(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 30 DE NOVEMBRO DE 1995)
O saudoso Dr. Virgílio Arruda, “o mais ilustre de todos os santarenos, contemporâneos”, no dizer abalizado do Senhor Professor Veríssimo Serrão, incluiu D. Pedro de Meneses na rubrica ALGUNS DE SANTARÉM NO MUNDO, inserta no seu valioso trabalho, SANTARÉM NO TEMPO, dado à estampa em 1971.
Do que lemos, não encontrámos nem ano nem local onde nasceu.
Os Meneses tiveram durante séculos uma ligação forte com Santarém, onde possuíam os seus palácios como aquele em que hoje funciona a Câmara Municipal e que foi do Provedor das Lezírias.
Ainda que os seus restos mortais repousem em várias igrejas da cidade, tiveram o seu panteão na igreja do convento de S. Francisco. É natural por isso que alguns desjassem ser sepultados na terra que os viu nascer.
A igreja da Graça, fundada pelo 1º Conde Ourém (Meneses), também alberga alguns dos mais notáveis da sua linhagem.
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[Túmulo de D. Pedro de Meneses na Igreja da Graça, em Santarém num desenho do artista Braz Ruivo]
D. Pedro de Meneses era filho de D. João Afonso Teles, 1º Conde de Viana (do Alentejo) e de D. Guiomar de Portocarrero.
Como seu pai tivesse tomado o partido de D. João de Castela e veio a morrer nos arredores de Penela, em situação miserável, em princípios de 1384, foi com sua mãe para Castela.
Depois de assinada a paz, regressa a Portugal em 1411 e coloca-se ao serviço de D. João I. Faz parte da expedição a Ceuta levando sete navios armados à sua custa, gastando grande parte dos seus cabedais.
Luta rijamente na tomada da cidade. Armado cavaleiro no campo da honra, assiste ao conselho que se realizou a seguir e que entre outras coisas procurava encontrar governador para a praça.
Após a esquiva de grandes Senhores, D. Pedro de Meneses fez conhecer a sua disposição para ocupar o lugar que acaba por lhe ser entregue.
No acto de investidura, D. João I entregou-lhe o pau a que então se abordava, por estar ferido numa perna, o ALÉU, e o depois conde jurou defender., só com aquele aléu, de todo o poder dos mouros, a praça que acabava de lhe ser confiada e o seu aléu ainda hoje se encontra na imagem de Santa Maria de África, que se venera naquela cidade.
D. Pedro de Meneses governou Ceuta durante vinte e dois anos, até à sua morte que se verificou dentro dos seus muros (1437).
Diz Azurara, seu cronista, que durante dezasseis anos não despiu a sua cota de malha, rondando de noite e de dia. Define-o como perfeito guerreiro, valente, circunspecto e dotado de grande arte de prever os acontecimentos. Dá-o como homem de boa palavra e de cultura.
Conhecem-se duas vindas ao Reino. Uma em 1424, sendo-lhe na altura concedida a mercê do título de Conde de Vila Real.
Antes de 8 de Maio de 1433 já era 2º Conde de Viana e em 15 de Agosto deste ano, assistia, como alferes-mor, à aclamação do rei D. Duarte.
D. Pedro de Meneses procurou assegurar ao filho bastardo, D. Duarte de Meneses (que já referimos nestas FIGURAS), que muito admirava pelas excelentes qualidades de guerreiro, a capitania de Ceuta, o que não conseguiu pois a isso se opôs, legítima, D. Brites que veio a casar com D. Fernando de Noronha, reclamando para ele o governo da cidade, o que veio efectivamente a obter depois de 1415, após a morte de D. Pedro.
Para que isso tivesse acontecido, contou com o apoio da rainha D. Leonor.
Apesar de não ter conseguido realizar esse intento, o Conde obteve a concessão de poder partir os seus bens pelos filhos legitimados, o que evitou deixá-los à Coroa.
D. Pedro de Meneses casou com D. Margarida de Miranda de quem nasceu D. Brites de Meneses que casou com D. Fernando de Noronha, como já vimos, que lhe veio a suceder no título; depois e em 1420, com D. Filipa Coutinho, tendo morrido a bordo quando se dirigia para Ceuta; a terceira com D. Brites (ou Beatriz) Coutinho, a quarta e última em 1433, com D. Genebra.
Fora do matrimónio teve D. Duarte de Meneses que legitimou e foi governador de Alcácer-Ceguer.
Sua filha natural, D. Isabel de Meneses, casou em 1419 com Rui Gomes da Silva que foi também valoroso cavaleiro.
D. Leonor, filha do primeiro matrimónio de D, Pedro e a quem este encarregou de cumprir as disposições testamentárias e de ordenar a sua sepultura, mandou construir um formoso mausoléu constituído por “artística arca de calcário, assente sobre o dorso planificado de oito leões, ornada com os escudos dos inumados”.
Da decoração flórica, não foi esquecida a palavra “aleo” que se repete trinta e cinco vezes.
Foi também D. Leonor que insistiu com Gomes Eanes de Azurara no sentido de este escrever a história de seu pai, o que veio a acontecer.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Nobreza de Portugal, dir. de A. Martins Zúquete, 1961
Santarém no Tempo, Virgílio Arruda, 1971
História de Portugal, J. Veríssimo Serrão
Dicionário Ilustrado de História de Portugal, Ed. Alfa, 1982
História e Monumentos de Santarém, Zeferino Sarmento, 1993.