quinta-feira, 4 de junho de 2009

Em Memória de João Andrade

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 11 DE DEZEMBRO DE 1998)
Tive conhecimento do falecimento de João Andrade por um semanário da cidade de Santarém, ficando constrangido e admirado, uma vez que desconhecia o seu precário estado de saúde.

Li hoje num mensário uns tantos depoimentos sobre a sua figura que reproduzem aquilo que foi a sua vida.

Não tenho a certeza mas penso que de todos os que se pronunciaram, talvez seja eu, o que o conheci mais cedo, não significando, de maneira nenhuma e pelo contrário, que o tivesse conhecido melhor.

Estava convencido que João Monteiro Andrade tivesse sido meu conterrâneo, mas no trabalho de que é co-autor com Bertino Coelho Martins, intitulado CANCIONEIRO DA ROMEIRA e editado pela Câmara Municipal de Santarém, informou-me que tinha nascido na freguesia citadina de Marvila mas que fez toda a sua adolescência na freguesia da Várzea.

Enquanto João Andrade foi um santareno que se fez homem na Várzea, eu sou um varzeense que fui criado na cidade de Santarém.

[Outeiro da Várzea antigo. Des. de JV]

Fomos praticamente da mesma idade, sendo eu um tudo nada mais velho.

Não tivemos, pelas circunstâncias apontadas, uma criação próxima e quando nos conhecemos, já éramos espigadotes, por volta dos dezoito anos.

O convívio foi esporádico e curto porque entretanto iniciei a minha vida profissional, abandonando a aldeia.

Monteiro Andrade que na altura se deslocava diariamente a Santarém, de bicicleta a pedal e onde exercia a sua profissão, era um rapaz extremamente educado e verdadeiramente espirituoso. Estava sempre bem disposto, contando as coisas com grande realismo onde o pormenor picaresco tinha na sua oralidade grande expressão.

Lembro-me ter-lhe ouvido contar, a pedido de um amigo comum, a partida carnavalesca que lhe fizeram, em Santarém, era ainda bem jovem, na qual entrava um polícia sinaleiro, um barbeiro e... uma mala que continha um objecto especial.

João Andrade contou-nos isto com tal engenho que “eu ia rebentando a rir”!

Além do mais, era já na altura um homem solidário.

Numa série de escritos que fiz publicar neste semanário e de que certamente João Andrade teve conhecimento, publiquei um (1991-03-15) intitulado AS PULHAS E A SERRAÇÃO DA VELHA. Na altura não o referi, por desnecessário; hoje em MEMÓRIA DE JOÃO ANDRADE posso dizer que aquela serração da velha a que assisti e fiz parte, foi por ele organizada e “leaderada” tendo tido o cuidado de tudo me explicar e que eu desconhecia totalmente. Nesta altura não tínhamos ainda vinte anos mas Monteiro Andrade já vivia e entendia todos estes assuntos.

Este pequeno episódio é demonstrativo de quão cedo estes assuntos lhe mereceram interesse e que, com a sua capacidade, estudo e experiência, desenvolveu, ocupando um lugar de respeito e consideração no campo do Folclore e da Etnografia.

O que escreveu no Cancioneiro da Romeira tem muito da freguesia da Várzea. Além das estórias de família, os bailes de aldeia (1950/60) estão extremamente bem descritos pois ainda os conheci com essas características que a mim, por falta de hábito, na altura me chocavam.

Devido ao meu afastamento de Santarém por motivos profissionais, nunca mais contactei com João Monteiro Andrade, mas nunca o esqueci.

ESCREVI EM SUA MEMÓRIA.

OBRIGADO PELO QUE ME ENSINASTE.