sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Coreto do Jardim da República - Como era e como é!
Como era.
E como é!
Apesar de afastado da cidade há muitos anos, sei que a eliminação do lago que circundava o coreto causou engulhos a muita gente e na qual me incluo.
Admito que poderão haver razões plausíveis para a transformação mas a verdade é que aquilo para mim já não me diz nada e procuro passar bem ao lado nas poucas vezes que me desloco à cidade.
Se a memória não falha a um septuagenário, sempre me lembro de existir o coreto onde actuava com alguma frequência a extinta Banda dos Bombeiros e outras, principalmente nos dias cálidos de Verão, quando o jardim era vedado e as pessoas se amontoavam, pois os bancos com pés de ferro forjado, que tinham como acento e costas ripas grossas de madeira pintadas de vermelho eram muito poucos para tantas pessoas que por ali passeavam.
O Jardim da República, antigo Passeio da Rainha, quando esta se encontrava nos seus Paços e que foi depois Seminário, tinha três entradas com largos portões de ferro e penso que fechava à meia-noite, pelo menos no Verão.
Lembro-me bem, apesar da minha pouca idade, de dois lagos grandes, talvez melhor dizendo, dois espelhos de água que tinham pouca altura, de forma rectangular com pequenas alterações geométricas nos vértices e um repuxo ao meio e que foram anulados sendo transformados em canteiros. Situavam-se para os lados do portão que abria para a estrada e Escadinhas da Fonte das Figueiras onde no século XIX existiu uma afamada casa de hóspedes ou pensão. Era também junto a esse portão que existiam os sanitários subterrâneos do jardim.
Penso que o lago circundando o coreto deveria ter sido feito entre 1945/50 (estou a escrever de memória sem fazer qualquer consulta) e era algo que eu gostava de ver. Quando passava próximo pela mão do meu pai, pedia sempre a visita ao lago o que o meu pai nunca negou, algumas vezes não muito satisfeito pelo tempo que roubava aos seus afazeres.
Era uma alegria para mim poder ver os peixinhos vermelhos em cardume que eu adorava e não me importaria de estar ali horas a vê-los passar e a ouvir os repuxos que interiormente corriam junto das pedras esburacadas que se foram buscar longe para lá colocar.
Com o decorrer dos anos, quando por ali passava, não deixava de dar uma olhadela e verificar a pouco e pouco a degradação se ia acentuando, primeiro desapareceram os cisnes, depois os peixes e por fim o próprio lago.
Aquele lago impressionou-me tanto que no decorrer da minha vida acabei por construir três, o primeiro ainda uma criança e que para o efeito fui amealhando os tostões que me davam para comprar cimento, o segundo já homem feito e o último quando o ocaso da vida começou a aparecer esse ainda o possuo e cuja construção foi inspirada no lago do Jardim da República.
A minha neta só o viu uma vez mas está sempre a perguntar-me se os peixinhos não morreram e se já nasceram mais.
Talvez lhe tivesse transmitido esse gosto.
Hoje, o coreto para mim, só de longe!