se ao remolhão nos ribeiros próximos.
Com fundamento no reino animal a toponímia varzeense refere além de Vilgateira, Cabrita, Mocho e Carraceira.
É interessante verificar que entre as aves que nos indicaram como mais vulgares na freguesia, se conta a toutinegra que afinal veio a dar origem a uma dança e cantar local, recolhida e interpretada pelo extinto Rancho Folclórico da Danças e Cantares de Sto. António da Várzea.
______________________________
NOTAS
(1)“Alguns dados Paleontológicos dos terrenos dos Bairros de Santarém e do concelho de Rio Maior”, Francisco A. Ferreira Campos, in Boletim da Junta Geral do Distrito de Santarém, 1936, pág. 20
(2)–“Os Gados do Ribatejo”, Dr. Joaquim Pratas, in Boletim da Junta Geral do Distrito de Santarém, 1933, pág. 33
(3)–Ofício nº 12 de 3 de Abril de 1968.
(4)–“Cavalos do Ribatejo”, A. Martins Ferreira, in Vida Ribatejana (Revista), nº Especial de 1962.