terça-feira, 30 de novembro de 2010

Silva Branco

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 17 DE DEZEMBRO DE 2004)

Outro cartaxense nascido na freguesia de Valada em 6 de Fevereiro de 1834, tendo-se distinguido como jornalista, incisivo e polémico.

Farmacêutico de formação, era filho de um médico do mesmo nome.

Estreou-se na imprensa diária em 28 de Novembro de 1861, por isso um jovem, na Revolução de Setembro, um dos maiores jornais da imprensa portuguesa, fundado em 1840 por José Estêvão e outros e que sobreviveu até 1892.

O artigo publicado era acerca dos arrozais e causou controvérsia com Betâmio de Almeida e Mendes Leal.

Animado por Rodrigues Sampaio, foi colaborando com assiduidade naquele jornal, substituindo por vezes o redactor principal.

A sua maneira de escrever chegava a confundir-se com a de Rodrigues Sampaio.
José Maria da Silva Branco colaborou no Bejense, no Lethes e no Escoliaste médico.
Foi orador de nomeada e fez parte da várias associações populares.

Faleceu a 2 de Outubro de 1870, por isso com apenas tinta e seis anos.
O Diário de Notícias e a Gazeta do Povo, da época, honraram a sua memória com palavras adequadas.

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Diccionario Bibliographico Portuguez,Innocencio Francisco da Silva, Tomo XIII, 1885

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira , Vol. V

D. António Brandão

(Publicado no Correio do Ribatejo de 10 de Dezembro de 2004)

Também lhe têm chamado D. António Pereira Brandão.Pensa-se que terá nascido no Cartaxo este prelado do século XVI, bispo titular de Rociana ou Regione.

D. Martinho de Portugal que governou de 1533 a 1547 a arquidiocese do Funchal, sem nunca lá ter ido, tê-lo-ia enviado em 1538, com procuração bastante a fim de ali exercer actos próprios da ordem episcopal.

Foi quem sagrou a Igreja de S. João Baptista no Cartaxo, o adro e o sino grande da torre, conforme constava de uma inscrição existente na porta principal.

Igualmente sagrou, entre outras, a Igreja do Convento do Carmo em Lisboa e a matriz de Valada, concelho do Cartaxo, em 1528.

Era padroeiro da capela do Senhor dos Passos que existe na Rua Mouzinho de Albuquerque, no Cartaxo, por cima da porta da qual se vêem as armas deste bispo, tendo por timbre o chapéu episcopal.

Foi esmoler-mor de El-Rei.

Teria morrido em 1559.

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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira , Vol V

Boletim da Junta de Província do Ribatejo , 1937 – 40

História Eclesiástica de Portugal , P. Miguel de Oliveira, 1994

"A vila do Cartaxo e o seu termo através dos tempos", A. H. Barata, in Correio do Ribatejo de 11 de Fevereiro de 1977

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Cosme Delgado

É muito pouco o que se sabe da vida e obra deste cartaxense que teria nascido no último quartel do século XVI.

Foi mestre-de-capela da Sé de Évora e cantor de renome.

Tem fama de no seu tempo ter sido o mais célebre compositor de música sacra, tendo composto missas, motetes e lamentações, obras que deixou ao Convento do Espinheiro, próximo de Évora e que se teriam perdido em 1835.

As poucas referências encontradas, são praticamente decalcadas umas das outras.

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Boletim da Junta de Província do Ribatejo , 1937-40
Dicionário de Santos, de Jorge de Campos Tavares, Lello & Irmão, Editores, Porto, 1990
Lello Universal – Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro, Porto 1975

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Sousa Martins


José Tomás de Sousa Martins é considerado um dos maiores médicos portugueses e uma honra para a medicina portuguesa.

Nasceu na Vila de Alhandra no dia 7 de Março de 1843.

Os primeiros estudos foram feitos na sua terra natal e aos treze anos praticava na farmácia de um seu tio. Ao mesmo tempo frequenta a Escola de Farmácia.
Em 1864 termina aquele curso mas em 1861 e com dezoito anos, tinha-se matriculado na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, curso que também conclui em 1866.

Foi brilhante aluno em ambos os cursos, sendo a sua tese em medicina considerada na altura de grande nível e versava sobre a inervação da fibra muscular cardíaca (O pneumogástrico preside a tonicidade da fibra muscular do coração).

Em 1872 desempenhava as funções de professor substituto da Escola Médica - Cirúrgica de Lisboa e quatro anos depois ocupava a cátedra de Patologia Geral, Semiologia e História da Medicina..

Ao mesmo tempo era médico do Hospital de S. José, sendo em 1855 director de enfermaria.

O Doutor Sousa Martins gozou de verdadeira celebridade no meio português, destacando-se fundamentalmente como clínico, pelo talento e saber científico, ajudado pela singular fluência da palavra convincente e pelo relacionamento com os doentes, onde a bondade e dedicação lhe fizeram ganhar o epíteto de “Pai dos Pobres”.
Foi conferencista de mérito e orador insigne. Deixou escrito: Comemoração de Luís Pasteur, Nosologia de Antero de Quental e vários estudos e relatórios da sua especialidade.

Era sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa, da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, da Sociedade Farmacêutica Lusitana, do Instituto de Coimbra, da Academia Real de Medicina da Bélgica, da Academia de Medicina de Madrid, da Sociedade de Geografia de Lisboa, da Associação dos Jornalistas e Escritores Portugueses, de que foi sócio fundador e de muitas mais Sociedades e Academias, nacionais e estrangeiras.
Fez parte igualmente de muitas comissões onde a sua presença era indispensável.
Foi em 1876 secretário e relator da comissão que redigiu a Farmacopeia Geral do Reino e a Farmacopeia Portuguesa.

Desempenhou variadíssimas vezes a função de representante de Portugal em vários eventos ligados à medicina e à saúde.

Em 1881 presidiu à comissão executiva e da secção de medicina da expedição científica à Serra da Estrela, o que lhe permitiu vir a redigir um estudo muito importante sobre o tratamento da tuberculose pulmonar.

Quando se sentiu doente e conhecendo que a doença que o atormentava não tinha cura, recolheu à sua casa de Alhandra onde veio a falecer no dia 18 de Agosto de 1897, apenas com cinquenta e quatro anos.

Dois anos depois do seu falecimento foi-lhe erguida uma estátua no Campo de Santana, em frente da Escola Médica.
A estátua primitiva veio a ser substituída pela actual de autoria do escultor Costa Mota.

Também na sua terra natal, os seus conterrâneos lhe levantaram um monumento semelhante.

O nome do Doutor Sousa Martins e apesar de ter decorrido mais de um século sobre a sua morte, continua a ser idolatrado por muita gente, como se de um taumaturgo se tratasse.

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Dicionário Ilustrado da História de Portugal - Edições Alfa

Lello Universal - Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro

Boletim da Junta de Província do Ribatejo - 1937 - 1940

História de Portugal - Vol. X - Joaquim Veríssimo Serrão

História de Portugal - Vol. 5- Dir. de José Mattoso

"Alguns Valores da Província do Ribatejo ", Octávio R. de Campos,
in Vida Ribatejana, nº Comemorativo dos Centenários - 1940

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Uma partida de há 50 anos!

(Publicada no Correio do Ribatejo de 1 de Agosto de 2008)

A ideia de escrever este tema, veio-me recentemente quando me contaram, em local bem distante da Várzea que, quando chegou depois de uma estada na capital, tinham-lhe bebido já três garrafões de vinho novo.

Esta revelação e na altura em que me davam a provar o vinho, que efectivamente era bom, sugeriu-me a pergunta se pelo menos tinham lavado os garrafões, o que me responderam que não.

E a pergunta já tinha a ver com a estória que iria seguidamente contar e que na altura me veio à memória, já com algumas falhas provocadas pelos longos anos passados, mas no fundamental, o facto passou-se efectivamente, ainda que possa parecer mentira.

Não tive qualquer interferência nela, mas sou seu contemporâneo.

Um varzeense solteirão que na altura rondaria os cinquenta e que herdou de seus pais alguns bens rústicos e mesmo urbanos, nunca se dedicou ao amanho das suas propriedades em plenitude, preferindo ir trabalhar para quintas de concelhos próximos onde exerceria funções de “feitor”ou próximas disso.

Nunca me apercebi das competências que teria na área, mas a verdade é que por lá não permanecia muito tempo, regressando à Várzea, sua freguesia natal.

Com espírito jovem por natureza, tinha alguns amigos que o eram efectivamente na idade, de tal maneira que se tratavam por tu lá tu cá, o que não era vulgar na época, como hoje é costume.

Então, depois de uma permanência mais ou menos longa na freguesia onde nasceu, vieram-no contratar para ir exercer funções numa quinta do concelho de Almeirim.
Lá foi o nosso homem ganhar uns trocos para fazer face aos períodos de “descanso” que eram frequentes.

Acontece que se tinha dado ao trabalho de apanhar umas uvas que tinha próximo enchendo um barril de 50 ou 100 litros de vinho, já não posso precisar.

[Casa desaparecida na Fonte de Vilgateira]

Dois amigos meus, da minha idade, que na altura rondariam os vinte anos e que faziam parte dos tais tu cá tu lá, sabendo que o homem estava ocupado nos seus trabalhos lá para os lados de Almeirim e nessa altura não eram fáceis as deslocações, apesar da proximidade, temendo que o vinho se estragasse e conhecendo os segredos da adega, entre Vilgateira e Aramanha, lá foram os dois ver como estavam as coisas. Hoje não me lembro como entraram na adega mas certamente foi através da chave que sabiam onde estava escondida ou de qualquer outra artimanha.

Entraram, observaram, estava tudo bem, mas não resistiram a provar o vinho pois já estaria feito.

Que rica pinga que o homem fez.

Deixaram tudo nos “conformes” preparando-se para quando o amigo regressasse ali se fazerem grandes petiscadas, como era hábito, quando havia vinho e nem sempre isso acontecia.

O amigo continuava sem aparecer e um dia arranjaram chouriço e pão e lá foram os dois, muito calados à adega para confirmarem se o vinho não tinha azedado.

Partiram a corda, como se costuma dizer e continuando o dono sem aparecer, lá foram fazendo o seu trabalho (agora que está em meio, temos que o beber todo, senão estraga-se, era a conjectura que faziam).

[Poço na Aramanha]

E o interessante da estória está aqui:- Lavaram muito bem o barril, emborcaram-no e colocaram-lhe um rótulo com o seguinte dizer:- Preparado para encher novamente.

Quando o homem regressou e deu com o espectáculo, depois do tratamento habitual, concluiu:- Portaram-se bem, são bons bebedores, evitaram que o vinho se estragasse e afectasse a vasilha. Fizeram o serviço completo. Só não lhes perdoaria se não tivessem lavado o vasilhame. É preferível que se estrague o deles do que o meu.

É evidente que o homem já não tinha idade para cá estar, mas os meus amigos e conterrâneos, partiram cedo demais e lembro-os com saudade.

Haverá alguém na Várzea que conheça esta estória?

domingo, 14 de novembro de 2010

Frei Luís de Sousa

Manuel de Sousa Coutinho nasceu em 1555 no Palácio de seus pais em Santarém, cuja frontaria dava para a Igreja do Salvador e entre as quais corria a Rua Direita da Porta de Leiria, actual Serpa Pinto.

Filho do fidalgo, guerreiro e escritor, Lopo de Sousa Coutinho e de D. Maria de Noronha, era um dos oito irmãos que constituíam a prole.

Estudou direito, actividade que troca talvez quando da morte do pai, pela carreira das armas.

Entra como noviço na Ordem de Malta. Estando a bordo duma galé malteza, depois de ter embarcado no porto de Sardenha, com seu irmão André, são atacados pelos piratas argelinos que os levam cativos para Argel. Trava conhecimento com outro cativo, Miguel de Cervantes que veio a ser um dos maiores escritores espanhóis de todos os tempos.

Consegue obter licença para se deslocar a Portugal, a fim de ir buscar o preço do seu resgate e de seu irmão que ficou como refém.

Volta a Argel para pagar os resgates e regressa à Pátria.

Em 1580 era alcaide de Marialva e capitão-mor da gente da sua comarca e certamente afecto ao rei estrangeiro.

Casa em 1583 com D. Madalena de Vilhena, viúva muito rica de D. João de Portugal, desaparecido nos campos de Alcácer Quibir.

Ainda que tivessem palácio em Lisboa, a S. Roque, vão viver para Almada onde Sousa Coutinho é nomeado guarda-mor e provedor da misericórdia e entrega-se ao negócio da sua casa e ao cultivo das letras, o que sempre o atraiu.

Exerce igualmente as funções de guarda-mor da saúde, em Lisboa.

A vida decorria sem grandes cuidados e o rei deu-lhe o comando de 700 peões e de 100 cavaleiros, até que em 1591, grassando a peste em Lisboa, os Governadores do Reino transferiram a corte para Almada e requisitaram o seu palácio. Em resposta, lança fogo ao mesmo e sai de Portugal, refugiando-se em Madrid.



Deu conta dos acontecimentos à Corte onde tinha amigos poderosos e não consta ter sofrido qualquer punição.

Possivelmente devido ao conflito criado com os governadores do reino, em 1601 parte para o Panamá, chamado pelo irmão, João Rodrigues Coutinho que para ali fora e punha as maiores esperanças no comércio.

Manuel Coutinho teria passado pelo Rio da Prata e Perú, dedicando-se ao comércio de cavalos para Angola, o que parece não ter sido compensador.

Regressa a Portugal em 1604 ou no ano seguinte, altura em que falece a filha única do casal, Ana de Noronha.

O casal divorcia-se em 1613, decidindo abraçarem a vida religiosa, D. Mariana no Convento do Sacramento, professando com o nome de Sóror Madalena das Chagas e Manuel de Sousa Coutinho no Convento de S. Domingos de Benfica, tomando o de Frei Luís de Sousa.

Tem então oportunidade de se dedicar ao culto das letras, revelando-se como prosador e historiador, um dos maiores vultos da literatura e da historiografia portuguesa dos finais do século XVI e dos princípios do século XVII.

Em 1619 saiu a público a “Vida de D. Frei Bartolomeu dos Mártires”, que deu origem a comentários elogiosos em Portugal e no estrangeiro e em 1623 a “História de S. Domingos”. A recolha dos elementos foi feita por Frei Luís de Cácegas, falecido em 1616 mas foi Frei Luís de Sousa quem as compôs e burilou com o seu talento de prosador vernáculo.

Já com setenta e cinco anos é encarregado por Filipe III de escrever a história de D. João III, que sob o título de Anais de D. João III só foi publicado em 1844, ainda que incompleto, por Alexandre Herculano.

Frei Luís de Sousa faleceu em 5 de Maio de 1632 no Convento de S. Domingos de Benfica, ficando sepultado em campa rasa da sua igreja.

Almeida Garrett criou à volta da sua vida o grande drama do teatro português, intitulado precisamente por “Frei Luís de Sousa”.

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Santarém no Tempo Virgílio Arruda, 1971
Boletim da Junta de Província do Ribatejo , 1937-40
Santarém, Lenda e História , Eugénio de Lemos, 1940
Antologia da Historiografia Portuguesa, Vol. I - Org. A.H. Oliveira Marques
História de Portugal , Vol. 3 - Dir. José Matoso
Selecta Literária , Org. José Pereira Tavares
Santarém na História de Portugal Joaquim Veríssimo Serrão, 1950
Património Monumental de Santarém

sábado, 13 de novembro de 2010

Lopo de Sousa Coutinho

Nasceu na então nobre vila de Santarém, cerca de 1515, este fidalgo de linhagem, filho de Fernão Coutinho e de D. Joana de Brito e sendo neto por via varonil do 2º Conde de Marialva, D. Gonçalo Coutinho.

Com dezoito anos e seguindo a vida militar, como era apanágio dos nobres da época, embarca para a Índia procurando a almejada glória. Serve com o 7º governador, D. Nuno da Cunha. Em operações bélicas, está, entre outras acções, no Cerco de Diu onde pratica actos de bravura. Em 14 de Agosto de 1538 foi surpreendido com mais catorze soldados por quatrocentos homens que repeliu e perseguiu até fora da povoação.

Regressando a Portugal com rótulo de heróico e ardoroso guerreiro, D. João III recebe-o com provas de estima, nomeando-o de imediato Governador do Castelo da Mina, para onde embarca.

Volta a Portugal por morte do seu irmão mais velho, entrando na posse da principal herança dos pais.



Casa entretanto com D. Maria de Noronha, dama da Rainha D. Catarina, de cujo enlace nascem oito filhos, entre os quais aquele que viria a ser Frei Luís de Sousa.

Enviuvando e devido à grande afeição que tinha pela mulher, não aceita a sugestão de familiares e amigos para voltar a casar, dedicando-se a educar a numerosa prole, mostrando-lhes os caminhos da virtude, da honra e do conhecimento das letras.

Lopo de Sousa Coutinho, além de valoroso guerreiro, foi um espírito culto, dedicando-se às letras, não descurando as ciências, interessando-se pela física e matemática.
A sua experiência militar levou-o a escrever com engenho literário, dois livros sobre o Cerco de Diu, em que participou, publicados em 1556 e ainda no campo histórico, outro sobre o Naufrágio de Manuel de Sousa Sepúlveda e Empresas de Ilustres Varões Portugueses na Índia. A poesia e a matemática igualmente receberam publicações de sua autoria.

Traduziu Lucano e Séneca.

Acolheu-se, nos últimos anos de vida à terra natal, onde tinha o seu palácio, vindo a falecer no dia 27 de Janeiro de 1577, com sessenta e dois anos e de desastre ocorrido na antiga vila de Povos que foi mesmo sede de concelho e hoje pertencente ao concelho de Vila Franca de Xira. Ao desmontar do cavalo a espada desembainhou e foi cravar-se no corpo, causando-lhe a morte. Depois de tantos perigos e de grandes façanhas, morre em tais circunstâncias !

Foi sepultado na Igreja do Salvador, da sua terra natal, onde a família dispunha de capela privativa. A igreja, já desaparecida, foi vítima do terramoto de 1909, que assolou a região do Ribatejo. O espaço que ocupava é hoje o Largo Padre Francisco Nunes da Silva, vulgarmente designado por Padre Chiquito.

D. Lopo Coutinho, segundo Areosa Feio, no seu magnífico livro, “Santarém, Princesa das Nossas Vilas”- 1929, deixou o seu nome no santuário do Monte em uma obra que em 1553 mandou fazer “em louvor da Virgem”: o portal da entrada proncipal.
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Diccionario Bibliographico Portuguez - Vol. V - MDCCCLX
Boletim da Junta de Província do Ribatejo - 1937-409
LELLO Universal - Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro
Santarém na História de Portugal, Joaquim Veríssimo Serrão, 1950
Santarém no Tempo , Virgílio Arruda, 1971
Dicionário da História de Portugal , Dir. de Joel Serrão

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Utensílios desaparecidos ou... quase

Isto das MEMÓRIAS DO MEU BAIRRO, são como as cerejas, come-se uma e ... as outras vão atrás. As arcas que estão no sótão, cheias de teaças, passa-se-lhe um pano, um spray milagroso na fechadura e após várias tentativas, vão-se abrindo. Umas têm mais conteúdo, de outras, pouco se aproveita.

Caros leitores (estou-me referindo à juventude do meu tempo, ainda que pense não sejam eles os únicos leitores) já pensou nos utensílios indispensáveis que existiram na sua casa ou na do vizinho que desapareceram completamente ou quase e se os quer recordar terá de ir a um museu situado não sei aonde ?

No primeiro quartel do século passado quase não existiam casas de banho ! A higienemuitas vezes fazia-se no quarto de dormir onde havia um lavatório de louça colocado em armação de madeira artisticamente trabalhada. A bacia assentava em placa de pedra mármore onde se encontrava também uma saboneteira e um jarro de louça, para a água. O móvel tinha duas portas no interior do qual se encontrava o balde que penso, originalmente, ter sido de louça, passando depois a esmalte. Existia uma ou duas gavetas onde se arrecadavam as toalhas, na altura de linho. Incorporado no móvel ou solto, o espelho oval com trabalhada moldura de madeira.

Isto passava-se nas casas ricas. Como era nas pobres ? Existia também um lavatório de armação de ferro, de bacia esmaltada com jarro e balde do mesmo material. Um pequeno espelho de simples moldura de madeira de forma rectangular era fixado com dois parafusos no lugar adequado. Por baixo do espelho situava-se o local de colocação das toalhas.

Mais simples ainda, existiam armações sem espelho, com local para a colocação de uma toalha ou pano de mãos e uma simples bacia e onde não havia balde.

Isto era o que se passava a nível geral e consequentemente no MEU BAIRRO.

A casa que sempre habitei no MEU BAIRRO devia ter sido construída no início da década de quarenta do século passado. Já tinha casa de banho. Era um luxo ! Sabem como era ? Uma pequena divisão, com janela para o quintal, tinha uma pia (sanita) com resguardo de madeira e autoclismo (de ferro) que avariava muitas vezes ! Para o accionar, puxava-se uma corrente de ferro em cuja extremidade havia uma pega em louça. Uma torneira de metal que minha mãe procurava ter sempre bem amarelinha à custa da selarine (?). Era tudo, o resto competia ao rendeiro.

Aí se encontrava um grande lavatório de armação de ferro, sempre pintado de branco, com bacia de louça e a saída através de um cano afunilado, com tampa de metal que devia igualmente de andar sempre bem limpa. Antes de chegar ao balde branco esmaltado, com pega de barrinha amoldável, ao centro da qual girava a pega propriamente dita e de madeira torneada, situava -se uma divisão circular de mármore onde se colocava a saboneteira esmaltada e como não podia deixar de ser, branca. A água encontrava-se num grande jarro esmaltado e igualmente branco mas cuja boca era debruada de azul. Era frequente também a pedra-pomes.

A armação de ferro tinha lugar próprio para se estenderem duas toalhas.

A um canto o bidé de louça que assentava igualmente em armação de ferro e que tinha a particularidade de ter uma coberta de pano leve, ao seu molde.

Uma banheira circular, um pouco chata, de grande bico para o despejo da água, de zinco ou folha zincada, cuja base era reforçada com ripas de madeira, para melhor aguentar o peso, estava pendurada na parede.

A higiene oral era praticada com o auxílio do bicarbonato de sódio que estava num frasco transparente e de tampa preta de baquelite. Punha-se um bocadinho na cova da mão que a escova agarrava. Depois, era esfregar, como se faz hoje com a pasta de dentes.

Ainda que aparecesse de vez em quando o sabonete “Musgo”, o que mais funcionava era o sabão azul e branco, que hoje se sabe ser mais saudável.

Em determinada altura funcionou na casa de banho uma selha circular, de madeira, onde com o auxílio de uma tábua, de forma rectangular em que um dos lados mais estreitos era levemente abaulado e que tinha um buraco ao meio para se poder pendurar e o outro era côncavo, terminando em dois bicos. A tábua, no seu sentido longitudinal, era às lombas para possibilitar um melhor esfregar da roupa.

Pouco tempo depois a selha foi substituída por um tanque de cimento armado de que nunca lhe vi o fim, se já o teve.

Mas onde eu gostava de tomar banho, era no grande tanque feito de pedra, cal e cimento do vizinho do lado. Servia de piscina, o que nós não sabíamos o que era e dava para grandes brincadeiras - tínhamos de ser intimados a acabar com o banho !

Velhos tempos !

domingo, 7 de novembro de 2010

Humberto Delgado



Humberto da Silva Delgado nasceu no pequeno lugar de Boquilobo, freguesia de
Brogueira, concelho de Torres Novas no dia 15 de Maio de 1906.

Filho de um oficial do exército, cedo optou pela carreira militar, frequentando o Colégio Militar, concluindo o respectivo curso em 1922. Ingressou depois na Escola
Militar, curso que acabo em 1925 e de que foi o 1º classificado.

Ingressa na Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas e como alferes, é ferido a tiro ao pretender resistir a uma revolta intentada pela classe de sargentos, apoiada por civis. Participa a seguir e activamente na Revolução(ou Golpe) do 28 de Maio.
Apesar da formação ser em artilharia, acabou por optar pela aeronáutica tendo feito o curso de oficial piloto aviador em 1928.

Em 1929 estabelece o máximo de duração de voo sobre a metrópole - 7 h. e 50 m. em “Breguet B N”, o avião de maior raio de acção existente nessa altura em Portugal.
Em 1936 conclui o curso de Estado - Maior, com distinção e é nomeado Comissário-Adjunto da Mocidade Portuguesa e Adido Militar do Comando Geral da Legião Portuguesa.
Em 25 de Abril de 1938 foi escolhido para o Corpo do Estado Maior, sendo o único oficial aviador que ingressou nesse organismo.

A sua ascensão na carreira militar e política é rápida sendo partidário acérrimo do regime instituído.

Acompanha o Presidente da República, General Fragoso Carmona, na sua visita à África do Sul.

Foi secretário do Ministro da Instrução, tenente-coronel Eduardo da Costa Ferreira.
Durante a Guerra Civil de Espanha, acompanhou uma missão da Legião Portuguesa que foi àquele país a convite do governo espanhol (1939).

Durante este período da sua vida, Humberto Delgado foi condecorado pelo Estado Novo com as medalhas de Valor Militar, Exemplar Comportamento, Mérito Militar e o oficialato da Ordem de Avís publicou vários trabalhos de âmbito militar e político, proferiu conferências da mesma índole e foi colaborador de revistas da mesma área.

*
Nos primeiros anos da década de quarenta começam a surgir sinais de mudança na sua orientação política..

É importante o seu papel na concessão de bases aéreas e navais nos Açores ao reino Unido, pelo que lhe foi outorgada a Ordem do Império Britânico.
Em 1944 é nomeado director-geral do Secretariado de Aviação Civil e no ano seguinte funda os Transportes Aéreos Portugueses (TAP).

Vem a ser nomeado, em 1947, delegado português na Organização Internacional da Aviação Civil em Montreal, onde esteve três anos e logo representante português na NATO em Washington (1952-57), contactos que vieram a acelerar a sua abertura ao liberalismo.

Em 1956, o governo americano concedeu-lhe o grau de oficial da Legião de Mérito.
Promovido a general com quarenta e sete anos, é o mais novo oficial daquela patente. Ao regressar a Lisboa em 1957 volta a ocupar o lugar de director-geral da Aviação Civil pois já tinha exercido essas funções em 1943.

Em 1958 apresenta-se como candidato independente às eleições presidenciais, parece que por sugestão do capitão Henrique Galvão que visita na prisão política de Peniche.
A sua candidatura suscitou muita desconfiança nos sectores da oposição visto todo o seu passado ser de ligação ao regime instituído.

Aparecem outros candidatos com currículos antifascistas que oferecem outras garantias mas a candidatura do General Sem Medo começa a crescer a um ritmo surpreendente.

Ficou célebre e é inapagável a resposta que deu a um jornalista que lhe perguntou, numa conferência de imprensa dada no Café Chave d’Ouro em Lisboa, o que faria a Salazar no caso de ser eleito, respondendo :- Obviamente demito-o. Esta resposta fez crescer ainda mais o apoio popular que se manifestava por todo o País.

Arlindo Vicente retirou a sua candidatura e ofereceu o seu apoio a Humberto Delgado que, apesar de todas as contrariedades leva a sua candidatura até ao fim, vindo a ser “eleito” o candidato salazarista, Almirante Américo Tomás
Contudo, Humberto Delgado ganhou as eleições, pelo menos nos concelhos de Alpiarça, com 83% dos votos, Almeirim (77,9%), Alcanena (72,4%), Cartaxo (68%), Santarém (53,4%) e Rio Maior com 51,2%).

Delgado não ganhou nem podia ganhar eleições viciadas a favor do regime, mas deu-lhe forte abanão que obrigou à alteração da constituição, passando o Presidente da República a ser eleito indirectamente através de um colégio eleitoral constituído pelos deputados da Assembleia Nacional e outros do mesmo tipo.
A perseguição ao General Sem Medo é rápida. Três dias depois das eleições é demitido de director geral da Aviação Civil, sendo privado de todos os seus cargos e privilégios oficiais.

Em Janeiro de 1959 vê-se obrigado a pedir asilo político na Embaixada do Brasil em Lisboa e onde esteve durante três meses, findos os quais e depois de aturadas negociações Salazar autorizou a sua saída do País., exilando-se no Brasil onde continuou a sua luta política no sentido de fazer voltar a democracia ao seu País.
Patrocina o ataque ao paquete Santa Maria em 1961. Rompe com Henrique Galvão e passa por Marrocos, entrando em Portugal clandestinamente para participar no levantamento de Beja. Entra na Frente Patriótica da Libertação mas depressa se afasta pois corta relações com a maioria dos seus membros. Cria entretanto um novo movimento, a Frente Portuguesa de Libertação Nacional.

Humberto Delgado acaba por cair numa armadilha montada pela PIDE, entrando em Espanha acreditou que ia encontrar-se na fronteira com oficiais do exército português dispostos a derrubar pelas armas o regime. Acaba por ser assassinado em Villanueva del Fresno, perto de Badajoz por um destacamento da PIDE (Fevereiro de 1965).

Estava calado o Homem que mais incomodou o regime !

Após o 25 de Abril foi feito Marechal e os seus restos mortais transladados para o Panteão Nacional.

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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira

Dicionário de História de Portugal - Vol. VII - Suplemento A/E - António Barreto e Maria Filomena Mónica (Coordenadores) - Livraria Figueirinhas - Porto - 1999

Dicionário de História do Estado Novo - Vol. I -
Fernando Rosas e J-M. Brandão de Brito (Direcção de) - Bertrand Editora - 1996

Jornal “O Ribatejo” de 26 de Fevereiro de 1998

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Simão Brandão e Ataíde

De seu nome completo Simão de Cordes Brandão e Ataíde, nasceu na vila de Sardoal em 1750.

Muito jovem, entrou para o convento de Aviz e estudou na Universidade de Coimbra como aluno do colégio que as Ordens Militares de S. Bento e Sant’Iago possuíam naquela cidade.

Foi fidalgo da Casa Real e Cónego doutoral da Sé do Porto.
Depois de cursar Humanidades, escolheu para a sua formatura a Faculdade de Direita Eclesiástico, vindo mais tarde a reger a cadeira de Jurisprudência Eclesiástica e depois a de Direito Natural na Universidade onde se formou.

O bispo de Viseu, D. Francisco Alexandre Lobo que procedeu ao seu Elogio Histórico, lamenta que não tivesse deixado documentos escritos que atestassem o seu engenho e saber, ainda que haja conhecimento da existência de um manuscrito intitulado Duas palavrinhas ao ouvido dos Portugueses, que lhe é atribuído.

Afirma por outro lado que ninguém, no seu tempo, chegou à cátedra com maior cabedal de conhecimentos e maior consciência dos deveres da sua missão.
José Agostinho de Macedo atribui a Simão de Cordes, nos finais do século XVIII e princípios do seguinte a propagação da maçonaria em Portugal, organizando algumas lojas na cidade de Coimbra, o que não se ajusta aos dados fornecidos pelo Bispo de Viseu.

Verdade seja que um dos seus amigos, o desembargador Francisco Duarte Coelho foi em 1808 acusado de jacobinismo e mandado retirar de Lisboa, entrando depois na “Setembrizada” e sendo por isso deportado para a ilha Terceira.
Brandão e Ataíde vem a falecer em Coimbra no dia 30 de Setembro de 1809.

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Dicionário Bibliográfica Português , Inocêncio Francisco da Silva, 1858
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Boletim da Junta de Província do Ribatejo ,1937/38