terça-feira, 27 de julho de 2010

António de Oliveira Marreca

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 19 DE NOVEMBRO DE 1999)

António de Oliveira Marreca, nasceu na Ribeira de Santarém a 26 de Março de 1805 e faleceu em Lisboa no dia 9 de Março de 1889, por isso com quase oitenta e quatro anos de idade.

Político coerente nas suas ideias base, activista e de esquerda. Economista de renome, considerado um dos primeiros da Europa, no seu tempo.

Foi professor de Economia Política no Instituto Industrial de Lisboa, em 1852, num período de acalmia política.

Exerceu o lugar de director da Biblioteca Nacional e de guarda - mor da Torre do Tombo (1861) e foi sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa.

Muito jovem, ficou fascinado pelas ideias da Revolução de 1820.

Liberal e revolucionário, entrou em quase todas as conspirações contra o absolutismo pelo que foi preso pela polícia de D. Miguel, mas conseguiu evadir-se e refugiou-se em Londres. Aí, tomando contacto com as doutrinas inovadoras dos economistas ingleses da época, apurou a sua formação.

Com a vitória liberal em 1834, regressa à Pátria, sendo nomeado no ano seguinte director administrativo da Imprensa Nacional, onde procedeu à sua reorganização.

Em 1836 está no Setembrismo ao lado de Passos Manuel e dez anos depois entra na Junta Revolucionária de Lisboa que se opõe ao cabralismo.

Publicou em 1838 a mais importante das suas obras escritas: Noções Elementares de economia e Política.

Ajudou a fundar, em 1837, juntamente com Alexandre Herculano, o Panorama, órgão literário onde publicou, entre outros trabalhos de índole histórica, O Conde Soberano de Castela, Fernão Gonçalves (1844) que não concluiu. Merece igualmente a sua colaboração no campo económico, fazendo publicar trabalhos de reconhecido valor.

Entrou na revolta da Janeirinha, em Janeiro de 1868 e no ministério que então se constituiu, foi-lhe oferecida a pasta da Fazenda que não aceitou.

Aderindo ao Partido Republicano, foi presidente do seu primeiro directório, sendo o principal mentor da redacção do programa político, publicado em 1878. Defendia uma forma moderada de República em que a soberania do povo tenha maior extensão e as injustiças sociais estejam diluídas.

Em 1881 defendeu no Parlamento com intransigência a não entrega à Inglaterra da baía e território de Lourenço Marques.

Foi deputado em cinco legislaturas, merecendo a sua especial atenção os assuntos financeiros e económicos.

Colaborou na organização do Código Civil.

Prestou a sua colaboração, além do Panorama, na Ilustração, Jornal Universal, Revolução de Setembro, Revista Económica e no Ateneu, além de outros.

Publicou diversos trabalhos sobre economia política.

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Dicionário Ilustrado da História de Portugal, Publicações Alfa.

Dicionário Bibliográfico Portiguês, Inocêncio Francisco da Silva, 1858.

Dicionário de História de Portugal, Dir. de Joel Serrão.

Santarém no Tempo, Virgílio Arruda.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Virgílio Arruda

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 4 DE ABRIL DE 1996)

Não é a primeira vez que nestas FIGURAS RIBATEJANAS referimos pessoas que conhecemos e hoje mais uma vez isso vai acontecer.

Iniciámos esta primeira série das FIGURAS com o fundador deste jornal e foi nossa intenção fechá-la hoje com a de seu filho, continuador da sua obra, o Dr. Virgílio Arruda.

Em criança disseram-nos quem era aquele senhor que se acabava de cumprimentar e dele nunca mais nos esquecemos. Na nossa mente ficou a ser o senhor do jornal que recebíamos em casa, o “Correio do Ribatejo”, muitas vezes chamado “Correio da Extremadura”, não só nessa altura como ainda hoje é possível ouvir aos santarenos mais idosos.

Já aqui escrevemos que quase aprendemos a ler nas páginas deste jornal que nos acompanha há mais de trinta e seis anos por onde quer que tenhamos passado, continuando a ser ainda um elo de ligação importante com a terra que nos viu nascer apesar do decorrer dos anos nos ir a pouco e pouco cortando algumas raízes com o desaparecimento de familiares e amigos e de locais prenhes de recordações.

O Dr. Virgílio Arruda foi sempre extremamente simpático para a minha família, aliás era assim para toda a gente, e teve relação de amizade que nasceu nos bancos do liceu, com um nosso familiar chegado.

Autografou-nos com simpáticas dedicatórias, grande parte da sua obra que possuo, alguma mesmo por ele gentilmente oferecida.

Passamos presentemente por uma fase transitória da nossa vida que não nos permite, por agora, continuar com as FIGURAS RIBATEJANAS. Referimos cem, muitíssimas mais temos em mão, falta trabalhá-las e para isso é preciso vagar e disposição.

Pensamos voltar quando for possível e o jornal o permitir.

Até um dia, caro leitor que tem tido a paciência de nos acompanhar.

***


Virgílio Baptista Cravador Arruda, de seu nome completo, nasceu em Santarém no dia 16 de Outubro de 1905.

Fez os estudos locais na sua terra natal e na Faculdade de Direito de Lisboa obtém a licenciatura.

Filho do jornalista João Arruda, fundador deste semanário que dirigui durante quarenta e cinco anos, cedo se deixou levar pelo gosto do jornalismo, possivelmente influenciado por seu pai.

Logo no liceu dirige o jornal “A Voz da Academia”.
Exerceu a advocacia, foi professor provisório do Liceu de Santarém e Conservador do Registo Civil na ilha do Corvo.

Exerceu também as funções de Delegado do Comissariado do Desemprego e de Subdelegado do Ministério das Corporações e Previdência Social em Santarém.

Vice-Presidente da Câmara Municipal de Santarém, vogal da Junta Geral do Distrito de Santarém e da Província do Ribatejo, Vice-Presidente e Presidente da Junta Distrital de Santarém, funções que exerce até à sua extinção em 1974.

Substitui o seu pai em 1934 na direcção do “Correio da Extremadura”, entretanto transformado em “Correio do Ribatejo” (1936), quando da criação desta província, funções que exerce até à sua morte, por isso durante cinquenta e quatro anos.

Em 1976 foi eleito sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, portas que lhe foram abertas devido à obra que publicou sobre Pedro Álvares Cabral.

A sua obra histórica levou-o igualmente a ser membro da Academia Portuguesa da História, onde demonstrou todo o seu saber e desvelo.

O Dr. Arruda foi um notável jornalista, um historiador vocacionado para o estudo das tradições e costumes da sua terra natal, conferencista de mérito, escritor de fina têmpera, senhor de uma prosa inconfundível, um orador excepcional, de uma palavra que prendia qualquer auditório.

Além dos incontáveis artigos que publicou semanalmente no seu jornal, ainda teve tempo de colaborar activamente na imprensa diária e regional.

Possuidor de uma vasta cultura, era pessoa extremamente amável. Adorava e defendia com intransigência a sua terra e a região para cuja autonomia contribuiu com a sua pena e palavra, nunca querendo viver fora da sua cidade nem afastar-se do seu jornal.

Virgílio Arruda “o cronista-mor de Santarém e seu termo”, como lhe chamou o Senhor Professor J. Veríssimo Serrão.

Falecendo no dia 3 de Janeiro de 1989, ficou sepultado no cemitério dos Capuchos.

Deixou a sua livraria, constituída por cerca de cinco mil volumes, à sua cidade.

A Edilidade Escalabitana decidiu conceder-lhe a título póstumo, a Medalha de Oiro da Cidade de Santarém. Igualmente foi deliberado dar o seu nome a um novo arruamento da cidade e ao auditório da Biblioteca Braamcamp Freire.

Da sua vasta obra indicamos alguns títulos: “Fialho e o Ribatejo” (1957), “Santarém e o Infante Santo” (1966), “Crónicas de França e Itália” (1968), “Crónicas de Espanha” (1970), “Presença de Cabral nas Rotas do Futuro” (1971), “Santarém no Tempo” (1971), “D. Pedro e D. Miguel no Ribatejo”(1972), “O Ribatejo na Vida de Camões e na Obra de Fialho” (1973), “Itinerários Sentimentais” (1974), “Retrato de Herculano” (1979), “Luís Montês Matoso, Historiador e Jornalista…” (1980), “Evocação de Sá da Bandeira” (1982), “Mestres e Escolares de Santarém e do seu termo nas Universidades Europeias do Renascimento” (1982) e “Santarém! Santarém!” (1984.
Virgílio Arruda, um caso ímpar da vida escalabitana!
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira

"Saudade de Um Grande Amigo", Prof. Doutor J.V. Serrão, in Correio do Ribatejo de 13 de Janeiro de 1989

"A propósito de Uma Homenagem", Dr. Rocha Souto, in Correio do Ribatejo de 10 de Julho de 1983

"Dr. Virgílio Arruda, Um Hino à Cultura Portuguesa", J.M. Noras, in Correio do Ribatejo de 20 de Janeiro de 1989.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

João de Sousa


(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 15 DE MARÇO DE 1996)

Nasceu na Ribeira de Santarém (?) (*) em 1885 este laureado poeta de chama lírica e sensibilidade de alma.

Colaborou em muitos jornais e revistas, nomeadamente nos semanários “Damião de Góis”, “Pensamento”, “Ecos do Ribatejo”, “Mensageiro do Cira”, “Vida Ribatejana”, “Eco Literário” e “O Debate”, praticamente os mesmos em que seu irmão Faustino colaborou.

Muito talentoso, deixou impressos dois livros: Os Meus Pecados (trovas satíricas ao amor e às mulheres), com prefácio do Dr. João de Barros e O Livro do Mal, editado no Porto em 1924.

Estes trabalhos mereceram da crítica comentários muito positivos.

João de Sousa foi premiado nos “Jogos Florais de Gaia – Ciência” e nos” Jogos Florais do Real Instituto de Lisboa”, em trabalhos de parceria com seu irmão.

Em concurso de sonetos de amor, promovido pela Revista Ilustrada Portuguesa, em 1913 e em que participaram mais de trezentas composições, obteve um honroso terceiro lugar com o soneto “Virgem do desejo”.

Reunido o que ficou espalhado por jornais e revistas daria um volume de interesse literário.

João de Sousa veio a falecer no Porto em Maio de 1947.
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“Alguns Valores da Província do Ribatejo, Octávio de Campos, in Vida Ribatejana, nº comemorativo, 1940.

“Um Concurso de Sonetos de Amor, Faustino Reis de Sousa, in Vida Ribatejana, nº especial de 1955.

(*) Segundo informação prestada por um bisneto, João de Sousa nasceu em Santa Marta de Penaguião.

domingo, 18 de julho de 2010

Padeiros

Padeiro é, segundo os dicionários, o homem que fabrica ou vende pão; dono de padaria. Neste caso, o título da MEMÓRIA apresentada, só significa o homem que venda pão, já que, pelo menos enquanto vivi no MEU BAIRRO, não me lembro da existência de qualquer padaria. Que eu saiba, viveu contudo no MEU BAIRRO um industrial de panificação que penso também sabia fazer pão e a sua padaria situava-se em instalações que fizeram parte do solar dos Saldanha, ainda com pedra de armas, frente ao mercado municipal (vulgo praça).

Padeiro de profissão, isto é fabricante de pão, durante toda a vida e sempre o conheci vivendo em casa própria, no meu bairro, mas trabalhando na cidade, como então dizíamos, o meu saudoso amigo, alentejano de Mértola, o Sr. José Gomes. (1) A sua primeira mulher e mãe dos seus filhos, de que bem me lembro apesar do seu desaparecimento já ter ocorrido há muitos anos, penso que há mais de cinquenta, desempenhava uma actividade relacionada com o pão, pensando eu ter sido vendedeira.




Vendedeiras de pão, além da já referida e que me lembro ser oriunda da freguesia de Achete, tivemos pelo menos três pessoas do sexo feminino que exerciam a sua actividade nos depósitos do mercado municipal, (mas que viviam no MEU BAIRRO) lojas que circundavam o ainda belo edifício. Havia depósitos de pão, mercearias, talhos, depósito de sementes, pequenos cafés principalmente utilizados pelos trabalhadores do mercado. Destas três figuras, duas eram familiares, mãe e filha, e a outra, ajudou-me a criar.

Sempre me lembro de existir no MEU BAIRRO um depósito de pão que era explorado pelo Sr. Ribeiro, mais tarde por seu filho e depois alugado a quem o explorou por muitos anos, pelo menos até eu lá ter vivido (1959/60). Era aí que eu me deslocava a mandado de minha mãe, para a compra do indispensável pão, o que acontecia com grande parte dos residentes.

Além de toda esta gente que tinha a sua actividade relacionado com o pão, viviam no bairro também os vendedores ambulantes de pão.

O transporte era feito de bicicleta a pedal. Um grande seirão de duas bolsas, confeccionado de verga, era colocado no porta-bagagens da pasteleira. Devido ao peso, muitas vezes os padeiros mandavam adaptar uma roda traseira mais robusta, de secção mais avantajada para assim poder aguentar o peso do padeiro, do pão e da verga, ainda que esta fosse relativamente leve.

O vendedor tinha um contrato com o fabricante, comprando a determinado preço por cada quilo, já que cem pães, não pesavam cem quilos. Depois, vendia à unidade e não ao peso.

O seirão era forrado de pano branco sendo o pão igualmente tapado com o mesmo pano.

Levantavam-se bem cedo para ao sair dos fornos estarem aptos a recebê-lo, bem quentinho, a estalar e lá iam à sua vida, correndo toda a cidade, com roteiro elaborado e fregueses certos, vendendo contudo a quem o solicitasse. Acabava-se a carrada, ia-se buscar outra e outra, até satisfazer toda a freguesia.

Havia aqui um pequeno pormenor a considerar. O pão era tabelado e ao quilo. Naturalmente que os exemplares tinham quase sempre, ou mesmo sempre, um pouco menos pelo que nos depósitos o peso era corrigido pelo contrapeso (o que nem sempre acontecia) o que nunca vi nos vendedores ambulantes, possivelmente seria a compensação para o serviço ao domicílio, aliás o que era justo.

As suas buzinas, de borracha, tinham um toque que os fregueses distinguiam. Conheci três no MEU BAIRRO, o Sr. Leonel Padeiro (Leonel da Trindade Pinto, falecido não há muitos anos, apaixonado pela columbofilia, sócio e dirigente do extinto Sport Grupo União Operária), depois o seu filho e também o Sr. Manuel Fazenda.

Tudo isto desapareceu com a evolução dos tempos. Hoje nem sei como as coisas se processam mas será igual ao que acontece nas outras terras. Nas pequenas e por esse país fora, continua a fazer-se a venda ao domicílio em carrinhas que vendem pão de toda a espécie, bolos, folares, etc. e que se deslocam a distâncias consideráveis.

Também eu compro pão em tais circunstâncias quando não estou na cidade, mas no campo e costumo receber o vendedor de pão dizendo: - Aqui está o padeiro que não sabe fazer pão -, ao que ele me responde, : lá isso é verdade, este homem está sempre a querer pôr-me em cheque!

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(1) - Passando em Maio de 1975 pela vila em que me encontrava exercendo a minha profissão e a cerca de trezentos quilómetros de distância de Santarém, onde vivia, não deixou de procurar este seu amigo, que conhecia quase desde que nasceu. Nunca esqueci tal amabilidade e prova de amizade.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Faustino dos Reis Sousa

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 15 DE MARÇO DE 1996)



Nasceu na Ribeira de Santarém em 6 de Janeiro de 1883.

Poeta e publicista, desde cedo prestou a sua colaboração a jornais e revistas de carácter literário, nos quais se encontram, entre outros, “Damião de Góis”, “Vilafranquense”, “Ecos do Ribatejo”, “Mensageiro de Cira”, “Mensageiro do Ribatejo”, “Vida Ribatejana”, “A Verdade” e “Correio da Extremadura”.

Deu à estampa três livros de poesia. “Meio Dia (1918)”, “Fumo do Meu Casal (1938)” e “Luz da Tarde (1946)”.

Foi um poeta de inspirado sabor lírico.

Obteve vários prémios em concursos literários, tais como: Jogos Florais de Gaia, Porto, 1924, da Emissora Nacional, Lisboa, 1937, do Ateneu Comercial, Lisboa, 1941, do Ateneu de Sevilha, 1947, do Município de Viana do Castelo, 1948, da Câmara de Nova Lisboa, 1948, da Festa Literária de Vigo, 1950, etc.

Escreveu várias peças para teatro, normalmente de carácter regional: Rosa Branca (opereta), 1929, que obteve grande sucesso, “Coroa de Espinhos”, “À Sesta”, “A Primeira Carta”, além das comédias “Comendador Aleixo”, “Casamento Inesperado”, “Gato por Lebre”, “Manhã de Primavera” e das operetas “Irene”, “Lenda da Carochinha”, “Flor de Neve”, “Onde Canta o Rouxinol”, etc.

Utilizou algumas vezes o pseudónimo João Ninguém.

Pertenceu à Direcção da Junta de Província do Ribatejo e foi membro da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses.

Faleceu em Vila Franca de Xira em 3 de Janeiro de 1972, por isso com oitenta e oito anos.
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Santarém no Tempo, Virgílio Arruda, 1971

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira

terça-feira, 13 de julho de 2010

Duarte Pacheco Pereira

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 1 DE MARÇO DE 1996)



Uns dão-no como natural de Santarém, outros, de Lisboa.

Os seus ascendentes conhecidos vão, pelo menos até Diogo Lopes Pacheco, um dos executores de D. Inês de Castro e de quem era trineto.

Filho de João Pacheco, navegador, que acabou por morrer em Tânger combatendo os mouros e de Isabel Pereira, teria nascido por volta de 1460. Seu bisavô foi alcaide-mor de Santarém.

Em 1488 Bartolomeu Dias, o grande navegador, encontra-o bastante doente na ilha do Príncipe, trazendo-o de regresso a Portugal, onde se recompõe.

Vivendo em Lisboa em 1490, a sua competência em matéria de geografia e cosmografia já é conhecida pelo que integra a delegação portuguesa encarregada de discutir e de estabelecer os termos do Tratado de Tordesilhas (7.6.1494).

Em 1498 participa numa longa expedição ordenada por D. Manuel I que o teria levado a percorrer grande parte das costas americanas e em 1503 acompanha Francisco e Afonso de Albuquerque à Índia onde acaba por ficar como capitão de mar a fim de fazer frente ao Samorim que ameaçava o rei de Cochim pelo facto de este ter boas relações com os Portugueses.

Fez prodígios de valor na defesa de Cochim, sitiada por cinquenta mil indianos e defendida por setenta e sete portugueses e mil “naires”.

O prestígio de Duarte Pacheco motivado pelas suas extraordinárias façanhas, provocaram muito respeito aos inimigos e consolidaram o nosso poder no Oriente.

Em Setembro de 1504 chega à Índia Lopo Soares com o novo capitão-mor do mar, Manuel Teles e Pacheco Pereira regressa a Portugal no ano seguinte, tendo sido recebido por D. Manuel com grande pompa e o acompanha numa procissão, entre a Sé e o Mosteiro de São Domingos, onde o Bispo de Ceuta, D. Diogo Ortiz de Vilhegas pronunciou eloquente sermão alusivo aos seus feitos heróicos.

O rajá de Cochim, agradecido pelos serviços prestados pelo insigne português, pretendeu cumulá-lo de riquezas mas este tudo recusou, excepto o brasão de armas de Triumpara. A riqueza com que regressou à Pátria era constituída por honra e glória.

Começa então a redigir a sua obra, “Esmeraldo de situ orbis” onde confirma os seus conhecimentos de cosmografia e marinharia. É então encarregado por D. Manuel de dar caça ao corsário francês Mondragon que encontra por alturas do Cabo Finisterra, metendo-lhe a pique uma nau apreendendo as outras três e capturando o corsário, saindo-se assim e mais uma vez. Airosamente da sua missão.

Em 1511 é escolhido para ir em socorro de Tânger, onde seu pai tinha morrido, que fora cercado pelo rei de Fez, missão que desempenha com prestígio.

Casa em 1512 com D. Antónia de Albuquerque, filha de Jorge Garcez, secretário de D. Manuel.

É nomeado capitão e Governador de S. Jorge da Mina em 1519, mantendo-se no lugar até 1522, quando é substituído por Afonso de Albuquerque (filho), preso e trazido para Portugal.

Não se conhece bem a situação, afirmando alguns que teria sido vítima de inimizades pessoais, às quais já alude no seu trabalho “Esmeraldo de situ orbis”.

Esteve bastante tempo preso, acabando por ser solto por ordem de D. João III que acaba por lhe conceder uma pensão anual pelos altos serviços prestados.

Camões chama-lhe o Aquiles Lusitano, dedicando-lhe quinze estâncias no canto X de “Os Lusíadas”.

Parece ter morrido na sua terra natal, pobre e esquecido, nos primeiros meses de 1533.
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Dicionário de História de Portugal, dir. Joel Serrão
Dicionário Ilustrado da História de Portugal, Ed. Alfa
Lello Universal, Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro
Santarém no Tempo, Virgílio Arruda, 1971
Duarte Pacheco Pereira, J. Estêvão Pinto, Edições S.N.I., 1954

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O povoamento e a população

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 14 DE FEVEREIRO DE 1992)

[Antiga rua de Vilgateira. Desenho de JV]

A passagem dos Romanos pela freguesia, parece estar provada. Assim o indicam as sepulturas descobertas na Quinta da Granja e uma ponte em Perofilho também é dada como obra daquele povo. (1)

Admite-se também a hipótese do topónimo Aramanha, aproximável de Sarmenha, possa ter a mesma origem. (2)

Quanto aos árabes, Mafarra, nome de uma quinta da freguesia é, segundo Pinho Leal (3) corrupção do substantivo árabe”mahafarra”, que significa cova. E efectivamente esta quinta está situada numa baixa.

Pré-nacional parece ser o topónimo Vilgateira, com “villa” no sentido territorial (rústico).

Depois da conquista de Santarém e Alcanede, deu-se o repovoamento com incidência na colonização interna. Assim, Alcobacinha e Coimbrã, denunciam importação trazida por repovoadores.

Vários topónimos medievais denunciam propriedades monásticas e outras. (2)

Temos assim prova do povoamento pré-nacional sob a égide arábica e de repovoamento nacional, após a conquista, acompanhada pela cristianização revelada pelos velhos cultos de São Martinho e São Miguel.

***

O varzeense não abandona com facilidade o torrão natal e mesmo quando iniciou a fuga à vida dura do campo, não mudou a residência, preferindo deslocar-se diariamente ao local de trabalho, regressando à sua aldeia, ao seu casal, onde ocupa todos os tempos livres.

No período áureo, poucos foram os varzeenses que procuraram os francos ou marcos, contrariamente ao que aconteceu noutras zonas do país que ficaram despovoadas.

A população não apresenta índices significativos de oscilação.

De uma maneira geral os casamentos dão-se entre indivíduos da própria freguesia ou das circunvizinhas e a saída de uns é compensada com a entrada de outros.

Aquando da apanha da azeitona, há anos, deslocavam-se grupos de trabalhadores de zonas mais afastadas, ao norte, a que chamavam serranhos e alguns ficaram por cá, principalmente do sexo feminino, constituindo família.

A população da Várzea tem tendência para aumentar e nos últimoa anos, como já dissemos, começou a esboçar-se o sentido de dormitório da cidade.

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NOTAS

(1)-Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40, p. 578.
(2)–Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
(3)–Portugal Antigo e Moderno, A.S. Barbosa de Pinho Leal.



(a)–Corografia Portuguesa, Padre António Carvalho Costa.
(b)–Geografia Histórica de Todos os Estados Soberanos da Europa, D. Luiz Caetano de Lima, 1736, p. 215.
(c)–Portugal Sacro-Profano, Comp. E Ord. Por Paulo Dias de Niza, Lisboa, 1768.
(d)-Estatística Paroquial.
(e)-Recenseamento Geral da População, Tomo I, Vol. I, INE.
(f)-Corografia Portuguesa, (2ª Edição) Padre António de Carvalho Costa.
(g)-Dicionário Corográfico, Américo Costa, 1926.
(h)-Directório Prático a todos os que promovem negócios nas Repartições e Tribunais Eclesiásticos, Joaquim José Ribeiro, 1878 (?).
(i)-Portugal Antigo e Moderno, Pinho Leal.
(j)-Dicionário “Portugal”, Edição Romano Torres, Esteves Cardoso e Guilherme Rodrigues.
(m)-Censo. Compreende 21 de Pêro Filho, 16 de Grainho, 23 de Vilgateira e 12 de Aldeia de Alcobaça (actual Alcobacinha) e Póvoa do Baixinho.
(n)–Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Duarte Lopes



(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 16 DE FEVEREIRO DE 1996)

Nasceu no terceiro quartel do século XV na vila de Benavente este explorador de ascendência judaica.

Acompanha o tio num barco de mercadorias de sua propriedade que saiu de Lisboa em 1578 com direcção ao Norte de Angola.

Estando no Reino do Congo, soube conquistar a confiança do rei local que o considerou “seu fidalgo”, facilitando-lhe o comércio que pretendia efectuar e em que se englobava o tráfico de escravos.

Cinco anos após ter saído de Lisboa, o Rei do Congo envia-o a Roma como embaixador a fim de reivindicar melhores condições para o comunidade cristã do seu reino, notando-se fundamentalmente a falta de sacerdotes, diligência de que não foi bem sucedido.

Duarte Lopes antes de chegar a Roma, esteve algum tempo em Portugal e principalmente em Espanha, sendo recebido pelo papa Sixto V, em 1588.

As facilidades e regalias que o rei do Congo lhe concedeu para fins comerciais, possibilitavam-lhe ir fazendo croquis topográficos e anotações de factos históricos da dinastia dos reis negros do Congo, cristianizado desde 1491, da maneira de ser das populações com seus usos, ritos, trajos e armas, das condições meteorológicas, dos nomes das povoações, dos principais rios e elevações, da flora e da fauna.

Quando da presença em Roma, o Bispo de S. Marcos, António Miglione, impressionado pelo que lhe constava da exótica peregrinação do explorador português, contactou com o escritor Filipe Pigafetti no sentido de este o servir e depois dar à estampa, em italiano, quanto ele lhe transmitisse sobre essas regiões de África quase desconhecidas.

[Relação do Reino do Congo]

Assim, em 1591 é publicado em Roma a Relação do Reino do Congo, notícia de coisas, peregrina e conveniente a homens de estudo e de grande engenho, como filósofos e geógrafos, ilustradas com desenhos representativos da abordagem.

Procederam-se a várias edições em Itália como em França, na Grã-Bretanha e noutros países.

A obra teve em Portugal uma das últimas edições e “fac similada”, em 1951, com representação integral da capa inserta na primeira edição italiana.
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Cultura Portuguesa, Vol. 7, Hernâni Cidade e Carlos Selvagem

Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Américo de Bívar

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 9 DE FEVEREIRO DE 1996)

Américo Maria de Bívar de Sousa Dores, de seu nome completo, nasceu em Tomar no dia 6 de Dezembro de 1881.

Seguindo a carreira das armas, fez o curso da arma de infantaria na antiga Escola do Exército.

Em África, foi chefe de gabinete do Governador-geral de Moçambique, inspector das Unidades Militares, governador dos distritos de Quelimane e Tete.

No continente foi promotor do Conselho Superior de Disciplina do Exército e professor da Escola Central de Oficiais, entre outras missões que desempenhou.

Passou à reserva em 1938 no posto de coronel.

Foi considerado dos oficiais mais sabedores do exército português.

Foi colaborador, dentro da sua área de especialização, da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.

Faleceu em Lisboa no dia 15 de Agosto de 1951.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.

Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40

domingo, 4 de julho de 2010

O porquito

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 30 DE ABRIL DE 2004)

A insónia por vezes leva-nos a rememorar. Assim aconteceu mais uma vez, dando origem a esta pequena croniqueta.

O MEU BAIRRO era habitado por gente de todas as condições mas a maioria era gente da classe operária, de prestação de serviços, o pequeno funcionário público. Aqui se fixaram também pessoas oriundas das freguesias rurais circundantes e até de bem mais distante. Procuravam fugir ao trabalho da enxada de dois bicos, da ceifa dos trigais, do varejo e apanha da azeitona, mal pagos e incertos. Por aqui se iam fixando e livrando os filhos desses trabalhos pois tinham possibilidades de lhe proporcionarem um ofício que após a instrução primária aprendiam nesta ou naquela oficina ou então ocupavam-nos no comércio local, relativo ao vestuário ou à alimentação. Em todos estes ramos houve gente que deu a volta por cima, tornando-se conceituados industriais ou comerciantes.

Esta possibilidade era bastante mais difícil se os pais continuassem nos meios rurais.

É natural que tivessem trazido, a acompanhar a sua força de trabalho e o desejo de ter uma vida melhor, os seus usos e costumes, o que aprenderam com pais e avós.

Uma das coisas que alguns moradores no MEU BAIRRO faziam era criar o seu porquito como tinham feito nas suas aldeias ou visto fazer a seus pais. Nesta altura, se ainda se podia ter nos quintais, uma capoeirita com dois ou três bicos ou um casal de coelhos, não era possível ter porcos como existiam nas aldeias. Nos terrenos agrícolas das proximidades, normalmente ocupados por hortas e olivais, arranjava-se um bocado (não sei se havia qualquer renda ou se era gracioso, mas penso que era a última hipótese) onde se construía a pocilga, sendo a construção feita à base de madeira. Nesse tempo as coisas embalavam-se em madeira ou em folha pois não existiam plásticos e o papelão que era pouco não tinha esse destino. Essa matéria-prima era utilizada no fabrico de pacotes de vários tamanhos (vulgo papeluchos) pois tudo era a granel.

[Era por perto da Escola Primária que construiam os pocilgos onde criavam os seus porquitos. Foto JV, 1992]
Com umas tábuas, paus, chapas e umas telhas de canudo, lá se engenhocava uma pocilga para receber um ou mais bichos. Acontecia que havia várias pocilgas mas eram sempre umas junto às outras.

Quem comprava um porquinho para engordar, pedia aos vizinhos no bairro que lhe guardassem os restos de comida, hortaliças, etc. (nesse tempo não havia o perigoso de fungicidas e afins) vulgo lavadura, e para o efeito deixavam uma lata para a recolha. De uma maneira geral as pessoas compreendiam e guardavam, como fazia a minha mãe. Normalmente era a proprietária do animal que fazia a recolha, levando um latão maior. Depois, com um em cada mão lá andava aquela distância que por vezes era bem considerável. Há tarde era ajudada pelo marido, quando regressa do trabalho e ainda tinham que levar a água!

Era muito trabalhoso, sem dúvida, mas tornava-se um mealheiro já que pouco gastavam, penso que um pouco de farelo ou farinha de milho, quando muito. A engorda não se destinava a abate para consumo próprio mas sim para venda.

Alguns dos meus amigos os pais criavam os seus porquitos e eu gastava de ir vê-los, mas só o fazia quando iam os donos.

O último local que me lembro de pocilgos, era atrás da escola num terreno do Louro. Não tenho ideia de alguma vez se ter feito mal aos bichos, nem a rapaziada, nem os adultos!

A vida era muito diferente. Se fosse hoje... ...

sábado, 3 de julho de 2010

P. Diogo de Faria e Silva

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 9 DE FEVEREIRO DE 1996)


Nasceu em Alviobeira, concelho de Tomar, em 18 de Setembro de 1803 e morreu a 27 de Abril de 1886.

Foi monge professo no Convento dos Jerónimos, em Belém, tomando o nome de Frei Diogo do Espírito Santo.

Como representante daquele Convento, prestou grandes serviços à sua Ordem.

Quando da extinção das Ordens Religiosas em Portugal (1834), foi escolhido para depositário de todos os bens do convento, valores que defendeu com o risco da própria vida, quando se pretendeu fazer o saque. Conseguiu efectuar o depósito do tesouro constituído por alfaias e numerário no Erário Público.

Foi beneficiado da Sé de Lisboa em 1838 e cónego da Sé de Évora em 1840
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40

sexta-feira, 2 de julho de 2010

P. José Anchieta



Natural de Tomar onde nasceu a 13 de Maio de 1732, desconhecendo-se quando nasceu.

Membro da Companhia de Jesus foi professor em Lisboa, em 1748, sendo deportado para Itália em 1751, certamente por acção do Marquês de Pombal.

Viveu então em Roma até finais do século XVIII, tendo traduzido em verso português os dezasseis livros das Metamorfoses, de Ovídio.

Autor de várias obras em italiano, escreveu para teatro: “Mistério de Jesus Cristo”, “Auto de Santa Úrsula e as Onze Mil Virgens” e “Auto da Pregação Universal.
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