(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 3 DE JANEIRO DE 1992)
Título outorgado a D. José Maria Gonçalves Zarco da Câmara, por alvará do Conselho de Nobreza de 20 de Abril de 1947, em nome do Duque de Bragança, Senhor D. Duarte.
Filho do 10º Conde, que foi Par do Reino e bacharel em Direito, nasceu em Lisboa a 9 de Dezembro de 1898 (1) e faleceu na sua Quinta do Mocho, em 29 de Maio de 1961.
Mais um fidalgo que deixou a sua vida ligada a esta freguesia, na qual residiu e onde possuía avultados bens.
Assistia com frequência à missa dominical na igreja matriz da freguesia. Interessava-se pelos seus problemas e apoiou a fundação dos “Galitos da Várzea”,
Vimos o Senhor D. José do Mocho, como era vulgarmente conhecido, uma únuca vez, teríamos uns onze anos e acompanhávamos o nosso pai.
Apesar da pouca idade, já tínhamos ouvido falar bastantes vezes nele, ao povo e sempre de uma maneira que nos impressionava, já que era unânime as boas referências que lhe ouvíamos fazer.
O cumprimento a que se seguiu uma breve troca de impressões, teve para mim algo de diferente.
Logo que nos foi possível, bombardeámos o nosso progenitor com as mais variadas perguntas para as quais íamos obtendo as respostas possíveis.
[Quinta do Mocho, que lhe pertenceu. Foto JV, 1991]
Era-nos esclarecido ser uma pessoa altamente respeitada pela linhagem, porte, fino trato e bondade, gozando de grande estima entre a população.
Um velho amigo que entretanto tinha aparecido, exímio executante na Banda dos Bombeiros de Santarém, chamou-nos a atenção para o facto de ser grande conhecedor de música erudita e mesmo executante.
[Fonte na EN 114, próximo da Quinta do Mocho e hoje recuperada. Foto JV, 1991]
Pensávamos nós, nos nossos onze anitos, que um fidalgo havia de ser diferente dos outros homens!
Mas para falar do Senhor D. José, nada como recorrer à grande figura escalabitana que foi o saudoso Dr. Virgílio Arruda e respigar alguns dados que sobre ele escreveu na passagem do 25º aniversário do seu falecimento.
“Pertencendo a uma das mais distintas famílias, não se distinguiu apenas pela nobilitante gerarquia dos seus ascendentes.
Mais do que fidalgo pelo sangue, a sua fidalguia vinha-lhe do coração e do espírito, da nobreza dos seus sentimentos, do ascendente da sua intelectualidade, da sua cultura artística, da sua veia lírica, da sua execução musical e da lhaneza so seu trato pessoal.
Muito lhe ficou devendo Santarém pela sua participação activa em tantas actuações culturais, em obras de benemerência, em concertos musicais, em empreendimentos teatrais, em conferências e em outras iniciativas de interesse público”.
E continua o Senhor Dr. Virgílio Arruda: “Salientemos ainda o mérito que do seu convívio pessoal advinha a sua vontade de bem servir da sua modéstia exemplar, da sua esmerada educação, do seu incessante contributo para o bem dos outros.
Da sua cultura literária, do seu lirismo de poeta desconhecido do grande público, da sua classe de grande instrumentista – exímio no violoncelo – afeita à interpretação magistral de partituras transcendentes, D. José Ribeira assinou uma época da vida santarena que se pode considerar, sem favor, a nossa idade de oiro”.
A vinda a Santarém de orquestras de grande categoria, regidas por Debroen, Igor Maskevizs, Pierino Gammba e outros e de instumentistas, como Ginette Leveux, Michelin, Paul Breton e outras figuras de primeira grandeza, a participação dos maestros Silva Pereira, Luís Silveira, Belo Marques, Fernando Cabral, Joel Canhão e outros dedicados regentes do Coral Scalabitano, para isso contribuíram.
Tendo vivido durante muitos anos em Inglaterra, manteve relações com individualidades estrangeiras que frequentemente o visitavam na sua residência da Quinta do Mocho e na de Santarém”. (2)
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NOTAS
(1)–Nobreza de Portugal, 1961 e Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
(2)–“Uma efeméride – D. José Gonçalves Zarco da Câmara (Conde da Ribeira Grande), faleceu há vinte e cinco anos”, Virgílio Arruda, in Correio do Ribatejo, de 29 de Maio de 1986.