quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

As vias de comunicação

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 20 DE SETEMBRO DE 1991)

[Carroça no Outeiro da Várzea fazendo o trajecto de Vilgateira-Santarém em 1936. Retirado de memoria com.historia]

Boas vias de comunicação foram sempre e serão um factor, entre outros, de primordial importância para o desenvolvimento de uma povoação ou região.

Ainda que a freguesia da Várzea conte com a presença de duas estradas nacionais, nº 114 (Santarém-Peniche) e 362 (Santarém-Porto de Mós), situam-se praticamente nos extremos, localizando-se Vilgateira e outras aldeias, entre elas, consequentemente fora de mão, circunstância que tem sido negativa para o seu desenvolvimento.

Não há muitos anos os vilgateirenses para utilizarem os transportes públicos colectivos, tinham que se deslocar ao apeadeiro da Quinta do Gualdim ou ao de Perofilho, ambos situados a distâncias consideráveis.

As estradas municipais de macadame e os caminhos, além de poucos, encontravam-se sempre em mau estado, negando-se muitas vezes os motoristas a efectuar os serviços solicitados.

Na década de cinquenta, a linha viária dorsal da freguesia foi beneficiada com a criação de uma carreira que ligava Santarém a Rio Maior, passando pelo Cortelo, Outeiro da Várzea, Vilgateira, Carneiria e Casais de Alcobacinha, isto só para referir as povoações da freguesia directamente beneficiadas. O isolamento das populações levou, com esta medida, grande machadada.

[Estrada do Cortelo. Des. de JV, 1980]


A deslocação à cidade era feita antigamente de burro, noutros animais de sela para os mais endinheirados e, de carroça, quando não a pé.

Existia na aldeia um breque que era o táxi da época.

As peripécias passadas nesse percurso, e algumas ouvimos contar, davam matéria para extensa descrição!

Era penosa a ida à cidade, apesar da sua proximidade. Quantas vezes se tinha de recorrer às juntas de bois para retirar as viaturas!

Por estas razões e outras, as deslocações faziam-se em reduzido número, só quando havia imperiosa necessidade, mas as feiras da cidade eram sempre contempladas.

Faziam-se as compras para o ano, desde os utensílios para a lavoura, até às necessidades da casa, passando pelo vestuário e calçado.

Apesar das grandes modificações operadas, o varzeense gosta ainda de ir à Feira da Piedade ou do Milagre e alguns procuram também os mercados mensais de gado.

Apareceu entretanto o luxo da bicicleta! Muitas vezes tinha que se transportar a máquina às costas, a corta-mato, pelos olivais, já que por aí se tornava mais fácil passar!

Ainda vive na aldeia quem quando viu para primeira vez um automóvel subir a ladeira do Rio de Pau, fugiu espavorido.

O troço municipal que saindo junto das Quintas do Gualdim e da Granja, nos leva a Vilgateira, foi o primeiro a ser asfaltado (1972).

Só após 1974 se deu movimento ao asfaltamento das outras estradas municipais, o que constituiu um melhoramento muito considerável. Podemos hoje dizer que a freguesia está bem servida de vias de comunicação.

[Estrada da Perofilho. Foto JV, 2009]

Asfaltou-se o troço de Outeiro-Aramanha. Em 1979 foi a vez da ligação de Perofilho ao Cortelo e finalmente a estrada municipal nº 34, oriunda do alto do Mocho, via utilizada pela Rodoviária Nacional e que constitui a mais curta distância entre a cidade e Vilgateira.

Para completar a rede faltará, se a memória não nos atraiçoa, o troço Vilgateira-Aramanha, passando pela Fonte de Vilgateira ao Maio, pela Pisca e seguindo por Alcobacinha.

As vias de comunicação foram sempre das principais preocupações dos autarcas locais.

A freguesia da Várzea éw hoje atravessada pela auto-estrada (Lisboa-Porto), o que deu ligar a expropriações mas pensamos que tal facto irá pesar no desenvolvimento da freguesia.

Terminaremos o tema com a indicação cronológica de acções desenvolvidas neste campo:

1873 – A Junta de Paróquia deu parecer favorável devido aos benefícios e vantagens que traz à inclusão definitiva da estrada municipal, a que parte ao quilómetro 6 da Estrada Real nº 65 e que termina no lugar de Albergaria, servindo Outeiro da Cortiçada e Correias;

1880 – A pedido da Junta de Paróquia de Abitureiras e com o aval da da Várzea, a mesma estrada passa a “distrital”;

1907 – A Junta de Paróquia pede à Câmara Municipal para que a “contribuição de trabalho” da freguesia seja aplicada na estrada entre Perofilho e Baixinho, que estava intransitável;

1910 – São pedidos cem mil réis para o arranjo do ramal vivinal para a Fonte de Vilgateira;

1911 – Prevê-se o arranjo de 7 km de estrada municipal e a conclusão da estrada de Vilgateira (210 m) com calcetamento nas valetas;

1915 – É deliberado pedir à Câmara Municipal para que também se construa a estrada do Gualdim ao entroncamento com a estrada do Cortelo;

1933 – A Câmara Municipal deliberou mandar reparar a estrada da Fonte de Vilgateira, e um maoa das estradas municipais do distrito de Santarém classificava as seguintes no que respeita à freguesia da Várzea:

E.M. nº 32 – De Perofilho ao Baixinho e ramais;

E.M. nº 33 – De Perofilho ao Gualdim;

E.M. nº 34 – Do Mocho à Várzea e ramais;

1940 – Construção da estrada de Perofilho ao Grainho, e pavimentação inteiramente renovada da estrada de Perofilho à estrada da Várzea;

1947 – É projectada a estrada entre a freguesia da Várzea e a Romeira;

1960 – A população dos Casais dos Chões pede à Junta autorização para consertarem, por sua conta, uma esxtensão de 200 m de estrada que faz limite com a freguesia da Moçarria;

1961 – Foi concedido um subsídio para o arranjo da estrada de Alcobacinha e arranjo da estrada da Charruada – 1 km já se encontre terraplanado. Existem 50 m3 de brita e são necessários outros tantos. Fizeram-se setecentos e cinquenta metros de estrada nova e repararam-se 650;

[Estrada dos Casais da Charruada. Foto JV, 2009]

1966 – Estrada de Vilgateira ao Maio, passando pela Pisca e seguindo por Alcobacinha (1.500 metros). Foi concedido um subsídio de 15 contos. Alargado e construído um aqueduto;

1968 – A Junta de Freguesia pede a construção dos seguintes caminhos: Da Laranjeira aos Casais do Orégão, numa extensão de 455 metros e de Vilgateira ao Rio Feitor, de 165 metros;

1970 – A J. F. gasta 41.495$00 no arranjo da estrada do Quintão ao Grainho;

1972 – Alcatroamento da estrada da Quinta do Gualdim a Vilgateira e pedido à Câmara Municipal do mesmo em relação à do Alto da Olaia ao Alto do Mocho;

1973 – É novamente solicitado o alcatroamento da estrada do Cortelo e a reparação do caminho da Aramanha à fonte do mesmo ligar, numa extensão de cento e cinquenta metros. Igualmente se solicita a reparação da “rua” que parte de Vilgateira para a Fonte do mesmo lugar e da estrada de Vilgateira aos Casais da Aroeira, já da freguesia das Abitureiras;

1979 – É pedido o asfaltamento da estrada do Cortelo, Perofilho e Casais do Rosário;

[Carneiria, autoestrada. Foto JV]

1980 – A J.F. deliberou propor o alcatroamento de:- Rua do Moderno, Casais do Mocho à Flor do Mato, Rua do Quintão. Estrada dos Casais da Charruada, Rua da Parreira, no Grainho e troço da estrada entre a Quinta de S. Martinho e o Laureano. É proposto também o empedramento de: - Estrada das Hortas (Casais da Azenha aos Casais da Narcisa), estrada da Carraceira (do Rio Pau à Carneiria) e estrada dos Casais do Maio e Casais da Aroeira.

Aqui fica o que foi possível reunir sobre o assunto.