(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 11 DE DEZEMBRO DE 1998)
Tive conhecimento do falecimento de João Andrade por um semanário da cidade de Santarém, ficando constrangido e admirado, uma vez que desconhecia o seu precário estado de saúde.
Li hoje num mensário uns tantos depoimentos sobre a sua figura que reproduzem aquilo que foi a sua vida.
Não tenho a certeza mas penso que de todos os que se pronunciaram, talvez seja eu, o que o conheci mais cedo, não significando, de maneira nenhuma e pelo contrário, que o tivesse conhecido melhor.
Estava convencido que João Monteiro Andrade tivesse sido meu conterrâneo, mas no trabalho de que é co-autor com Bertino Coelho Martins, intitulado CANCIONEIRO DA ROMEIRA e editado pela Câmara Municipal de Santarém, informou-me que tinha nascido na freguesia citadina de Marvila mas que fez toda a sua adolescência na freguesia da Várzea.
Enquanto João Andrade foi um santareno que se fez homem na Várzea, eu sou um varzeense que fui criado na cidade de Santarém.
[Outeiro da Várzea antigo. Des. de JV]
Fomos praticamente da mesma idade, sendo eu um tudo nada mais velho.
Não tivemos, pelas circunstâncias apontadas, uma criação próxima e quando nos conhecemos, já éramos espigadotes, por volta dos dezoito anos.
O convívio foi esporádico e curto porque entretanto iniciei a minha vida profissional, abandonando a aldeia.
Monteiro Andrade que na altura se deslocava diariamente a Santarém, de bicicleta a pedal e onde exercia a sua profissão, era um rapaz extremamente educado e verdadeiramente espirituoso. Estava sempre bem disposto, contando as coisas com grande realismo onde o pormenor picaresco tinha na sua oralidade grande expressão.
Lembro-me ter-lhe ouvido contar, a pedido de um amigo comum, a partida carnavalesca que lhe fizeram, em Santarém, era ainda bem jovem, na qual entrava um polícia sinaleiro, um barbeiro e... uma mala que continha um objecto especial.
João Andrade contou-nos isto com tal engenho que “eu ia rebentando a rir”!
Além do mais, era já na altura um homem solidário.
Numa série de escritos que fiz publicar neste semanário e de que certamente João Andrade teve conhecimento, publiquei um (1991-03-15) intitulado AS PULHAS E A SERRAÇÃO DA VELHA. Na altura não o referi, por desnecessário; hoje em MEMÓRIA DE JOÃO ANDRADE posso dizer que aquela serração da velha a que assisti e fiz parte, foi por ele organizada e “leaderada” tendo tido o cuidado de tudo me explicar e que eu desconhecia totalmente. Nesta altura não tínhamos ainda vinte anos mas Monteiro Andrade já vivia e entendia todos estes assuntos.
Este pequeno episódio é demonstrativo de quão cedo estes assuntos lhe mereceram interesse e que, com a sua capacidade, estudo e experiência, desenvolveu, ocupando um lugar de respeito e consideração no campo do Folclore e da Etnografia.
O que escreveu no Cancioneiro da Romeira tem muito da freguesia da Várzea. Além das estórias de família, os bailes de aldeia (1950/60) estão extremamente bem descritos pois ainda os conheci com essas características que a mim, por falta de hábito, na altura me chocavam.
Devido ao meu afastamento de Santarém por motivos profissionais, nunca mais contactei com João Monteiro Andrade, mas nunca o esqueci.
ESCREVI EM SUA MEMÓRIA.
OBRIGADO PELO QUE ME ENSINASTE.