segunda-feira, 1 de março de 2010

O Ensino e a Educação

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 15 DE NOVEMBRO DE 1991)


[Grupo de alunas do ano escolar 1937/38 com a sua Prof. D. Isabel Barrera]

Dentro da nossa modéstia iremos hoje abordar outro assunto de interesse para o conhecimento da freguesia, ligando dentro do possível o passado ao presente,

É muito pouco o que iremos referir, mas sempre é alguma coisa que ficando escrita neste velhinho semanário, não se irá perder, admitindo que um dia alguém se venha a interessar pelo assunto. Se assim vier a acontecer, poderá ter aqui algumas achegas visto que nem tudo veio por via documental.

Por outro lado, facilmente pode desaparecer um livro de actas, o que não irá desaparecer certamente é a totalidade da edição do número deste jornal.

Sabíamos ir procurar mais, mas... a vida não nos permite fazê-lo.

***

Na freguesia da Várzea, que eu saiba, nunca se foi além do ensino primário. A telescola que se espalhou por todo o país, nunca aqui se instalou, pela proximidade de Santarém, pela falta de número suficiente de alunos ou pelo desinteresse das entidades responsáveis e das populações.

A pré-primária. De introdução oficial relativamente recente, ainda levou a uma reunião mas não se passou disso.

Em 30 de Abril de 1875 a Junta de Paróquia reunia com o inspector escolar no sentido de se procurar uma solução para a edificação da escola.

[O Padre Fragoso Rhodes]
A Junta não possuía fundos para a aquisição do terreno e construção do edifício, mas o padre “collado”, António Fragoso Rhodes (1) ofereceu terreno para a construção de uma caza escholar e para um piqueno jardim adjacente que sirva de recreio, na sua propriedade intitulada o Facho de S. Miguel, perto da igreja paroquial e cuja construção seria feita com donativos voluntários (2).

Precisamente um ano depois é pedido à Junta de Paróquia que se pronuncie sobre a criação de uma escola de ensino primário do sexo masculino, no Secorio, freguesia de Abitureiras. (3)

A Junta concorda com a construção pelas vantagens que existem, indo mesmo beneficiar algumas povoações desta freguesia. (4)

Só em meados de 1880, altura em que o ensino primário passou a ser obrigatório, isto segundo a acta que consultámos (5), se volta a falar na necessidade da construção em local saudável e não próximo de estradas com muita concorrência 8não estamos a ver onde estariam!) sendo necessário de 600 a 700 m2 para o recreio e no ponto mais central da freguesia.

São estas as condições impostas superiormente.

São considerados como ponto central os terrenos situados entre as Quintas do Freixo e da Pimenteira, cuja aquisição é considerada muito dispendiosa devido à existência de olival.

Visto a Junta não ter rendimentos para acorrer a tal despesa, é novamente falado no terreno oferecido pelo “prior collado” desta freguesia, o Reverendo Padre António Fragoso Rhodes, e que tinha sido aceite pelo inspector.

Um ano depois (1881.02.02) é criada a Comissão de Instrução e Educação Popular da Freguesia que incluía o professor do ensino primário.

É solicitado o lançamento de uma taxa sobre as contribuições gerais do Estado, na freguesia, a fim do do seu produto ser aplicado à “casa de aula”, habitação do professor, mobília e organização da biblioteca.

Em 14 de Abril de 1911 é solicitada a criação de uma escola mista em Perofilho, onde estavam mais de cinquenta crianças sem escola e iria servir as povoações do Grainho, Charruada e muitos casais dispersos.

Meses depois volta-se a insistir na criação da escola e no ano seguinte informa-se que estão naquela zona 108 crianças em idade escolar e não têm escola.

O analfabetismo na freguesia com 2.013 habitantes, é de 82,33%.

Em 1928 já havia escola em Perofilho, onde exercia funções a Prof. D. Ana Guadalupe Teotónio.

A actual escola foi inaugurada em 1948, congregando os alunos daquela zona da freguesia. Por ela passaram, entre outras, as Prof.s D. Odília, oriunda dos Açores e D. Guilhermina Maria Moura.

A outra escola da freguesia situa-se no Outeiro da Várzea e foi inaugurada em 21 de Outubro de 1956 com a presença do Governador Civil, Presidenre da Câmara e Director Escolar, entre outras individualidades. (6) O jovem Carlos Saramajo Eloi Godinho. Estudante liceal, foi um dos oradores, saudando as individualidades e congratulando-se com o acontecimento.

De duas salas, a área coberta é de 179 m2 com logradouro de 769 m2 (7). Obedeceu ao “Plano dos Centenários”, tal como a de Perofilho.


[Local onde primeiro funcionou a escola. Foto JV]

Antes da do Outeiro, começou por funcionar numa casa que já não existe e se situava em frente da garagem que foi de António Eloi Godinho (8), tendo passado posteriormente para o 1º andar do edifício da Família Eloi, ponto vital da aldeia e por último, para outro edifício da mesma família, na subida do rio Pau.

Naturalmente que foram muitos os professores que passaram por estas escolas, ultimamente, só senhoras.

Indicamos os que são do nosso conhecimento: João Ceríaco Pereira, que em 1919 presidiu à Junta de Paróquia, Prof. Féilx, Prof.as D. Maria Vicência, D. Maria José Ferreira, D. Isabel Barrera e D. Julieta do Nascimento Vilares Fragoso, há muitos anos a exercer funções nesta escola, tendo leccionado a maioria das varzeenses da zona, primeiro os pais e as mães, depois os filhos.

O varzeense tenente-coronel, Fonseca Guedes, no seu testamento instituiu um prémio para o aluno mais classificado das escolas da freguesia (10).

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NOTAS
(1) – Pároco da Freguesia desde 14 de Julho de 1833. Foi proprietário da Capela de Nª Sª da Conceição, na Aramanha, hoje profanada e em ruína.
(2) – Livro de Actas da Junta de Paróquia, termo de abertura de 1.12.1873, sessão de 30.04.1875.
(3) – A Freguesia da Moçarria a que Secorio veio a pertencer foi criada em 1922.
(4) – Livro de Actas da Junta de Paróquia, sessão de 30.04.1876.
(5) – A obrigatoriedade do ensino primário data de 1835.
(6) – Correio do Ribatejo de 20.10.1956.
(7) – Matriz Predial Urbana, Art. º 635.
(8) – Foi lá que minha mãe fez a instrução primária.
(9) – Correio do Ribatejo de 27.12.1985.
(10) - Correio do Ribatejo, 27 de Dezembro de 1985.