Os costumes, usos e tradições vão-se esboroando no decorrer do tempo!
O que fica ? A memória de alguns dos mais idosos que inexoravelmente vai desaparecendo e quando muito se transmite aos filhos, numa ou duas gerações. O que permanecerá mais tempo, será o que fica escrito aqui e ali, em jornais, revistas ou livros e que não desaparece com facilidade.
A imprensa regional tem um papel importantíssimo – é pena que por vezes nos tenhamos que deslocar a bibliotecas distantes para consultar um jornal pois as Câmaras Municipais, em grande número, descura estas informações extremamente importantes para formar a história de um concelho, de uma freguesia, de uma pequena localidade !
O nosso velhinho CORREIO DO RIBATEJO, é um manancial de informação!
Este pequeno intróito procura justificar a razão deste pequeno escrito.
Haverá na freguesia da Várzea quem tenha praticado o uso ou costume das CAQUEIRADAS? Pensamos que não. Poderá haver quando muito, quem se lembre de ouvir falar a seus pais e avós e isto no caso de terem boa memória, o que não acontece a todos, como sabem.
Tendo nascido comigo o gosto por estas coisas e privilegiando o contacto familiar, nomeadamente com aqueles que me trouxeram ao Mundo, tudo era pretexto para falar e saber coisas passadas.
Dos quase sessenta assuntos que aqui tenho abordado sobre a freguesia da Várzea, se alguns puderam vir a público foi porque o conhecimento sobre eles foi-nos transmitido por minha mãe que além do espírito aberto que possuía, tinha poder de observação e ... boa memória.
Mais uma vez, assim vai acontecer.
Na altura do carnaval e devido a algum alvoroço que em minha casa sempre havia, minha mãe recordava os seus tempos que já não tinham nada a ver com o dos filhos. Ia contando com grande realismo e eu ia aproveitando para fazer perguntas sobre isto e aquilo. Estava atento e como gostava do assunto fixava com alguma facilidade.
Ora, uma das coisas que minha mãe contava, quando era pequenota, talvez por volta de 1914, era o de ir deitar CAQUEIRADAS com as irmãs e alguma vizinha, a uma velhota de que dizia o nome e já não me recordo, que morava numa estreita travessa que ficava nas traseiras da Capela de Stº António, por onde nunca passei e não sei se ainda existe.

A mãe, minha avó, não era muito para estas coisas mas a verdade é que ia consentindo anualmente a brincadeira carnavalesca.
Na época própria, no Entrudo, num dia combinado e ao cair da noite juntavam-se as pequenitas que traziam escondidos quartas, panelas ou qualquer outro objecto de barro que durante o ano anterior se tinha partido e não dava conserto já que, nesses tempos, mandavam-se gatear muitas peças partidas. Ainda não havia as colas sintéticas que hoje existem!
Eufóricas mas receosas, lá se organizavam cabendo a minha mãe as decisões mais importantes, já que era a mais extrovertida.
O terreno era previamente investigado por alguma das trabalhadoras da casa dando a indicação de que estavam em condições de actuar.

Regressavam a casa satisfeitas com a proeza cometida, recordando como as coisas se tinham passado.
Encontrei costume idêntico no Algarve serrano onde ainda se praticava nos meados do século passado, dentro de moldes semelhantes e a que chamavam TESTADAS.
Até quando se praticaram as CAQUEIRADAS na freguesia da Várzea?
Nunca chegou ao meu conhecimento mais qualquer nota.