(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 3 DE NOVEMBRO DE 1995)
Hoje iremos lembrar um goleganense.
Homem plurifacetado, de seu nome completo Carlos Augusto Mascarenhas Relvas de Campos, nasceu na Golegã em 1839, sendo de José Farinha Relvas de Campos, um opulento lavrador da região.
Casando com D. Margarida de Azevedo e Vasconcelos aumentou ainda mais os seus meios de fortuna.
Fidalgo da Casa Real, Comendador da Ordem de Nª Sª da Conceição, além de grande lavrador foi cavaleiro tauromáquico amador, desportista, excepcional entusiasta pela arte de fotografar e até criador de um novo modelo de salva vidas.
Como presidente da vereação e como procurador à Junta Geral do Distrito, empreendeu importantes melhoramentos na sua terra natal.
Recebia em sua casa, com a maior franqueza, todas as pessoas notáveis que passassem pela Golegã, incluindo, por mais de uma vez, a Família Real.
Recusou sempre as recompensas pelos serviços, não aceitando a candidatura que lhe ofereceram nas eleições para deputados, em 1842.
Títulos nobiliárquicos e outras distinções do tipo e proposta pelo governo, nunca tiveram o seu consentimento.
A nível agrícola, introduziu no nosso país métodos usados nos países mais evoluídos, com resultados positivos.
Exerceu sempre a tauromaquia sem qualquer retribuição monetária, colaborando em corridas de beneficência, sendo a última em 1893, a favor das vítimas de um ciclone que atingiu os Açores.
À sua custa, mandou construir na Golegã, uma praça de touros.
Como desportista, salientou-se na equitação e como não podia deixar de ser, no manejo do pau, da pistola, da carabina e do florete.
Foi contudo à fotografia que dedicou a maior parte do seu tempo e sabedoria.
A fotografia, acabada de chegar, estava em pleno desenvolvimento. Acompanhando os sucessos tecnológicos, Carlos Relvas desde cedo pôde mostrar as suas criações por esse mundo fora, recebendo recompensas e honrarias que acicataram ainda mais a procura da perfeição.
Montou, junto da sua vivenda, um “atelier” que foi considerado o melhor do país. Alcançou medalhas em “certames” em que se apresentou, como em Paris (1870 e 1876), Viena de Áustria e Madrid (1873), Filadélfia (1876) e em Amesterdão (1876) onde obteve o primeiro prémio.
O artista teve a sorte de no decorrer da sua existência, ver a sua obra consagrada.
Carlos Relvas que marcou o seu lugar entre as personagens mais simpáticas e elegantes do País, faleceu na Golegã com cinquenta e seis anos, vítima de desastre quando passeava a cavalo.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40
“A Vila da Golegã e seus termos”, A.H. Barata, in Correio do Ribatejo de 11 de Março de 1977
Carlos Relvas, fotógrafo, A.P. Vicente