sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A medicina popular

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 12 DE JULHO DE 1991)


[Rua de Vilgateira, 1968. Desenho de JV]

Na linha temática diferenciada que temos vindo a desenvolver nas páginas deste hebdomadário, abordando sem ordem esquemática natural vários temas da vida varzeense, referiremos hoje, ainda que muito superficialmente este assunto.

É tema para corrigir, rectificar e principalmente para aumentar.

Pensamos que no contexto que idealizámos da vida desta freguesia, ocupa um lugar que não podemos desprezar, pois ajuda-nos a compreender melhor a realidade varzeense.

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Ainda que a constante evolução da medicina seja um facto que todos nós prezamos, nem por isso pusemos de parte os seus primórdios de que as mezinhas são parte importante.

Conseguindo resistir ao decorrer dos séculos, transmitidas pelos avoengos, vão passando de geração em geração, utilizando-se com maior ou menor intensidade, conforma as regiões.

De uma maneira geral são utilizadas antes de recorrer à medicina convencional ou quando a ela se recorre e não se obtém os resultados desejados – é muitas vezes, a última esperança!

Não podemos esquecer o facto dos medicamentos laboratoriais terem por base os produtos naturais onde abundam os do reino vegetal.

Algumas das mezinhas que os varzeenses conhecem e utilizam, são do conhecimento geral, do Norte ao Sul do país, mas, com outras, assim não acontece e são próprias da zona.

Vamos assim indicar algumas que recolhemos e onde encontramos daqueles dois tipos.

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É vulgar saber-se que “a água das rosas brancas” desinflama a vista, tal como a normalização que causa arterial o chá da folha do marmeleiro, oliveira ou figueira.

Também não admira referir que as lavagens com água das cascas ou das “coroas” da romã, são benéficas ao combate do hemorroidal.

Quando se sente fastio, toma-se o chá da macela (camomila), vulgo marcela, que apesar do seu gosto amargo, faz abrir com facilidade o apetite.

A diarreia é combatida com o chá da “erva das cabaças” ou dos “ouriços” e o fígado sente-se bem com o chá do hipericão da serra.

As rodelas de batata colocadas sobre a testa com o auxílio de um lenço que se aperta, aliviam, devido ao poder do amido, as dores de cabeça.

Para a bexiga funcionar bem, chá de barbas de milho ou da “erva pinheirinha”.

O catarro é combatido com o chá de alecrim e “para refrescar o sangue”, usam o da sargacinha. O chá da agrimónia ou da alfavaca da cobra usa-se para os intestinos.

Entrando num campo menos vulgar, diremos que para o constipado, o varzeense faz um lambedor, fervendo em água, casca de amêndoa, flor do sabugueiro, borragem, figos secos e passas de uva.

Se quer fazer desaparecer a impingem, misture vinagre forte com poeira e aplique a pomada daí resultante sobre a parte afectada.

As feridas são curadas fazendo arder losna (absinto) e aplicando a sua cinza.

Fazer um defumadouro com folhas secas de “tomates do inferno”, alivia os ataques de bronquite.

Para a tosse convulsa, aproveita-se o suco da folha da piteira, a que se junta açúcar.

Terminaremos o tema com a seguinte “estória” contada por um varzeense.

Quando os serrenhos vinham para a apanha da azeitona, um dia bateram-me à porta perguntando-me onde poderiam encontrar “caganitas” de rato. À minha admiração, justificaram dizendo que uma companheira estava com cólicas e um chá daquilo aliviava-lhe bastante o sofrimento!

Não me admira pois já recolhi algumas do mesmo tipo noutras regiões.