quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Quem é aquele Senhor?

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 8 DE OUTUBRO DE 2004)




Quando Bernardo de Figueiredo faleceu em Palma de Maiorca, aos setenta e três anos, e já se passaram três, não me encontrava na minha residência oficial e para onde me é enviado o “Correio do Ribatejo”.

Nessas alturas, o meu afastamento do “Mundo” é quase total, pelo que só tive conhecimento do funesto acontecimento quando regressei e li os vários jornais que entretanto tinham chegado.

Naturalmente que a notícia é acompanhada por dados biográficos oriundos de vários quadrantes, desenhando e pondo em relevo o percurso do que era então classificado como o decano dos jornalistas de Santarém e que tinha sobre os seus ombros a difícil missão de substituir, o Dr. Virgílio Arruda, grande jornalista e escritor (homem de Cultura) que no campo da história escalabitana, deixou vasta obra em trabalhos publicados e nos milhares de páginas escritas no seu e em outros jornais e revistas.

Quando Bernardo de Figueiredo era um homem, era eu um rapazeco que sempre reparei naquela figura esguia, testa alta, cabelo liso, puxado para trás, passo cadenciado, fato inteiro e invariavelmente com livros ou jornais debaixo do braço, descendo a avenida do MEU BAIRRO.

Aquela figura mexia comigo e um dia, já próximo dos muros do antigo hospital de Jesus Cristo, aproveitei a companhia de meu pai e perguntei-lhe:- Quem é aquele senhor ? A resposta não se fez esperar:- É jornalista, escreve para os jornais.

Penso que nesta altura já era casado, (ou namoraria aquela que veio a ser sua esposa) que eu conhecia igualmente de vista, do MEU BAIRRO. Julgo que sempre teriam morado na Rua 2º Visconde de Santarém cujo último quarteirão então constituía uma das partes novas do MEU BAIRRO e onde as construções já começavam a ser de dois pisos. Deixei o MEU BAIRRO em fins da década de cinquenta, dando início na Beira-Alta à minha vida profissional, começando então a receber semanalmente, sem nunca ter falhado uma semana, este velhinho jornal que comecei por ler na barbearia do MEU BAIRRO.

Na segunda metade da década de oitenta, comecei a compilar elementos sobre a minha freguesia natal, percorrendo passo a passo o seu território, recolhendo usos e tradições, investigando o arquivo da Junta de Freguesia e procurando algo que estivesse escrito sobre ela, ainda que vivesse distante.

Com o trabalho desenvolvido foi-me possível organizar um “volume” dactilografado que intitulei A Freguesia da Várzea (do concelho de Santarém) - achegas para uma monografia que não veio a ser publicado por falta de conjugação de esforços.

Atendendo a que os destinatários principais deste humilde trabalho eram os meus conterrâneos, pensei em transformá-lo em escritos a publicar, se possível, no Correio do Ribatejo.

Nesta altura já dirigia o semanário, Bernardo de Figueiredo que solicitado a isso, deu a sua adesão. Foi assim que entre 22 de Janeiro de 1991 e 10 de Julho de 1992 foram publicados cinquenta e dois escritos sob o tema “Temas Varzeenses”.

Tivemos então oportunidade de nos conhecermos pessoalmente, conhecendo ele, naturalmente as minhas raízes com as indicações que lhe dei.

Nas poucas vezes que falámos, trocávamos impressões, transmitia-me os comentários que lhe faziam sobre os escritos e principalmente a procura da minha identificação que nunca fez, sem a minha autorização.

Bernardo de Figueiredo certamente me desculpará que aqui transcreva um pequeno trecho da carta que teve a amabilidade de me escrever e datada de 4 de Abril de 1992.

Lamento que os seus artigos sobre os temas Varzeenses, estejam a chegar ao fim, pois têm desfrutado o maior interesse. Contudo, tomo a liberdade de lhe sugerir que escreva sobre outros assuntos. O jornal está inteiramente aberto à sua (...) colaboração. Por isso, vá pensando no assunto.

Foi assim que vieram a aparecer AS MEMÓRIAS DO MEU BAIRRO e as FIGURAS RIBATEJANAS, que ainda se vão mantendo, aliás como os TEMAS VARZEENSES, ainda que esporadicamente.

Como fica demonstrado, isso se deve a Bernardo de Figueiredo.

Está tudo ou quase tudo dito sobre José Bernardo de Figueiredo Duarte. Nunca li contudo qualquer referência à sua habilidade nata para o desenho e pintura. Vi um ou outro trabalho seu, de jovem, publicado no jornal e se não estou errando ilustrou um convite de casamento de um familiar próximo. Esta conversa veio a propósito dos meus bonecas que têm ilustrados alguns dos meus escritos.

QUEM É AQUELE SENHOR ?

Hoje digo:- Uma FIGURA RIBATEJANA, uma personalidade do MEU BAIRRO.
Aqui ficam estas despretensiosas palavras que a mim mesmo prometi escrever de simples homenagem a um jornalista que honrou a sua Terra e o seu BAIRRO.