segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Fonseca Guedes, numismata e Homem de Cultura


(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 14 DE JUNHO DE 1991)

Já nestas páginas falámos de um varzeense que se destacou entre os demais, pela obra poética que deixou.

Hoje, falaremos de outro, mais novo mas contemporâneo daquele. Trata-se de João Lopes da Fonseca Guedes que seguiu a carreira das armas, passando à reserva no posto de tenente-coronel.

Nasceu na dispersa povoação da Carneiria a 18 de Janeiro de 1895.

Frequentou o velho Liceu de Santarém que funcionava no edifício do Seminário.

Militar da arma de artilharia, exerceu as suas funções em várias unidades espalhadas pelo país e pelo seu desempenho foi distinguidos com louvores, medalhas de oiro e prata de comportamento exemplar, a Comenda Militar de Avis e a Medalha de Mérito Militar (1).

O seu interesse por problemas de arqueologia, refere o Dr. Virgílio Arruda, levaram-no a estudos que muito contribuíram para a defesa de pontos de vista de Santarém nos tempos medievais.

Em 1971 ofereceu à Junta de Freguesia da sua naturalidade, para ser colocado na torre da igreja matriz, um relógio. A inauguração efectuou-se pelas doze horas do 1º de Janeiro daquele ano, com a presença do ofertante e esposa, Vereador Joaquim Caetano Frazão, em representação da Edilidade, António Elói Godinho, Presidente da Junta e restantes membros, pároco da freguesia e muito povo.


[Carneiria, Hurbanização. Foto JV, 2009]
Por decisão autárquica, foi descerrada uma lápide na torre da igreja referindo o acontecimento e na sede da Junta foi oferecido um beberete pela população. (2)

Em recentes obras de restauro do templo (1987), foi a lápide retirada do seu local, desconhecendo onde se encontra. Parece-nos ter sido pouco ponderada tal atitude com a qual nos assiste o direito de não concordar.

Com destino ao abastecimento de água a Vilgateira e em memória de seu pai, Joaquim Lopes da Fonseca, que foi vereador da Câmara Municipal de Santarém, ofereceu a esta a quantia de duzentos mil escudos. (3)

Mas foi no campo da numismática que Fonseca Guedes mais se notabilizou, tanto como coleccionador, como estudioso da matéria.

A sua colecção foi extremamente valiosa, um tesouro, onde chegaram a ter lugar as raríssimas moedas de D. Afonso Henriques, um dinheiro único de D. Afonso II e um tostão de Henrique.

Da publicação dos seus estudos, conhecem-se: Um Tostão de D. João IV, publicado em 1954, Um Dinheiro de D. Afonso Henriques (1956) e Subsídios para o Estudo e Arrumação das Moedas dos Primeiros Reinados (1958).

Informam os conhecedores que este trabalho foi muito útil para outro grande autor, o Eng. Ferraro Vaz, ao preparar a sua “Numária Medieval Portuguesa”, editada em 1960. (4)

Falámos uma única vez com o Tenente-Coronel Fonseca Guedes, talvez no ano de 1964 e precisamente por causa de moedas, já que se deslocou ao nosso local de trabalho para observar alguns exemplares que aí se encontravam, cujo possuidor julgava de grande valor mas que o perito assim não considerou.

Sabemos que procurava estar sempre ao corrente do que se ia passando pela sua freguesia natal e o Presidente da Junta tomava em boa consideração as suas opiniões.

Era um homem, segundo informam quem bem o conhecia, muito reservado e de poucas palavras.

Filho único, tal como sua esposa, não deixou descendentes. (5)

Faleceu em Santarém no dia 20 de Dezembro de 1985, sendo sepultado no cemitério da freguesia onde nasceu.

Em 15 de Fevereiro de 1986 a Sociedade Numismática Scalabitana prestou-lhe homenagem colocando na campa uma lápide assinalando o seu reconhecimento pela obra construída e que tanto enriqueceu a ciência numismática, designadamente no período medieval. (6)

Os numismatas scalabitanos não o têm esquecido, lembrando-o em várias ocasiões.

Fez valiosos legados a instituições de Santarém não esquecendo a sua freguesia natal, instituindo um prémio para o aluno mais classificado das escolas da freguesia. Por mais que tenhamos diligenciado, ainda não conseguimos saber no que consiste.

Fonseca Guedes – numismata, arqueólogo, bibliófilo e benemérito. Um nome que os varzeenses não devem esquecer.

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NOTAS
(1)–Santarém no Tempo, Virgílio Arruda, 1971.
(2)Actas das Sessões da J. F. Várzea de 14 e 21 de Dezembro de 1970.
(3)–Correio do Ribatejo de 11 de Dezembro de 1981.
(4)–“A Sociedade Numismática Scalabitana recorda Figura e Obra de Fonseca Guedes, em 15 de Fevereiro”, José Miguel Correia Noras in Correio do Ribatejo de 14 de Fevereiro de 1987.
(5)“Fonseca Guedes, 2 anos depois”M. Paulo, in Correio do Ribatejo de 14 de Fevereiro de 1987.
(6)Correio do Ribatejo de 14 de Fevereiro de 1986.