segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O Dr. Sousa Cirne, magistrado e político

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 28 DE JUNHO DE 1991)


[Armas dos Cirnes]

Voltemos ás figuras da terra varzeense e desta vez o evocado não nasceu na Várzea mas a ela ficou ligado pelos bens que lá possuía.

Para nós, a sua revelação enquadrada na freguesia é feita pelo infatigável Pinho Leal (1) que ao não indicá-lo quando se referiu a Santarém, aproveita a oportunidade para encaixa-lo nesta freguesia, invocando a circunstância de ali ser grande proprietário, mas não indica esses bens.

Enquanto não os sabemos e talvez isso nunca venha a acontecer devido ao nosso afastamento de Santarém, onde não seria difícil localizá-los nos arquivos locais, iremos referir o que nos foi possível obter de carácter geral.

Manuel da Sampaio Freire de Andrade de Sousa Cirne, de seu nome completo, nasceu em Santarém no dia 24 de Fevereiro de 1790 e aí faleceu em 5 de Outubro de 1860.

Era filho do desembargador e conselheiro, João Sampaio Freire de Andrade e de D. Bárbara Gertrudes Tavares de Sousa Cirne.

Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, Comendador da Ordem de Cristo.

Doutorou-se na Universidade de Coimbra em 3 de Julho de 1813, ingressando na magistratura como corregedor do crime do Bairro de Belém, que tinha anexa a Provedoria de Oeiras (1815).

Em 1821 foi nomeado desembargador da Relação do Porto e em 1829 colocado na Casa da Suplicação onde se conservou até 1833.

Quando as forças do Duque da Terceira entraram na capital, não se apresentou aos liberais, pelas suas convicções realistas, o que não impediu que recebesse as mais inequívocas provas de respeito e consideração, o que deve atribuir-se à forma digna e leal com que se houve no julgamento de crimes políticos. (2)

Tinha verdadeiros amigos, parentes e condiscípulos, em ambos os campos – realista e liberal.

Foi aposentado como desembargador, com honras de conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça.

Em Setembro de 1836, pelo falecimento do seu tio materno, Manuel Eusébio Tavares de Sousa Cirne, uma das pessoas proposta pela Câmara como capaz de ser Comandante do Corpo Voluntário Realista da vila de Santarém (3), o que veio a verificar-se já que Pinho Leal o indica como tenente-coronel, comandante do Batalhão de Voluntários Realistas de Santarém, herdou o morgado dos Cirnes, indo então residir para a terra da sua naturalidade.

Por morte de outro tio, também materno, o Padre António Filipe de Sousa Cirne, bacharel formado em cânones e cónego de Santa Maria de Alcobaça, uma das pessoas indicadas como “mais circunspectas e de toda a probidade que possam servir de testemunhas no que for a bem do Real Serviço” (3), herdou o restante da Casa dos Cirnes.

Casou em Santarém com D. Maria Guilhermina de Barros Sampaio Cirne (4) e Pinho Leal informa que era seu filho, Guilherme de Sampaio Freire de Andrade de Sousa Cirne, fidalgo cavaleiro da Casa Real, na altura, o representante da ilustre Casa.

Parece-nos que a designação toponímica de Alto do Freire, está relacionada com algum elemento desta família pois a zona rústica ter-lhes-ia pertencido.

Aqui fica o que até agora pudemos obter sobre esta Figura que após a aposentação teria levado uma vida muito ligada à freguesia da Várzea.

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NOTAS
(1) Portugal Antigo e Moderno, 1873/1890.
(2) Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
(3) Santarém entre as Guerras Liberais, 1820 – 1835, Luís Eugénio Ferreira, 1977
(4) Dicionário “Portugal”, Ed. Romano Torres, 1915.