
Filho do 10º Conde, que foi Par do Reino e bacharel em Direito, nasceu em Lisboa a 9 de Dezembro de 1898 (1) e faleceu na sua Quinta do Mocho, em 29 de Maio de 1961.
Mais um fidalgo que deixou a sua vida ligada a esta freguesia, na qual residiu e onde possuía avultados bens.
Assistia com frequência à missa dominical na igreja matriz da freguesia. Interessava-se pelos seus problemas e apoiou a fundação dos “Galitos da Várzea”,
Vimos o Senhor D. José do Mocho, como era vulgarmente conhecido, uma únuca vez, teríamos uns onze anos e acompanhávamos o nosso pai.
Apesar da pouca idade, já tínhamos ouvido falar bastantes vezes nele, ao povo e sempre de uma maneira que nos impressionava, já que era unânime as boas referências que lhe ouvíamos fazer.
O cumprimento a que se seguiu uma breve troca de impressões, teve para mim algo de diferente.
Logo que nos foi possível, bombardeámos o nosso progenitor com as mais variadas perguntas para as quais íamos obtendo as respostas possíveis.

Era-nos esclarecido ser uma pessoa altamente respeitada pela linhagem, porte, fino trato e bondade, gozando de grande estima entre a população.
Um velho amigo que entretanto tinha aparecido, exímio executante na Banda dos Bombeiros de Santarém, chamou-nos a atenção para o facto de ser grande conhecedor de música erudita e mesmo executante.

Pensávamos nós, nos nossos onze anitos, que um fidalgo havia de ser diferente dos outros homens!
Mas para falar do Senhor D. José, nada como recorrer à grande figura escalabitana que foi o saudoso Dr. Virgílio Arruda e respigar alguns dados que sobre ele escreveu na passagem do 25º aniversário do seu falecimento.
“Pertencendo a uma das mais distintas famílias, não se distinguiu apenas pela nobilitante gerarquia dos seus ascendentes.
Mais do que fidalgo pelo sangue, a sua fidalguia vinha-lhe do coração e do espírito, da nobreza dos seus sentimentos, do ascendente da sua intelectualidade, da sua cultura artística, da sua veia lírica, da sua execução musical e da lhaneza so seu trato pessoal.
Muito lhe ficou devendo Santarém pela sua participação activa em tantas actuações culturais, em obras de benemerência, em concertos musicais, em empreendimentos teatrais, em conferências e em outras iniciativas de interesse público”.
E continua o Senhor Dr. Virgílio Arruda: “Salientemos ainda o mérito que do seu convívio pessoal advinha a sua vontade de bem servir da sua modéstia exemplar, da sua esmerada educação, do seu incessante contributo para o bem dos outros.

A vinda a Santarém de orquestras de grande categoria, regidas por Debroen, Igor Maskevizs, Pierino Gammba e outros e de instumentistas, como Ginette Leveux, Michelin, Paul Breton e outras figuras de primeira grandeza, a participação dos maestros Silva Pereira, Luís Silveira, Belo Marques, Fernando Cabral, Joel Canhão e outros dedicados regentes do Coral Scalabitano, para isso contribuíram.
Tendo vivido durante muitos anos em Inglaterra, manteve relações com individualidades estrangeiras que frequentemente o visitavam na sua residência da Quinta do Mocho e na de Santarém”. (2)
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NOTAS
(1)–Nobreza de Portugal, 1961 e Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
(2)–“Uma efeméride – D. José Gonçalves Zarco da Câmara (Conde da Ribeira Grande), faleceu há vinte e cinco anos”, Virgílio Arruda, in Correio do Ribatejo, de 29 de Maio de 1986.