sábado, 11 de julho de 2009

Para a história dos "Galitos da Várzea"

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 17 DE MAIO DE 1991)


O aspecto associativo foi sempre uma constante do homem que o procura para resolver muitos dos seus problemas.

É assim no campo político, religioso, socorrista, cultural, desportivo, recreativo, etc.

Iniciando-se pelos centros urbanos mais populosos, as associações foram-se estendendo, chegando hoje mesmo às pequeninas aldeias.

Em Vilgateira a primeira tentativa para o efeito (excluindo as associações religiosas), que seja do nosso conhecimento, deu-se em 1917 com a fundação (não sabemos se legalizada), da Sociedade Recreativa Vilgateirense que se dedicava fundamentalmente ao teatro e à música pelo que possuía um grupo cénico e uma tuna.

E sua existência foi efémera já que o clima político da altura não facilitou a sua consolidação.

Os anos foram passando e que nós saibamos só nos fins da década de cinquenta houve movimentação para a criação de uma nova associação. Pelos anos de 1959/60 comecei a tomar contacto com a aldeia que me viu nascer e foi-me dado assistir às primeiras trocas de ideias no sentido de se fundar uma colectividade que tanta falta fazia.

As conversas circunscreviam-se aos jovens e nessa altura, por motivos diversos, juntavam-se em Vilgateira, José Fernando do Livramento de Macedo e Brito, José Francisco Pereira Rodrigues e irmão António Augusto, Júlio da Guia e outros que dinamizaram os jovens locais, José Rui Eloi, João Monteiro Andrade, Carlos Menino, António Rafael e outros de que não me recordo.

De início, lembro-me muito bem, a preocupação era possuir uma equipa de futebol, de que Macedo e Brito era grande entusiasta, tendo alinhado numa jovem turma de “Os Belenenses”, na posição de defesa esquerdo e possuir uma sede a fim de se realizarem os bailarecos de aldeia que proporcionavam alguma receita e... derriços.

Por esta altura já se falava entre a rapaziada nos “Galitos”, pelo que o nome já estava escolhido e nas cores azul e branco, aparecendo assim a influência nítida de Macedo e Brito, com as cores do clube de Belém, da sua simpatia.

O nome “Galitos” parece ter tido o sentido dos seus elementos serem jovens mas combativos.

À saída da aldeia para iniciar a minha vida profissional, corresponde a fundação efectiva do Grupo Desportivo e Cultural “Os Galitos” da Várzea que se dá em 1960, já com a adesão de alguns homens chefes de família.

Carta de um amigo, datada de 2 de Setembro desse ano, informa-me que”... Os Galitos estão em grande revolução. Já compraram um avultado número de cadeiras e algumas mesas e já abrem todos os dias. O Senhor D. José, do Mocho, ofereceu quinhentos escudos para as cadeiras e prometeu vir brevemente fazer uma palestra”.

Como se justificava, a alma da fundação, o algarvio Macedo e Brito, foi o seu primeiro presidente.

Perdemos o contacto com a “sociedade”, designação mais utilizada pelos vilgateirenses mais idosos. Sabemos contudo que pouco depois foi comprada a sede e que a TV acabada de chegar tem todos os dias muita gente a assistir aos programas, pelo que o número de associados sobe vertiginosamente.

O afastamento de José Fernando leva à presidência o varzeense João Joaquim Fragoso, cuja acção foi decisiva e extremamente proveitosa, sendo a alma da legalização da colectividade.

Sucedeu-lhe Virgílio Veiga, um homem dinâmico extremamente equilibrado a quem coube a missão de organizar, pôr a casa em ordem, missão que cumpriu talvez como ninguém.

O 2º aniversário é comemorado no seu tempo com grande festa realizada em 22 de Dezembro de 1962, É representada a peça “Uma Noite de Natal”, ensaiada pelo Padre João Farinha e interpretada por José Fernando e José Francisco. Nas variedades foram interpretadas por amadores locais, entre outras”Vila Nova de Milfontes”, “Nós somos alentejanos”, “Rosinha do Meio”, “Oliveira da Serra”, “Sebastião come tudo”, “Alecrim aos molhos” e “Vira de Santarém”.

Procurámos assim dar em linhas gerais o movimento que originou a fundação e consolidação desta colectividade.

***
Com trinta anos de vida, já passou a adolescência. Tem atravessado períodos difíceis e outros de fulgor.

O futebol, uma das razões para a sua fundação, nunca se chegou a impor. Os bailarecos, a outra, pensamos que continuam, apesar de cada vez ser maior o número de discotecas.

Um grupo cénico, que parece gozar de certa autonomia, tem sido talvez o maior baluarte da associação, colaborando nas Jornadas Culturais do concelho, com exibições por todo ele.

Outra manifestação cultural de muito interesse foi a fundação de um agrupamento folclórico que gozava também de autonomia.

Venceram as grandes dificuldades iniciais, o que não era fácil, o aperfeiçoamento foi sempre notório e as suas exibições não envergonhavam o grande nome do folclore do bairro de Santarém.

Deslocações pelas redondezas e a terras distantes, levaram longe o nome da freguesia.

Lamentamos profundamente o seu desaparecimento, depois do mais difícil se ter conseguido.

Oxalá que num futuro que se dessa próximo, procurando pontos de convergência num diálogo aberto. Ele possa ressurgir, para ficar.

O nosso afastamento da freguesia não nos possibilita, como era nosso desejo, “historiar” as três décadas de existência. Deixámos contudo o início, talvez o menos conhecido dos vilgateirenses, principalmente os jovens, responsáveis pelo seu futuro.