domingo, 14 de novembro de 2010

Frei Luís de Sousa

Manuel de Sousa Coutinho nasceu em 1555 no Palácio de seus pais em Santarém, cuja frontaria dava para a Igreja do Salvador e entre as quais corria a Rua Direita da Porta de Leiria, actual Serpa Pinto.

Filho do fidalgo, guerreiro e escritor, Lopo de Sousa Coutinho e de D. Maria de Noronha, era um dos oito irmãos que constituíam a prole.

Estudou direito, actividade que troca talvez quando da morte do pai, pela carreira das armas.

Entra como noviço na Ordem de Malta. Estando a bordo duma galé malteza, depois de ter embarcado no porto de Sardenha, com seu irmão André, são atacados pelos piratas argelinos que os levam cativos para Argel. Trava conhecimento com outro cativo, Miguel de Cervantes que veio a ser um dos maiores escritores espanhóis de todos os tempos.

Consegue obter licença para se deslocar a Portugal, a fim de ir buscar o preço do seu resgate e de seu irmão que ficou como refém.

Volta a Argel para pagar os resgates e regressa à Pátria.

Em 1580 era alcaide de Marialva e capitão-mor da gente da sua comarca e certamente afecto ao rei estrangeiro.

Casa em 1583 com D. Madalena de Vilhena, viúva muito rica de D. João de Portugal, desaparecido nos campos de Alcácer Quibir.

Ainda que tivessem palácio em Lisboa, a S. Roque, vão viver para Almada onde Sousa Coutinho é nomeado guarda-mor e provedor da misericórdia e entrega-se ao negócio da sua casa e ao cultivo das letras, o que sempre o atraiu.

Exerce igualmente as funções de guarda-mor da saúde, em Lisboa.

A vida decorria sem grandes cuidados e o rei deu-lhe o comando de 700 peões e de 100 cavaleiros, até que em 1591, grassando a peste em Lisboa, os Governadores do Reino transferiram a corte para Almada e requisitaram o seu palácio. Em resposta, lança fogo ao mesmo e sai de Portugal, refugiando-se em Madrid.



Deu conta dos acontecimentos à Corte onde tinha amigos poderosos e não consta ter sofrido qualquer punição.

Possivelmente devido ao conflito criado com os governadores do reino, em 1601 parte para o Panamá, chamado pelo irmão, João Rodrigues Coutinho que para ali fora e punha as maiores esperanças no comércio.

Manuel Coutinho teria passado pelo Rio da Prata e Perú, dedicando-se ao comércio de cavalos para Angola, o que parece não ter sido compensador.

Regressa a Portugal em 1604 ou no ano seguinte, altura em que falece a filha única do casal, Ana de Noronha.

O casal divorcia-se em 1613, decidindo abraçarem a vida religiosa, D. Mariana no Convento do Sacramento, professando com o nome de Sóror Madalena das Chagas e Manuel de Sousa Coutinho no Convento de S. Domingos de Benfica, tomando o de Frei Luís de Sousa.

Tem então oportunidade de se dedicar ao culto das letras, revelando-se como prosador e historiador, um dos maiores vultos da literatura e da historiografia portuguesa dos finais do século XVI e dos princípios do século XVII.

Em 1619 saiu a público a “Vida de D. Frei Bartolomeu dos Mártires”, que deu origem a comentários elogiosos em Portugal e no estrangeiro e em 1623 a “História de S. Domingos”. A recolha dos elementos foi feita por Frei Luís de Cácegas, falecido em 1616 mas foi Frei Luís de Sousa quem as compôs e burilou com o seu talento de prosador vernáculo.

Já com setenta e cinco anos é encarregado por Filipe III de escrever a história de D. João III, que sob o título de Anais de D. João III só foi publicado em 1844, ainda que incompleto, por Alexandre Herculano.

Frei Luís de Sousa faleceu em 5 de Maio de 1632 no Convento de S. Domingos de Benfica, ficando sepultado em campa rasa da sua igreja.

Almeida Garrett criou à volta da sua vida o grande drama do teatro português, intitulado precisamente por “Frei Luís de Sousa”.

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Santarém no Tempo Virgílio Arruda, 1971
Boletim da Junta de Província do Ribatejo , 1937-40
Santarém, Lenda e História , Eugénio de Lemos, 1940
Antologia da Historiografia Portuguesa, Vol. I - Org. A.H. Oliveira Marques
História de Portugal , Vol. 3 - Dir. José Matoso
Selecta Literária , Org. José Pereira Tavares
Santarém na História de Portugal Joaquim Veríssimo Serrão, 1950
Património Monumental de Santarém