domingo, 3 de maio de 2009

As Festas em Honra de Sto. António, em Vilgateira (Algumas considerações no tempo)

(Publicado no Correio do Ribatejo de 8 de Março de 1991)


(Publicado no Correio do Ribatejo de 8 de Março de 1991)

Depois de aqui termos feito algumas referências ao passado da Capela de Santo António, procurando também chegar aos nossos dias, talvez não seja descabido referir algo que compilámos e algumas considerações sobre as festas em honra do padroeiro do lugar.

A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira informa-nos que a Capela de Santo António tem (teve) romaria.

Pinho Leal ao referir-se à Capela de Santo António de Lisboa”no logar de Villa-Gateira” escreve:- “É objecto de grande devoção dos habitantes d´este logar, que no dia próprio (13 de Junho) lhe fazem uma explêndida festa”. (1)

Também o Boletim da Junta de Província do Ribatejo (2) refere que a Festa de Santo António tem lugar em Santo António da Várzea (Vilgateira), no dia 13 de Junho.

Em prospectos que anunciavam os festejos em devoção pelo maior Santo Português, indicam-se os dias 15, 16 e 17 de Agosto de 1937 e 14, 15 e 16 de Agosto de 1938. (3)

Não ficamos por aqui já que a Junta de Freguesia na década de sessenta informa a Comissão Municipal de Turismo que no mês de Setembro, durante três dias, era costume realizarem-se as tradicionais festas de Santo António, no lugar de Vilgateira, sede da freguesia.

Como se vê, existem diferenças acentuadas em relação à época da sua realização.

Talvez a romaria tivesse lugar em 13 de Junho, em tempos distantes, mas com o “desaparecimento” dos romeiros, a romaria teria dado lugar a festejos mais limitados à aldeia e freguesia.



Como teria passado para meados de Agosto? Não sabemos mas parece-nos que o facto se deve ao grande restauro que sofreu em 1880, com a reabertura do templo ao culto em 14 de Agosto.

Após a bênção, a imagem de Santo António foi trazida processionalmente da igreja matriz e colocada no seu altar.

Os festejos continuaram nos dias 15 e 16 com missas cantadas e sermões, música de igreja e de arraial pela Banda de Rio Maior e na tarde dos dois últimos dias as célebres cavalhadas, enlevo dos povos destes sítios.

Como já vimos, a mudança não ficou por aqui e aparece com realização no mês de Setembro.

Porquê nova mudança?

Tratando-se de uma região essencialmente agrícola, não escandaliza pensar ter havido a procura de uma data, após as colheitas, para assim se dispor de tempo e dinheiro, sempre necessário para mordomos, festeiros e povo em geral.

Em abono deste ponto de vista está a informação da Junta de Freguesia que diz “já não se realizarem desde 1952, em virtude dos mais anos agrícolas que têm surgido ultimamente”.

Além das cerimónias religiosas, missas cantadas com sermão, procissões, normalmente três, os festejos constavam de música de arraial, quermesse, cavalhadas, bailes, além do peditório pelas principais povoações da freguesia.

Os andores eram enfeitados com flores, principalmente rosas, ramagens e fitas de seda, oferecidas pelos devotos.

Bandeirinhas de papel de seda de várias cores e outros enfeites do mesmo papel, ramagens com destaque para as folhas de palmeira, davam o aspecto festivo indispensável.

O leilão de fogaças, muito do agrado deste povo, proporcionava boa receita pelo despique que originava entre os mais endinheirados.

Em 1917, “Há que tempo se não fazia a Festa de Santo António?” (4) até houve duas, com as situações e problemas que naturalmente ocorreram que são fáceis de calcular. Tempos da 1ª República!

Para quando o recomeço desta festa? Santo António continua a ser venerado como provam os painéis de azulejos existentes em muitas casas da freguesia.

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NOTAS

(1) – Portugal Antigo e Moderno, 1873/1890.
(2) - Anos de 1937/1940
(3) – A edição dos 1 000 exemplares deste ano foi realizada nas oficinas do “Correio da Extremadura”, em 19.07.1938.
(4) – Jornal “O Debate” de 21 e 28 de Junho de 1917.