sexta-feira, 2 de abril de 2010

Lembrando os varzeenses que se bateram na Guerra Mundial 1914-18

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 20 DE DEZEMBRO DE 1991)


A escolha dos assuntos a abordar, como já verificaram, têm origens diversificadas.

Um dos filões que exploramos, é o facto histórico a nível nacional, pretendendo saber algo que se tenha passado a nível de freguesia.

É nesse sentido que elaborámos o tema de hoje.

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A nossa participação na 1º Grande Guerra Mundial, que se verificou em 1917, não foi pacífica pois havia quem a defendesse e quem preferisse que ficássemos numa posição neutral.

Venceram os primeiros e daí a organização do Corpo Expedicionário Português, efectuado em poucos meses em Tancos e que comportou milhares e milhares de portugueses.

Naturalmente que o recrutamento também se fez sentir nesta freguesia.

É muito pouco o que vamos referir, tudo obtido por via oral mas que talvez por isso mesmo tenha interesse especial pois se não ficar escrito, vai diluir-se no decorrer dos tempos e perder-se.

Garantia-nos em 1980 um ancião vilgateirense amigo (1) e já falecido, que sabia e tinha conhecido todos os varzeenses que estiveram na Guerra, podendo mesmo referenciá-los um por um, sem falhar.

Não está em causa se falhou ou não na sua enumeração e se efectivamente sabia de todos os que tinham sido mobilizados. A verdade é que os indicados teriam mesmo lá estado, sendo dois ou três do nosso conhecimento, adquirido em conversações com a nossa mãe, na altura do conflito, ainda bem jovem.

Alguns dos nomes indicados são provenientes de alcunhas, visto o informador só os conhecer assim.

Fizemos algumas tentativas na década passada para os obter mas não foi possível. Aos eventuais familiares dos alcunhados aqui deixo o pedido de esclarecimento.

Todo este tema podia ser enriquecido por depoimentos de familiares já que é tradicional, assuntos destes passarem de pais para filhos – fica sempre na memória, um ou outro acontecimento que mais impressionou, ainda que haja condições para a deturpação.

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Estiveram em terras de Flandres, pelo menos treze varzeenses e indicamos em primeiro lugar, como simples homenagem, José Monteiro, que lá perdeu a vida,

Os Monteiro são uma família que ainda existe na freguesia.

Não temos a certeza, mas pensamos que já não vive nenhum dos restantes doze.

Manuel Lourenço, vulgo Ciclá (2), a quem nos referimos noutro tema e que conhecemos bem, por lá andou e contava de uma maneira peculiar o que tinha passado.

Era uma figura típica da aldeia de Vilgateira, castiço, com o seu barrete preto, calça de serrobeco e bota cardada. Vivia numa casita na rua que dá acesso à estrada para a Quinta da Narcisa, mourejando no bocadito de terra que aí possuía.

Recebia uma insignificante importância da Liga dos Combatentes, na altura chamada da Grande Guerra.

Procurava-nos anualmente para lhe fazermos um favor – pagar a “décima” da terra e das casitas – o que nada nos custava e fazíamos com gosto. Ainda estou a ver o seu agradecimento, tirrando de uma maneira muito própria o barrete, que sempre usou.

Outro combatente que conhecemos foi João Montês, vulgo João da Fonte, por morar no lugar da Fonte de Vilgateira, onde ainda tem descendentes.

Quando juntamente com outros cujo nome não posso precisar, regressou à sua aldeia, contava-nos a nossa mãe que tinha sido à noite, era domingo e havia baile.

Foi um alvoroço na aldeia, a notícia correu célere e todos queriam ver e abraçar aqueles seus conterrâneos que duvidavam pudessem regressar.

De Perofilho estiveramAntónio Nunes, António e José Faustino, cujos nomes de família ainda perduram na zona e Manuel Coxo. Este último, certamente por alcunha adquirida após o regresso ou proveniente de algum familiar. Ou seria que na altura “apuravam” mancebos com defeito físico?

António Paulino, vulgo Sardão. Ezequiel da Rosa e Manuel da Costa Baguim, que também conhecemos e foi para o Asilo dos Inválidos Militares, em Runa, são outros dos soldados indicados.

Dos Casais do Maio foi seu represente um António, por isso mesmo conhecido por António do Maio.

O único graduado, 2º sargento, era António Carreira, apelido de família ainda existente.

António Pito acabou por abandonar a região e fixar-se no Laranjeiro, concelho de Almada.

São, como vedes, muito simples as referências que aqui deixamos quando se acaba de comemorar o 73º Aniversário do Armistício.

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NOTAS
(1) – Foi Florindo da Costa Paulo, homem de rija têmpera, bom manejador de um pau ferrado.
(2) – Acabou por vender a fazenda e a casita, acolhendo-se a um Asilo ba Vila de Alcobaça, onde teria acabado os seus dias.