quinta-feira, 22 de julho de 2010

Virgílio Arruda

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 4 DE ABRIL DE 1996)

Não é a primeira vez que nestas FIGURAS RIBATEJANAS referimos pessoas que conhecemos e hoje mais uma vez isso vai acontecer.

Iniciámos esta primeira série das FIGURAS com o fundador deste jornal e foi nossa intenção fechá-la hoje com a de seu filho, continuador da sua obra, o Dr. Virgílio Arruda.

Em criança disseram-nos quem era aquele senhor que se acabava de cumprimentar e dele nunca mais nos esquecemos. Na nossa mente ficou a ser o senhor do jornal que recebíamos em casa, o “Correio do Ribatejo”, muitas vezes chamado “Correio da Extremadura”, não só nessa altura como ainda hoje é possível ouvir aos santarenos mais idosos.

Já aqui escrevemos que quase aprendemos a ler nas páginas deste jornal que nos acompanha há mais de trinta e seis anos por onde quer que tenhamos passado, continuando a ser ainda um elo de ligação importante com a terra que nos viu nascer apesar do decorrer dos anos nos ir a pouco e pouco cortando algumas raízes com o desaparecimento de familiares e amigos e de locais prenhes de recordações.

O Dr. Virgílio Arruda foi sempre extremamente simpático para a minha família, aliás era assim para toda a gente, e teve relação de amizade que nasceu nos bancos do liceu, com um nosso familiar chegado.

Autografou-nos com simpáticas dedicatórias, grande parte da sua obra que possuo, alguma mesmo por ele gentilmente oferecida.

Passamos presentemente por uma fase transitória da nossa vida que não nos permite, por agora, continuar com as FIGURAS RIBATEJANAS. Referimos cem, muitíssimas mais temos em mão, falta trabalhá-las e para isso é preciso vagar e disposição.

Pensamos voltar quando for possível e o jornal o permitir.

Até um dia, caro leitor que tem tido a paciência de nos acompanhar.

***


Virgílio Baptista Cravador Arruda, de seu nome completo, nasceu em Santarém no dia 16 de Outubro de 1905.

Fez os estudos locais na sua terra natal e na Faculdade de Direito de Lisboa obtém a licenciatura.

Filho do jornalista João Arruda, fundador deste semanário que dirigui durante quarenta e cinco anos, cedo se deixou levar pelo gosto do jornalismo, possivelmente influenciado por seu pai.

Logo no liceu dirige o jornal “A Voz da Academia”.
Exerceu a advocacia, foi professor provisório do Liceu de Santarém e Conservador do Registo Civil na ilha do Corvo.

Exerceu também as funções de Delegado do Comissariado do Desemprego e de Subdelegado do Ministério das Corporações e Previdência Social em Santarém.

Vice-Presidente da Câmara Municipal de Santarém, vogal da Junta Geral do Distrito de Santarém e da Província do Ribatejo, Vice-Presidente e Presidente da Junta Distrital de Santarém, funções que exerce até à sua extinção em 1974.

Substitui o seu pai em 1934 na direcção do “Correio da Extremadura”, entretanto transformado em “Correio do Ribatejo” (1936), quando da criação desta província, funções que exerce até à sua morte, por isso durante cinquenta e quatro anos.

Em 1976 foi eleito sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, portas que lhe foram abertas devido à obra que publicou sobre Pedro Álvares Cabral.

A sua obra histórica levou-o igualmente a ser membro da Academia Portuguesa da História, onde demonstrou todo o seu saber e desvelo.

O Dr. Arruda foi um notável jornalista, um historiador vocacionado para o estudo das tradições e costumes da sua terra natal, conferencista de mérito, escritor de fina têmpera, senhor de uma prosa inconfundível, um orador excepcional, de uma palavra que prendia qualquer auditório.

Além dos incontáveis artigos que publicou semanalmente no seu jornal, ainda teve tempo de colaborar activamente na imprensa diária e regional.

Possuidor de uma vasta cultura, era pessoa extremamente amável. Adorava e defendia com intransigência a sua terra e a região para cuja autonomia contribuiu com a sua pena e palavra, nunca querendo viver fora da sua cidade nem afastar-se do seu jornal.

Virgílio Arruda “o cronista-mor de Santarém e seu termo”, como lhe chamou o Senhor Professor J. Veríssimo Serrão.

Falecendo no dia 3 de Janeiro de 1989, ficou sepultado no cemitério dos Capuchos.

Deixou a sua livraria, constituída por cerca de cinco mil volumes, à sua cidade.

A Edilidade Escalabitana decidiu conceder-lhe a título póstumo, a Medalha de Oiro da Cidade de Santarém. Igualmente foi deliberado dar o seu nome a um novo arruamento da cidade e ao auditório da Biblioteca Braamcamp Freire.

Da sua vasta obra indicamos alguns títulos: “Fialho e o Ribatejo” (1957), “Santarém e o Infante Santo” (1966), “Crónicas de França e Itália” (1968), “Crónicas de Espanha” (1970), “Presença de Cabral nas Rotas do Futuro” (1971), “Santarém no Tempo” (1971), “D. Pedro e D. Miguel no Ribatejo”(1972), “O Ribatejo na Vida de Camões e na Obra de Fialho” (1973), “Itinerários Sentimentais” (1974), “Retrato de Herculano” (1979), “Luís Montês Matoso, Historiador e Jornalista…” (1980), “Evocação de Sá da Bandeira” (1982), “Mestres e Escolares de Santarém e do seu termo nas Universidades Europeias do Renascimento” (1982) e “Santarém! Santarém!” (1984.
Virgílio Arruda, um caso ímpar da vida escalabitana!
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira

"Saudade de Um Grande Amigo", Prof. Doutor J.V. Serrão, in Correio do Ribatejo de 13 de Janeiro de 1989

"A propósito de Uma Homenagem", Dr. Rocha Souto, in Correio do Ribatejo de 10 de Julho de 1983

"Dr. Virgílio Arruda, Um Hino à Cultura Portuguesa", J.M. Noras, in Correio do Ribatejo de 20 de Janeiro de 1989.