quarta-feira, 10 de março de 2010

A Sociedade Recreativa Vilgateirense

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 6 DE DEZEMBRO DE 1991)

Já deixámos nestas páginas (1) uma pequena achega para a “história” da fundação do Grupo Desportivo e Cultural “Os Galitos” da Várzea e aí referimos a existência de uma anterior associação de carácter recreativo e cultural, a Sociedade Recreativa Vilgateirense.

Bem poucos ou nenhuns vilgateirenses dela se lembrarão pois a sua fundação ter-se-ia dado em 1916, ou mesmo anteriormente, sabendo-se que ainda existia em 1919.

Possuímos poucos dados, quase todos transmitidos por via oral e que deviam ter sido escrito há trinta anos e não agora.

Sabemos que os grandes impulsionadores foram o Dr. António Miguel d`Ascenção, médico e António Luiz Jacinto, proprietário e negociante.

[António Luiz Jacinto que presidiu à associação]
A sede era um barracão de madeira. Coberto de telha de canudo que para o efeito se construiu no quintal de João Laranjeiro (2). Funcionava como casa de espectáculos, possuindo palco, plateia, geral e até camarotes!

Organizou-se um pequeno grupo cénico que o Dr. Ascenção ensaiava e um conjunto instrumental ao qual o Prof. Fernandes dava apoio. Entre os seus elementos lembram-se de José Carlos (Vilgateira) que tocava viola e um Frederico, sapateiro na Carneiria. Os outros, a memória da nossa informadora, não conservou. (3)

A sociedade promove no dia 11 de Fevereiro de 1917 (4), pelas 20,30 horas, um “atraente espectáculo” dividido em quatro partes, após o qual haveria grande baile.

Foram representadas três comédias, num acto, intituladas: “Um quarto de hora em Rilhafoles”, “A morte do cavalo” e “Os dois fingidos”. A 4ª parte era constituída por um acto de “Folies Bergeres”.

Na arte de representar actuaram Manuel Andrade, José Vargas, Frederico Silva, Maria da Anunciação Vargas, Violete e Henriqueta Silva Ascenção, D. Guilhermina da Graça Lopes e Augusto Pereira.

A interpretação de “Os três sacristas”, feita a pedido pelo êxito alcançado na primeira apresentação, foi desempenhada por José da Silva, Ezequiel Guilherme e José Vargas.



A encenação estava a cargo do Dr. Ascenção.

Em Junho seguinte (1917), a direcção para festejar ou comemorar a fundação, determina levar a efeito pequenos festejos em benefício da mesma e tendo em vista melhoramentos futuros. (5)

Como era dia de Sto. António e alguns dos seus membros serem bastante religiosos, resolveram incluir cerimónias alusivas ao Santo, o que foi considerado provocatório por outros elementos da aldeia, principalmente pelos que compunham a Junta de Freguesia.

Acabaram por se realizar duas festas simultâneas, com os resultados que facilmente se calcularão.

Em reunião da Junta de Freguesia é deliberado mandar intimar a “sociedade” a demolir o esqueleto de uma quermesse que impedia o trânsito entre as duas ruas.

Nisto tudo, não está nem mais nem menos do que a política. Os de esquerda num lado, os de direita, no outro.

Em 15 de Junho de 1919, a Tuna Recreativa Vilgateirense que se encontrava agregada à Sociedade Recreativa, promove festejos nos quais se incluem tiro aos pombos, corridas de bicicletas disputando fitas, cavalhadas e saltos, havendo um prémio para o cavaleiro que der o maior salto com a sua montada. (6)

Haverá também quermesse e fogo de artifício e disputar-se-á uma corrida de bicicletas, contra-relógio, com partida no Chafariz de S. Pedro (Casa do Sr. João Caniço) e chegada a Vilgateira.

As festas são abrilhantadas pela própria tuna que interpretará o seu reportório.

Um lindo estandarte de seda, bordado a ouro (7), ficou em casa de António Luiz Jacinto. Ainda existirá na posse de algum dos seus descendentes?

NOTAS

(1)– “Para a história dos “Galitos” da Várzea”, in Correio do Ribatejo de 17 de Maio de 1991.
(2) – Esse quintal presumimos pertencer à família Carreira.
(3) – Dados fornecidos por minha mãe que fez parte do grupo cénico.
(4) - Conforme programa que aqui reproduzimos.
(5) – Jornal “O Debate”, de Santarém, de 28 de Junho de 1917.
(6) – Conforme programa que aqui reproduzimos.
(7) – Bordado por minha avó materna e que também tina a seu cargo o guarda-roupa.