sexta-feira, 8 de maio de 2009

Gomes do Avelar

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 17 DE MARÇO DE 1995)


É certo que esta figura é bem mais conhecida no Algarve do que no Ribatejo, já que foi naquela região que a sua acção mais se fez sentir.

Nasceu a 17 de Janeiro de 1739 no sítio do Mato, freguesia de Calhandriz, então termo da vila de Alhandra, hoje concelho de Vila Franca de Xira e faleceu em Faro a 16 de Dezembro de 1816.

Sendo os pais pessoas de parcos haveres, cedo come-çou a trabalhar na agricultura. Já cresci-do, um tio, o Padre Inocêncio, leva-o para Lisboa onde acabou por entrar na Con-gregação dos Padres do Oratório, organis-mo fundado em Itália por S. Filipe de Nery, em meados do século XVI e introduzido em Portugal no tempo de D. João IV. Ordenou-se presbítero em 1763.

Em 1784 é recebido com muita simpatia pelo papa Pio VI. Aproveitou a viagem a Roma para desenvolver os seus conhecimentos sobre obras de arte.

Em 3 de Setembro de 1788, regressa a Lisboa dando entrada no Colégio dos Congregados.
Falecendo o confessor da Rainha D. Maria I, é chamado para o substituir, o bispo do Algarve, D. José Maria de Melo. Para o lugar deixado vago, e indicado este ribatejano que tenta dissuadir os responsáveis de tal nomeação. Não o conseguindo, acaba por ser sagrado em Lisboa no dia 26 de Abril de 1789, por isso com cinquenta anos. Despido de vaidades, entra na Diocese com a simplicidade que lhe era peculiar.
Foi encontrar os confrades eclesiásticos em regime de quero, posso e mando, mas o novo bispo cedo os meteu na ordem. Havia padre que apresentava conta de tantas missas que, na verdade, a hora devia ter mais de 600 minutos!

Apesar de caminhos horríveis, Francisco Gomos do Avelar visitou diversas igrejas para conhecer os seus problemas, o que fez mais de uma vez.

As igrejas de Albufeira, Santa Maria do Castelo (Tavira), Aljezur, São Brás de Alportel, Estói, Cacela e São Luís (Faro), foram construídas de novo ou quase, sob a sua ordem e vigilância e mesmo nalguns casos, de risco.

Por sua iniciativa foi inaugurado em 8 de Janeiro de 1797 o seminário de Faro.
A austeridade que possuía só encontrava rival na bondade que punha em todos os seus actos.

Foi no seu tempo que se criaram mais ou menos por toda a Diocese, censitários públicos, pondo termo à prática, até então ainda usada, dos enterramentos nas igrejas.

Mas não foi só com assuntos eclesiásticos que o prelado se preocupou. Interessou-se por tudo o que pudesse engrandecer o Algarve.

Mereceram-lhe a melhor atenção a conservação de estradas, caminhos e pontes. Foram construídas, entre outras, as pontes de Ludo, Marim, Cacela e Marchil.

As termas das Caldas de Monchique, igualmente beneficiaram da sua acção, mandando fazer novas acomodações e reparar o hospital destinado a pobres.

Também no seu tempo se construiu o chamado Arco da Vila, um monumento representativo da cidade de Faro, com a estátua de São Tomás de Aquino e erguido em substituição de uma das arruinadas portas da antiga muralha. Para a realização deste e outros monumentos, fez vir de Roma o arquitecto Xavier Fabri que se hospedou no Paço até à sua retirada para Lisboa onde continuou a trabalhar.

Após a expulsão dos franceses, em 1808 e em que muito se empenhou, foi presidente da Junta Provisional então instituída e, tempo depois, vice-presidente do Conselho de Regência e encarregado do Governo das Armas da Província, função que desempenhou com elevado critério.

Pio VII em 1816, a pedido do Governo, concedeu-lhe o título pessoal de Arcebispo.
A agricultura algarvia também mereceu o seu cuidado, recomendando e ensinando os melhores e mais modernos sistemas, em conversas que mantinha com a gente do campo, onde se deslocava com frequência, no desejo de difundir os conhecimentos que obtinha com a leitura de obras de autores consagrados.

Os amendoais aumentaram e a qualidade melhorou. Aconselhou a enxertia de zambujeiros em oliveiras, publicou uma pastoral explicando como se deviam preparar os figos e dizem que foi o introdutor do cultivo da batata no Algarve.

D. Francisco Gomes do Avelar publicou livros de âmbito muito diverso.

A cidade de Faro erigiu-lhe no Largo da Sé um monumento em 1940, o que foi feito incluído nas Comemorações Centenárias.

Em 1969 a Junta de Freguesia de Calhandriz fez erguer um busto do seu filho ilustre no arruamento principal da povoação.

Esta figura tão marcante da vida do Algarve, tem merecido o interesse de muita gente que sobre a sua figura se tem debruçado.
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Algarviana – Subsídios para uma bibliografia do Algarve e de autores algarvios, Mário Lyster Franco Vol.I, 1982
Corografia do Algarve, João Baptista da Silva Lopes, Ed. 1982
“D. Francisco Gomes do Avelar – De guardador de suínos na Calhandriz a Bispo do Algarve”, Genoveva R. Coelho em Vida Ribatejana, nº Comemorativo do 8º Centenário da Conquista do Ribatejo e da Estremadura aos Mouros, 1947