(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 11 DE MAIO DE 2001)
Referiremos hoje um almeirinense
que, apesar de ter tido uma vida curta, conseguiu enriquecê-la, ficando o seu
nome gravado na história da igreja e mesmo na de Portugal.
D. Gonçalo da Silveira foi o
décimo filho de D. Luís da Silveira, primeiro Conde de Sortelha e de sua esposa
D. Brites de Noronha Coutinho e nasceu em 1525.
A mãe faleceu três dias após o
parto, sendo Gonçalo criado e educado por sua irmã mais velha, D. Filipa de
Vilhena, casada com o Marquês D. Luís Álvares de Távora.
Em Mogadouro, onde viveu os
primeiros anos, recebeu instrução no Convento de S. Francisco.
Continua os estudos em Coimbra,
frequentando o mosteiro de Santa Cruz. Em 1540 estudava Retórica e três anos
depois entra na Companhia de Jesus, contra a vontade de seus familiares,
principalmente dos irmãos.
Em Dezembro de 1545 celebra a sua
primeira missa, partindo cinco anos depois para Espanha, com mais quatro
religiosos, dirigindo-se a Gandia onde frequenta a Universidade fundada pouco
antes por São Francisco de Borja e se doutorou em Teologia.
Regressa a Portugal dedicando-se
à pregação onde deu provas de bom orador em várias partes do país onde a sua
presença era requerida, tendo por máxima, entre outras, pregar até enrouquecer.
Em 1553, D. João III entregou à
Companhia de Jesus, em Lisboa, a Ermida de São Roque, estabelecendo-se Casa
professa de que veio a ser primeiro Superior.
Em 30 de Março de 1556 embarca
para o Oriente na armada comandada pelo capitão-mor, D. João Meneses de Sequeira,
sendo o seu destino a Índia onde ao chegar lhe foi lida a patente em que Santo Inácio
o nomeia provincial da Índia.
Nessa missão se mantém até 1559,
organizando e visitando todas as casas e postos missionários.
Seguindo D. Constantino de
Bragança em 1558, na expedição contra a fortaleza de Damão, depois da conquista
da praça, acompanhou a armada que ia para o Estreito mas adoecendo, seu irmão
Álvaro da Silveira, fê-lo regressar a Goa a fim de se tratar.
Durante a sua acção missionária,
procurou que os pagãos convertidos à fé cristã tivessem leis proteccionistas e
combateu tenazmente os judeus que procuraram assassiná-lo.
Tendo o rei de Monomotapa
(Moçambique), zona banhada pelo rio Zambeze, mostrado interesse que lhe
mandassem missionários e isto devido ao facto de um seu sobrinho se ter
convertido ao cristianismo, em Inhambane e certamente por outras vantagens de
tipo comercial, foi o padre D. Gonçalo da Silveira um dos primeiros a
oferecer-se para cumprir tal missão e assim parte com esse destino a 5 de
Janeiro de 1560, aportando a Moçambique um mês depois.
Deixou os companheiros em Tonga e
decide acometer a conquista espiritual de Monomotapa. Sobe o Zambeze até Sena
onde baptiza muitos negros. Desloca-se a pé até Tete onde continua a sua missão
de evangelização, chegando finalmente, a 26 de Dezembro à zona de destino onde
é bem acolhido pelo rei negro que o cumula de presentes que acaba por devolver
pretendendo justificar que não eram essas as riquezas que pretendia.
Bem recebido, começa sem demora o
trabalho a que se tinha proposto, baptizando o imperador e centenas de
indígenas.
Avançando a fé cristã com
rapidez, alguma árabes começaram a espalhar calúnias contra o missionário e
conseguiram que o rei o considerasse um poderoso feiticeiro e decidiu-se
mandá-lo matar, o que veio a acontecer, por estrangulamento, aos trinta e seis
anos de idade. O seu corpo foi deitado a uma lagoa na confluência dos rios
Mucengeze e Mutate.
D. Gonçalo da Silveira que foi o
primeiro missionário que derramou o seu sangue por aquelas paragens, tinha fama
de santidade.
Vários poetas e dramaturgos
jesuítas se inspiraram na sua vida para realizarem trabalhos e o nosso Épico,
que se crê tenha conhecido o missionário na Índia, celebra-o no seu imortal
Poema.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Grande Dicionário Enciclopédico Ediclube, Vol. XVI
Esta Almeirim Famosa, José Augusto Vermelho, 1950.
“A Vila de Almeirim e o seu termo”,
Albertino Henriques Barata, in Correio do
Ribatejo de 1977.02.18.
Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40