sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Veríssimo José de Oliveira, P.
Era filho de Constância onde foi padre e acabou os seus dias.
Pessoa erudita, com profundo conhecimento dos autores clássicos e dos seus contemporâneos, prestou um valioso serviço à sua terra natal deixando um manuscrito intitulado Descrição da Villa de Punhete, actualmente designada Constância, 1830.
Apesar de se saber que Constância era terra muita antiga, só pela tradição e poucos documentos se podia reconstituir um pouco da sua história.
O estilo, as citações, os juízos críticos e o cuidado de não deturpar a verdade, são por demais evidentes no seu trabalho, tornando-o digno de ser publicado, o que veio a acontecer em 1945, num trabalho de José Eugénio de Campos Godinho.
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Descrição da Villa de Punhete, 1830, Veríssimo José de Oliveira
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Adriano Gameiro Burguete
(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBETEJO DE 1 DE SETEMBRO DE 1995)
É pequenina e interessante a Vila de Constância, que antes se chamava Punhete, passou a ter a nova designação por Decreto de 7 de Dezembro de 1836, porque os seus “habitantes foram os primeiros que em 1833, com grande zelo e ânimo, isto é, com constância, alcançaram o generoso grito de aclamação dos direitos da Rainha”.
Admitem alguns que os habitantes da vila sentiam a necessidade de afastar uma designação mal soante.
Punhete parece ser corrupção da expressão PUGBA TAGE, cuja tradução é “combate no Tejo”.
A povoação foi doada por D. Fernando a Vasco Peres de Camões.
Estivemos uma única vez em Constância, em 1976 e gostámos da pequenez e singeleza da vila e isto aconteceu tomado em consideração a hipótese de para lá irmos exercer a nossa profissão, o que não veio a acontecer.
Pelo que sabemos através da comunicação social, Constância está no bom caminho aproveitando as suas potencialidades, que não são poucas, mas que precisam de gente dinâmica, como tem acontecido, para as pôr em execução.
Esta pequena introdução serviu para apresentar a nota biográfica de um dos filhos de Constância que, entre tantos outros, o decorrer dos tempos não fez esquecer.
O Dr. Adriano Gameiro Burguete nasceu no dia 16 de Fevereiro de 1872.
Nos seus tempos de estudante obteve distinções no liceu e na Faculdade de Matemática, em Coimbra e um louvor na Escola Médica de Lisboa, onde se formou.
Adere à greve da Academia de Coimbra de 1892, frequentando então o 2º ano da Faculdade de Matemática.
Estagiou nos hos-pitais de Wurzbug, Berlim e Paris e em clínicas de grandes mestres da me-dicina.
Em 1909 rege na Escola Médica de Lisboa um curso de doenças do aparelho digestivo.
Esteve como mé-dico miliciano na Grande Guerra, com a patente de Tenente-coronel.
A quando da grande epidemia da gripe, em 1918, organizou e dirigiu o Hospital provisório das Trinas.
Foi entretanto nomeado médico militar do Ultramar, mas desistiu do lugar para concorrer ao de assistente dos Hospitais Civis.
Insigne médico, exerceu larga actividade clínica e foi Director dos Serviços da Gastro.Entereologia dos Hospitais Civis de Lisboa.
Publicou diversos artigos da sua especialidade e sobre agricultura, em jornais e revistas, como a Caça e o Caçador, Tribuna, Voz, Dia, Diário de Lisboa, Século, Jornal de Abrantes, etc.
Além da realização de conferências, apresentou várias comunicações à Sociedade de Ciências Médicas.
Tomou parte em vários congressos de medicina e de agricultura.
O Dr. Adriano Burguete, muito ligado à sua terra natal, publicou dois livros intitulados: “Luís de Camões em Constância” e “A Casa de Camões em Constância”.
Faleceu em Lisboa no dia 26 de Junho de 1956.
_________________________________
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40
Discrição da Villa de Punhete … por V. J d Ò. (Veríssimo José de Oliveira), 1830, Transcrição, Prefácio e Notas complementares por José Eugénio de Campos Godinho, 1945
É pequenina e interessante a Vila de Constância, que antes se chamava Punhete, passou a ter a nova designação por Decreto de 7 de Dezembro de 1836, porque os seus “habitantes foram os primeiros que em 1833, com grande zelo e ânimo, isto é, com constância, alcançaram o generoso grito de aclamação dos direitos da Rainha”.
Admitem alguns que os habitantes da vila sentiam a necessidade de afastar uma designação mal soante.
Punhete parece ser corrupção da expressão PUGBA TAGE, cuja tradução é “combate no Tejo”.
A povoação foi doada por D. Fernando a Vasco Peres de Camões.
Estivemos uma única vez em Constância, em 1976 e gostámos da pequenez e singeleza da vila e isto aconteceu tomado em consideração a hipótese de para lá irmos exercer a nossa profissão, o que não veio a acontecer.
Pelo que sabemos através da comunicação social, Constância está no bom caminho aproveitando as suas potencialidades, que não são poucas, mas que precisam de gente dinâmica, como tem acontecido, para as pôr em execução.
Esta pequena introdução serviu para apresentar a nota biográfica de um dos filhos de Constância que, entre tantos outros, o decorrer dos tempos não fez esquecer.
O Dr. Adriano Gameiro Burguete nasceu no dia 16 de Fevereiro de 1872.
Nos seus tempos de estudante obteve distinções no liceu e na Faculdade de Matemática, em Coimbra e um louvor na Escola Médica de Lisboa, onde se formou.
Adere à greve da Academia de Coimbra de 1892, frequentando então o 2º ano da Faculdade de Matemática.
Estagiou nos hos-pitais de Wurzbug, Berlim e Paris e em clínicas de grandes mestres da me-dicina.
Em 1909 rege na Escola Médica de Lisboa um curso de doenças do aparelho digestivo.
Esteve como mé-dico miliciano na Grande Guerra, com a patente de Tenente-coronel.
A quando da grande epidemia da gripe, em 1918, organizou e dirigiu o Hospital provisório das Trinas.
Foi entretanto nomeado médico militar do Ultramar, mas desistiu do lugar para concorrer ao de assistente dos Hospitais Civis.
Insigne médico, exerceu larga actividade clínica e foi Director dos Serviços da Gastro.Entereologia dos Hospitais Civis de Lisboa.
Publicou diversos artigos da sua especialidade e sobre agricultura, em jornais e revistas, como a Caça e o Caçador, Tribuna, Voz, Dia, Diário de Lisboa, Século, Jornal de Abrantes, etc.
Além da realização de conferências, apresentou várias comunicações à Sociedade de Ciências Médicas.
Tomou parte em vários congressos de medicina e de agricultura.
O Dr. Adriano Burguete, muito ligado à sua terra natal, publicou dois livros intitulados: “Luís de Camões em Constância” e “A Casa de Camões em Constância”.
Faleceu em Lisboa no dia 26 de Junho de 1956.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40
Discrição da Villa de Punhete … por V. J d Ò. (Veríssimo José de Oliveira), 1830, Transcrição, Prefácio e Notas complementares por José Eugénio de Campos Godinho, 1945
domingo, 25 de outubro de 2009
D. Duarte de Meneses
(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 25 DE AGOSTO DE 1995)
Filho bastardo de D. Pedro de Meneses, heróico governador de Ceuta, e de Isabel Domingues Pessegueira, elevado por D. João I à dignidade de Conde de Vila Real, nasceu à volta de Dezembro de 1404, em Santarém.
Foi armado cavaleiro aos treze anos.
Em 1524, por isso com cerca de vinte anos, substituiu o pai no governo de Ceuta quando este teve que se deslocar a Portugal, tendo depois ocupado a capitania efectiva, Rui Gomes da Silva, um dos cavaleiros que a ajudaram a conquistar em 1415.
Novamente por ausência do pai, entre 1432 2 1434, volta a exercer as mesmas funções que seu pai procurou transmitir-lhe efectivamente mas a que as filhas legítimas se opõem.
De 1437 a 1438, ano em que morre o pai, volta a governar a cidade enquanto ali não chega o cunhado, D. Fernando de Noronha, o novo capitão, pois tinha casado com D. Brites de Meneses, filha legítima de seu pai.
Em 1437 os Infantes D. Henrique e D. Fernando passam por Ceuta a caminho da mal sucedida empresa de Tânger. Para o efeito, D. Duarte encontrou a povoação quase desabitada, ocupando-a e por fim desmantelou-a.
O capitão não assistiu ao desaire de Tânger pois o pai, que se encontrava moribundo, chama-o a Ceuta.
Quando morreu o rei D. Duarte (9.9.1438), esteve no acto de aclamação do novo rei, D. Afonso V, na qualidade de alferes-mor.
Em 1449 regressou a Lisboa e encontra o reino em guerra civil entre a facção do rei, a que adere, e a do infante D. Pedro, que terminou com o desastre de Alfarrobeira.
D. Afonso V dá-lhe então o comando do castelo de Pombal.
A 30 de Setembro acompanha o rei na expedição a África e em 21 de Outubro as hostes portuguesas começam o ataque a Alcácer Ceguer tendo dois dias depois entrado na praça que ocupam. Foi então nomeado seu capitão, D. Duarte de Meneses.
O governo iniciou-se logo com dois cercos apertados: o primeiro em Novembro e Dezembro do mesmo ano, logo após a conquista, o segundo de 2 de Julho a 24 de Agosto do ano seguinte, mas que não obtivera êxito.
Pelo seu comportamento militar e prudência, D. Afonso V concedeu-lhe o título de 3º Conde de Viana de Caminha (Viana do Castelo), em 1460, no qual foi investido em Santarém.
Durante a sua presença em Portugal o rei ouviu-o acerca das empresas africanas que projectava. D. Duarte não o dissuadiu de novamente tentar conquistar Tânger. Em 1463 o rei parte para África com esse intuito, mas as diligências que faz não obtêm êxito.
Em Março de 1464 e na tentativa de obter algum feito, o “Africano” resolve correr para os lados de Arzila e convence D. Duarte de Meneses a acompanha-lo, apesar deste o alertar para os perigos que iriam correr. Efectivamente, na serra de Benacofu são atacados por grande número de mouros aguerridos e para que o rei se pudesse salvar, o capitão de Alcácer, destemido guerreiro, protege-lhe a retirada, o que lhe veio a custar a vida.
A viúva de D. Duarte de Meneses, 3º Conde de Viana, D. Isabel de Castro, sua segunda mulher, mandou-lhe erigir na capela das Almas, na Igreja do Convento de S. Francisco, em Santarém, um cenotáfio, já que só um dente aí se encontrava. Pois o seu corpo foi esquartejado pela moirama no norte de África.
Este mausoléu é considerado o mais importante túmulo gótico de Santarém e encontra-se desde Fevereiro de 1889 no Museu de S. João de Alporão, em Santarém, recentemente re4aberto ao público após grandes transformações e onde tem lugar de honra.
Atribuído ao monogramista G. M., tem estátua jacente de guerreiro armada e no seu todo tem abundantes decorações de vários tipos, tudo esculpidas em calcário da Batalha.
_____________________________________
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Dicionário Ilustrado da História de Portugal, Ed. Alfa
Santarém na História de Portugal, 1950, Joaquim Veríssimo Serrão
Santarém no Tempo, 1971, Virgílio Arruda
Santarém, Editorial Presença, Vítor Serrão
S. João de Alporão,- Na História, Arte e Museologia, 1994
Filho bastardo de D. Pedro de Meneses, heróico governador de Ceuta, e de Isabel Domingues Pessegueira, elevado por D. João I à dignidade de Conde de Vila Real, nasceu à volta de Dezembro de 1404, em Santarém.
Foi armado cavaleiro aos treze anos.
Em 1524, por isso com cerca de vinte anos, substituiu o pai no governo de Ceuta quando este teve que se deslocar a Portugal, tendo depois ocupado a capitania efectiva, Rui Gomes da Silva, um dos cavaleiros que a ajudaram a conquistar em 1415.
Novamente por ausência do pai, entre 1432 2 1434, volta a exercer as mesmas funções que seu pai procurou transmitir-lhe efectivamente mas a que as filhas legítimas se opõem.
De 1437 a 1438, ano em que morre o pai, volta a governar a cidade enquanto ali não chega o cunhado, D. Fernando de Noronha, o novo capitão, pois tinha casado com D. Brites de Meneses, filha legítima de seu pai.
Em 1437 os Infantes D. Henrique e D. Fernando passam por Ceuta a caminho da mal sucedida empresa de Tânger. Para o efeito, D. Duarte encontrou a povoação quase desabitada, ocupando-a e por fim desmantelou-a.
O capitão não assistiu ao desaire de Tânger pois o pai, que se encontrava moribundo, chama-o a Ceuta.
Quando morreu o rei D. Duarte (9.9.1438), esteve no acto de aclamação do novo rei, D. Afonso V, na qualidade de alferes-mor.
Em 1449 regressou a Lisboa e encontra o reino em guerra civil entre a facção do rei, a que adere, e a do infante D. Pedro, que terminou com o desastre de Alfarrobeira.
D. Afonso V dá-lhe então o comando do castelo de Pombal.
A 30 de Setembro acompanha o rei na expedição a África e em 21 de Outubro as hostes portuguesas começam o ataque a Alcácer Ceguer tendo dois dias depois entrado na praça que ocupam. Foi então nomeado seu capitão, D. Duarte de Meneses.
O governo iniciou-se logo com dois cercos apertados: o primeiro em Novembro e Dezembro do mesmo ano, logo após a conquista, o segundo de 2 de Julho a 24 de Agosto do ano seguinte, mas que não obtivera êxito.
Pelo seu comportamento militar e prudência, D. Afonso V concedeu-lhe o título de 3º Conde de Viana de Caminha (Viana do Castelo), em 1460, no qual foi investido em Santarém.
Durante a sua presença em Portugal o rei ouviu-o acerca das empresas africanas que projectava. D. Duarte não o dissuadiu de novamente tentar conquistar Tânger. Em 1463 o rei parte para África com esse intuito, mas as diligências que faz não obtêm êxito.
Em Março de 1464 e na tentativa de obter algum feito, o “Africano” resolve correr para os lados de Arzila e convence D. Duarte de Meneses a acompanha-lo, apesar deste o alertar para os perigos que iriam correr. Efectivamente, na serra de Benacofu são atacados por grande número de mouros aguerridos e para que o rei se pudesse salvar, o capitão de Alcácer, destemido guerreiro, protege-lhe a retirada, o que lhe veio a custar a vida.
A viúva de D. Duarte de Meneses, 3º Conde de Viana, D. Isabel de Castro, sua segunda mulher, mandou-lhe erigir na capela das Almas, na Igreja do Convento de S. Francisco, em Santarém, um cenotáfio, já que só um dente aí se encontrava. Pois o seu corpo foi esquartejado pela moirama no norte de África.
Este mausoléu é considerado o mais importante túmulo gótico de Santarém e encontra-se desde Fevereiro de 1889 no Museu de S. João de Alporão, em Santarém, recentemente re4aberto ao público após grandes transformações e onde tem lugar de honra.
Atribuído ao monogramista G. M., tem estátua jacente de guerreiro armada e no seu todo tem abundantes decorações de vários tipos, tudo esculpidas em calcário da Batalha.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Dicionário Ilustrado da História de Portugal, Ed. Alfa
Santarém na História de Portugal, 1950, Joaquim Veríssimo Serrão
Santarém no Tempo, 1971, Virgílio Arruda
Santarém, Editorial Presença, Vítor Serrão
S. João de Alporão,- Na História, Arte e Museologia, 1994
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Ramiro Guedes
Fervoroso republicano, era tido na melhor conta pelas autoridades monárquicas, que o sabiam idealista honesto e desinteressado.
Já em estudante afirmava e punha em foco as suas ideias republicanas e trabalhou como poucos para o advento da República.
Logo que se constituiu o Partido Republicano Português, nele se filia, tendo sido membro da comissão consultiva e tomando parte em todos os congressos realizados.
Foi o fundador do partido em Abrantes, ainda que no tempo da monarquia.
Nasceu em Abrantes em 22 de Junho de 1850 (segundo a G.E.P.B. em Lisboa).
Foi aluno do Colégio Militar e formou-se em medicina na Escola Médico-cirúrgica de Lisboa, em 27 de Julho de 1872.
Exerceu clínica em Alter do Chão, Mação e Abrantes.
Foi o 1º Governador Civil de Santarém após a implantação da República, funções que desempenhou de 05.10.1910 a 15.08.1911.
Voltou ao desempenho das mesmas funções entre 16.03.1918 e 22.12.1918.
Foi deputado às Constituintes de 1911, eleito pelo Círculo de Tomar e tomou lugar no primeiro Senado Republicano.
Não aceitou o lugar de vogal do Conselho Superior de Administração do Estado, nem o de Provedor da Assistência Pública, para que tinha sido nomeado.
Depois da experiência “sidonista” afastou-se da política activa e dedicou-se inteiramente à actividade clínica.
Veio a falecer em Abrantes no dia 23 de Dezembro de 1933.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Os derriços
(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 7 DE MAIO DE 1993)
[Rua 2ª Visconde de Santarém. Foto JV, 2005]
Como eram os namoricos no MEU BAIRRO há trinta ou quarenta anos? Seriam iguais a todos os outros na “cidade”.
Em escritos anteriores referi o recato das meninas da minha idade que só saíam à rua por absoluta necessidade, não brincavam com os rapazes e quando muito punham-se à janela vendo passar as pessoas, nas quais, como é evidente, os rapazes eram um alvo especial.
A separação de sexos era rígida e prolongada. Havia escolas distintas para ambos os sexos. Quem ia para o liceu (nessa altura ainda não havia Escola Industrial), encontrava-se a mesma separação até ao quinto ano, só raramente havia uma turma mista no 1º. Para completar a turma das meninas, metiam meia dúzia de rapazes, escolhidos a dedo entre os mais novos!
Por esses tempos, após a 4ª classe, que nem todos conseguiam fazer por vários motivos nos quais se contava uma matéria inadequada à idade e o muito uso, sem grande proveito, da memória, poucos rapazes continuavam os estudos, os outros, nos onze, doze anos, procuravam aprender um “ofício”, como então se dizia, ou inclinavam-se para a parte comercial. Dos meus amigos, uma faixa importante foi para as oficinas de automóveis, na altura em grande expansão e saíram mecânicos, electricistas, pintores, bate-chapas, etc. Outros, preferiram andar mais limpos (como diziam) e procuraram as lojas de fazendas e a carreira de empregado de balcão ou caixeiros. De ambos os tipos, alguns atingiram o patronato.
Com as raparigas era tudo muito diferente. Se dos rapazes poucos continuavam a estudar, das raparigas, muito menos. A maioria ficava por casa, onde aprendia as tarefas caseiras com a mãe, a quem ajudava.
Limpeza da casa, varrer, lavar (roupa, chão e louça), caiar, passar a ferro, cozinhar, bordar, costurar e saber alguma coisa de alfaiate, era próprio da grande maioria das mulheres do MEU BAIRRO.
Algumas raparigas empregavam-se no comércio da cidade, principalmente como “caixas” e outras aprendiam a alfaiate (calceiras) ou a modistas. Todas iam só para os empregos, pelo menos não podiam ser acompanhadas por rapazes, nem que fossem os vizinhos e seguissem o mesmo trajecto – é que parecia mal!
Houve raparigas da minha idade, criadas no MEU BAIRRO, com quem nunca passei de um adeus cá, adeus lá, não porque houvesse qualquer animosidade, mas porque “assim é que devia ser”.
O interesse de um rapaz por uma rapariga era demonstrado primeiramente pela “corte” que consistia em ter os olhos nela o máximo de tempo possível, olhá-la, admirá-la, segui-la, enviar-lhe missivas amorosas.
Nessa altura dizia-se que fulano andava atrás de fulana e elas diziam que fulano lhe fazia a corte.
Nessa época, o Jardim da República, onde se situou o Passeio da Rainha, era vedado por interessante gradeamento assente sobre muro de alvenaria. O acesso era feito por três largos portões que o guarda municipal encerrava diariamente à hora determinada pela edilidade e que não posso precisar. Penso que havia o horário de Verão, mais alargado e o do Inverno.
Lembro-me da construção do lago circular ao coreto e de pedir ao meu pai que me lá levasse para ver os cisnes e peixinhos vermelhos, o que me dava grande satisfação. Alguns anos depois fez-se um pequeno lago quadrangular com uma estatueta central e que penso ainda existir. Antes deste lago existiam três (ou seriam dois?) de forma rectangular, com um repuxo ao meio que foram transformados em canteiros.
De vez em quando a Banda dos Bombeiros dava o seu concerto e o jardim enchia-se principalmente de velhotes muito inclinados para esta arte que nas suas juventudes lhes era muito querida.
Havia nos meus tempos de rapaz uma cabina sonora que ia rodando discos pedidos pelos passantes a troco de uma taxa, intercalando com a indispensável publicidade. O encarregado também vivia no MEU BAIRRO.
Os bancos enchiam-se de gente já entrada na idade e os jovens davam voltas e mais voltas às ruas do jardim, em grupos. Andavam-se quilómetros! Se umas vezes se davam as voltas para as encontrar de frente, outras eram precisamente o contrário, seguia-se o mesmo trajecto. Nesta última situação aproveitava-se para alguma troca rápida de impressões, mas tudo isto longe do olhar das mães, tias ou avós!
Lá se ouvia no altifalante que, ”de um admirador para a menina da saia tal ...” e outras dedicatórias semelhantes.
Não recordo a taxa a pagar por cada disco, mas sei que “A mula da cooperativa”, cantada pelo inesquecível Max e devido ao seu excessivo uso, tinha um preço elevadíssimo e mesmo assim, fazia-se uma vaquinha e todas as noites era tocado, afinal com satisfação dos presentes.
Quando a corte era aceite e o namoro do agrado de ambas as famílias, e isto não podia acontecer em pouco tempo, o rapaz era convidado pela moça a ir pedir ao pai dela autorização para que o namoro se “oficializasse”.
Já se sabia da resposta afirmativa, mas sempre dada com algumas restrições. O namoro era feito à janela com dias e horas marcadas que tinham de ser cumpridas. Nada de passeios juntos. Uma ou outra vez ao cinema mas nunca sós. Competia à mãe fazer a companhia. Também se aproveitavam os bailes que se realizavam nas sociedades locais
Só quando se falava em casamento o rapaz começava a entrar em casa dos futuros sogros, deixando de namorar à janela.
É claro que estas regras não eram rígidas, mas o seu não cumprimento criticado pela sociedade.
As transformações foram-se operando naturalmente e hoje nada resta desses usos, continuando a transformação em ritmo acelerado – o que é hoje, já não é amanhã.
A título de curiosidade direi que o primeiro casamento de que me lembro, foi o do Sr. José de Oliveira com sua esposa, D. Maria da Luz. Devem de estar perto das “bodas de ouro”. Oxalá que as venham a realizar.
[Rua 2ª Visconde de Santarém. Foto JV, 2005]
Como eram os namoricos no MEU BAIRRO há trinta ou quarenta anos? Seriam iguais a todos os outros na “cidade”.
Em escritos anteriores referi o recato das meninas da minha idade que só saíam à rua por absoluta necessidade, não brincavam com os rapazes e quando muito punham-se à janela vendo passar as pessoas, nas quais, como é evidente, os rapazes eram um alvo especial.
A separação de sexos era rígida e prolongada. Havia escolas distintas para ambos os sexos. Quem ia para o liceu (nessa altura ainda não havia Escola Industrial), encontrava-se a mesma separação até ao quinto ano, só raramente havia uma turma mista no 1º. Para completar a turma das meninas, metiam meia dúzia de rapazes, escolhidos a dedo entre os mais novos!
Por esses tempos, após a 4ª classe, que nem todos conseguiam fazer por vários motivos nos quais se contava uma matéria inadequada à idade e o muito uso, sem grande proveito, da memória, poucos rapazes continuavam os estudos, os outros, nos onze, doze anos, procuravam aprender um “ofício”, como então se dizia, ou inclinavam-se para a parte comercial. Dos meus amigos, uma faixa importante foi para as oficinas de automóveis, na altura em grande expansão e saíram mecânicos, electricistas, pintores, bate-chapas, etc. Outros, preferiram andar mais limpos (como diziam) e procuraram as lojas de fazendas e a carreira de empregado de balcão ou caixeiros. De ambos os tipos, alguns atingiram o patronato.
Com as raparigas era tudo muito diferente. Se dos rapazes poucos continuavam a estudar, das raparigas, muito menos. A maioria ficava por casa, onde aprendia as tarefas caseiras com a mãe, a quem ajudava.
Limpeza da casa, varrer, lavar (roupa, chão e louça), caiar, passar a ferro, cozinhar, bordar, costurar e saber alguma coisa de alfaiate, era próprio da grande maioria das mulheres do MEU BAIRRO.
Algumas raparigas empregavam-se no comércio da cidade, principalmente como “caixas” e outras aprendiam a alfaiate (calceiras) ou a modistas. Todas iam só para os empregos, pelo menos não podiam ser acompanhadas por rapazes, nem que fossem os vizinhos e seguissem o mesmo trajecto – é que parecia mal!
Houve raparigas da minha idade, criadas no MEU BAIRRO, com quem nunca passei de um adeus cá, adeus lá, não porque houvesse qualquer animosidade, mas porque “assim é que devia ser”.
O interesse de um rapaz por uma rapariga era demonstrado primeiramente pela “corte” que consistia em ter os olhos nela o máximo de tempo possível, olhá-la, admirá-la, segui-la, enviar-lhe missivas amorosas.
Nessa altura dizia-se que fulano andava atrás de fulana e elas diziam que fulano lhe fazia a corte.
Nessa época, o Jardim da República, onde se situou o Passeio da Rainha, era vedado por interessante gradeamento assente sobre muro de alvenaria. O acesso era feito por três largos portões que o guarda municipal encerrava diariamente à hora determinada pela edilidade e que não posso precisar. Penso que havia o horário de Verão, mais alargado e o do Inverno.
Lembro-me da construção do lago circular ao coreto e de pedir ao meu pai que me lá levasse para ver os cisnes e peixinhos vermelhos, o que me dava grande satisfação. Alguns anos depois fez-se um pequeno lago quadrangular com uma estatueta central e que penso ainda existir. Antes deste lago existiam três (ou seriam dois?) de forma rectangular, com um repuxo ao meio que foram transformados em canteiros.
De vez em quando a Banda dos Bombeiros dava o seu concerto e o jardim enchia-se principalmente de velhotes muito inclinados para esta arte que nas suas juventudes lhes era muito querida.
Havia nos meus tempos de rapaz uma cabina sonora que ia rodando discos pedidos pelos passantes a troco de uma taxa, intercalando com a indispensável publicidade. O encarregado também vivia no MEU BAIRRO.
Os bancos enchiam-se de gente já entrada na idade e os jovens davam voltas e mais voltas às ruas do jardim, em grupos. Andavam-se quilómetros! Se umas vezes se davam as voltas para as encontrar de frente, outras eram precisamente o contrário, seguia-se o mesmo trajecto. Nesta última situação aproveitava-se para alguma troca rápida de impressões, mas tudo isto longe do olhar das mães, tias ou avós!
Lá se ouvia no altifalante que, ”de um admirador para a menina da saia tal ...” e outras dedicatórias semelhantes.
Não recordo a taxa a pagar por cada disco, mas sei que “A mula da cooperativa”, cantada pelo inesquecível Max e devido ao seu excessivo uso, tinha um preço elevadíssimo e mesmo assim, fazia-se uma vaquinha e todas as noites era tocado, afinal com satisfação dos presentes.
Quando a corte era aceite e o namoro do agrado de ambas as famílias, e isto não podia acontecer em pouco tempo, o rapaz era convidado pela moça a ir pedir ao pai dela autorização para que o namoro se “oficializasse”.
Já se sabia da resposta afirmativa, mas sempre dada com algumas restrições. O namoro era feito à janela com dias e horas marcadas que tinham de ser cumpridas. Nada de passeios juntos. Uma ou outra vez ao cinema mas nunca sós. Competia à mãe fazer a companhia. Também se aproveitavam os bailes que se realizavam nas sociedades locais
Só quando se falava em casamento o rapaz começava a entrar em casa dos futuros sogros, deixando de namorar à janela.
É claro que estas regras não eram rígidas, mas o seu não cumprimento criticado pela sociedade.
As transformações foram-se operando naturalmente e hoje nada resta desses usos, continuando a transformação em ritmo acelerado – o que é hoje, já não é amanhã.
A título de curiosidade direi que o primeiro casamento de que me lembro, foi o do Sr. José de Oliveira com sua esposa, D. Maria da Luz. Devem de estar perto das “bodas de ouro”. Oxalá que as venham a realizar.
domingo, 18 de outubro de 2009
António Florêncio de Sousa Pinto
(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 18 DE AGOSTO DE 1995)
Nasceu em Abrantes a 27 de Fevereiro de 1818 e entrou aos catorze anos na Academia Real da Marinha.
Alistou-se logo a seguir nas tropas do Duque da Terceira.
Acabada a guerra civil, continuou os estudos concluindo o curso de Artilharia.
Em 1844 tomou parte no cerco de Almeida, onde muito se distinguiu pelo que veio a ser agraciado com o grau de cavaleiro da Torre e Espada.
Foi ajudante de campo do príncipe D. Fernando, até à sua morte e Ministro da Guerra, (1877) par do Reino e general de divisão.
Morreu em Lisboa em 1878.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Nasceu em Abrantes a 27 de Fevereiro de 1818 e entrou aos catorze anos na Academia Real da Marinha.
Alistou-se logo a seguir nas tropas do Duque da Terceira.
Acabada a guerra civil, continuou os estudos concluindo o curso de Artilharia.
Em 1844 tomou parte no cerco de Almeida, onde muito se distinguiu pelo que veio a ser agraciado com o grau de cavaleiro da Torre e Espada.
Foi ajudante de campo do príncipe D. Fernando, até à sua morte e Ministro da Guerra, (1877) par do Reino e general de divisão.
Morreu em Lisboa em 1878.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
sábado, 17 de outubro de 2009
D. Manuel de Melo, 3º Conde de Fornos de Algodres
(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 30 DE AGOSTO DE 1991)
Dizia-nos o douto investigador scalabitano, o Dr., Virgílio Arruda, que a freguesia da Várzea destacava-se, de certa maneira, por ter sido residência de gente de linhagem.
A figura que hoje apresentamos, pertencia a essa estirpe.
Que se saiba, sem ser varzeense pelo nascimento, aqui lhe nasceu o filho que o substituiu no título. Ficou muito ligado à freguesia pelos bens que aqui possuiu e localmente, nos fins da década de sessenta ainda era possível encontrar quem o tivesse conhecido e dele falasse.
O Conde Fornos de Algodres, 3º desse título, nasceu a 26 de Julho de 1839 e faleceu a 2 de Janeiro de 1913.
De seu nome completo Manuel Nicolau d ` Abreu Castelo-Branco Cardoso de Melo, fidalgo da Casa Real, bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra.
Foi 4º filho do 2º Conde e da condessa sua mulher, mas primogénito à morte de seu pai.
Exerceu as funções de Governador Civil de Leiria.
[Palácio dos Condes em Santarém]
Casou em 13 de Janeiro de 1869 com D. Eduarda Henriqueta d´Abreu Castelo-Branco do Amaral e Sousa, sua prima e Viscondessa de Fornos de Algodres. Falecendo esta senhora em 18 de Janeiro de 1879, sem deixar sucessão, passa seu marido a segundas núpcias, casando em 14 de Agosto de 1880 com D. Maria d´Assunpção d´Almeida Correia Correia de S´s, filha de José Correia de Sá Benevides, fidalgo de geração e de sua mulher, D. Eugénia d´Almeida Soares Portugal Lencastre e Silva, filha-herdeira dos 5ºs Marqueses do Lavradio.
O título foi-lhe renovado por decreto de 13 de Dezembro de 1879 (D. Luís I).
D. Manuel de Melo foi presidente da Câmara Municipal de Santarém, e nessa qualidade assistiu à verificação da existência dos restos mortais de Pedro Álvares Cabral (1882) na Igreja da Graça, em Santarém.
[Quinta da Pimenteira, Várzea. Foto JV, 1985]
Do segundo casamento nasceu a 3 de Maio de 1885, nesta freguesia, José d´Almeida Castelo-Branco que veio a ser o 4º Conde do mesmo título e casou em Viana do Castelo a 8 de Junho de 1927, com sua prima co-irmã, D. Maria Rita Vaz Almada.
Usava o título por Alvará do Conselho de Nobreza de 29 de Novembro de 1946.
Os Condes de Fornos de Algodres foram proprietários das Quintas da Granja e da Pimenteira.
NOTAS
(1) - Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
(2) – Nobreza de Portugal, Vol. II, Lisboa, 1960.
(3) – Boletim da Junta Geral do Distrito de Santarém, 1936, pág. 169.
Dizia-nos o douto investigador scalabitano, o Dr., Virgílio Arruda, que a freguesia da Várzea destacava-se, de certa maneira, por ter sido residência de gente de linhagem.
A figura que hoje apresentamos, pertencia a essa estirpe.
Que se saiba, sem ser varzeense pelo nascimento, aqui lhe nasceu o filho que o substituiu no título. Ficou muito ligado à freguesia pelos bens que aqui possuiu e localmente, nos fins da década de sessenta ainda era possível encontrar quem o tivesse conhecido e dele falasse.
O Conde Fornos de Algodres, 3º desse título, nasceu a 26 de Julho de 1839 e faleceu a 2 de Janeiro de 1913.
De seu nome completo Manuel Nicolau d ` Abreu Castelo-Branco Cardoso de Melo, fidalgo da Casa Real, bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra.
Foi 4º filho do 2º Conde e da condessa sua mulher, mas primogénito à morte de seu pai.
Exerceu as funções de Governador Civil de Leiria.
[Palácio dos Condes em Santarém]
Casou em 13 de Janeiro de 1869 com D. Eduarda Henriqueta d´Abreu Castelo-Branco do Amaral e Sousa, sua prima e Viscondessa de Fornos de Algodres. Falecendo esta senhora em 18 de Janeiro de 1879, sem deixar sucessão, passa seu marido a segundas núpcias, casando em 14 de Agosto de 1880 com D. Maria d´Assunpção d´Almeida Correia Correia de S´s, filha de José Correia de Sá Benevides, fidalgo de geração e de sua mulher, D. Eugénia d´Almeida Soares Portugal Lencastre e Silva, filha-herdeira dos 5ºs Marqueses do Lavradio.
O título foi-lhe renovado por decreto de 13 de Dezembro de 1879 (D. Luís I).
D. Manuel de Melo foi presidente da Câmara Municipal de Santarém, e nessa qualidade assistiu à verificação da existência dos restos mortais de Pedro Álvares Cabral (1882) na Igreja da Graça, em Santarém.
[Quinta da Pimenteira, Várzea. Foto JV, 1985]
Do segundo casamento nasceu a 3 de Maio de 1885, nesta freguesia, José d´Almeida Castelo-Branco que veio a ser o 4º Conde do mesmo título e casou em Viana do Castelo a 8 de Junho de 1927, com sua prima co-irmã, D. Maria Rita Vaz Almada.
Usava o título por Alvará do Conselho de Nobreza de 29 de Novembro de 1946.
Os Condes de Fornos de Algodres foram proprietários das Quintas da Granja e da Pimenteira.
NOTAS
(1) - Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
(2) – Nobreza de Portugal, Vol. II, Lisboa, 1960.
(3) – Boletim da Junta Geral do Distrito de Santarém, 1936, pág. 169.
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
José Veríssimo Alves da Silva
(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 18 DE AGOSTO DE 1995)
Economista e publicista, figura controversa, nasceu em Abrantes em 1744.
Foi professor de Filosofia e Latinidade na cidade de Tomar, onde se casou e fixou.
Em 1810 foi preso por vingança como jacobino, acusado de haver aceitado um cargo de governança ao serviço francês durante o tempo em que a povoação esteve ocupada militarmente pela divisão comandada por Margaron.
Preso e enviado para Lisboa, foi removido para o presídio da Trafaria.
Instaurado o processo foi julgado e sentenciado a degredo para África não obstante mostrar em sua defesa que por aceitar dos franceses aquela missão, evitara a Tomar igual sorte à que teve Leiria, que fora por esse tempo saqueada e queimada.
[Insígnea dos jacobinos]
Acabou por não cumprir a pena pois faleceu no mesmo presídio a 10 de Maio de 1811.
Escreveu e publicou várias obras de certa notoriedade, entre as quais:- “Instrução ao novo Código ou dissertação crítica sobre a principal causa da obscuridade do nosso Código autêntico, Lisboa, 1780”, “Memória sobre a Cultura das Vinhas, no tomo I das Memórias de Agricultura, da Academia Real das Ciências”, “Memória sobre os meios de suprir a falta de estrumes animais”, no mesmo tomo, “Memória sobre as principais causas porque o luxo tem sido nocivo aos portugueses”, no tomo I das Memórias Económicas; “Observações botânico- metereológicas , feitas em Tomar, no tomo V das Memórias Económicas, etc.
Economista e publicista, figura controversa, nasceu em Abrantes em 1744.
Foi professor de Filosofia e Latinidade na cidade de Tomar, onde se casou e fixou.
Em 1810 foi preso por vingança como jacobino, acusado de haver aceitado um cargo de governança ao serviço francês durante o tempo em que a povoação esteve ocupada militarmente pela divisão comandada por Margaron.
Preso e enviado para Lisboa, foi removido para o presídio da Trafaria.
Instaurado o processo foi julgado e sentenciado a degredo para África não obstante mostrar em sua defesa que por aceitar dos franceses aquela missão, evitara a Tomar igual sorte à que teve Leiria, que fora por esse tempo saqueada e queimada.
[Insígnea dos jacobinos]
Acabou por não cumprir a pena pois faleceu no mesmo presídio a 10 de Maio de 1811.
Escreveu e publicou várias obras de certa notoriedade, entre as quais:- “Instrução ao novo Código ou dissertação crítica sobre a principal causa da obscuridade do nosso Código autêntico, Lisboa, 1780”, “Memória sobre a Cultura das Vinhas, no tomo I das Memórias de Agricultura, da Academia Real das Ciências”, “Memória sobre os meios de suprir a falta de estrumes animais”, no mesmo tomo, “Memória sobre as principais causas porque o luxo tem sido nocivo aos portugueses”, no tomo I das Memórias Económicas; “Observações botânico- metereológicas , feitas em Tomar, no tomo V das Memórias Económicas, etc.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Frei António Baptista Abrantes
(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 18 DE AGOSTO DE 1995)
Nasceu em Abrantes a 25 de Dezembro de 1737.
Franciscano da Ordem, Terceira, acompanhou a família Real para o Brasil em 1807, tendo sido capelão da armada e confessor da Rainha D. Carlota Joaquina.
Professor de língua árabe, foi autor de “Instruções da Língua Arábica para uso das Escolas da Congregação”.
Faleceu no Rio de Janeiro em 1813.
Nasceu em Abrantes a 25 de Dezembro de 1737.
Franciscano da Ordem, Terceira, acompanhou a família Real para o Brasil em 1807, tendo sido capelão da armada e confessor da Rainha D. Carlota Joaquina.
Professor de língua árabe, foi autor de “Instruções da Língua Arábica para uso das Escolas da Congregação”.
Faleceu no Rio de Janeiro em 1813.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
O Grupo Desportivo Bairro dos Combatentes, "Agremiação Popular"
(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 23.04.1993)
Numa das MEMÓRIAS anteriores, falámos do futebol e da acção que provocava no MEU BAIRRO – ia desde os clubes de Lisboa, aos da “terra”.
Deixámos para uma MEMÓRIA própria, que eu penso justificar-se, do que foi o Grupo Desportivo do Bairro dos Combatentes.
Ainda hoje, quando encontro velhos amigos do MEU BAIRRO, que há muito não vejo, é assunto que vem sempre à baila.
Tenho vários dados concretos (que na altura escrevi) sobre o assunto, que por ora não posso consultar, não sabendo mesmo se alguma vez o venhamos a fazer. Mais uma vez, é à memória que recorremos, apesar das lacunas que nos oferece. Temos contudo recebidas algumas informações de leitores amigos, “gabando-nos” a memória e que só eu os faria recordar coisas de que já não se lembravam!
A rapaziada do MEU BAIRRO, no meu tempo, dava uns toques na borracha, como então dizíamos, no átrio da escola primária, mas o local era proibido para o fazer e a polícia aparecia com muita frequência. Já espigadotes, tínhamos vergonha de sermos obrigados a fugir. Onde jogávamos, não era possível partir vidros e o único inconveniente que podia haver era podermos sujar um pouco uma das paredes laterais, onde a bola batia. Isto só acontecia se a bola estivesse enlameada, o que raramente acontecia.
[Equipa do G.D.B.C.:- De cima para baixo e da esquerda para a direita - Manuel Custódio, Virgílio, "Lelo", Joaquim José, Jaime, Alberto e António Carlos; no primeiro plano, António Miguel, Carlos Torgal, NN, António Martinho e António Oliveira]
Nunca os jovens do MEU BAIRRO assaltaram a escola, partindo tudo o que encontrassem pela frente, em puros actos de selvajaria e vandalismo. O nosso crime era querermos jogar à bola num local que nos oferecia o mínimo de condições! Ai tempos, tempos!
Com a construção do Palácio da Justiça (eu ainda sou do tempo do velho Tribunal, ao Canto da Cruz) obra efectuada pelo trabalho de presos vigiados por guardas prisionais em guaritas estrategicamente colocadas e a abertura das vias do Campo Fora-de-Vila (Campo Sá da Bandeira) houve necessidade de arranjar novo local para as feiras e mercados da cidade:- Nª Sª da Piedade, SS Milagre, Feira do Ribatejo acabada de criar e mercados mensais de gado. Eram então os certames conhecidos e hoje muito mais alargados, alguns que nem sequer conheço.
Era um olival, se a memória não me atraiçoa, da conhecida Família Telhadas.
Depois de terraplenado, o que devia ter acontecido por volta de 1953, ficámos com um óptimo campo para jogar futebol, já que nessa altura não havia qualquer construção e ninguém nos proibia de tal. Como ficava perto do MEU BAIRRO, era fácil utilizá-lo.
Lá fazíamos os nossos treinos, principalmente na época de férias e tínhamos de esperar por aqueles que estavam a trabalhar, que saíssem dos empregos.
Começou a nascer a ideia de formar um grupo, havendo necessidade de arranjar local onde nos reuníssemos. Obtive a concessão, por parte de meus pais, que nestes assuntos sempre me deram total apoio, da cave do prédio que habitávamos. Levámos para lá a luz eléctrica, fizemos de caixotes que arranjámos aqui e ali, bancos e mesas. Tínhamos jogos de damas, livros e revistas (antigos).
Era a nossa sede, como pomposamente lhe chamávamos e lá nos juntávamos diariamente no tempo de férias, para muitos, depois do jantar.
Quotizávamo-nos e fazíamos sorteios conseguindo assim angariar os patacos necessários para comprar bola, camisolas, que numerámos e calções.
Entretanto a “malta” da zona da rampa dos Ciclistas (Rua Capitão Montês) actuaram no mesmo sentido, formando o seu grupo que baptizaram de “Os Terríveis”, equipando de camisola azul e calção branco. Do outro lado, era a “malta” do Matadouro mas que não posso precisar se chegaram a comprar o equipamento semelhante ao nosso. Talvez sim, sendo as camisolas vermelhas.
[Antes dos jogos e com apoiantes.]
O “G.D.B.C” que equipava de camisola amarela e calção branco, começou a ser conhecido no MEU BAIRRO e até a merecer alguma estima dos adultos. Um entusiasta arranjou uma grande bandeira de seda amarela e branca e onde colocou o emblema do clube, de minha autoria e pintado a óleo. Ficou a constituir o nosso “estandarte”, acompanhando-nos nos jogos que efectuávamos.
Ainda que o nome oficial fosse o que titulou esta MEMÓRIA, o grupo era conhecido pelo Grupo da Avenida, em alusão à artéria principal do MEU BAIRRO.
Se a rapaziada mais velha era entusiasta, os mais novos não lhe ficavam atrás. Estavam sempre esperando pela falta de algum mais velho para poderem alinhar.
Assistiam aos jogos com grande entusiasmo, chegando mesmo a acompanhar a equipa quando jogava fora, afinal o que mais desejávamos.
Se umas vezes as equipas visitadas nos pagavam as viagens nos transportes públicas, outras pagávamos nós.
A primeira deslocação que fizemos foi a Vila Nova de S. Pedro, interessante aldeia do concelho de Azambuja, donde era natural um amigo que na época de aulas se hospedava numa casa da Rua 2º Visconde.
[No desaparecido Estádio Alfredo Aguiar, dos Leões de Santarém. Antes dos jogos, com o estandarte.]
Lá se combinou o jogo e no dia marcado tudo seguiu na “carreira” a caminho do Cartaxo onde apanhámos ligação para Vila Nova.
Lá ia a cesta de verga que continha duas divisões e pintada de vermelho. O Maroca Santana levava a “farmácia” a fim de prestar a “assistência” a quem necessitasse!
Ganhámos o jogo, penso que por três a um com grande exibição do nosso mais jovem jogador, que alinha a extremo-esquerdo, como se dizia nessa época, o Carlos Torgal que marcou pelo menos um golo.
Sem pretender formar a equipa que jogou, recordo o recentemente falecido, Joaquim José (Aguiar), os irmãos Jusa (José Francisco e António Augusto), o António Martinho, uma pedra sempre influente, além do mais, com as suas partes gagas, os irmãos Cardoso (Virgílio e Hernâni), António Oliveira, um polivalente e o José Luís (Colaço).
Depois do jogo, houve um petisco em caso do nosso amigo onde pontificava o chouriço assado e pão fabricado por um dos intervenientes no encontro, acompanhado naturalmente por um copo de tinto, saído do casco ali ao lado.
Quando fomos para o baile, ficámos desiludidos pois era baile de roda a que não estávamos habituados.
Se a satisfação era grande quando partimos, o regresso foi mais eufórico pois trazíamos uma vitória no “bornal”. Lembro-me que nesse dia fui para Almeirim onde episodicamente se encontravam os meus pais. Cheguei por volta das onze da noite o que já causava preocupações aos meus progenitores! Nessa altura, um rapaz com dezassete ou dezoito anos já era tarde chegar às onze horas da noite; hoje uma moça de catorze ou quinze anos é cedo chegar às três da manhã!
Efectuámos jogos em várias terras circunvizinhas, como Pernes, Alcanhões, onde o jovem Fernando Fontes fez grande exibição, Vale de Santarém, Várzea (Vilgateira) e Graínho. Aqui dava-se a circunstância de no campo haver duas oliveiras, que tínhamos de “fintar”!
Quando jogávamos em “casa”, utilizávamos o estádio Alfredo Aguiar, com Luís de Melo a aturar - nos , ou então o Chã das Padeiras.
Também nos lembramos de ter formado uma equipa de jovens para defrontar em jogo treino igual equipa dos Leões”. O treinador Artur Quaresma, que morava no MEU BAIRRO e apoiava a nossa equipa, aceitou o desafio “impondo nós a condição dos residentes no bairro alinharem pelo GDBC e não pelos Leões, onde estavam inscritos.
Não posso precisar o resultado, mas penso que consigo recordar a equipa que formei, assim constituída:- Fernando Fontes, Fernando Cabo, Fernando Alves e Carlos Rodrigues; Emídio Aguiar e Carlos Cabo, Rui Manhoso, João Torgal, Costa, Carlos Torgal e Waldemar Gonçalves.
Lembro-me que Artur Quaresma dizer que o Carlos Torgal já era muito grande, efectivamente assim acontecia em relação aos outros. O Carlos, nessa altura dava para tudo e veio a ser, vários anos titularíssimo na equipe de “Os Leões”, que ajudou a vencer o Nacional de III Divisão.
Nesta jovem equipa, muito homogénea e capitaneado pelo Emídio, alinhava a extremo direito um grande entusiasta do grupo, o Rui Manhoso, actual Presidente da Associação de Futebol de Santarém e cujo gosto pelo dirigismo, talvez o tivesse obtido no GDBC, como recentemente nos confidenciou.
Ainda que o grupo procurasse alinhar com a “malta” que residia no bairro, também procurávamos efectuar as nossas “aquisições”, lembrando-me de duas nas quais tive influência, pois tratavam-se de colegas de liceu, o completíssimo Correia Bernardo, para os amigos Niza, excelente guarda-redes, que alinhava a qualquer lugar, incluindo extremo-esquerdo Foi o desportista mais completo da minha geração.
Distinto oficial do Exército, o nosso velho amigo, Coronel Correia Bernardo, mantém-se em Santarém onde comanda O D.R.M.. O outro foi Fernando Lucas, conceituado industrial na cidade, habilidoso atacante que ainda há pouco e em sua casa me recordava esses tempos e a circunstância de o ter encarregue, como capitão da equipa, de marcar uma grande penalidade que, com uma biqueirada, ... falhou!
Alguns desses jovens de então, que hoje seriam cinquentões, infelizmente já não se encontram entre nós, como é o caso do José Torgal, do António Carlos (Tocá) e do Joaquim José, isto os que são do meu conhecimento.
Não posso terminar esta MEMÓRIA sem referir os jovens que deram vida ao e que de momento vêm à minha memória:- os irmãos Torgal (José, Carlos e João), os irmãos Cardoso (Virgílio e Hernâni), os irmãos Aguiar (Joaquim José e Emídio), os irmãos Correia (Jaime e Manuel), os irmãos Jusa (José Francisco e António Augusto), António Martinho, José Luís Colaço, João Fernandes, Alberto (Beta), Manuel Custódio, José do Seixo, Júlio Porfírio, António Oliveira e outros.
Muitos deles, não os vejo há mais de trinta e cinco anos nem sei por onde param.
Naturalmente que a vida nos traçou rumos diferentes, cada qual seguiu a sua profissão. Enquanto uns se mantiveram na cidade e mesmo no MEU BAIRRO, outros fixaram-se por esse país fora, alguns bem distantes.
***
[Equipa do G.D.B.C.De cima para baixo e da esquerda para a direita:-Manuel Custódio, João Fernandes, Fernando Lucas, Romão, António Martinho, Jusa I, Jusa II, António Miguel e Correia Bernardo. Primeiro plano e pela mesma ordem: Mário Leal, Hernani Cardoso, Carlos Torgal, José Luís e Alberto]
Ainda que nada tenha a ver com o futebol, não posso deixar de lembrar aqui um facto que nunca desapareceu da minha MEMÓRIA.
Aqueles que frequentavam o liceu e estabelecimentos similares, adquiriram algum interesse por outras modalidades, como acontecia com o voleibol, basquetebol e atletismo.
Lembro-me do brilharete alcançado pela Associação Académica de Santarém no 1ºPasso, uma organização do Sporting Clube de Portugal e apoiado por um jornal desportivo.
Acontece que enquanto eu procurava dedicar-me ao salto em altura, havia um amigo que estava muito interessado no lançamento do peso. Conseguiu arranjar um peso de chumbo, proveniente de uma roda de balanço de uma qualquer máquina, mas que tinha o feitio de uma pêra, o que muito o desgostava e segundo dizia, não lhe proporcionava o treino adequado. Logo me propus tornar o objecto esférico e ainda que não o tivesse conseguido, pelo menos ficou mais parecido.
O meu “velho” amigo acabou por se licenciar em Educação Física!
Lembraste Victor?
Numa das MEMÓRIAS anteriores, falámos do futebol e da acção que provocava no MEU BAIRRO – ia desde os clubes de Lisboa, aos da “terra”.
Deixámos para uma MEMÓRIA própria, que eu penso justificar-se, do que foi o Grupo Desportivo do Bairro dos Combatentes.
Ainda hoje, quando encontro velhos amigos do MEU BAIRRO, que há muito não vejo, é assunto que vem sempre à baila.
Tenho vários dados concretos (que na altura escrevi) sobre o assunto, que por ora não posso consultar, não sabendo mesmo se alguma vez o venhamos a fazer. Mais uma vez, é à memória que recorremos, apesar das lacunas que nos oferece. Temos contudo recebidas algumas informações de leitores amigos, “gabando-nos” a memória e que só eu os faria recordar coisas de que já não se lembravam!
A rapaziada do MEU BAIRRO, no meu tempo, dava uns toques na borracha, como então dizíamos, no átrio da escola primária, mas o local era proibido para o fazer e a polícia aparecia com muita frequência. Já espigadotes, tínhamos vergonha de sermos obrigados a fugir. Onde jogávamos, não era possível partir vidros e o único inconveniente que podia haver era podermos sujar um pouco uma das paredes laterais, onde a bola batia. Isto só acontecia se a bola estivesse enlameada, o que raramente acontecia.
[Equipa do G.D.B.C.:- De cima para baixo e da esquerda para a direita - Manuel Custódio, Virgílio, "Lelo", Joaquim José, Jaime, Alberto e António Carlos; no primeiro plano, António Miguel, Carlos Torgal, NN, António Martinho e António Oliveira]
Nunca os jovens do MEU BAIRRO assaltaram a escola, partindo tudo o que encontrassem pela frente, em puros actos de selvajaria e vandalismo. O nosso crime era querermos jogar à bola num local que nos oferecia o mínimo de condições! Ai tempos, tempos!
Com a construção do Palácio da Justiça (eu ainda sou do tempo do velho Tribunal, ao Canto da Cruz) obra efectuada pelo trabalho de presos vigiados por guardas prisionais em guaritas estrategicamente colocadas e a abertura das vias do Campo Fora-de-Vila (Campo Sá da Bandeira) houve necessidade de arranjar novo local para as feiras e mercados da cidade:- Nª Sª da Piedade, SS Milagre, Feira do Ribatejo acabada de criar e mercados mensais de gado. Eram então os certames conhecidos e hoje muito mais alargados, alguns que nem sequer conheço.
Era um olival, se a memória não me atraiçoa, da conhecida Família Telhadas.
Depois de terraplenado, o que devia ter acontecido por volta de 1953, ficámos com um óptimo campo para jogar futebol, já que nessa altura não havia qualquer construção e ninguém nos proibia de tal. Como ficava perto do MEU BAIRRO, era fácil utilizá-lo.
Lá fazíamos os nossos treinos, principalmente na época de férias e tínhamos de esperar por aqueles que estavam a trabalhar, que saíssem dos empregos.
Começou a nascer a ideia de formar um grupo, havendo necessidade de arranjar local onde nos reuníssemos. Obtive a concessão, por parte de meus pais, que nestes assuntos sempre me deram total apoio, da cave do prédio que habitávamos. Levámos para lá a luz eléctrica, fizemos de caixotes que arranjámos aqui e ali, bancos e mesas. Tínhamos jogos de damas, livros e revistas (antigos).
Era a nossa sede, como pomposamente lhe chamávamos e lá nos juntávamos diariamente no tempo de férias, para muitos, depois do jantar.
Quotizávamo-nos e fazíamos sorteios conseguindo assim angariar os patacos necessários para comprar bola, camisolas, que numerámos e calções.
Entretanto a “malta” da zona da rampa dos Ciclistas (Rua Capitão Montês) actuaram no mesmo sentido, formando o seu grupo que baptizaram de “Os Terríveis”, equipando de camisola azul e calção branco. Do outro lado, era a “malta” do Matadouro mas que não posso precisar se chegaram a comprar o equipamento semelhante ao nosso. Talvez sim, sendo as camisolas vermelhas.
[Antes dos jogos e com apoiantes.]
O “G.D.B.C” que equipava de camisola amarela e calção branco, começou a ser conhecido no MEU BAIRRO e até a merecer alguma estima dos adultos. Um entusiasta arranjou uma grande bandeira de seda amarela e branca e onde colocou o emblema do clube, de minha autoria e pintado a óleo. Ficou a constituir o nosso “estandarte”, acompanhando-nos nos jogos que efectuávamos.
Ainda que o nome oficial fosse o que titulou esta MEMÓRIA, o grupo era conhecido pelo Grupo da Avenida, em alusão à artéria principal do MEU BAIRRO.
Se a rapaziada mais velha era entusiasta, os mais novos não lhe ficavam atrás. Estavam sempre esperando pela falta de algum mais velho para poderem alinhar.
Assistiam aos jogos com grande entusiasmo, chegando mesmo a acompanhar a equipa quando jogava fora, afinal o que mais desejávamos.
Se umas vezes as equipas visitadas nos pagavam as viagens nos transportes públicas, outras pagávamos nós.
A primeira deslocação que fizemos foi a Vila Nova de S. Pedro, interessante aldeia do concelho de Azambuja, donde era natural um amigo que na época de aulas se hospedava numa casa da Rua 2º Visconde.
[No desaparecido Estádio Alfredo Aguiar, dos Leões de Santarém. Antes dos jogos, com o estandarte.]
Lá se combinou o jogo e no dia marcado tudo seguiu na “carreira” a caminho do Cartaxo onde apanhámos ligação para Vila Nova.
Lá ia a cesta de verga que continha duas divisões e pintada de vermelho. O Maroca Santana levava a “farmácia” a fim de prestar a “assistência” a quem necessitasse!
Ganhámos o jogo, penso que por três a um com grande exibição do nosso mais jovem jogador, que alinha a extremo-esquerdo, como se dizia nessa época, o Carlos Torgal que marcou pelo menos um golo.
Sem pretender formar a equipa que jogou, recordo o recentemente falecido, Joaquim José (Aguiar), os irmãos Jusa (José Francisco e António Augusto), o António Martinho, uma pedra sempre influente, além do mais, com as suas partes gagas, os irmãos Cardoso (Virgílio e Hernâni), António Oliveira, um polivalente e o José Luís (Colaço).
Depois do jogo, houve um petisco em caso do nosso amigo onde pontificava o chouriço assado e pão fabricado por um dos intervenientes no encontro, acompanhado naturalmente por um copo de tinto, saído do casco ali ao lado.
Quando fomos para o baile, ficámos desiludidos pois era baile de roda a que não estávamos habituados.
Se a satisfação era grande quando partimos, o regresso foi mais eufórico pois trazíamos uma vitória no “bornal”. Lembro-me que nesse dia fui para Almeirim onde episodicamente se encontravam os meus pais. Cheguei por volta das onze da noite o que já causava preocupações aos meus progenitores! Nessa altura, um rapaz com dezassete ou dezoito anos já era tarde chegar às onze horas da noite; hoje uma moça de catorze ou quinze anos é cedo chegar às três da manhã!
Efectuámos jogos em várias terras circunvizinhas, como Pernes, Alcanhões, onde o jovem Fernando Fontes fez grande exibição, Vale de Santarém, Várzea (Vilgateira) e Graínho. Aqui dava-se a circunstância de no campo haver duas oliveiras, que tínhamos de “fintar”!
Quando jogávamos em “casa”, utilizávamos o estádio Alfredo Aguiar, com Luís de Melo a aturar - nos , ou então o Chã das Padeiras.
Também nos lembramos de ter formado uma equipa de jovens para defrontar em jogo treino igual equipa dos Leões”. O treinador Artur Quaresma, que morava no MEU BAIRRO e apoiava a nossa equipa, aceitou o desafio “impondo nós a condição dos residentes no bairro alinharem pelo GDBC e não pelos Leões, onde estavam inscritos.
Não posso precisar o resultado, mas penso que consigo recordar a equipa que formei, assim constituída:- Fernando Fontes, Fernando Cabo, Fernando Alves e Carlos Rodrigues; Emídio Aguiar e Carlos Cabo, Rui Manhoso, João Torgal, Costa, Carlos Torgal e Waldemar Gonçalves.
Lembro-me que Artur Quaresma dizer que o Carlos Torgal já era muito grande, efectivamente assim acontecia em relação aos outros. O Carlos, nessa altura dava para tudo e veio a ser, vários anos titularíssimo na equipe de “Os Leões”, que ajudou a vencer o Nacional de III Divisão.
Nesta jovem equipa, muito homogénea e capitaneado pelo Emídio, alinhava a extremo direito um grande entusiasta do grupo, o Rui Manhoso, actual Presidente da Associação de Futebol de Santarém e cujo gosto pelo dirigismo, talvez o tivesse obtido no GDBC, como recentemente nos confidenciou.
Ainda que o grupo procurasse alinhar com a “malta” que residia no bairro, também procurávamos efectuar as nossas “aquisições”, lembrando-me de duas nas quais tive influência, pois tratavam-se de colegas de liceu, o completíssimo Correia Bernardo, para os amigos Niza, excelente guarda-redes, que alinhava a qualquer lugar, incluindo extremo-esquerdo Foi o desportista mais completo da minha geração.
Distinto oficial do Exército, o nosso velho amigo, Coronel Correia Bernardo, mantém-se em Santarém onde comanda O D.R.M.. O outro foi Fernando Lucas, conceituado industrial na cidade, habilidoso atacante que ainda há pouco e em sua casa me recordava esses tempos e a circunstância de o ter encarregue, como capitão da equipa, de marcar uma grande penalidade que, com uma biqueirada, ... falhou!
Alguns desses jovens de então, que hoje seriam cinquentões, infelizmente já não se encontram entre nós, como é o caso do José Torgal, do António Carlos (Tocá) e do Joaquim José, isto os que são do meu conhecimento.
Não posso terminar esta MEMÓRIA sem referir os jovens que deram vida ao e que de momento vêm à minha memória:- os irmãos Torgal (José, Carlos e João), os irmãos Cardoso (Virgílio e Hernâni), os irmãos Aguiar (Joaquim José e Emídio), os irmãos Correia (Jaime e Manuel), os irmãos Jusa (José Francisco e António Augusto), António Martinho, José Luís Colaço, João Fernandes, Alberto (Beta), Manuel Custódio, José do Seixo, Júlio Porfírio, António Oliveira e outros.
Muitos deles, não os vejo há mais de trinta e cinco anos nem sei por onde param.
Naturalmente que a vida nos traçou rumos diferentes, cada qual seguiu a sua profissão. Enquanto uns se mantiveram na cidade e mesmo no MEU BAIRRO, outros fixaram-se por esse país fora, alguns bem distantes.
***
[Equipa do G.D.B.C.De cima para baixo e da esquerda para a direita:-Manuel Custódio, João Fernandes, Fernando Lucas, Romão, António Martinho, Jusa I, Jusa II, António Miguel e Correia Bernardo. Primeiro plano e pela mesma ordem: Mário Leal, Hernani Cardoso, Carlos Torgal, José Luís e Alberto]
Ainda que nada tenha a ver com o futebol, não posso deixar de lembrar aqui um facto que nunca desapareceu da minha MEMÓRIA.
Aqueles que frequentavam o liceu e estabelecimentos similares, adquiriram algum interesse por outras modalidades, como acontecia com o voleibol, basquetebol e atletismo.
Lembro-me do brilharete alcançado pela Associação Académica de Santarém no 1ºPasso, uma organização do Sporting Clube de Portugal e apoiado por um jornal desportivo.
Acontece que enquanto eu procurava dedicar-me ao salto em altura, havia um amigo que estava muito interessado no lançamento do peso. Conseguiu arranjar um peso de chumbo, proveniente de uma roda de balanço de uma qualquer máquina, mas que tinha o feitio de uma pêra, o que muito o desgostava e segundo dizia, não lhe proporcionava o treino adequado. Logo me propus tornar o objecto esférico e ainda que não o tivesse conseguido, pelo menos ficou mais parecido.
O meu “velho” amigo acabou por se licenciar em Educação Física!
Lembraste Victor?
domingo, 11 de outubro de 2009
D. Fernando, o Infante Santo
O oitavo filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, nasceu nos Paços Reais da Vila de Santarém, no dia 29 de Setembro de 1402.
Quando o Infante D. Pedro, seu irmão, saiu do país em viagens, correndo Mundo, confiou-lhe o governo de sua casa.
Foi testemunha do contrato de casamento do irmão, D. Duarte, com D. Leonor, filha do rei de Aragão, acto matrimonial que se realizou em Coimbra, em 1428.
D. Duarte fez-lhe mercê do mestrado e governo da Ordem de Avis, juntando aos bens que possuía como Senhor das vilas de Salvaterra de Magos e de Atouguia da Baleia.
Era homem dado à leitura tendo protegido o cronista Fernão Lopes, assim como Frei João Álvares, um torrejano que já referimos, que foi seu secretário e confessor e veio a ser o seu biógrafo.
Parece que o infante D. Fernando ficou descontente com a repartição de bens pelos irmãos, pois achava-se desfavorecido, revelando por isso a intenção de abandonar o Reino.
O papa Eugénio IV pretende oferecer-lhe a mitra cardinalícia mas não aceita por lhe parecer coisa de grande carrego de consciência.
O irmão D. Henrique falou-lhe nos projectos de conquistas no Norte de África, aos quais aderiu, partindo para Ceuta a 22 de Agosto de 1437, com D. Henrique e o objectivo de conquistar Tânger.
Ao desastre militar seguiu-se a prisão do infante D. Fernando que ficou como refém, enquanto Ceuta não fosse devolvida.
As opiniões dividiam-se, acabando por triunfar a da não entrega de Ceuta, na qual se engloba o Infante D. Henrique.
O príncipe que foi transferido para Arzila e depois para Fez, onde veio a falecer em condições degradantes, a 5 de Julho de 1443, ficou conhecido na história, devido a esse facto. Como o Infante Santo.
Criou-se a lenda de que o infante, se declarava feliz por graças ao sacrifício de um homem, Ceuta continuar sendo portuguesa.
Em 1471, os seus restos mortais foram resgatados sendo sepultados no Mosteiro da Batalha.
Santarém prestou homenagem a este seu ilustre filho erigindo-lhe um monumento da autoria de Mestre Leopoldo de Almeida, numa praça da cidade.
_______________________________
Dicionário de História de Portugal, Vol.II, dir. Joel Serrão
Dicionário Ilustrado da História de Portugal, Vol. I, dir. J.Hermano Saraiva, Edição Alfa.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
"As dez capelas que possuia no séc.XIX"
(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 16 e 23 de AGOSTO DE 1991)
Em todas as obras colectivas, tipo enciclopédia ou dicionário que nos chegam às mãos, procuramos inevitavelmente o que se encontra sobre a freguesia da Várzea mas pouco ou nada diferem umas das outras, tratando-se de simples cópias mais ou menos disfarçadas. Quem quiser saber mais, tem de ir pelos seus próprios meios às fontes documentais e orais.
Não sabemos as origens dos relatos apresentados mas pensamos que devem provir das Memórias Paroquiais (1758) e também do Portugal Antigo e Moderno, de Pinho Leal, do último quartel do século passado.
Uma das coisas que em todos encontramos, è a referência à existência de dez capelas na freguesia no princípio do séc. XIX e isto enquadra-se bem no que diz Pinho Leal, se (...) esta freguesia uma das mais religiosas do distrito administrativo de Santarém.
Ao facto, que nos serve de título deste tema, todos acrescentam que foram profanadas pelos franceses.
Dez capelas numa freguesia rural cuja área ronda os 25 km2, é obra, não é normal.
Para quem não conhece e pensa existir uma capelinha em cada aldeia, diremos que não é verdade.
Antes de conhecermos a freguesia, já nos preocupávamos no sentido de encontrar as dez capelas, uma vez que nenhuma das referências era acompanhada da indicação total, ainda que refiram algumas.
Décadas passadas e após calcorrearmos toda a freguesia, de marco a marco, arriscamos identificar do seguinte modo as capelas existentes em princípios de oitocentos:- São Miguel, Santo António, São Francisco, Nª Sª da Conceição, Nª Sª da Piedade, Nª Sª do Amparo e as das Quintas da Laranjeira, Freixo Mafarra e Mocho.
Estará a nossa identificação correcta? Pensamos que sim. Reparar que quatro não têm ou não se conhece o nome da invocação, sendo conhecidas pelo nome das quintas em que se situam, das restantes sais, três situam-se também em quintas, restando três e mesmo destas, é possível que uma também fosse particular. Ao cero, só a de Santo António seria pública.
Como se vê, eram quase todas pertencentes às quintas. Dizia-nos um velho Amigo, nado e criado na aldeia de Vilgateira que uma quinta para merecer essa designação, tinha de possuir a sua capela, tão necessária como o lagar de azeite e a adega.
Pertencente à fidalguia que em muitos casos as teriam mandado edificar, acabaram por cair nas mãos da burguesia.
A capela era para o senhor “feudal” mais um símbolo de prestígio social e sinal de que, até na vida espiritual, afirmava a sua independência.
Perguntar-se-á o que é feito dessas capelas, onde se situam ou encontravam?
Diremos que algumas, bem poucas, continuam a missão para que foram erigidas, outras estão profanadas com utilizações diversas, umas tantas em ruína bastante adiantada e outras desapareceram completamente.
Iremos referi-las, pela ordem indicada, ainda que estejamos distantes daquilo que gostaríamos de dizer e que é possível obter se dispuséssemos de tempo para isso.
***
DE SÃO MIGUEL
Este velho culto que acompanhou a reconquista, esteve representado numa ermida situada”na extremidade nordeste da freguesia, em lugar alto, com belas e extensas vistas. (1)
Em abono deste culto, podia aludir-se à situação, um outeiro, o que concorda com o facto de os templos dedicados ao arcanjo S. Miguel, se edificarem, de preferência, em locais elevados.
A sua construção perde-se no recuar dos tempos. Sabe-se contudo que por e ruína da igreja paroquial, e possivelmente a ermida também o estivesse, passa a desempenhar essas funções, tendo sofrido obras de restauro e ampliação, isto por volta dos anos 60 do século passado. (2)
Desaparece assim a ermida de S. Miguel. Dando origem a actual igreja matriz.
Uma sepultura datada de 1646 e enquadrada na capela-mor, é certamente originária da ermida. Recentemente chegou-nos às mãos uma fotografia que nos mostra a seguinte inscrição – NO ANO DE 1689, aparecida numa das paredes do templo devido a recentes obras de restauro e ampliação.
Sabe-se que em 1522 dois casais de camponeses possuíam junto a Vila Gateira, “no limite de Nª Sª do Outeiro, as suas courelas” (3). Não terá esta referência ligação com a ermida? Pensamos que sim.
DE SANTO ANTÓNIO
Sobre esta capela que se situa em Vilgateira e dada como construção do século XVII (1623), já dissemos o que nos foi possível nas páginas deste jornal (4) pelo que o não vamos repetir agora, remetendo os possíveis interessados para aquele número.
Pertencente à Fábrica da Igreja Paroquial, serviu de matriz quando aquela esteve em obras (1987).
DE SÃO FRANCISCO
Também se situava em Vilgateira esta desaparecida capela que no último quartel do século passado ainda se encontrava de pé, apesar de profanada.
A localização não foi difícil de determinar por via da tradição oral, mas ainda nos lembramos, por volta dos anos cinquenta, de um nicho existente no estabelecimento comercial de Adelino Martins Coelho, recentemente falecido, construção que aproveitou restos da capela de que o nicho fazia parte.
Escrito, só tenho conhecimento do que Pinho Leal nos transmitiu. (2)
A capela situava-se muito próximo de uma antiquíssima residência, já desaparecida e que hoje lamentamos não ter fotografado ou desenhado. Pertencia à ilustre Família Azevedo Moncada e que devido ao hábito local poderia a capelinha ter pertencido àquela família, hoje desaparecida da freguesia.
DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
Sem dúvida que era uma das dez existentes nos princípios do século XIX.
Situava-se na aldeia da Aramanha numa quinta do mesmo nome, desmantelada por vendas e partilhas e que pertenceu ao Ver. Padre António Fragoso Rhodes, prior “collado” desta freguesia. (5)
A origem é atribuída ao século XVI (6) mas o lintel da porta tem gravado a era de 1744.
Era alpendrada e pelo menos no século passado ainda se encontrava bem conservada. Segundo nos informaram, a ruína e profanação começou a desenhar-se por volta dos anos cinquenta dos nossos dias.
Hoje, é um montão de ruínas, nem para pocilga já serve!
Reconhece-se ainda, além da porta rectangular de cantaria e encimada por uma cruz do mesmo material, uma coluna do alpendre adossada à fachada e a sineira, mas a sineta naturalmente desapareceu já que o bronze rende dinheiro.
Continuando a pertencer à Família Fragoso Rhodes, a imagem de Nª Sª da Conceição, de grande devoção, foi recolhida na Quinta da Narcisa, residência que foi da mesma família.
DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE
Situada na Quinta da Amendoeira (Perofilho), entre as dez que existiram na freguesia, é uma das três que na altura (último quartel do século XIX) Pinho Leal indica em condições de culto.
É particular esta pequena capela, dada como construída no século XVIII. (6)
A imagem da padroeira é de barro. Como as restantes, também teria sido profanada pelas tropas de Massena.
Está adossada ou mesmo incluída no edifício residencial da quinta que pertenceu durante muitos e muitos anos à distinta Família Canavarro.
Porta rectangular de cantarias lisas. Pequena sineta situada fora da fachada e uma armação de argamassa apropriada.
Tem sido considerada bem cuidada.
Segundo informação telefónica prestada em 1989, pertence actualmente a uma firma e ao perguntarmos se estava aberta ao culto, foi-nos dito:- Quando o povo quer, vem cá o padre e celebra a missa. (7)
Continua assim a sua função esta pequenina capela construída certamente para uso exclusivo dos seus proprietários.
DE NOSSA SENHORA DO AMPARO
Também é pequenina esta interessante capela com sineira e antecedida de bonita buganvília. Segunda da mesma invocação, pertence à Quinta de São Martinho.
A primeira, que nos revela Pinho Leal, foi profanada também pelas tropas de Massena, entrou em ruína e no último quartel do século passado pertencia a Paulo Maria da Costa Barros, importante proprietário na freguesia.
DA QUINTA DA LARANJEIRA
Se o teve, desconheço o nome da invocação. A quinta desapareceu com vendas e partilhas, prevalecendo contudo na toponímia.
Era templo dado como do século XVII, com curiosos azulejos (6), vendidos segundo nos informaram, na década de setenta dos nossos dias.
Pertenceu também a Paulo Maria da Costa Barros, que já referimos e que Pinho Leal nos apresenta como “cavaleiro estimadíssimo” e que muito o auxiliou nos dados que apresenta no seu dicionário no que diz respeito a Várzea de Santarém e “Villa Gateira”, topónimos abordados.
Quando a visitámos em 1980, ainda tinha de pé as quatro paredes e a sineira. Sem telhado, servia de galinheiro e curral.
DA QUINTA DO FREIXO
Também desconheço o nome da invocação. Profanada pelas tropas francesas em 1810, como aconteceu a todas existentes na freguesia.
Na verga da porta, ainda se pode ler o ano de 1666 que possivelmente indica o ano da sua fundação.
Mantinha-se de pé, servindo há muito de palheiro, foi assim que a encontrámos em 1980.
Da família Sacoto Galache, passou para a de Jacinto Falcão Casqueiro e entretanto vendida pelos seus herdeiros.
DA QUINTA DA MAFARRA
Diz a lenda que aqui viveu e morreu uma princesa, D. Mafalda, e na capela está um túmulo que da inscrição só se consegue ler, Mafalda. Segundo Pinho Leal, Mafarra é corrupção de “Mahafarra” – a cova, porque efectivamente esta quinta está situada numa baixa. (2)
D. Maria Esteves Mafarra, que foi abadessa de Sta. Clara, na primeira metade do século XIV, foi sua proprietária. Mais tarde o convento veio a herdar a quinta juntamente com outros bens. (8)
Foi do Estado pois estava incluída nos “próprios nacionais”. Vendida quando esses bens foram postos em praça pelo liberalismo.
Em 1838 era seu feitor, Francisco Ribeiro Lemos. Num nascimento desse ano constava Quinta da Mafalda e não da Mafarra.
Desconhecemos o tamanho e características da Capela que nunca tivemos oportunidade de visitar.
DA QUINTA DO MOCHO
Quando dizemos que percorremos a freguesia palmo a palmo, é uma forma de dizer que a conhecemos relativamente bem. Acontece que a Quinta do Mocho só a temos visto da estrada nacional que lhe passa próximo, nunca dela nos abeirámos.
A única informação verbal que obtivemos dela foi de que estava em ruína e a sua área se dividia pelas freguesias de Várzea e S. Nicolau.
Sabemos que a capela perdeu o seu alpendre pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755, sendo propriedade na altura do Conde de Castelo Melhor. (9)
***
Aqui fica o que nos foi possível reunir sobre nove capelas da freguesia da Várzea, já que a de Santo António possibilitou um escrito separado, precisamente aquele com que iniciámos estes Temas Varzeenses.
____________________________________
NOTAS
(1) – Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
(2) – Portugal Antigo e Moderno, A.S. Barbosa de Pinho Leal, 1873/1890
(3) – Santarém Quinhentista, Maria Ângela Rocha Beirante.
(4) – “A Capela de Santo António, “Ex-libris” de Vilgateira”, in Correio do Ribatejo nº 5210, de 22 de Fevereiro de 1991.
(5) – Benemérito e homem culto. Serviu como Pároco da Freguesia desde 14 de Julho de 1833, desconhecendo quando cessou funções.
(6) – Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40.
(7) – Informação gentilmente prestada em 1989.06.14, por uma senhora que presumo ser funcionária da firma.
(8) – Santarém Medieval, Maria Ângela Rocha Beirante, 1980.
(9) – O Terramoto do 1º de Novembro de 1755, em Portugal e um estudo demográfico, Francisco Luiz Pereira de Sousa, Lisboa, 1919
Em todas as obras colectivas, tipo enciclopédia ou dicionário que nos chegam às mãos, procuramos inevitavelmente o que se encontra sobre a freguesia da Várzea mas pouco ou nada diferem umas das outras, tratando-se de simples cópias mais ou menos disfarçadas. Quem quiser saber mais, tem de ir pelos seus próprios meios às fontes documentais e orais.
Não sabemos as origens dos relatos apresentados mas pensamos que devem provir das Memórias Paroquiais (1758) e também do Portugal Antigo e Moderno, de Pinho Leal, do último quartel do século passado.
Uma das coisas que em todos encontramos, è a referência à existência de dez capelas na freguesia no princípio do séc. XIX e isto enquadra-se bem no que diz Pinho Leal, se (...) esta freguesia uma das mais religiosas do distrito administrativo de Santarém.
Ao facto, que nos serve de título deste tema, todos acrescentam que foram profanadas pelos franceses.
Dez capelas numa freguesia rural cuja área ronda os 25 km2, é obra, não é normal.
Para quem não conhece e pensa existir uma capelinha em cada aldeia, diremos que não é verdade.
Antes de conhecermos a freguesia, já nos preocupávamos no sentido de encontrar as dez capelas, uma vez que nenhuma das referências era acompanhada da indicação total, ainda que refiram algumas.
Décadas passadas e após calcorrearmos toda a freguesia, de marco a marco, arriscamos identificar do seguinte modo as capelas existentes em princípios de oitocentos:- São Miguel, Santo António, São Francisco, Nª Sª da Conceição, Nª Sª da Piedade, Nª Sª do Amparo e as das Quintas da Laranjeira, Freixo Mafarra e Mocho.
Estará a nossa identificação correcta? Pensamos que sim. Reparar que quatro não têm ou não se conhece o nome da invocação, sendo conhecidas pelo nome das quintas em que se situam, das restantes sais, três situam-se também em quintas, restando três e mesmo destas, é possível que uma também fosse particular. Ao cero, só a de Santo António seria pública.
Como se vê, eram quase todas pertencentes às quintas. Dizia-nos um velho Amigo, nado e criado na aldeia de Vilgateira que uma quinta para merecer essa designação, tinha de possuir a sua capela, tão necessária como o lagar de azeite e a adega.
Pertencente à fidalguia que em muitos casos as teriam mandado edificar, acabaram por cair nas mãos da burguesia.
A capela era para o senhor “feudal” mais um símbolo de prestígio social e sinal de que, até na vida espiritual, afirmava a sua independência.
Perguntar-se-á o que é feito dessas capelas, onde se situam ou encontravam?
Diremos que algumas, bem poucas, continuam a missão para que foram erigidas, outras estão profanadas com utilizações diversas, umas tantas em ruína bastante adiantada e outras desapareceram completamente.
Iremos referi-las, pela ordem indicada, ainda que estejamos distantes daquilo que gostaríamos de dizer e que é possível obter se dispuséssemos de tempo para isso.
***
DE SÃO MIGUEL
Este velho culto que acompanhou a reconquista, esteve representado numa ermida situada”na extremidade nordeste da freguesia, em lugar alto, com belas e extensas vistas. (1)
Em abono deste culto, podia aludir-se à situação, um outeiro, o que concorda com o facto de os templos dedicados ao arcanjo S. Miguel, se edificarem, de preferência, em locais elevados.
A sua construção perde-se no recuar dos tempos. Sabe-se contudo que por e ruína da igreja paroquial, e possivelmente a ermida também o estivesse, passa a desempenhar essas funções, tendo sofrido obras de restauro e ampliação, isto por volta dos anos 60 do século passado. (2)
Desaparece assim a ermida de S. Miguel. Dando origem a actual igreja matriz.
Uma sepultura datada de 1646 e enquadrada na capela-mor, é certamente originária da ermida. Recentemente chegou-nos às mãos uma fotografia que nos mostra a seguinte inscrição – NO ANO DE 1689, aparecida numa das paredes do templo devido a recentes obras de restauro e ampliação.
Sabe-se que em 1522 dois casais de camponeses possuíam junto a Vila Gateira, “no limite de Nª Sª do Outeiro, as suas courelas” (3). Não terá esta referência ligação com a ermida? Pensamos que sim.
DE SANTO ANTÓNIO
Sobre esta capela que se situa em Vilgateira e dada como construção do século XVII (1623), já dissemos o que nos foi possível nas páginas deste jornal (4) pelo que o não vamos repetir agora, remetendo os possíveis interessados para aquele número.
Pertencente à Fábrica da Igreja Paroquial, serviu de matriz quando aquela esteve em obras (1987).
DE SÃO FRANCISCO
Também se situava em Vilgateira esta desaparecida capela que no último quartel do século passado ainda se encontrava de pé, apesar de profanada.
A localização não foi difícil de determinar por via da tradição oral, mas ainda nos lembramos, por volta dos anos cinquenta, de um nicho existente no estabelecimento comercial de Adelino Martins Coelho, recentemente falecido, construção que aproveitou restos da capela de que o nicho fazia parte.
Escrito, só tenho conhecimento do que Pinho Leal nos transmitiu. (2)
A capela situava-se muito próximo de uma antiquíssima residência, já desaparecida e que hoje lamentamos não ter fotografado ou desenhado. Pertencia à ilustre Família Azevedo Moncada e que devido ao hábito local poderia a capelinha ter pertencido àquela família, hoje desaparecida da freguesia.
DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
Sem dúvida que era uma das dez existentes nos princípios do século XIX.
Situava-se na aldeia da Aramanha numa quinta do mesmo nome, desmantelada por vendas e partilhas e que pertenceu ao Ver. Padre António Fragoso Rhodes, prior “collado” desta freguesia. (5)
A origem é atribuída ao século XVI (6) mas o lintel da porta tem gravado a era de 1744.
Era alpendrada e pelo menos no século passado ainda se encontrava bem conservada. Segundo nos informaram, a ruína e profanação começou a desenhar-se por volta dos anos cinquenta dos nossos dias.
Hoje, é um montão de ruínas, nem para pocilga já serve!
Reconhece-se ainda, além da porta rectangular de cantaria e encimada por uma cruz do mesmo material, uma coluna do alpendre adossada à fachada e a sineira, mas a sineta naturalmente desapareceu já que o bronze rende dinheiro.
Continuando a pertencer à Família Fragoso Rhodes, a imagem de Nª Sª da Conceição, de grande devoção, foi recolhida na Quinta da Narcisa, residência que foi da mesma família.
DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE
Situada na Quinta da Amendoeira (Perofilho), entre as dez que existiram na freguesia, é uma das três que na altura (último quartel do século XIX) Pinho Leal indica em condições de culto.
É particular esta pequena capela, dada como construída no século XVIII. (6)
A imagem da padroeira é de barro. Como as restantes, também teria sido profanada pelas tropas de Massena.
Está adossada ou mesmo incluída no edifício residencial da quinta que pertenceu durante muitos e muitos anos à distinta Família Canavarro.
Porta rectangular de cantarias lisas. Pequena sineta situada fora da fachada e uma armação de argamassa apropriada.
Tem sido considerada bem cuidada.
Segundo informação telefónica prestada em 1989, pertence actualmente a uma firma e ao perguntarmos se estava aberta ao culto, foi-nos dito:- Quando o povo quer, vem cá o padre e celebra a missa. (7)
Continua assim a sua função esta pequenina capela construída certamente para uso exclusivo dos seus proprietários.
DE NOSSA SENHORA DO AMPARO
Também é pequenina esta interessante capela com sineira e antecedida de bonita buganvília. Segunda da mesma invocação, pertence à Quinta de São Martinho.
A primeira, que nos revela Pinho Leal, foi profanada também pelas tropas de Massena, entrou em ruína e no último quartel do século passado pertencia a Paulo Maria da Costa Barros, importante proprietário na freguesia.
DA QUINTA DA LARANJEIRA
Se o teve, desconheço o nome da invocação. A quinta desapareceu com vendas e partilhas, prevalecendo contudo na toponímia.
Era templo dado como do século XVII, com curiosos azulejos (6), vendidos segundo nos informaram, na década de setenta dos nossos dias.
Pertenceu também a Paulo Maria da Costa Barros, que já referimos e que Pinho Leal nos apresenta como “cavaleiro estimadíssimo” e que muito o auxiliou nos dados que apresenta no seu dicionário no que diz respeito a Várzea de Santarém e “Villa Gateira”, topónimos abordados.
Quando a visitámos em 1980, ainda tinha de pé as quatro paredes e a sineira. Sem telhado, servia de galinheiro e curral.
DA QUINTA DO FREIXO
Também desconheço o nome da invocação. Profanada pelas tropas francesas em 1810, como aconteceu a todas existentes na freguesia.
Na verga da porta, ainda se pode ler o ano de 1666 que possivelmente indica o ano da sua fundação.
Mantinha-se de pé, servindo há muito de palheiro, foi assim que a encontrámos em 1980.
Da família Sacoto Galache, passou para a de Jacinto Falcão Casqueiro e entretanto vendida pelos seus herdeiros.
DA QUINTA DA MAFARRA
Diz a lenda que aqui viveu e morreu uma princesa, D. Mafalda, e na capela está um túmulo que da inscrição só se consegue ler, Mafalda. Segundo Pinho Leal, Mafarra é corrupção de “Mahafarra” – a cova, porque efectivamente esta quinta está situada numa baixa. (2)
D. Maria Esteves Mafarra, que foi abadessa de Sta. Clara, na primeira metade do século XIV, foi sua proprietária. Mais tarde o convento veio a herdar a quinta juntamente com outros bens. (8)
Foi do Estado pois estava incluída nos “próprios nacionais”. Vendida quando esses bens foram postos em praça pelo liberalismo.
Em 1838 era seu feitor, Francisco Ribeiro Lemos. Num nascimento desse ano constava Quinta da Mafalda e não da Mafarra.
Desconhecemos o tamanho e características da Capela que nunca tivemos oportunidade de visitar.
DA QUINTA DO MOCHO
Quando dizemos que percorremos a freguesia palmo a palmo, é uma forma de dizer que a conhecemos relativamente bem. Acontece que a Quinta do Mocho só a temos visto da estrada nacional que lhe passa próximo, nunca dela nos abeirámos.
A única informação verbal que obtivemos dela foi de que estava em ruína e a sua área se dividia pelas freguesias de Várzea e S. Nicolau.
Sabemos que a capela perdeu o seu alpendre pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755, sendo propriedade na altura do Conde de Castelo Melhor. (9)
***
Aqui fica o que nos foi possível reunir sobre nove capelas da freguesia da Várzea, já que a de Santo António possibilitou um escrito separado, precisamente aquele com que iniciámos estes Temas Varzeenses.
____________________________________
NOTAS
(1) – Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
(2) – Portugal Antigo e Moderno, A.S. Barbosa de Pinho Leal, 1873/1890
(3) – Santarém Quinhentista, Maria Ângela Rocha Beirante.
(4) – “A Capela de Santo António, “Ex-libris” de Vilgateira”, in Correio do Ribatejo nº 5210, de 22 de Fevereiro de 1991.
(5) – Benemérito e homem culto. Serviu como Pároco da Freguesia desde 14 de Julho de 1833, desconhecendo quando cessou funções.
(6) – Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40.
(7) – Informação gentilmente prestada em 1989.06.14, por uma senhora que presumo ser funcionária da firma.
(8) – Santarém Medieval, Maria Ângela Rocha Beirante, 1980.
(9) – O Terramoto do 1º de Novembro de 1755, em Portugal e um estudo demográfico, Francisco Luiz Pereira de Sousa, Lisboa, 1919
sábado, 3 de outubro de 2009
Frei João Álvares
(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 4 DE AGOSTO DE 1995)
Este torrejano do século XV, notabilizou-se na sua área (religião) e na escrita.
Religioso da Ordem de São Bento de Avis, foi secretário do Infante Santo, D. Fernando, um escalabitano que ainda não referimos.
[Infante Santo]
Acompanhando o Infante no cativeiro de Fez, regressou a Portugal conseguindo trazer os intestinos do mártir que entregou a D. Afonso V, seu sobrinho, estando em Santarém.
É feito abade comendatário do convento beneditino de Paço de Sousa, onde a sua acção moralizadora fez acabar com os maus costumes em que se encontravam os frades.
Condena o procedimento dos que alienaram as propriedades da Igreja como se fossem bens profanos e seculares e fez umas constituições para observância religiosa”muito bem ordenadas para o espiritual e temporal”, as quais foram aprovadas a seu pedido pelo pontífice Paulo II.
No breve de aprovação dizia o papa que também o expedia a pedido de D. Isabel, filha de D. João I. casada com o duque de Borgonha.
Frei João Álvares descreve em três cartas o estado em que foi encontrar o mosteiro de Paço de Sousa e os outros da sua Ordem do bispado do Porto.
Os religiosos ofereceram resistência à visitação de Frei João, unindo-se todos contra ele que lhe proíbe que tivessem terra de posse individual, não só por ser contrário à regra, mas porque daí resultava pretexto de haver mulheres naquelas terras, que saíssem do mosteiro, nem para dizer missa, que recebessem seculares, que comessem carne ás quartas-feiras.
Aconselhavam os monges que sofressem pacientemente as disposições da sua autoridade, sem contudo permitirem a corrupção de verdade, do direito e da justiça da Ordem.
[Obra literária de Frei João]
Viajou por Londres e Roma. Mandou aos seus frades a tradução de três cartas atribuídas a Santo Agostinho, a Regra d São Bento e uma cópia da “imitação de Cristo”.
Escreveu a Relação do cativeiro do Infante D. Fernando, impressa pela primeira vez em 1527, em que relata com singeleza os factos dramáticos da vida do Infante.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Dicionário de História de Portugal, dir. de Joel Serrão
Lello Universal, Dicionário Enciclopédico
Este torrejano do século XV, notabilizou-se na sua área (religião) e na escrita.
Religioso da Ordem de São Bento de Avis, foi secretário do Infante Santo, D. Fernando, um escalabitano que ainda não referimos.
[Infante Santo]
Acompanhando o Infante no cativeiro de Fez, regressou a Portugal conseguindo trazer os intestinos do mártir que entregou a D. Afonso V, seu sobrinho, estando em Santarém.
É feito abade comendatário do convento beneditino de Paço de Sousa, onde a sua acção moralizadora fez acabar com os maus costumes em que se encontravam os frades.
Condena o procedimento dos que alienaram as propriedades da Igreja como se fossem bens profanos e seculares e fez umas constituições para observância religiosa”muito bem ordenadas para o espiritual e temporal”, as quais foram aprovadas a seu pedido pelo pontífice Paulo II.
No breve de aprovação dizia o papa que também o expedia a pedido de D. Isabel, filha de D. João I. casada com o duque de Borgonha.
Frei João Álvares descreve em três cartas o estado em que foi encontrar o mosteiro de Paço de Sousa e os outros da sua Ordem do bispado do Porto.
Os religiosos ofereceram resistência à visitação de Frei João, unindo-se todos contra ele que lhe proíbe que tivessem terra de posse individual, não só por ser contrário à regra, mas porque daí resultava pretexto de haver mulheres naquelas terras, que saíssem do mosteiro, nem para dizer missa, que recebessem seculares, que comessem carne ás quartas-feiras.
Aconselhavam os monges que sofressem pacientemente as disposições da sua autoridade, sem contudo permitirem a corrupção de verdade, do direito e da justiça da Ordem.
[Obra literária de Frei João]
Viajou por Londres e Roma. Mandou aos seus frades a tradução de três cartas atribuídas a Santo Agostinho, a Regra d São Bento e uma cópia da “imitação de Cristo”.
Escreveu a Relação do cativeiro do Infante D. Fernando, impressa pela primeira vez em 1527, em que relata com singeleza os factos dramáticos da vida do Infante.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Dicionário de História de Portugal, dir. de Joel Serrão
Lello Universal, Dicionário Enciclopédico