terça-feira, 9 de novembro de 2010

Utensílios desaparecidos ou... quase

Isto das MEMÓRIAS DO MEU BAIRRO, são como as cerejas, come-se uma e ... as outras vão atrás. As arcas que estão no sótão, cheias de teaças, passa-se-lhe um pano, um spray milagroso na fechadura e após várias tentativas, vão-se abrindo. Umas têm mais conteúdo, de outras, pouco se aproveita.

Caros leitores (estou-me referindo à juventude do meu tempo, ainda que pense não sejam eles os únicos leitores) já pensou nos utensílios indispensáveis que existiram na sua casa ou na do vizinho que desapareceram completamente ou quase e se os quer recordar terá de ir a um museu situado não sei aonde ?

No primeiro quartel do século passado quase não existiam casas de banho ! A higienemuitas vezes fazia-se no quarto de dormir onde havia um lavatório de louça colocado em armação de madeira artisticamente trabalhada. A bacia assentava em placa de pedra mármore onde se encontrava também uma saboneteira e um jarro de louça, para a água. O móvel tinha duas portas no interior do qual se encontrava o balde que penso, originalmente, ter sido de louça, passando depois a esmalte. Existia uma ou duas gavetas onde se arrecadavam as toalhas, na altura de linho. Incorporado no móvel ou solto, o espelho oval com trabalhada moldura de madeira.

Isto passava-se nas casas ricas. Como era nas pobres ? Existia também um lavatório de armação de ferro, de bacia esmaltada com jarro e balde do mesmo material. Um pequeno espelho de simples moldura de madeira de forma rectangular era fixado com dois parafusos no lugar adequado. Por baixo do espelho situava-se o local de colocação das toalhas.

Mais simples ainda, existiam armações sem espelho, com local para a colocação de uma toalha ou pano de mãos e uma simples bacia e onde não havia balde.

Isto era o que se passava a nível geral e consequentemente no MEU BAIRRO.

A casa que sempre habitei no MEU BAIRRO devia ter sido construída no início da década de quarenta do século passado. Já tinha casa de banho. Era um luxo ! Sabem como era ? Uma pequena divisão, com janela para o quintal, tinha uma pia (sanita) com resguardo de madeira e autoclismo (de ferro) que avariava muitas vezes ! Para o accionar, puxava-se uma corrente de ferro em cuja extremidade havia uma pega em louça. Uma torneira de metal que minha mãe procurava ter sempre bem amarelinha à custa da selarine (?). Era tudo, o resto competia ao rendeiro.

Aí se encontrava um grande lavatório de armação de ferro, sempre pintado de branco, com bacia de louça e a saída através de um cano afunilado, com tampa de metal que devia igualmente de andar sempre bem limpa. Antes de chegar ao balde branco esmaltado, com pega de barrinha amoldável, ao centro da qual girava a pega propriamente dita e de madeira torneada, situava -se uma divisão circular de mármore onde se colocava a saboneteira esmaltada e como não podia deixar de ser, branca. A água encontrava-se num grande jarro esmaltado e igualmente branco mas cuja boca era debruada de azul. Era frequente também a pedra-pomes.

A armação de ferro tinha lugar próprio para se estenderem duas toalhas.

A um canto o bidé de louça que assentava igualmente em armação de ferro e que tinha a particularidade de ter uma coberta de pano leve, ao seu molde.

Uma banheira circular, um pouco chata, de grande bico para o despejo da água, de zinco ou folha zincada, cuja base era reforçada com ripas de madeira, para melhor aguentar o peso, estava pendurada na parede.

A higiene oral era praticada com o auxílio do bicarbonato de sódio que estava num frasco transparente e de tampa preta de baquelite. Punha-se um bocadinho na cova da mão que a escova agarrava. Depois, era esfregar, como se faz hoje com a pasta de dentes.

Ainda que aparecesse de vez em quando o sabonete “Musgo”, o que mais funcionava era o sabão azul e branco, que hoje se sabe ser mais saudável.

Em determinada altura funcionou na casa de banho uma selha circular, de madeira, onde com o auxílio de uma tábua, de forma rectangular em que um dos lados mais estreitos era levemente abaulado e que tinha um buraco ao meio para se poder pendurar e o outro era côncavo, terminando em dois bicos. A tábua, no seu sentido longitudinal, era às lombas para possibilitar um melhor esfregar da roupa.

Pouco tempo depois a selha foi substituída por um tanque de cimento armado de que nunca lhe vi o fim, se já o teve.

Mas onde eu gostava de tomar banho, era no grande tanque feito de pedra, cal e cimento do vizinho do lado. Servia de piscina, o que nós não sabíamos o que era e dava para grandes brincadeiras - tínhamos de ser intimados a acabar com o banho !

Velhos tempos !