
Fernando Lopes Graça, tomarense dos nossos dias, nasceu em 1906 no antigo bairro da judiaria da cidade do Nabão.
Filho dos proprietários de um pequeno hotel, cedo tomou contacto com o piano que fazia parte do seu mobiliário, como era habitual na época.
Aos dezassete anos está matriculado no Conservatório Nacional, em Lisboa, frequentando depois o curso de Ciências Hitórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras de Lisboa.
Apresenta-se como compositor e intérprete, em 1929, com Variações sobre um Tema Popular Português, para piano.
Funda na sua cidade natal o jornal “A Acção”, de carácter politico-regionalista. A seguir, ajuda a fundar a revista “De Música”, onde colabora com textos de índole musical.
Em 1931 termina o Curso Superior de Composição com a mais alta classificação.
Abandona entretanto a Faculdade de Letras de Lisboa, passando a frequentar a de Coimbra e leccionando na Academia de Música.
Integra o grupo libertário “Presença”.
Executa pela primeira vez em Portugal, obras de Hindemith e Schoenberg.
Em 1937 e em Paris, prossegue os estudos em musicologia, composição e orquestração.
Inicia-se entretanto na harmonização de canções populares portuguesas.
Recusando naturalizar-se francês, regressa a Portugal fixando residência em Lisboa e assina a crítica musical de “O Diabo” e “Seara Nova”.
Ganhou vários anos o prémio de Composição do Círculo de Cultura Musical (1940, 1942, 1944 e 1952).
É convidado mas recusa dirigir a Secção Musical da Emissora Nacional.
Com outras personalidades, funda a Sociedade de Concertos SONATA que representava no país a Sociedade Internacional de Música Contemporânea.
Com vários escritores e poetas, por intermédio da “seara Nova”, de que é secretário da redacção, publica-se um cancioneiro intitulado, “Marchas, Danças e Canções” para grupos vocais e instrumentais populares e que vem a ser apreendido pela polícia política.
Fundo o Coro da Academia de Amadores de Música a mais tarde a “Gazeta Musical”, convidando para director, Luís de Freitas Branco.
Aproveitando o material deixado por Tomás Borba, com quem tinha trabalhado, que revê e amplia, edita um Dicionário de Música, em dois volumes (1956).
De parceria com Michel Giacometti, produz uma Antologia da Música Regional Portuguesa.
Lopes Graça não foi só compositor e musicólogo. A sua intervenção na vida cultural é feita a vários níveis. Foi tradutor, crítico e ensaísta, investigador e harmonizador de música folclórica Portuguesa.
Lopes Graça, segundo especialistas, pode vir a ser considerado o maior compositor português do século XX.
Mas além de tudo isto, Lopes Graça nunca abdicou dos seus ideais políticos e toma posições de oposição ao regime antidemocrático vigente. Sente por isso a acção da polícia e é encarcerado em 1931 na Cadeia do Aljube.
Pelos mesmos motivos é impedido de ocupar uma vaga de professor de piano no Conservatório, para a qual tinha obtido o primeiro lugar.
Concorre e ganha uma bolsa de estudo no estrangeiro e novamente é impedido de leccionar em estabelecimentos oficiais.
A sua acção política, apesar de tanta repressão, não esmorece e em 1945 faz parte do MUD (Movimento de Unidade Democrática).
Já não bastava estar impedido de leccionar em estabelecimentos oficiais para que o então Ministro da Educação Nacional lhe mandasse caçar o diploma de professor de ensino particular.
Só depois do 25 de Abril tem condições para se realizar como compositor e viver a sua actividade criadora e retomar as suas actividades políticas como militante do Partido Comunista Português, tendo enquadrado por várias vezes a lista de candidatos a deputados.
Após o 25 de Abril foi nomeado presidente da Comissão da Reforma do Ensino Musical.
Doutor honoris causa pelo Universidade de Aveiro (1989).
Recebeu várias condecorações, entre elas a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (1986) e a Ordem de Mérito Cultural (1988).
O Coro do Círculo Cultural Scalabitano homenageou-o no dia 21 de Novembro de 1981, o que aconteceu em outras terras do país.
O Maestro Lopes Graça faleceu em Novembro de 1994.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Lello Universal, Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro
Dicionário de História do Estado Novo, dir. de Fernando Rosas e J.M. Brandão de Brito
“Morreu o Maestro Lopes Graça, in Correio do Ribatejo de 2 de Dezembro de 1994, Eulália Teigas Marques
Grande Dicionário Enciclopédico Ediclube