(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 8 DE NOVEMBRO DE 1991)
(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 8 DE NOVEMBRO DE 1991)
No seguimento dos nossos escritos sobre a freguesia da Várzea, do concelho de Santarém, abordaremos hoje um tema que consideramos necessário para o seu melhor conhecimento.
Dentro das nossas limitações, procuraremos a sua evolução nos tempos.
Após a conquista de Santarém e Alcanede aos mouros, deu-se o repovoamento desta zona com simultâneo desbravamento dos terrenos.
Ainda que na Idade Média apareçam bastantes referências a terras de mato, começam a surgir indicações de olival e árvores de fruto, hortas e pomares. Citações também a lavradores e à existência de quintas, quase todas pertencentes aos conventos de Santarém, dão-nos a ideia de um certo desenvolvimento agrícola.
Hoje, praticamente não existem matos em toda a freguesia, ainda que muitas terras estejam semi-abandonadas.
A flora de uma região está em estreita relação quanto à sua fisionomia geral, com os elementos climatéricos: calor, humidade e sol.
No aspecto arbóreo, a oliveira ainda é dominante pois encontra aqui, bairros margosos e calcários, deficientes em azoto e ácido fosfórico, as melhores condições para o seu habitat. (1)
Por outro lado, não gosta de temperatura mínima inferior a -8º e de altura acima de 400 m, o que aqui se verifica.
Excepto uma ou outra pequena mancha de pinhal nas proximidades do Casal do Poço e na zona da Quinta do Mocho, Quintão, Grainho e Mata-o-Demo, pode dizer-se, de uma maneira geral, que toda a freguesia está coberta de olivedos.
Os olivais soldam-se uns aos outros, entremeando-se oliveiras carcomidas e pluricentenárias com outras sadias e ainda em plena produção.
Desde há muito que não se plantam oliveiras e a grande maioria está decrépita, moribunda. Abandonadas nos últimos anos, talvez pela necessidade de muita mão de obra, já é vulgar vê-las “de raiz ao sol”.
[Velho exemplar situado junto da Fonte da Aramanha. Foto, JV, 208]
Para justificar a abundância, diremos que em 1937, dos 284 há da Quinta do Mocho, 109 eram de olival. Mais significativo era o que acontecia nas Quintas da Mafarra e da Granja, onde mais de 90% dos seus terrenos eram olival. (2)
A oliveira que parece originária da Ásia Menor, reproduz-se por semente ou estaca.
O azeite produzido nesta freguesia é de muito boa qualidade e no século passado tinha reputação o que se produzia na Quinta do Freixo, propriedade de D. José Sacoto Galache. (3)
A freguesia chegou a possuir em laboração dezasseis lagares, quase todos desaparecidos ou inactivos.
A laranjeira, o limoeiro e outros citrinos, mas principalmente os dois primeiros, encontram-se por toda a freguesia, sendo r5aras as famílias que o não possuem. Existem contudo a nível individual de que um ou outro pomar constitui excepção.
O varzeense gosta de ter junto ao seu fogo a laranjeira e o limoeiro, a que dedica muito cuidado.
Belas nespereiras de deliciosos frutos. Pessegueiros, ameixeiras e abrunheiros. Frondosas figueiras de várias qualidades.
São vulgares também as romãzeiras. Macieiras e pereiras, além das isoladas, apareceram há anos em pomares, hoje semi-abandonados.
Junto aos cursos de água, frondosas nogueiras que também aparecem em pomares.
O Dr, Francisco Câncio que deixou vasta obra sobre o Ribatejo, num dos seus livros (4), refere-se a “belas e grandes cerejeiras”,
Ginjeiras. Ao norte da freguesia também é possível ver amendoeiras, normalmente de grande porte.
Quanto a árvores de adorno, encontramos ailantos, ulmeiros, tílias e palmeiras. Destas, quatro exemplares nos Chões, ao longo da estrada nacional e isoladas na Quinta do Rosário, na da Mafarra, na Fonte de Vilgateira e no Casal do Poço, são as que conhecemos.
[Bonito exemplar de sobreiro próximo da Aramanha. Foto JV]
Junto dos pequenos cursos de água, alguns choupos. Nos últimos anos, plantaram-se alguns eucaliptos.
As videiras ocupam também um lugar de destaque. Constituindo vinhas ou latadas, encontram-se por todo o lado. Umas, destinam-se ao fabrico de vinho, outras, são uvas de mesa.
No campo dos arbustos, encontramos alguns diospireiros, carrasqueiros e sebes de alecrim que nos embevecem na época da floração.
Voltemo-nos agora para as herbáceas. Primazia para o trigo cuja cultura parece querer rejuvenescer. Há um século, 2/3 da produção trigueira do concelho de Santarém provinha da cultura feita no “Bairro”, em olivais e terra nele encravada. Cultivava-se principalmente o maçaroco, o argelino e o mentana. (5)
Nas terras mais pobres e em rotação, cevada e aveia. Nos terrenos mais frescos (várzeas), o milho que em 1913, segundo a Junta de Freguesia, produziu 7866 decalitros.
Também teve expressão nessa altura a cultura do grão-de-bico com 3433 decalitros.
[Várzea de S. Martinho plantada de tomateiros. Foto JV, 2009]
De plantas hortenses, de tudo se pode encontrar: alfaces, couves de todo o tipo, cebolas, alhos, ervilhas, muita fava, ervilhas, feijão, cenouras, rabanetes e rábanos, beterraba, vários tipos de abóbora, pepinos, pimentos, batatas, tomateiros, etc., etc.
No campo da floricultura, o varzeense t6inha um carinho especial pela roseira que plantava junto da habitação, muitas vezes ao lado da porta ou então na horta, junto ao poço, para ter sempre o pé fresco. Jarros e crisântemos. Vimos no Quintão uma linda plantação de tulipas.
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NOTAS
(1) – Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40, pág. 75
(2) – Idem, pág. 744
(3) – Portugal Pitoresco e Ilustrado, Alberto Pimentel, 1908
(4) – Ribatejo Histórico e Monumental, 1938, pág. 196
(5) – “O Trigo na Economia Agrícola do Concelho de Santarém”, Eng. Agr. José Henriques Lino, in Boletim da J.P.R., 1937/40, pág. 271.