sábado, 15 de janeiro de 2011

O rouxinol do Meu Bairro

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 10 DE DEZEMBRO DE 2004)

[Dilma Melo]

No centro da cidade onde vivo, em Setembro último, quando estava prestes a concluir o meu passeio higiénico, depois do almoço, dirigindo-me para casa e entretenga do escrevinhar, deparei ao longe com a figura de uma senhora, observando uma montra, que me pereceu não me ser estranha. Ao aproximar-me, não tive dúvidas mas, como há muita gente parecida, pedi desculpe e perguntei se não era a Dona F. de tal. A resposta afirmativa, não se fez esperar. Não me reconheceu naturalmente, apesar da nossa diferença de idades não ser muito acentuada. Disse-lhe que a reconheci logo pois apesar dos muitos anos passados, mantinha os traços que a definiam. Com a senhora um pouco atrapalhada sem saber com quem falava, fui-lhe dizendo que há vinte e quatro anos vivia nesta cidade onde exerci a minha profissão durante dezasseis anos e que a conhecia do MEU BAIRRO, onde ela também viveu algum tempo, ao fundo da Rua Almeida Garrett no primeiro andar de um prédio que já não existe e para o qual se ia por longa e desconfortável escadaria.


Teria na altura, catorze ou quinze anos e em casa, andava sempre cantando. Tinha uma voz potente e doce de tal maneira que punha a vizinhança de ouvido à escuta, o que também acontecia comigo e com a minha família que morava na rua em frente. Tínhamos a vantagem de entre a sua casa e a nossa, não haver prédios mas sim quintais por onde a voz fazia a sua propagação com facilidade. Toda a gente gostava da ouvir cantar e elogiava as suas qualidades vocais que naturalmente não passaram despercebidas às pessoas dessa área artística.

Depressa se tornou conhecida em toda a cidade e vocalista de uma instituição que há dezenas de anos leva a todo o país e ao estrangeiro o nome da cidade.

Penso que não teria nascido em Santarém mas sim no distrito de Aveiro, de onde é originária a família. Lembro-me principalmente de um seu tio que morou no MEU BAIRRO em frente da minha casa e que faleceu em África e de sua avó paterna, toda de preto, adornada de peças de ouro e com o sotaque inconfundível da Beira. Até me lembro de uma sua prima falecida com poucos meses, tendo ainda presente o seu nome e as suas feições já que existia em minha casa uma sua fotografia. Bem pequenino, como eu me lembro destas coisas!

O rouxinol do MEU BAIRRO não permaneceu por ali muito tempo tendo a família mudado para os lados do Milagre., se não estou enganado.Foi pena não ter enveredado pelo profissionalismo onde certamente teria feito carreira a nível nacional.

Toda a gente a conhece em Santarém.

Quando nos despedimos, não deixou de afirmar que AINDA CANTAVA.
Que continue ainda por muitos anos, são os nossos votos.

Já se passaram mais de cinquenta anos!

MAIS UMA FIGURA QUE HONROU O MEU BAIRRO.