quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Guilherme de Azevedo
(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 22 DE SETEMBRO DE 1995)
Esta figura emblemática da cidade que tem sempre vindo a ser referida como proeminente nos campos que abarcou, nasceu em Santarém, mais propriamente na travessa do Sequeira, Bairro do Pereiro, no dia 30 de Novembro de 1839.
Guilherme Avelino de Azevedo Chaves, conhecido nos meios literários por Guilherme de Azevedo, era filho de Felício José Chaves, homem rijo, austero e íntegro que exercia as funções de secretário de finanças e de D. Maria do Carmo Pratt de Azevedo, filha de inglesa.
Muito cedo com problemas de saúde que lhe debilitaram um dos membros inferiores, houve tentativa de seu pai para o fazer seguir a sua carreira profissional, o que não era de modo nenhum consentâneo com a sua maneira de ser.
Revelando desde muito jovem tendência para as letras, para a crítica social, humor e sátira política, funda na sua terra natal, juntamente com Lino Assumpção e Ferreira Braga, em 1871, o bissemanário “O Alfageme”, folha política, literário e noticiosa de que era redactor - director e que durou seis meses.
Nas crónicas que escrevia, transmitia o colectivismo e as ideias socialistas que defendia, tendo mesmo a coragem de fazer o elogio da comuna o que originou, por parte de muitos assinantes, a devolução do jornal.
Em carta datada de 21 de Setembro de 1871, afasta-se do jornal por incompatibilidades com os restantes mesmos.
Falecido o pai, tenta o jornalismo na capital onde não lhe falta trabalho, colaborando nos principais periódicos, “Diário da Manhã”, “Lanterna Mágica”, “Gazeta do Dia” e no “Pimpão”, além de no “Ocidente”, onde lhe é oferecida a direcção.
As suas crónicas, de sabor essencialmente crítico, viram-se para à vida lisboeta, tornando-se muito conhecidas e apreciadas.
Aceita a correspondência de Lisboa no diário portuenses “A Luta”, enviando também ao “Primeiro de Janeiro” um folhetim semanal e outro quinzenal ao “Jornal do Comércio”, do Rio de Janeiro.
Tentado pelos agentes teatrais escreveu a comédia em quatro actos, “Rosalino”, que representada no “D. Maria”, fracassou mas que veio a ter êxito no Brasil e no Porto.
Depois, e em parceria com Guerra Junqueiro, escreve uma peça de critica política intitulada “Viagem à Volta da Parvónia”, revista (1879) cuja representação foi outro insucesso e que deu lugar a cacetada no dia da sua apresentação e proibida ao segundo dia, a pretexto de perturbação da ordem.
Fundou com Bordalo Pinheiro o “António Maria” tendo a seu cargo aparte literária.
Traduziu uma opereta que se representou no “Trindade”.
Em 1880 a “Gazeta de Notícias” do Rio de Janeiro nomeia-o seu correspondente em Paris, para onde parte, continuando o seu trabalho jornalístico e onde acaba por falecer no dia 6 de Abril de 1882, vítima da doença que o ataca desde criança. Fica sepultado em França.
Publica o seu primeiro livro de poemas em 1867 (Aparições), seguindo-se-lhe”Radiações da Noite” (1871) e “Alma Nova” (1873) a sua obra-prima, “verdadeiro cântico da revolução em marcha”, que lhe granjeou merecido louvor e dedicado ao eminente poeta e pensador, Antero de Quental.
O seu poema “Palhaços” figura em diversas antologias portuguesas e brasileiras.
O jornalista assassinou o poeta, escreveu um dia Guerra Junqueiro.
Espírito cintilante foi um dos promotores das Conferências Democráticas do Casino.
Desde há muito tem o seu nome numa das principais artérias da cidade onde recentemente lhe foi erigido um monumento.
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A Mundividência na Poesia de Guilherme de Azevedo, J. Veríssimo Serrão, Santarém, 1948
Santarém na História de Portugal, J. Veríssimo Serrão, Santarém, 1950
Santarém no Tempo, Virgílio Arruda, 1971
“O Poeta da Alma Nova”, V. Arruda, in Correio do Ribatejo, desde 16.02.1982
“O Ribatejo na Literatura”, Jorge Vernex, in “Vida Ribatejana”, nº especial de 1940
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira