
Se há figuras que nos causam algumas complicações devido ao seu currículo ser muito sucinto, não possibilitando uma apresentação isolada, havendo necessidade de recorrer ao grupo, outras oferecem-nos “problemas” muito semelhantes mas de sinal contrário, já que são figuras nacionais, ou mesmo internacionais, com extensos dados ao dispor pelo que temos a necessidade de resumir, escolhendo, o que não se torna fácil de executar.
Está neste caso a “figura” que hoje iremos referir, o “leão dos mares” e a quem Camões chamou “terríbel”.
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Afonso de Albuquerque nasceu na quinta do Paraíso, junto a Alhandra, entre 1445 e 1462.
Foi o segundo filho do 3º Senhor de Vila Verde dos Francos, Gonçalo de Albuquerque, conselheiro de D. Afonso V, e de D. Leonor de Meneses. Era neto e bisneto dos escrivães da puridade de D. João I e de D. Duarte, Gonçalo Lourenço e João Gonçalves de Gomide.
Fidalgo de linhagem, tomou parte na batalha do Totó (1476). Participou também no socorro enviado por D. Afonso V ao rei de Nápoles, apoquentado pelos turcos em 1480. Quatro anos depois faz parte da expedição de socorro à fortaleza marroquina da Graciosa.
Foi estribeiro-mor de D. João II. Quando este morreu, voltou a África com um irmão que aí morreu em luta com os mouros.
Regressando a Portugal, foi integrado na guarda do rei D. Manuel.
Em 1503 parte para a Índia chefiado uma capitania de três naus (a outra ia sobre o comando de seu primo, Francisco de Albuquerque) que sofreram grandes temporais mas logo que chegaram ao Oriente, obtiveram assinalados êxitos.
Não se demora muito tempo por aquelas paragens pois a 25 de Janeiro do ano seguinte regressa a Portugal começando a ser notórias as conferências secretas que tem com o Venturoso.
Em 1506 e possivelmente em resultado dessas conferências, parte novamente com destino ao Oriente, na armada de Tristão da Cunha, comandando seis velas e devia acompanhá-lo até à ilha de Socotorá.
Afonso de Albuquerque fazia-se acompanhar, secretamente, de um documento que o nomeava Governador da Índia logo que D. Francisco de Almeida terminasse o seu mandato (1505/1508). Até essa altura, tinha a missão de vigiar com a sua armada, o mar da Arábia.
Ataca e faz render Curiate, seguem-se-lhe Mascate, Soar, Orfacate e Ormuz. Aqui a peleja foi terrífica e o próprio Albuquerque sai ligeiramente ferido da refrega.
Procura então dar início e abre os alicerces de uma fortaleza nesta cidade mas não obtém o apoio dos capitães, Afonso Lopes da Costa, António do Campo e João da Nova, que se insubordinam e o abandonam.
Ficando apenas com dois navios, Albuquerque dirige-se novamente a Socotorá onde inverna enquanto os capitães com ele desavindos, vão acusá-lo ao Vice-Rei, D. Francisco de Almeida que lhe ordena a uma devassa.
As ideias do domínio do comércio no Oriente eram diferentes entre eles. Enquanto D. Francisco procurava dominar pela força naval, devendo para o efeito manter no mar poderosa armada, Afonso de Albuquerque procurava o domínio da terra com a ocupação de pontos chave e a edificação de fortalezas.
Sabendo do que se estava congeminando contra si, Albuquerque dirige-se a Cananor onde se encontrava o vice-rei.
Naturalmente que o encontro não foi amistoso (Dezembro de 1508) e Afonso de Albuquerque já conhecedor das ordens do Reino, exige a entrega do Governo o que o vice-rei recusa.
O ódio entre os dois aumenta, a devassa prossegue acabando com a prisão de Afonso de Albuquerque.
Chegou pouco tempo depois o Marechal Fernando Coutinho, com Ordens do Reino, cujo primeiro acto é soltar Albuquerque, seguindo os dois para Cochim, onde chegaram a 29 de Outubro de 1509.
D. Francisco de Almeida parte a 20 de Novembro para Portugal e Afonso de Albuquerque assumiu finalmente o lugar de Governador da Índia.
Durante o seu governo tomou duas vezes a cidade de Goa e a de Malaca, construiu a fortaleza de Calecut, foi ao estreito de Ormuz, levantou uma fortaleza na ilha de Diu e outra na cidade de Goa.
Procurou criar laços familiares entre naturais e portugueses, favorecendo o casamento de mulheres indígenas com militares e funcionários portugueses.
Lançou os fundamentos do Grande Império Português que se manteve próspero por mais de um século.
Faleceu na barra da Aguada a 15 de Dezembro de 1515, um domingo, quando regressava a Goa, depois da conquista de Ormuz, vítima da ingratidão do monarca que premiou os seus grandes serviços demitindo-o do cargo, sendo substituído por Lopo Soares de Albergaria.
Pouco antes de morrer, teria pronunciado a frase que ficou célebre:- “Mal com os homens por amor de el-rei e mal com el-rei, por amor dos homens” E morreu.
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Os Vice-Reis da Índia no Período da Expansão (1505-1581), José F. Ferreira Martins, 1986.
História de Portugal, Vol. V, dir. de João Medina.
Dicionário de História de Portugal, Vol. 1, dir. de Joel Serrão.
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
Os Descobrimentos Portugueses, Luís Albuquerque, 1986.