domingo, 5 de julho de 2009

João Afonso de Aguiar

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 2 DE JUNHO DE 1995)


[Túmulo de João Afonso de Aguiar ou de Santarém na Igreja de S. Nicolau da cidade de Santarém]

Mais conhecido por João Afonso de Santarém, é dado como nascido em Santarém no século XIV e tomou parte na batalha de Aljubarrota, batendo-se ao lado do Mestre de Avis.

Tendo posto ao dispor os seus bens para financiar o movimento popular a favor do Mestre de Avis, veio a ser recompensado por ele, já como rei, com mercês e bens, alguns confiscados aos que seguiram o partido castelhano. Assim, é cumulado de privilégios pelo menos em 1393 e 1421, por cartas de doação.

Conselheiro e valido de D. João I e uma vez que havia grande falta de mesteirais em Santarém pelas opressões que lhe eram feitas, obtém do rei a concessão de liberdades aos que quisessem vir viver para Santarém, dando-lhe o concelho casas e tenças.

Vedor da Fazenda de D. João I e alcaide-mor da vila de Santarém em 1403.

Vivendo no seu palácio na rua direita da Porta de Manços, ao “Canto da Cruz”, rua que hoje ostenta o seu nome, fundou aí o hospital de Jesus Cristo, por testamento de 6 de Dezembro de 1426, “por minha alma, de meu pai e mãe, e pela de minha mulher Iria Afonso e por todos aqueles por quem sou obrigado a rogar a Deus”, conforme o documento.

Acrescenta o mesmo testamento que haverá treze camas, oito para homens e cinco para mulheres.

Este hospital que se tornou o mais importante da vila, acabou por aglutinar os restantes, em número de catorze, depois de 1486, dada a bula do papa Inocêncio VIII, que tal permitia.

Mais tarde, com a fundação das Misericórdias, foi incluído na de Santarém, instituída em 1502.

O último hospital a ser anexado foi o de S. Lázaro, mais propriamente uma gafaria, o que sucedeu só em 17 de Dezembro de 1611, já que a Câmara teve a sua tutela até àquela data.

Este escalabitano ilustre está sepultado na igreja de S. Nicolau, num magnífico túmulo de mármore, com tampa prismática, primorosamente lavrada, como refere o Dr. Virgílio Arruda, saudoso Director deste semanário.

Sarcófago do século XVI, é classificado de “imóvel de interesse público”.

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Santarém Medieval, Maria Ângela V. da Rocha Beirante, 1980
Santarém na História de Portugal, Joaquim Veríssimo Serrão, 1950
Santarém no Tempo, Virgílio Arruda, 1971
“Varões Ilustres e Figuras de Relevo Scalabitano", Amadeu César da Silva, in Vida Ribatejana, nº especial de 1957
“Sobre uma tela da Igreja de S. Nicolau em Santarém – O retábulo da Capela de João Afonso – 1623”, por Vítor Serrão em Correio do Ribatejo de 6 de Julho de 1974
Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol. 27