segunda-feira, 12 de julho de 2010

O povoamento e a população

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 14 DE FEVEREIRO DE 1992)

[Antiga rua de Vilgateira. Desenho de JV]

A passagem dos Romanos pela freguesia, parece estar provada. Assim o indicam as sepulturas descobertas na Quinta da Granja e uma ponte em Perofilho também é dada como obra daquele povo. (1)

Admite-se também a hipótese do topónimo Aramanha, aproximável de Sarmenha, possa ter a mesma origem. (2)

Quanto aos árabes, Mafarra, nome de uma quinta da freguesia é, segundo Pinho Leal (3) corrupção do substantivo árabe”mahafarra”, que significa cova. E efectivamente esta quinta está situada numa baixa.

Pré-nacional parece ser o topónimo Vilgateira, com “villa” no sentido territorial (rústico).

Depois da conquista de Santarém e Alcanede, deu-se o repovoamento com incidência na colonização interna. Assim, Alcobacinha e Coimbrã, denunciam importação trazida por repovoadores.

Vários topónimos medievais denunciam propriedades monásticas e outras. (2)

Temos assim prova do povoamento pré-nacional sob a égide arábica e de repovoamento nacional, após a conquista, acompanhada pela cristianização revelada pelos velhos cultos de São Martinho e São Miguel.

***

O varzeense não abandona com facilidade o torrão natal e mesmo quando iniciou a fuga à vida dura do campo, não mudou a residência, preferindo deslocar-se diariamente ao local de trabalho, regressando à sua aldeia, ao seu casal, onde ocupa todos os tempos livres.

No período áureo, poucos foram os varzeenses que procuraram os francos ou marcos, contrariamente ao que aconteceu noutras zonas do país que ficaram despovoadas.

A população não apresenta índices significativos de oscilação.

De uma maneira geral os casamentos dão-se entre indivíduos da própria freguesia ou das circunvizinhas e a saída de uns é compensada com a entrada de outros.

Aquando da apanha da azeitona, há anos, deslocavam-se grupos de trabalhadores de zonas mais afastadas, ao norte, a que chamavam serranhos e alguns ficaram por cá, principalmente do sexo feminino, constituindo família.

A população da Várzea tem tendência para aumentar e nos últimoa anos, como já dissemos, começou a esboçar-se o sentido de dormitório da cidade.

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NOTAS

(1)-Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40, p. 578.
(2)–Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
(3)–Portugal Antigo e Moderno, A.S. Barbosa de Pinho Leal.



(a)–Corografia Portuguesa, Padre António Carvalho Costa.
(b)–Geografia Histórica de Todos os Estados Soberanos da Europa, D. Luiz Caetano de Lima, 1736, p. 215.
(c)–Portugal Sacro-Profano, Comp. E Ord. Por Paulo Dias de Niza, Lisboa, 1768.
(d)-Estatística Paroquial.
(e)-Recenseamento Geral da População, Tomo I, Vol. I, INE.
(f)-Corografia Portuguesa, (2ª Edição) Padre António de Carvalho Costa.
(g)-Dicionário Corográfico, Américo Costa, 1926.
(h)-Directório Prático a todos os que promovem negócios nas Repartições e Tribunais Eclesiásticos, Joaquim José Ribeiro, 1878 (?).
(i)-Portugal Antigo e Moderno, Pinho Leal.
(j)-Dicionário “Portugal”, Edição Romano Torres, Esteves Cardoso e Guilherme Rodrigues.
(m)-Censo. Compreende 21 de Pêro Filho, 16 de Grainho, 23 de Vilgateira e 12 de Aldeia de Alcobaça (actual Alcobacinha) e Póvoa do Baixinho.
(n)–Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.