sexta-feira, 4 de junho de 2010

O espaço, onde e como é

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 24 DE JANEIRO DE 1992)

Se pensamos que a maioria dos nossos leitores são, possivelmente, varzeenses conhecedores da sua terra, admitimos também a existência daqueles que nada têm a ver com a freguesia, não conhecem bem onde se situa e como são os seus terrenos, tanto no aspecto topográfico como geológico.

Se tivesse sido o nosso propósito haver uma ordem esquemática na apresentação dos temas, possivelmente este teria sido o primeiro ou dos primeiros e não dos últimos, como irá ser.

Verdade seja que nos mais de trinta temas publicados, várias referências têm sido feitas a este assunto, mas que agora pretendemos confirmar e fundamentalmente ampliar.

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[Mapa da freguesia. Des. de JV]

A freguesia da Várzea, uma das vinte e oito que constituem o actual concelho de Santarém, a que sempre pertenceu, situa-se no “Ribatejo do Norte”, em pleno Bairro uma das três regiões consagradas pelo uso regional.

Zona compreendida na parte livre de inundações da margem direita do Tejo (1), e medianamente acidentada e ondulada, constituída por terrenos argilo-arenosos ou argilo-calcários (2), deficientes em azoto e ácido fosfórico. (3)

Linhas de águas numerosas (4) mas que não passam de pequenos ribeiros (5), originam alguns terrenos planos e irrigados (várzeas) que estão na origem da sua designação toponímica.

[Várzea de S. Martinho. Foto JV, 2009]

São terrenos próprios para a cultura da oliveira, a sua maior riqueza, que aqui encontra as melhores condições para o seu habitat (6), cerealicultura, principalmente o trigo que ocupa (ocupava) o espaço livre nos olivais, a vinha, que origina vinhos vigorosos, encorpados, secos e abertos e, nas terras baixas (várzeas) excelentes frutos e mimos hortícolas.

Ocupa uma área aproximada de 25 km2. (7)

Confina com as freguesias citadinas de São Nicolau e S. Salvador e comas rurais de Azóia de Baixo, Romeira, Abitureiras, Moçarria e numa pequena faixa com Almoster.

Moçarria foi criada em 1922 por desanexação de Abitureiras.

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Está passado o “bilhete de identidade”.

Quem desejar adquirir uma ideia mais concreta, além de percorrer a freguesia deverá postar-se com mais detalhe em lugares que lhe proporcionem um abranger do horizonte.

Costuma chamar-se a estes sítios, miradouros e há maravilhosos por esse país fora.

O miradouro das Portas do Sol em Santarém, é um dos mais apreciados e nas nossas andanças profissionais, da Beira ao Algarve, algumas vezes nos foi referido esse facto por quem bebeu essa surpreendente paisagem que nunca mais esqueceu.

Como é de esperar, a freguesia não nenhum desses locais aproveitados no sentido de miradouros propriamente ditos.

Já dissemos que é constituído por terrenos levemente ondulados. É na zona norte que encontramos as cristas dessas ondulações e consequentemente é aí que se situam alguns miradouros naturais donde podemos desfrutar bons panoramas.

[Quinta da Narcisa. Foto JV, 2009]

Da Quinta da Narcisa admiramos, em dias límpidos, a alcantilada capital do Ribatejo e por enquanto, ainda algumas torres dos seus templos, já que outras foram barradas por torres habitacionais.

Separam-nos velhos olivedos. É paisagem interessante.

Do Alto da Olaia, onde se encontra o actual cemitério, admiramos os excelentes terrenos que circundam a Quinta do Freixo.

Da torre da Igreja Matriz, no Outeiro, apercebemo-nos do que é, em grande parte, a freguesia e a nossa vista espraia-se pela Romeira, Moçarria, Aramanha, Vilgateira, Aroeira e Casais do Maio. Estes Casais, salpicados de fogos, são a zona mais elevada da freguesia com cotas superiores a 100 e onde os desníveis são mais pronunciados, proporcionam-nos alguns trechos onde a oliveira é rainha e os regatos gorgolejam no fundo dos vales cobertos de hortejos e árvores de fruto.

Se fizermos isto, ficamos com uma ideia muito exacta do ESPAÇO da freguesia – ONDE E COMO É.

NOTAS
(1)–Boletim da Junta Geral do Distrito de Santarém, 1936, p. 19.
(2)–“A Autonomia Regional do Ribatejo sobre o Aspecto Agro-Climático”, Eng. Agrónomo Eduardo Mendes, in Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40, p. 76.
(3)–“A Evolução Agrícola do Ribatejo”, Eng. Agrónomo Ruy F. Mayer, in Boletim da Junta Geral do Distrito de Santarém, nº 37 a 42, 1933, p. 75.
(4)–Vide “A Água, esse precioso líquido”, in Correio do Ribatejo de 13 de Setembro de 1991.