sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

P. Nunes da Silva

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 22 DE MARÇO DE 1996)

[Desenho de J.V.]

O Padre Francisco Nunes da Silva, conhecido carinhosamente na terra que lhe foi berço, por Padre Chiquito, nasceu em Santarém, mais propriamente no Alfange, Paróquia de S. João evangelista, em 1790, sendo filho de Ventura da Silva e de Rita Joaquina.

Foi um sacerdote digno, puro e virtuoso, um homem bondoso, cidadão benemérito e grande amigo do operariado.

Frequenta o Seminário Patriarcal de Santarém e após a guerra civil exerce funções de assessor na Paróquia de S. Julião do Pereiro, uma das treze em que Santarém estava dividida.

Substitui tempos depois (1834) o prior da mesma freguesia, cabendo-lhe a efectividade, após a morte deste ocorrida em 1844.

Anos depois (1851), a Paróquia de S. Julião é englobada com outras na de Marvila que fica constituindo a maior do velho burgo escalabitano.

As igrejas de S. Julião e de S. Lourenço. sitas ao Pereiro e há muito desaparecidas, continuaram a merecer a sua assistência religiosa.

Em 1854 funda-se em Santarém o Monte-Pio Artístico Nª Sª da Conceição, associação mutualista que já pouco ou nada tem de carácter religioso – o mome que veio a perder depois.
A direcção do Montepio Artístico, como passou a designar-se, era constituída maioritariamente por operários, cumprindo-se aliás, o estatuto.

O Padre Chiquito aderiu a este ideal mutualista, a que diz ter a honra de pertencer e contempla a associação, no seu testamento, com quatro acções do Banco de Portugal e fazendo mesmo a direcção do Montepio executante das suas disposições. Além disso o Padre Chiquito dispôs no seu testamento que o rendimento do que possuía se destinava a “melhorar a sorte dos pobres; contemplando os ofícios mecânicos de Santarém que, sendo assíduos ao trabalho, tivessem 65 anos e fossem necessitados dotando o Asilo de Santo António com o remanescente, depois de abonar-se cada um daqueles com 240 réis”.

Os bens do Padre Francisco Nunes da Silva eram avultados, constituídos por prédios urbanos (variadíssimos em Santarém), rústicos, foros, papéis de crédito e dinheiro propriamente dito.

Originário de família humilde, o seu pai era oficial de sapateiro, é tradição oral que estes bens lhe foram doados por se tratar de uma pessoa boa que os saberia empregar em favor dos mais necessitados, substituindo assim as instituições religiosas em crise.

O padre Chiquito faleceu em Santarém no dia 13 de Janeiro de 1869, sendo sepultado no cemitério dos Capuchos.

No dia 21 de Outubro de 1874 foram trasladados os seus restos mortais para o mausoléu erguido naquele cemitério para cumprimento do testamento.

Nas comemorações do 1º de Maio, cuja primeira vez teve lugar em 1898, o Padre Nunes da Silva era figura central.

Durante a 1ª República, essas comemorações tiveram esplendor: - Cortejos com carros alegóricos, foguetes e flores. Bailes nocturnos. A outra parte compunha-se de discursos pedagógicos, palestras e recitais.

Com o “Estado Novo” tais manifestações foram proibidas, sendo só possível a concentração no centenário e deposição de flores no mausoléu daqueles que alguns pretenderam classificar de “liberal” e outros de “socialista”.

Em 1919, no 1º de Maio é inaugurado em Santarém pelo Ministro do Trabalho, o socialista, Augusto Dias da Silva, na presença de grande multidão, um busto em pedra do grande benemérito, obra do escultor Rodrigo de Castro.

O largo passou a designar-se de P. Francisco Nunes da Silva.
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Santarém na História de Portugal, J. Veríssimo Serrão, 1950
Santarém no Tempo, Virgílio Arruda, 1971
Correio do Ribatejo, Maio de 1984
O Padre Francisco Nunes da Silva (1790/1869) …João Carlos Brigola, Cadernos Culturais, nº 2