quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Grande Guerra 1939-1945

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 18.03.1993)

Como vai distante a segunda conflagração mundial mas que a minha memória infantil registou com profundidade, ainda que, como não podia deixar de ser, sem grande ligação entre os assuntos.

Como me lembro das senhas do racionamento da mercearia e do pão, pelo menos!

Pequeninos rectângulos destacados na aquisição dos produtos mas que não sei explicar em pormenor pois na altura também o não sabia.

Havia imensa dificuldade ou até impossibilidade na aquisição de determinados produtos, como acontecia por exemplo com o açúcar e o azeite.


Não havia açúcar para adoçar o café e quem o quisesse beber, ou fazia-o sem açúcar ou chupava rebuçados como acontecia em minha casa, para tirar o “amargo” do café!
Se o açúcar fazia falta, muito mais fazia o azeite. Indispensável na alimentação do homem do mediterrâneo. O pouco que se conseguia, era exclusivamente utilizado onde não podia ser substituído, e mesmo assim, em quantidades diminutas. Os preços eram extremamente especulativos!

Em minha casa eram cinco pessoas. Recordo pedir pão a minha mãe e ela não o ter para me dar visto nas padarias não lhe venderem mais e o da candonga ser a preços incomportáveis para a bolsa familiar.

Mesmo os endinheirados nem sempre conseguiam adquirir o que necessitavam, não por falta de dinheiro mas sim por falta dos produtos.

Lembro-me de o meu pai arranjar açúcar a preços elevados para um familiar pois a sua bolsa não suportava tal preço. Também faz parte da minha memória o auxílio de um tio que devido à sua profissão, percorria o país e ia trazendo o que podia dos sítios por onde passava na sua actividade. Quando trazia azeite, era uma festa!

A minha mãe dizia muita vez:- se isto se mantém por muito tempo, morremos todos de fome.

O gado cavalar era na altura um meio de transporte ainda importante. Lembro-me de o meu pai comentar em casa a remonta efectuada, pois era necessário prover o exército de mais gado.



Havia um vizinho no MEU BAIRRO que era industrial de transportes pelo que tinha duas ou três camionetas que trabalhavam a gasogénio (gás pobre) por falta de outros combustíveis melhores. A minha memória de criança regista um cano situado atrás da cabina por onde era expelida grande fumarada proveniente da combustão.

Também foi possível aperceber-me, apesar da tenra idade, das discussões entre “germanófilos” e “aliados”.

O meu pai comprava de vez em quando “O Século” para ir acompanhando o desenrolar dos acontecimentos. Habituei-me a conhecer Winston Churchill que descobria em qualquer reportagem fotográfica que o englobasse. Era o meu ídolo que designava por “Chucha”!
Vinte e cinco anos após o armistício, fui “prendado” com uma lata de cinco quilos de açúcar pilé, armazenado naquela altura e que surpreendentemente ainda estava em boas condições de utilização.

Que jeito tinha feito se o tivesse recebido vinte e muitos anos antes!

É pequena esta MEMÓRIA mas para nós trata-se de uma das mais significativas.