Padeiro de profissão, isto é fabricante de pão, durante toda a vida e sempre o conheci vivendo em casa própria, no meu bairro, mas trabalhando na cidade, como então dizíamos, o meu saudoso amigo, alentejano de Mértola, o Sr. José Gomes. (1) A sua primeira mulher e mãe dos seus filhos, de que bem me lembro apesar do seu desaparecimento já ter ocorrido há muitos anos, penso que há mais de cinquenta, desempenhava uma actividade relacionada com o pão, pensando eu ter sido vendedeira.



Além de toda esta gente que tinha a sua actividade relacionado com o pão, viviam no bairro também os vendedores ambulantes de pão.
O transporte era feito de bicicleta a pedal. Um grande seirão de duas bolsas, confeccionado de verga, era colocado no porta-bagagens da pasteleira. Devido ao peso, muitas vezes os padeiros mandavam adaptar uma roda traseira mais robusta, de secção mais avantajada para assim poder aguentar o peso do padeiro, do pão e da verga, ainda que esta fosse relativamente leve.
O vendedor tinha um contrato com o fabricante, comprando a determinado preço por cada quilo, já que cem pães, não pesavam cem quilos. Depois, vendia à unidade e não ao peso.
O seirão era forrado de pano branco sendo o pão igualmente tapado com o mesmo pano.
Levantavam-se bem cedo para ao sair dos fornos estarem aptos a recebê-lo, bem quentinho, a estalar e lá iam à sua vida, correndo toda a cidade, com roteiro elaborado e fregueses certos, vendendo contudo a quem o solicitasse. Acabava-se a carrada, ia-se buscar outra e outra, até satisfazer toda a freguesia.
Havia aqui um pequeno pormenor a considerar. O pão era tabelado e ao quilo. Naturalmente que os exemplares tinham quase sempre, ou mesmo sempre, um pouco menos pelo que nos depósitos o peso era corrigido pelo contrapeso (o que nem sempre acontecia) o que nunca vi nos vendedores ambulantes, possivelmente seria a compensação para o serviço ao domicílio, aliás o que era justo.
As suas buzinas, de borracha, tinham um toque que os fregueses distinguiam. Conheci três no MEU BAIRRO, o Sr. Leonel Padeiro (Leonel da Trindade Pinto, falecido não há muitos anos, apaixonado pela columbofilia, sócio e dirigente do extinto Sport Grupo União Operária), depois o seu filho e também o Sr. Manuel Fazenda.
Tudo isto desapareceu com a evolução dos tempos. Hoje nem sei como as coisas se processam mas será igual ao que acontece nas outras terras. Nas pequenas e por esse país fora, continua a fazer-se a venda ao domicílio em carrinhas que vendem pão de toda a espécie, bolos, folares, etc. e que se deslocam a distâncias consideráveis.
Também eu compro pão em tais circunstâncias quando não estou na cidade, mas no campo e costumo receber o vendedor de pão dizendo: - Aqui está o padeiro que não sabe fazer pão -, ao que ele me responde, : lá isso é verdade, este homem está sempre a querer pôr-me em cheque!
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(1) - Passando em Maio de 1975 pela vila em que me encontrava exercendo a minha profissão e a cerca de trezentos quilómetros de distância de Santarém, onde vivia, não deixou de procurar este seu amigo, que conhecia quase desde que nasceu. Nunca esqueci tal amabilidade e prova de amizade.