domingo, 30 de maio de 2010

D. Estêvão de Almeida

Sacerdote, filho de D. Diogo Fernandes de Almeida, Prior do Crato, nasceu em Abrantes.

Acompanhou a Castela D. Isabel, filha de D. Manuel I e esposa de Carlos V.

Nomeado bispo de Leão, passou depois à Diocese de Cartagena.

Participou no concílio de Trento e morreu em 1563.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Zeferino Sarmento


(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 20 DE JANEIRO DE 1996)

Santareno que nasceu no dia 16 de Janeiro de 1893 e de seu nome completo, Zeferino Pacheco Sarmento da Conceição.

Depois de frequentar o Liceu de Sá da Bandeira, matricula-se no Instituto Nacional de Lisboa onde obtém o curso de engenharia electrotécnica.
Aos trinta e seis anos foi nomeado Chefe da Circunscrição Técnica dos CTT, em Santarém, funções que exerce até à aposentação que coincide com o limite de idade e dá-se em 1963.

Não ascendeu na sua carreira profissional, para o que foi convidado, para não ter de sair da sua cidade”já que não podia imaginar a vida longe de Santarém”.

Pugnou pela defesa dos monumentos e tradições da sus terra. Dedicando-se à investigação, produziu vários estudos que muito ajudaram a um conhecimento mais profundo da arqueologia e história escalabitana, sendo considerado dos mais abalizados especialistas do estilo gótico em Portugal.

O Eng. Zeferino Sarmento, que foi um dos escalabitanos mais ilustres do nosso século, publicou imensos artigos na imprensa regional, na diária e em revistas e jornais da especialidade, nos quais se encontram:- “Correio da Extremadura (actual Correio do Ribatejo), “Ilustração Moderno”, “Anuário Comercial” (separata) “Ribatejo Ilustrado”, “Comércio do Porto”, “O Século”, “Jornal de Santarém”, “Revista de Arqueologia””, “O Mundo Português”, “Diário da Manhã”, “Boletim da Direcção dos Edifícios e Monumentos Nacionais”, , números especiais do jornal “Vida Ribatejana”, etc.

Em 1937, após a morte de Laurentino Veríssimo, é empossado no lugar de conservador do Museu Arqueológico, funções que exerce até ao seu falecimento.

Devido ao reduzido espaço, procura transferi-lo para sítio mais espaçoso, pensando na Igreja de Santa Clara, o que não se veio a verificar.

Sonhou com a devolução a Santarém dos túmulos que Possidónio da Silva levou para Lisboa e os quais visitou várias vezes no Museu do Carmo. Faleceu sem conseguir ver realizada essa sua vontade.

Vogal da Comissão Central da Exposição – Feira (1936), coube-lhe organizar a Exposição de arte Antiga que teve lugar no Palácio do Provedor das Lezírias, actual Câmara Municipal, que fora digna dos maiores elogios pela maneira criteriosa e sábia como soube seleccionar tantas preciosidades artísticas e pelo requintado gosto nela patente.

Realizou várias conferências e palestras sobre Santarém no campo arqueológico, histórico e de arte, tendo sempre por base a defesa destes valores.

Zeferino Sarmento também andou envolvido, na década de quarenta, na criação do Museu dos Coches, dos Arreios e Armaria. Foi igualmente este dedicado filho de Santarém que, fazendo parte da sua Mesa, organizou o Arquivo da Santa Casa da Misericórdia, muito importante para o conhecimento do passado de Santarém e não só.

Fez parte da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Santarém, Presidiu à Subcomissão da Parada Agrícola da Exposição – Feira (1936), foi Vice-presidente da Comissão de Iniciativa e Turismo, de 1930 a 1936 (data da sua extinção), pertenceu à Associação dos Arqueólogos Portugueses e ao Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia e foi técnico da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.

Por alvará de 31 de Março de 1941 foi nomeado delegado da 2ª Subsecção da 6ª Secção da Junta de Educação Nacional.

Oficial da Ordem Militar de Cristo e Oficial da Ordem de Mérito Industrial, foi-lhe concedida a Medalha de Ouro da Cidade em 1959.

Zeferino Sarmento faleceu em 1968 e a maioria dos seus trabalhos foram reunidos em livro intitulado HISTÓRIA E MONUMENTOS DE SANTARÉM, numa edição de 1993 da responsabilidade da C. M. S. que assim o homenageou no 1º centenário do seu nascimento.

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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Boletim da Junta Geral do Distrito de Santarém, 1936
“No 70º Aniversário do Eng. Zeferino Sarmento”, J. Veríssimo Serrão, in nº especial de Vida Ribatejana, 1963
Santarém no Tempo, Virgílio Arruda, 1971
“Zeferino Sarmento – A gratidão da cidade no Centenário do nascimento do ilustre scalabitano", in Correio do Ribatejo de 22 de Janeiro de 1993
História e Monumentos de Santarém, Prefácio de J.V.Serrão, 1993
"São João de Alporão na História dos Museus", Jorge Custódio, in S. João de Alporão na História, Arte e Museologia, 1994.

domingo, 23 de maio de 2010

Os toiros

Às três da manhã acordei e a insónia instalou-se. As tentativas para a debelar, foram infrutíferas.

Quase sem querer, comecei a recuar no tempo, fui parar à minha meninice e adolescência e consequentemente ao MEU BAIRRO. E tudo isto acontece porque gosto de recordar os meus progenitores, é a maneira de matar saudades.



Santarém é conhecida, entre muitas outras coisas, por ser terra dada aos toiros com relevância para os seus forcados. Ora no MEU BAIRRO como não podia deixar de ser, havia aficionados.

Uma das preferências dos miúdos era brincar às touradas, para o que estabeleciam regras. Os “burladeros” eram as portas da área demarcada. O toiro, figura escolhida por um de nós e era desempenho muito disputado, saía de um corredor dos muitos então existente no MEU BAIRRO e que davam normalmente acesso a habitações, algumas constituindo pátios e quintais. Mas alto, o toiro só saía após o toque feito pelo cornetim, possivelmente o mais hábil para tal missão, na oportunidade, colocando as mãos como se estivesse a tocar o instrumento de sopro.

Havia os cavaleiros montados em canas, por vezes com chapéus de jornal quando havia tempo para os fazer, peões de brega (capinhas) já que espadas eram todos e todos bandarilhavam.

O toiro tinha que actuar um pouco curvo, de braços hirtos, tentando imitar os cornos, marrar a direito, por isso com “nobreza”, possibilitando os passes dos artistas, berrar e raspar a terra, imitando os cornúpetos. O pior era quando o boi que queria ser o mais bravo possível, deixava de cumprir as regras e começava a distribuir socos por todos que apanhava no redondel. Quando o cornetim tocava para a unha, eram todos forcados, caindo tudo numa molhada.

A rapaziada sentava-se no lancil do passeio para descansar, comentar os factos ocorridos e discutir. Forças recuperadas, nova toirada se organizava e com novo toiro!
Uma coisa que nos fascinava, eram as farpas verdadeiras devido ao colorido do papel e aos diferentes feitios das franjas. Havia um dos miúdos que era louco por elas e que conseguia arranjá-las, mas sem ferro. Ouvia dizer e parece ser certo que o artista que as fazia era um indivíduo a que chamavam, por alcunha, o Patetinha. Ora o nosso amigo de infância dizia que era o Patetinha e acabou por lhe ficar o Pateta, o que no sentido literal da palavra, nada tinha a ver com ele, pelo contrário.

Era este o desporto radical, com o qual os nossos pais não gastavam um tostão. Agora, os seus bisnetos, já não brincam às touradas, utilizam skates, patins em linha. BTT, pranchas de surf, etc. e quando assim é, já não é nada mau.

Os miúdos do MEU BAIRRO, pelos mais variados motivos, em que se incluem entre outros, a falta de espaços, os familiares deslocados no trabalho, o perigo que a própria rua constitui, (trânsito, roubo, etc.) por exemplo e até a actual concepção de vida, já não permite que os actuais miúdos do MEU BAIRRO queiram ou gostem de brincar aos toiros.

Falámos dos mais pequenos. E os outros, um pouco mais velhinhos e que começavam a entrar na adolescência?

Ainda que não nos escorraçassem, já não nos admitiam nos seus entretenimentos. Ficávamos muitas vezes a ouvir e a ver - já não era mau ! Éramos todos amigos e hoje quando nos encontramos é motivo de grande satisfação.

O ídolo taurino que acabava de desabrochar, era Manuel dos Santos. Lembro-me de o ver tourear, uma única vez e levado pela mão de meu pai, na velha e desaparecida praça de Santarém, em S. Domingos.

Todos queriam ser como o Manuel dos Santos, todos pensavam que eram capaz de fazer o que ele fazia!

Arranjaram uma tourinha (nós dizíamos tourina) isto é, uma armação suportada por uma roda, no caso penso que de bicicleta em cuja frente tinha fixados os cornos de um toiro. Logo a seguir estava um bocado de cortiça reforçado e a parte traseira rematava com dois braços para que uma pessoa a pudesse mover. Tratava-se por isso da simulação de um toiro e que se destinava a treinos. Possivelmente havia alguém que orientasse os treinos, mas se havia não me lembro de quem seja A cortiça servia para fixar as bandarilhas.



Talvez depois de terem ensaiado e medido alguns passes com a tourina, teriam- -se sentido mais seguros e se lembrarem de pôr pés ao caminho e ir para a Ponte Asseca, margens do afluente do Tejo onde pastava então gado bravo que penso seria propriedade de algum lavrador do Vale de Santarém.

As coisas parece não terem decorrido bem pois os campinos, conscientes da sua missão, evitaram que pudesse ter surgido complicações desagradáveis. Lembro-me bem do alvoroço que houve no MEU BAIRRO quando se soube do que se tinha passado, com as mães todas aflitas procurando pelos seus filhos. Mais de meio século já lá vai, pelo certo!

Já na minha juventude, primeiro nas picarias das redondezas, com destaque para as da Ribeira de Santarém e depois nas primeiras Feiras do Ribatejo, entre muitos outros, José Pança que morava no MEU BAIRRO, pegava ou agarra toiros conforme lhe dava jeito!
Aqui fica mais esta pequena MEMÓRIA que o tempo vai corroendo na sua acção imparável.

terça-feira, 18 de maio de 2010

P. António Reis



(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 12 DE JANEIRO DE 1996)


Nasceu em Pernes em 1690 e filho de António Cardoso de Carvalho e de Ana dos Reis.

Era irmão por isso do P. Luís Cardoso que antes referimos.

Iniciou os seus estudos com os Jesuítas mas vem a integrar-se na Congregação do Oratório de Lisboa, professado em 31 de Julho de 1707.

Foi Mestre de Teologia Moral e cronista da sua Ordem, Qualificador do Santo Ofício, consultor da Bula da Cruzada, examinador Sinodal do Patriarcado de Lisboa e das três Ordens Militares, historiador latino do Reino, por carta de 6 de Junho de 1726.

Foi escolhido por D. João V para ser membro da Academia Real da História de Portugal, fundada em 1720 e seu Censor.

Rejeitou a Mitra de Pequim e o Arcebispado de Braga que lhe tinham sido oferecidos por D. João V.

Tornou-se conselheiro do rei que o ouvia com frequência acerca da governação do Reino.

Falava castelhano, francês e italiano, além de ser eminente latinista.

Orador sagrado de largos recursos e poeta latino, faleceu em 19 de Maio de 1738, vítima de febre maligna, deixando uma vasta obra literária na qual se englobam:- “Corpus Illustrium Poetarum Lusitanorum qui latine Scripserunt. Etc.” em 8 volumes (1745/48); “Enthusiasmun Poeticum” em primorosos versos heróicos; “História Regni Lusitaniae”; “Novena de Santa Rosa Viterbo”; “Arte de Bem Morrer” e uma crónica sobre a vida do Conde de Ericeira.
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Lello Universal, Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro, Porto, 1975
Dicionário de História de Portugal, dir. Joel Serrão
Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40
Pernes, Terra Antiga do Bairro Ribatejano, Mário Rui Silvestre

sexta-feira, 14 de maio de 2010

P. Luís Cardoso

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 12 DE JANEIRO DE 1996)



Religioso oratoriano, nasceu em Pernes, sendo filho de António Cardoso Carvalho e de Ana Reis.

Entra na Companhia do Oratório em 7 de Março de 1717.

Estudioso e com espírito de investigação dedica-se à compilação de dados sobre cidades, vilas e aldeias do País, dando origem a um monumental DICIONÁRIO GEOGRÁFICO, isto com o precioso auxílio dos párocos que prestaram essas informações, respondendo ao inquérito formulado.

Deste dicionário, também conhecido por NOTÍCIA HISTÓRICA DE TODAS AS CIDADES, VILAS, LUGARES E ALDEIAS, ETC. publicaram-se dois volumes, o primeiro com a letra A (1747) e o segundo com as letras B e C (1752) e quando se iriam seguir os outros, apareceu o terramoto e os papéis ficaram em desordem na Biblioteca das Necessidades, tornando-se impossível continuar a publicação.

O Padre Luís não desistiu da empresa e entendeu actualizar as informações que possuía de modo a actualizar a obra.

Depois de autorizado superiormente, no decorrer do ano de 1758 começam a chegar as respostas aos inquéritos paroquiais e que o Padre Cardoso vai arrumando com o fim de os publicar.

Onze anos depois morre o compilador (3 de Julho de 1769) ficando as MEMÓRIAS PAROQUIAIS inéditas, acabando por receber uma nova arrumação por parte de outro oratoriano de que se desconhece o nome.

A obra nunca foi publicada na íntegra apesar de em 1877 Alberto Pimentel tentar a sua publicação, o que não conseguiu. Contudo, os eruditos continuam a recorrer a estes manuscritos, indispensáveis para muitos trabalhos.

O Padre Luís Cardoso pertenceu à Academia Real da História e publicou, além dos dois tomos referidos, “Receita Universal ou Breve Notícia dos Santos Especiais advogados contra achaques, etc., Lisboa, 1727 e “Portugal Sacro-Profano, 1768”, sob o pseudónimo de Paulo de Niza ou “Catálogo Alfabético de Todas as Freguesias do Reino de Portugal e Algarves, etc., Lisboa, 1767 e 1768.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
História de Portugal, J. Veríssimo Serrão, Vol. VI, 1982
História de Portugal, Edições Alfa, Vol. III
Dicionário de História de Portugal, dir. Joel Serrão
Pernes – Terra Antiga do Bairro Ribatejano – Monografia, M. Rui Silvestre

quarta-feira, 12 de maio de 2010

António Manuel Rego Abrantes

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 5 DE JANEIRO DE 1996)

Advogado bem conhecido em Lisboa, na sua época.

Tornou-se notado por ter conseguido adquirir importante biblioteca.

Nasceu em Tomar em 1793 e faleceu em Lisboa em 1851.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A Revolta de Santarém

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 10 e 17 DE JANEIRO DE 1992)
Conhecida também pelo “Movimento de Santarém” ou simplesmente pelo “10 de Janeiro”, faz hoje precisamente 73 anos que estalou na cidade de Santarém.

Ficou muito ligada à freguesia da Várzea pois foi na sua área que se desenvolveram factos importantes que levaram ao seu epílogo.

Dos que conhecemos, é o facto histórico mais importante que aqui ocorreu nos últimos séculos.

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Após o assassinato de Sidónio Pais, o período que se seguiu, caracterizou-se por uma enorme confusão política – conflito entre monárquicos e republicanos – e dentro destes, democráticos e sidonistas.

[Tamagnini Barbosa]
O General Tamagnini Barbosa é nomeado Chefe do Governo e os monárquicos preparam o assalto ao poder, dando-se ao luxo de exigirem a saído do Governo dos Ministros considerados mais republicanos. (1)

“A República está em perigo. O Governo acaba de capitular perante as chamadas Juntas Militares, que indubitavelmente preparam uma restauração monárquica. A todos os verdadeiros portugueses e a todos os republicanos dignos deste nome se impõe, desde já (...) unir fileiras e seguir para a frente, tendo como único lema, defender as instituições proclamadas pela vontade unânime da Nação, em 5 de Outubro de 1910.

Os homens que sobrescrevem o presente documento, pertencem a todas as correntes da DEMOCRACIA PORTUGUEZA, desde a republicana mais conservadora até à socialista.”

O programa que adoptam é seimples e claro: Constituição de 1911 (...)”.

[Álvaro de Castro]
Eis alguns dados que respigámos da PROCLAMAÇÃO dos revoltosos de Santarém, assinada entre outros por Jaime de Figueiredo, coronel de Infantaria, Aníbal Santos Miranda, coronel do Estado-Maior, Filipe de Sousa Tribolet, capitão de Infantaria, Dr. António Granjo, Dr. Álvaro de Castro, Francisco Cunha Leal, deputado e Augusto Dias Silva, socialista. (2)

É a 10 de Janeiro de 1919 que em Lisboa, Covilhã e Santarém, estala e insurreição militar. Em Lisboa tudo se resumia a um ataque malogrado ao Castelo de S. Jorge, na Covilhã Teófilo Duarte dominou a sublevação com uma coluna que ficou conhecida pela Coluna Negra e que se veio juntar em torno de Santarém, onde a revolta não soçobrou com facilidade. (3)

Recorramos ao historiador scalabitano e jornalista, Dr. Virgílio Arruda que nos dá em poucas linhas, a imagem da situação que afinal, penso, também viveu, ainda que jovem.

Diz assim: “Ouriçados os miradouros de canos de sete e meio, manteve-se a guarnição na defensiva, ao estrondear das posições artilhadas, ribombando as peças, as granadas a assobiarem por cima da Ribeira, a metralha a bater as espaldas das colunas.

Tropas e mais tropas rodeia a cidade, apertando o cerco, numa lura tenaz que a pouco e pouco se fecha, até que sabedores da rendição da Covilhã e do abortar do movimento em Lisboa, ops cá de dentro, - recusando a render-se a qualquer dos comandos monárquicos das forças que os investem, - entregam-se a Teófilo Duarte que lhe intimara a rendição” (4)


Depois destes dados gerais que nos situam no acontecimento, interessa saber o que se passou na freguesia.

É a “Monarquia do Norte”, de Rocha Martins que nos fornece alguns dados que por vezes não explicitam convenientemente os locais de acção.

A pág. 77 escreve-se: “Em torno da cidade, nos explendores da paisagem da Várzea, molhado ainda o terreno apesar do solsito de Janeiro que chegou a chupar as humidades das leivas, retumbava o sector que Almeida Teixeira, com o seu sangue frio, comandava.”

É a artilharia deste sector que destroça a que se encontra a coberto do presídio (pág. 78).

“Quando a noite descia, ela troava mais vivamente, nos seus intervalos o retenido das balas estridentava nas terras.

As granadas passavam rubras, sibilantes, a apavorar os tranquilos casaes; respondia-se da cidade e o combate ia tomando as proporções de um duelo formidável embora só pela retumbância da pólvora. Mantinha-se o propósito de não destruir os belos edifícios mas também o de demonstrar que se sabia fazer calar as posições inimigas.”

O sector de Almeida Teixeira fora o que causaria os maiores destroços.

Manda entretanto este oficial, a dois alferes de Lanceiros, examinar um local que lhe parecia suspeito e seguiram acompanhados de quatro soldados. Domo ocultos num olival, moviam-se vultos. Há galopes, troca de tiros. Acabam por se acharem num cômoro pejado de soldados, alguns dos quais corriam aterrorizados para as bandas de uma alva capelinha. (5) Havia em torno de uma peça, guardas-fiscais e guardas-republicanos, civis e militares.

Os oficiais julgavam-se perdidos quando ouviram uma voz perguntar.
_ Quem está lá? Era o alferes Ferreira que lhes apontava uma pistola.

- Coluna Negra de Teófilo Duarte!

Afinal estavam com amigos neste vasto campo da Várzea e junto de uma capelinha em cujos degraus rolavam recrutas à bofetada e a pontapé pelo comandante, indignado de os ver fugir à aproximação dos cavaleiros.

- Ah! malditos que não mereceis pertencer à Coluna Negra.

Teófilo inteirou-se do que sucedeu, disse aos Lanceiros que tinham cometido uma imprudência e deliberou ir conversar com Almeida Teixeira.

[Tamagnini de Abreu]A Coluna Negra com as suas duas peças, a metrelhadora que ninguém podia mover, dezoito cavalos, guardas-fiscais e guardas-republicanos, soldados da companhia de obuses e vinte oficiais, após a vitória na Beira, viera em direcção ao Entroncamento, fornecera-se de granadas, recebera ordem do General Tamagnini de Abreu para ir ligar-se na Várzea com as outras unidades que ali se encontravam, tendo por quartel uma igrejinha branca e por comandante um sonhador de largos feitos militares que dia a dia se consagrava ao empreendê-los.

Teófilo Duarte não se conformava com aquela situação, era necessário fazer alguma coisa para haver uma mudança no sentido positivo. Deliberou por isso, sem que a ninguém pedisse conselho, mandar um soldado com um ultimato aos rebeldes, impondo-lhe a rendição.

Esta atitude não foi bem aceite por grande parte das outras tropas que cercavam a cidade, pois opinavam dever ser vencida duramente.

Em Santarém recebeu-se o enviado com a carta do bravo cavaleiro. O coronel Jaime Figueiredo, comandante dos revoltosos, compreendia ser impossível levar mais longe aquele luta e respondeu aceitar um oficial ou ir igualmente um oficial para trocar impressões sobre o conflito.

O capitão-aviador, Almeida Pinheiro, encontra-se assim com Teófilo Duarte no entroncamento da estrada da Portela com a de Rio Maior.

[Teófilo Duarte]
Procura o Governador de Cabo Verde demonstrar a impossibilidade de êxito por parte dos revoltosos e quando o aviador voltou, com o coronel comandante, redobrou a sua dialéctica.

Decidiram os de Santarém entregar-se a Teófilo Duarte por ser um oficial republicano.

A declaração de capitulação, entretanto lavrada, é datada da Quinta do Mocho, a 15 de Janeiro.

Teófilo Duarte indica aos vencidos o seu quartel, o seu abrigo, onde lhe daria a mesa e o leito. Ao chegarem ao lugar da ermidinha branca, Teófilo Duarte ordena às forças a homenagem aos prisioneiro.
Soldados! Apresentar ... armas!

[Casa que foi de Joaquim António Montez, vulgo Joaquim da Mariana e hoje transformada em sede de "Os Galitos da Várzea". Desenho de JV]

O Boletim da Junta de Província do Ribatejo, nº 1, ano de 1937/40, pág. 571, informa que numa modesta casa de Santo António da Várzea (Vilgateira), residência de Joaquim António Montez (6), actual sede de “Os Galitos”, veio entregar-se à prisão o comandante das forças revoltosas de Santarém, contra o Governo legítimo. Aceitou a rendição o então tenente e Governador de Cabo Verde, Teófilo Duarte.

Se a luta foi confusa com aspectos mal definidos, ao conhecedor da freguesia também não é fácil determinar com precisão, alguns dos locais indicados nos escritos.

***
Estão decorridas mais de sete décadas sobre os acontecimentos. Ainda é possível aos varzeenses octogenários mais lúcidos, transmitirem, ainda que sem ligação, alguns dados de interesse.

Os que iremos indicar, já nos foram relatados há muitos anos e sempre os retivemos na memória.

Quando a Coluna Negra chegou, a população vilgateirense ficou sobressaltada e muitos dos seus elementos refugiaram-se na Quinta de Soudes, onde o caseiro ou feitor, era natural da aldeia.

Dizem que só ficaram de carácter permanente, três famílias, a do médico, do farmacêutico e do comerciante. Muitos dos que fugiram, pela socapa da noite vinham ver como as coisas paravam e principalmente se as habitações tinham sido devassadas.

Era-nos sempre contado que uma das famílias que abandonou a resodência tinha deixado a mesa posta para que os intrusos, se os houvesse, ficassem bem dispostos e causarem menos prejuízos. Verdade seja que nunca nos foram referidas violações deste tipo.

O médico mandou fazer uma “cozedura” de pão para distribuir pelos soldados.

[Armas ensarilhadas]
As armas ensarilhadas foi outro facto que ficou na memória das crianças de então. (7)

Foi a srª D. Isabel Rodrigues Casqueiro, já falecida, que nos transmitiu com todo o realismo, o que a memória registou: indo pela mão da madrinha, srª D. Josefina Sacoto Galache, apareceu-lhes na frente Teófilo Duarte que voltando-se para a então proprietária da Quinta do Freixo, lhe ordena:- Daqui a uma hora quero a quinta desocupada para acolher os meus homens.

Também o sibilar das granadas de sete e meio ficou na lembrança deste povo, estando instalada uma peça no Outeiro.

Ainda que sem a clareza que gostaríamos de apresentar, aqui deixamos reunido o que nos foi possível compilar e organizar sobre um acontecimento politico-militar que teve fases importantes na freguesia da Várzea.

NOTAS

(1) - “A Primeira República”, António Reis, in História de Portugal, Publicações Alfa.
(2) – “Para a História – O que foi o Movimento de Santarém”, Tavares Ferreira, in O Debate, Santarém, de 13 de Janeiro de 1919.
(3) – Portugalidade – Biografia de uma Nação, Domingos Mascarenhas, Lisboa, 1982.
(4) – “Uma data”, Correio do Ribatejo de 13 de Janeiro de 1984.
(5) – Pensamos que a ermidinha é a Igreja Matriz da Freguesia.
(6) – Vulgo Joaquim da Mariana.
(7) – Dados transmitidos por nossa mãe que viveu os acontecimentos e que na altura tinha treze anos.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

António Delgado da Silva

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 5 DE JANEIRO DE 1996)



Natural de Tomar.

Comendador da Ordem de Cristo e Desembargador da Casa da Suplicação, nasceu em Tomar tendo falecido em Lisboa no dia 29 de Agosto de 1850.

Escreveu: - “Colecção da Legislação Portuguesa, desde a última compilação das Ordenanças, Lisboa, 1825/30 e “Suplemento à Colecção da Legislação Portuguesa”, idem, 1842/47”.
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quinta-feira, 6 de maio de 2010

Jacinto da Costa

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 5 DE JANEIRO DE 1996)

Médico e cirurgião, nasceu em Tomar em 1770. Foi chefe cirurgião do Hospital Militar da Marinha e examinador dos cirurgiões militares da Armada.

Foi cavaleiro da Ordem de Cristo.



Deixou escrito: - “Novo tratado das feridas feitas com armas de fogo e método de as curar, Lisboa, 1811”, “Elementos gerais de cirurgia médica, clínica e legal, Lisboa, 1815”, Farmacopeia naval e castrense, Lisboa, 1819” e “Projecto de estatutos de cirurgia, ou fórmula pela qual devem ser educados os alunos da ciência e arte de curar, oferecido ao Soberano Congresso, Lisboa, 1821”
Faleceu cerca de 1850.
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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Uma esmolinha ...

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 28 DE NOVEMBRO DE 2003)

Aqui estou novamente para mais uma pequena conversa com os possíveis leitores que eu sei que existem mas que é impossível quantificar.

Muitos dos jornais regionais, como é o caso deste “velhinho”, chegam aos quatro cantos do Mundo e são muitas vezes o único elo de ligação que se tem com as terras de origem e existem portugueses em todos os países do Mundo!

Por isto ou por aquilo, ali acabaram por se fixar e alguns ainda pensam regressar às terras de origem, o que muito não vêm a fazer pelos motivos mais variados.

Morreram os avós, morreram os pais, os irmãos e cada um seguiu a sua vida, um para aqui, outro para ali, as idas à terra começaram a ser mais espaçadas.

A casa onde fomos criados já não existe, os vizinhos já morreram e muitos dos amigos de escola igualmente desapareceram.


Quando vou à minha terra, é meu hábito calcorrear as ruas que ainda me são familiares, nomeadamente as do meu bairro. É muito raro conhecer alguém e reconhecer, não é fácil pois os anos de afastamento são muitos. Além de muitas das casas existentes, algumas em ruína, ficaram nomes de vizinhos e amigos e a vida vivida com as suas pequenas estórias.

Ao ler hoje um interessante artigo intitulado A Vida lisboeta nos séculos XV e XVI- Peditórios e pedintes, de autoria de Victor Ribeiro, publicado no Vol.VIII - Lisboa 1910 do Archivo Historico Portuguez, fez-me recordar o que se passava no MEU BAIRRO há cinquenta anos.

Como temos escrito muitas vezes, o MEU BAIRRO era habitado fundamentalmente por famílias modestas e trabalhadores, operários, trabalhadores no comércio e indiferenciados tal como o funcionalismo de base. Os industriais, comerciantes, profissionais liberais, a burguesia viviam ainda dentro do recinto que tinha sido amuralhado, em palácios ou casas apalaçadas de que restam alguns exemplares. Só depois apareceu o conjunto de vivendas que alguns mandaram construir para os lados de Santa Clara/São Bento.

A mendicidade foi e será sempre um flagelo e tem as mais variadas origens, algumas de contornos complicados. Pede-se para matar a fome, pede-se porque não se tem trabalho, pede-se porque não se quer trabalhar, pede-se porque não tem saúde para trabalhar, pede-se porque o que se ganha é insuficiente para a manutenção da família, pede-se para matar o vício do álcool, pede-se para alimentar a dependência da droga e ... há quem tenha essa actividade como profissão.

A maçaneta da porta faz-se ouvir (nesse tempo as campainhas eléctricas eram muito raras no Meu Bairro e não só) e lá vinha eu a correr saber quem era. Da própria porta, informava:- É um pobrezinho que pede uma esmolinha por amor de Deus. Diz-lhe que tenha paciência mas não pode ser. Havia dias que eram vários aqueles que batiam à porta, mendigando e não havia possibilidades de a todos contemplar.

Por vezes minha mãe mandava-me perguntar ao pobre se queria um bocado de pão e quando era afirmativo, o que normalmente acontecia, lá vinha eu buscar o pão que minha mãe cortava.

Quando o pobre nos impressionava por qualquer motivo, não dizíamos da porta quem era e pessoalmente íamos dizer que se tratava de um pobrezinho assim ou assado e dizíamos logo, dê-lhe alguma coisa, coitadinho. A impressão causada era muitas vezes a velhice, a maneira de falar ou o aspecto. Quando se apresentavam de cabelos compridos, longas barbas, de bordão na mão e de saco às costas, por vezes tínhamos medo.

Muitos deles era gente dos arrabaldes ligados ao campo e que devido à idade, já não tinham forças para trabalhar e nesse tempo não existiam pensões sociais como hoje e os filhos, o que ganhavam, não chegava para sustento dos filhos pois nem sequer todos os dias tinham jorna. Eram os próprios pais que, para aliviar os filhos e já não podendo trabalhar, resolviam pegar num bordão e, saco às costas, lá partiam esmolando de quinta em quinta, de porta em porta.

[Velho portão na Avenida do Meu Bairro.Foto JV]

Quando a dádiva não era pão, transformava-se numa pequena moeda na base dos vinte centavos que junto a outras, ia minorando a miséria.

A minha mãe, dentro das suas modestas possibilidades, foi sempre uma pessoa esmoler. Tinha cerca de meia dúzia de pobres certos, o que significava que todos os meses por lá passavam batendo à porta e que já não necessitavam de fazer o pedido que aparecia sempre dentro das disponibilidades. Já se lhe conhecia o nome e até a origem. Havia sempre uma troca de palavras a propósito da vida e dos seus desaires. Alguns fizeram isto durante anos. Quando deixavam de aparecer, notava-se a sua falta e admitia-se a sua morte ou então a dificuldade em se deslocar.

Ainda que a mendicidade fosse proibida, lá se ia fazendo. Os vagabundos eram apanhados e levados para o Albergue Distrital, trabalhando na quinta onde estavam instalados. Tinham uma farda de surrobeco onde não faltava o barrete. Ouvia-se na altura dizer muitas vezes, se não te portas bem vais parar ao albergue!

Lembro-me muito bem de um homenzinho que se tinha algum defeito era o de beber um copito a mais. Depois de umas fugas acabou por se habituar ao local e tinha o seu dia de folga e lá vinha ele a pé até à cidade, bebendo o seu copito aqui e ali. Toda a gente conhecia o Zé Caneco e havia sempre mais um copo. Quando regressava à Quinta, já não ia sozinho.

Hoje os albergues mudaram de nome e todos nós os conhecemos. A maioria espera, mais dia, menos dia, dar lá entrada, se houver vaga!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Salvador Soares Cotrim

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 5 DE JANEIRO DE 1996)


[Brasão dos Cotrim]

Sargento-mor da Vila de Pias, nasceu em Tomar, sendo baptizado na Igreja da Colegiada de S. João Baptista, no dia 25 de Dezembro de 1654.Era filho de Sebastião Colaço Cotrim, escrivão proprietário da Vila de Pias e de sua mulher, Maria Soares.

Aprendeu latim com o seu tio Frei Pedro Vaz Cotrim.

Tendo casado com D. Maria de Sousa, não deixou geração, falecendo no Beco a 27 de Maio de 1737.

Deixou várias obras manuscritas, principalmente no campo genealógico de sua família, nas quais destacamos:- “Descendência de D. Gonçalo de Sousa, alcaide-mor de Tomar”, “Geração dos Soares Cotrins com outros apelidos vinculados” e “Família dos Cotrins e Carvalhos do Beco”.

Além destas, escreveu “Topografia da Vila das Pias”.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
A Vila e Concelho de Ferreira do Zêzere, António Baião, 1916