Como é do conhecimento geral, há 1000 maneiras de cozinhar
este peixe tão “amigo” dos Portugueses por motivos ancestrais e que fazem parte
da nossa cultura.
Daí virá a designação de “Fiel Amigo”, pois ao gosto
aliava-se a circunstância de ser barato e consequentemente ser procurado pelas
famílias de menores recursos, que para variar teriam inventado muitas maneiras
de o cozinhar, cozido, assado, estufado, guisado e até cru. Hoje, é o que se
sabe, quem tem pouco dinheiro não lhe chega a facilmente.
Não vamos enumerar as maneiras de confeccionar o bacalhau, algumas
bem significativas da nossa gastronomia, como o bacalhau cozido com grão onde a
salsa, cebola e alho picados são indispensáveis, além de bom azeite e vinagre.
E o tão apreciado bacalhau assado na brasa onde o alho não pode faltar! E se
lhe acrescentarmos umas batatas “a murro”?
Entretanto, apareceram os pratos novos com maneiras mais
elaboradas de os fazer como acontece por exemplo com natas.
O bacalhau que vos apresentamos não faz parte de um prato
novo, mas bem velho e que conhecemos desde criança.
Era o nosso pai que o confeccionava em casa e que tinha
aprendido a fazer com a mãe, por isso nossa avó. Presumimos que tivesse sido
trazido da sua região de origem, o distrito de Coimbra. Por ser ele que o
fazia, habituámo-nos a chamar-lhe “Bacalhau à Zé Nunes” e assim continua e
continuará dentro da família, pois os mais jovens já o sabem confeccionar desta
maneira.
Nunca o encontrámos em qualquer restaurante nem conhecemos
fora da família quem o cozinhe desta maneira. Temo-lo feito várias vezes para
amigos e nunca houve ninguém que nos tivesse dito que já tinha comido bacalhau
assim.
Quando abordamos estes assuntos dizemos sempre, porque é
verdade, que isto não é uma receita, pois não saberia fazê-la, mas sim, dar a
indicação da sua composição e feitura. As quantidades estão na mão e na sensibilidade
de cada um, segundo pensamos e cada qual vai ajustando as quantidades aos
sabores. Nunca cozinhámos por receita!
Ingredientes: Bacalhau,
batatas que não se desfazem e couve portuguesa.
Condimentos: sal,
alho, louro, colorau e azeite.
O bacalhau após demolhado e escamado é cozido só, num
recipiente.
As batatas, depois de descascadas (vá-as deitando para um
alguidar com água para não ficarem negras), corte-as às rodelas grossas.
A couve, depois de arranjada e cortada aos pedaços vai ao
lume para levar uma leve fervura, tal como as batatas.
Entretanto, já se tinham pelado o alho e cortado às rodelas
ou ao alto. As folhas de louro já devem estar cortadas aos pedacitos excluindo
a nervura central. Noutro recipiente o indispensável colorau doce.
O bacalhau depois de cozido é feito em lascas, havendo a
preocupação de lhe retirar as espinhas. Não deite fora a água em que foi cozido,
pois é indispensável para a boa confecção do prato.
Cobre-se o fundo do tacho com azeite. Depois de quente é
colocada uma camada de bacalhau às lascas a qual se polvilha com o alho cortado
e um pouco de louro. É a altura de levar uma leve quantidade de colorau bem
espalhado. Leva um levíssimo fio de azeite.
Nesta altura, já o fogão está no ponto mínimo da chama.
Seguidamente, coloca-se uma camada de couve que leva os
mesmos temperos e de maneira semelhante. É a altura de colocar um pouco de água
em que o bacalhau foi cozido.
A operação seguinte é feita em moldes idênticos com as
batatas. Tanto estas como as couves são salpicadas com uma pitada de sal.
As camadas por esta ordem são quantas quisermos.
A água do bacalhau vai sendo introduzida conforme se vai
verificando essa necessidade.
Ficará a estufar assim o tempo necessário.
A quantidade adequada do colorau é fundamental para o êxito
do prato.
O cozinheiro tem de estar sempre atento ao desenrolar da
confecção, para assim poder fazer as correcções devidas.