sábado, 9 de março de 2013

Gonçalo da Silveira


 (PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 11 DE MAIO DE 2001)


Referiremos hoje um almeirinense que, apesar de ter tido uma vida curta, conseguiu enriquecê-la, ficando o seu nome gravado na história da igreja e mesmo na de Portugal.

D. Gonçalo da Silveira foi o décimo filho de D. Luís da Silveira, primeiro Conde de Sortelha e de sua esposa D. Brites de Noronha Coutinho e nasceu em 1525.

A mãe faleceu três dias após o parto, sendo Gonçalo criado e educado por sua irmã mais velha, D. Filipa de Vilhena, casada com o Marquês D. Luís Álvares de Távora.

Em Mogadouro, onde viveu os primeiros anos, recebeu instrução no Convento de S. Francisco.

Continua os estudos em Coimbra, frequentando o mosteiro de Santa Cruz. Em 1540 estudava Retórica e três anos depois entra na Companhia de Jesus, contra a vontade de seus familiares, principalmente dos irmãos.

Em Dezembro de 1545 celebra a sua primeira missa, partindo cinco anos depois para Espanha, com mais quatro religiosos, dirigindo-se a Gandia onde frequenta a Universidade fundada pouco antes por São Francisco de Borja e se doutorou em Teologia.

Regressa a Portugal dedicando-se à pregação onde deu provas de bom orador em várias partes do país onde a sua presença era requerida, tendo por máxima, entre outras, pregar até enrouquecer.

Em 1553, D. João III entregou à Companhia de Jesus, em Lisboa, a Ermida de São Roque, estabelecendo-se Casa professa de que veio a ser primeiro Superior.

Em 30 de Março de 1556 embarca para o Oriente na armada comandada pelo capitão-mor, D. João Meneses de Sequeira, sendo o seu destino a Índia onde ao chegar lhe foi lida a patente em que Santo Inácio o nomeia provincial da Índia.

Nessa missão se mantém até 1559, organizando e visitando todas as casas e postos missionários.

Seguindo D. Constantino de Bragança em 1558, na expedição contra a fortaleza de Damão, depois da conquista da praça, acompanhou a armada que ia para o Estreito mas adoecendo, seu irmão Álvaro da Silveira, fê-lo regressar a Goa a fim de se tratar.

Durante a sua acção missionária, procurou que os pagãos convertidos à fé cristã tivessem leis proteccionistas e combateu tenazmente os judeus que procuraram assassiná-lo.

Tendo o rei de Monomotapa (Moçambique), zona banhada pelo rio Zambeze, mostrado interesse que lhe mandassem missionários e isto devido ao facto de um seu sobrinho se ter convertido ao cristianismo, em Inhambane e certamente por outras vantagens de tipo comercial, foi o padre D. Gonçalo da Silveira um dos primeiros a oferecer-se para cumprir tal missão e assim parte com esse destino a 5 de Janeiro de 1560, aportando a Moçambique um mês depois.

Deixou os companheiros em Tonga e decide acometer a conquista espiritual de Monomotapa. Sobe o Zambeze até Sena onde baptiza muitos negros. Desloca-se a pé até Tete onde continua a sua missão de evangelização, chegando finalmente, a 26 de Dezembro à zona de destino onde é bem acolhido pelo rei negro que o cumula de presentes que acaba por devolver pretendendo justificar que não eram essas as riquezas que pretendia.

Bem recebido, começa sem demora o trabalho a que se tinha proposto, baptizando o imperador e centenas de indígenas.

Avançando a fé cristã com rapidez, alguma árabes começaram a espalhar calúnias contra o missionário e conseguiram que o rei o considerasse um poderoso feiticeiro e decidiu-se mandá-lo matar, o que veio a acontecer, por estrangulamento, aos trinta e seis anos de idade. O seu corpo foi deitado a uma lagoa na confluência dos rios Mucengeze e Mutate.

D. Gonçalo da Silveira que foi o primeiro missionário que derramou o seu sangue por aquelas paragens, tinha fama de santidade.

Vários poetas e dramaturgos jesuítas se inspiraram na sua vida para realizarem trabalhos e o nosso Épico, que se crê tenha conhecido o missionário na Índia, celebra-o no seu imortal Poema.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Grande Dicionário Enciclopédico Ediclube, Vol. XVI
Esta Almeirim Famosa, José Augusto Vermelho, 1950.
“A Vila de Almeirim e o seu termo”, Albertino Henriques Barata, in Correio do Ribatejo de 1977.02.18.
Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40