terça-feira, 30 de junho de 2009

Morreu António José, um dos melhores guarda-redes que Santarém deu ao futebol

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 18 DE MARÇO DE 2004)


A notícia chegou célere. Do outro lado do “fio” dizia-se: Morreu o António José, o funeral é amanhã.

Ainda que mais mês, menos mês e devido a problemas graves de saúde a notícia fosse esperada, ao ouvi-la, existe sempre um constrangimento. Como era nosso dever, lá seguimos para a nossa terra natal para acompanhar à última morada aquele nosso amigo ligado à minha família. Bem criança, lembro-me de assistir ao seu casamento!

Tratou sempre o miúdo, que para ele sempre fui, com um ar paternal que nunca esquecerei.

Santarém tem sido alfobre de muitos bons guarda-redes de futebol e só referindo-me aos que conheci ou vi actuar, citarei entre outros:- António Gomes, vulgo Chocolate, já falecido, Mário, que revi no funeral de seu irmão, António José, que não via há cinquenta anos e que foi o guarda-redes titular dos Leões de Santarém na época áurea e que depois se transferiu para o Sporting Farense, onde terminou a sua carreira, Miguel Rodrigues, com uma longa carreira intramuros e em que representou os dois rivais de então, “Os Leões” e o Operário, José Pires, já falecido e Fernando Fontes, velho amigo que a guerra colonial fez abortar de uma excelente carreira.

De todos contudo, e perdoem-me os restantes e opiniões contrárias, António José foi o “maior”, aquele que alcançou maior notoriedade, jogando muitos anos na primeira divisão que constituiu o escalão maior do nosso futebol, chegando mesmo a ser convocado para treinos da selecção nacional A.

Nos tempos de menino jogou com a trapeira nos largos próximos da casa onde nasceu e foi criado: S. Julião e Capuchos. Como acontece quase com todos, não começou por ser guarda-redes, mas os mais velhos para lhe permitirem entrar nas jogatanas, empurravam-no para a baliza, constituída por duas pedras colocadas no chão, mudando aos cinco e acabando aos dez. Todos queriam marcar golos!

Ingressando no Sport Grupo Scalabitano Os Leões, cedo se notabiliza na difícil posição. Por essa altura jogavam, entre outros, José Pereira, vulgo 14 que não deixou de acompanhar o seu velho amigo ao cemitério, António Faustino, Fernando Cardoso, Manuel Machado, António Vieira, Lima e outros.

Devido à grande amizade que sempre uniu as cidades de Santarém e da Covilhã, consegue transferir-se para aquela cidade serrana para representar o Sporting local, então na 1ª Divisão Nacional. É aí que depressa chega a titular da equipa treinada pelo húngaro, Mister Sezabo e onde permanece durante os melhores anos da sua carreira futebolística.

Em todos os defesos apareciam notícias sobre a possível transferência de António José para um dos grandes do futebol português, mas a verdade é que tal só aconteceu até os índices de produtividade começarem a descer. Transfere-se entretanto para o Belenenses, onde alinhavam, entre outros, o célebre Matateu e o seu irmão Vicente. Acaba por se transferir para o Vila Real, então na 2ª Divisão Nacional, onde termina a sua carreira como profissional de futebol.

Regressa então à sua cidade natal, onde eu já não me encontrava e exerce funções de treinador no seu clube de sempre, “Os Leões” de Santarém.

Expressando a sua vontade, a sua urna foi coberta com uma bandeira deste extinto clube e que quando a vi, me fez estremecer.

António José que no Sporting da Covilhã foi dos jogadores mais bem pagos, entre tantos foi colega do húngaro Simony, avançado–centro, sempre nos primeiros lugares da lista de marcadores, Oliveira, defesa esquerdo que depois jogou no Futebol Clube do Porto, Perides, que jogou igualmente na Académica, Sporting e Benfica e que foi internacional, Martin, um espanhol buliçoso na linha avançada, Livramento, depois transferido para Os Leões, o mesmo que aconteceu a Diamantino, Tomé, um armador de jogo, os irmãos Cavem, o defesa e o avançado que mais tarde jogou no Benfica e foi internacional, Rosato, um bom médio de nacionalidade argentina, etc., etc.

Duas pequenas curiosidades:- António José e Mário chegaram pelos menos uma vez a jogar oficialmente, um em cada baliza! Estando na Covilhã, uma vizinha chega a sua casa para mostrar à mulher um bom tacho de alumínio que tinha acabado de comprar. António José, para provar o contrário, pega-o nas mãos e esmaga-o como se fosse uma folha de papel. Ficou como uma bola! Aquelas mãos, quando agarravam a bola, era mesmo dele!

António José Fevereiro, de seu nome completo, faleceu no dia 8 de Março, aos setenta e sete anos, deixando viúva, D. Henriqueta Carvalho Nunes Fevereiro, duas filhas e vários netos.

Estas palavras foram escritas ao correr da pena, consultando só o arquivo da nossa memória.

To Zé, descansa em Paz.