domingo, 30 de setembro de 2012

Bernardo de Sá Nogueira, Marquês de Sá da Bandeira




Das maiores figuras nascidas em Santarém, viu a luz do dia a 26 de Setembro de 1795, sendo filho primogénito do desembargador Faustino José Lopes Nogueira de Figueiredo e de D. Francisca Xavier de Sá Mendonça Cabral da Cunha Godolphim, recebendo o sacramento do baptismo na desaparecida Igreja de O Salvador.

Assenta praça como voluntário no Regimento de Cavalaria nº 11, em 1810, sendo logo promovido a cadete e a alferes em Dezembro do mesmo ano.

Distingue-se nas Guerras Peninsulares pela sua bravura e foi ferido gravemente em França na batalha de Gers, tendo sofrido várias cutiladas na cabeça deixando-o como morto.

Assinada a Paz em 1814, regressa à pátria quase surdo motivado pelos golpes de que foi alvo.

Pediu licença para estudos, regressando ao serviço militar em 1820.

Cedo abraçou as ideias liberais, revoltando-se contra os morticínios do Campo de Sant `Ana e da Torre de S. Julião da Barra. Uma vez em Paris, matricula-se na Universidade, onde tirou o curso de engenheiro.

Quando D. Miguel se faz aclamar rei absoluto, Sá Nogueira vê-se na necessidade de emigrar para a Galiza, pois os liberais são derrotados nos combates de Ega, Cruz de Marouços e Vouga, passando depois para Inglaterra.

Ao saber que a ilha da Madeira se tinha levantado a favor de D. Pedro, embarca para lá, mas encontra a revolta subjugada, pelo que segue viagem para o Brasil. Depois de conferenciar com D. Pedro, regressa à Inglaterra para se juntar aos seus correligionários.

Sabendo que o seu camarada de armas e de ideais políticos, António José Menezes Severiano de Noronha, mais tarde Duque da Terceira, se encontrava nesta ilha, para lá embarca e ajuda a ocupar todo o arquipélago, entrando nos combates do Pico, S. Jorge, Faial, S. Miguel e no combate da Ladeira-a-Velha onde os miguelistas são totalmente destroçados.
 

Casa onde nasceu Sá da Bandeira. Foto JV, 2011


Organizada a expedição do Mindelo, Bernardo de Sá acompanha D. Pedro como seu ajudante-de-campo e é enviado por este para conferenciar com o General José Cardoso no sentido de deixar efectuar o desembarque e reconhecesse o legítimo governo de Portugal. Não o conseguiu regressando a bordo, mas o desembarque faz-se no dia 8 de Julho de 1832 e no dia seguinte o exército liberal entrava na cidade do Porto.

Na defesa desta cidade e no Alto da Bandeira, em Gaia, batendo-se com heroicidade, como sempre fez, é ferido num braço que teve de ser amputado. Foi agraciado com o título de Barão de Sá da Bandeira em 4 de Abril de 1833.

É por sua influência nas hostes liberais que é recrutado o almirante inglês Napier, que veio a ter acção decisiva nos acontecimentos a nível naval.

Depois da ocupação de Lisboa pelo exército liberal, é nomeado governador da praça de Peniche, cargo de que é exonerado, pois foi nomeado comandante de operações no Algarve onde predominavam as guerrilhas miguelistas.

Após a Convenção de Évora-Monte e já brigadeiro, é agraciado com o título de Visconde em recompensa pelos serviços prestados à causa liberal.
 

Praça Sá da Bandeira. Anos 40


As qualidades de Sá da Bandeira não se restringiram às militares pois também entrou na luta política e parlamentar. A ele se deve o malogro da Belenzada movimento cartista contra a Revolução de Setembro que tinha implantado a Constituição de 1822.

O período político que se seguiu foi muito movimentado e Sá da Bandeira nele se encontrou para defender os seus ideais políticos.

Presidiu várias vezes os ministérios.

Deixou publicadas obras de interesse em vários ramos.

Foi elevado a 1º Marquês de Sá da Bandeira em 3 de Fevereiro de 1864.

Foi fidalgo da Casa Real, Conselheiro de Estado, Comendador da Ordem da Torre e Espada, Grã-Cruz da de Cristo, Rosa do Brasil, Leopoldo da Bélgica, Carlos III e Isabel a Católica de Espanha, etc.

Faleceu em Lisboa a 26 de Setembro de 1795, por isso, com 80 anos e por sua vontade expressa, foi sepultado em campa rasa no cemitério da terra onde nasceu e que por sua iniciativa foi elevada a cidade como era de todo o merecimento.

A cidade levantou-lhe, em frente da casa onde nasceu, uma estátua em bronze que constitui monumento valioso e que perpetua a sua memória.
Os sinos da Igreja Matriz de S. Salvador, templo onde foi baptizado, após o seu derrube devido a um terramoto, foram utilizados na feitura do monumento.

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Monumentos e Lendas de Santarém, Zephyrino N. G. Brandão, Lisboa, 1883.

Enciclopédia Histórica de Portugal, Dir. Duarte de Almeida, Vol. 11, Ed. João Romano Torres & cª, Lisboa, 1938.

Santarém lenda e história, Eugénio de Lemos, Santarém, 1940.

Santarém na História de Portugal, Joaquim Veríssimo Serrão, Santarém, 1950.

Santarém, História e Arte, Joaquim Veríssimo Serrão, Santarém, 1959 (2ª Edição).

Santarém no tempo, Virgílio Arruda, 1971.
 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Mancebos da Freguesia da Várzea em 1960



Apresento hoje uma fotografia com 52 anos , tratando-se de um grupo de mancebos recenseados pela freguesia da Várzea do concelho de Santarém e de uma maneira geral, todos de lá naturais.

A Inspecção Militar realizou-se no Distrito de Recrutamento e de Mobilização, onde num ano efectuei a minha, ainda que não vivesse lá fui englobado nos mancebos representativos daquela freguesia.

Tratava-se de um velho edifício na parte velha da cidade de ruas, becos e ruelas, para os lados da Travessa de José Paulo e da Igreja do Milagre.

Atendendo a que a inspecção teve lugar em 16 de Junho de 1960, isto é, tudo rapaziada que já ultrapassou os 70. Alguns, infelizmente, já não estão entre nós.

Este dia era popularmente designado pelo “Dia das Sortes”, um dos mais importantes na vida de alguns mancebos que o recordavam pela vida fora.

Era considerado e era realmente o dia da emancipação, o dia da maioridade, o dia em que se podia ser seleccionado para defender a Pátria.

Lá estavam os fatinhos novos a estriar como era apanágio de então.

Sei que havia uns lacinhos de cores diferentes que se colocavam na banda do casaco, significando a sua cor o apuramento para todo o serviço militar ou em oposição o ficar livre.

Os mancebos organizavam-se contratando um músico, normalmente, um acordeonista, que percorria com o grupo os principais lugares da freguesia e à noite realizava-se grande baile, onde as moças casadoiras não faltavam e que durava até às tantas.

Do grupo em questão, alguns estiveram nas guerras coloniais mas só consigo identificar três ou quatro, ainda que muitas caras não me sejam estranhas.

Agradeço ao meu velho Amigo António Augusto, que não vejo vai para 38 anos, (o 2º do lado direito no 1º plano) a cedência da foto para colocar no CORREIO DAS LEMBRANÇAS.

Tudo isto pertence ao passado, hoje para ir à tropa é preciso requerê-lo e a selecção é rigorosa. Só ficam os melhores.

Deixámos, felizmente, de ser um país de generais.