domingo, 31 de maio de 2009

Francisco Câncio

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 31 DE MARÇO DE 1995)


Escritor, articulista e conferencista, entre outras actividades.

Dedicou-se de alma e coração a trabalhos históricos e etnográficos, onde tem um lugar bem marcante pelo menos no que se refere ao Ribatejo.

Escritor de mérito que utilizou a “elegância e a facilidade", além do Ribatejo dedicou muito do seu trabalho ao passado de Lisboa. Há quem o considere mesmo o cronista por excelência da região ribatejana.

Francisco Xavier Vidinha Câncio, de seu nome completo, nasceu no dia 10 de Maio de 1903 em Alhandra e faleceu em 26 de Setembro de 1973.

Usou por vezes o pseudónimo de João dos Montes.

Fez os primeiros estudos no Colégio de Santarém ,então propriedade e direcção do Cónego Dr. Joaquim Augusto que foi seu professor e licenciou-se em Histórico-Filosóficas e em Direito na Universidade de Lisboa; foi professor do ensino particular e dirigiu o Colégio Afonso de Albuquerque, em Vila Franca de Xira.

Foi sócio do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia e do Instituto de Coimbra.

Colaborador de vários jornais (pensamos que incluindo o Correio do Ribatejo) e revistas, nos primeiros vinte e oito números especiais da “Vida Ribatejana”, foi o primeiro ao colaborar com trinta e oito artigos.

Da sua bibliografia destacamos, no que respeita ao Ribatejo:
Ribatejo, Monografia Ilustrada, Crónicas Estremenhas, 1936, Ribatejo Histórico e Monumental, 1938 (com a patrocínio da J.P.Ribatejo), Contos Ribatejanos, Lx 1940, Festa Brava, Lx, 1941, Subsídios para a História Económica do Ribatejo, Lx, 1944, Ribatejo Lendário e Pitoresco, Lx 1946, O Ribatejo e as Festas Centenárias de Lisboa, 1947, Notas de um Ribatejano, Lx e Tempos Idos.

Tendo por base Lisboa, publicou:
Aspectos de Lisboa no Século XIX, Subsídios para a História do Real Paço de Alcântara e do Real Paço da Ajuda, Lisboa de outros Séculos, 1940, Alguns Aspectos de Lisboa Manuelista, Lisboa, 1942, Lisboa, Figuras e Casos Passados, Lx, 1942, O Paço de Queluz, Lx, 1950, Coisas e Loisas de Lisboa Antiga, Lx, 1951, O Paço da Ajuda, Lx, 1955 e Lisboa no Tempo do Passeio Público, Lisboa, 1962 que pensamos ter sido a última obra editada.
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Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol. V, pág. 70 e Vol, XXXIX pág. 218 e Vol 2 (Actualização)
Dicionário Enciclopédico LELLO UNIVERSAL, 1975, pág. 448
Vida Ribatejana nº Especial de 1940 e de 1956

sábado, 30 de maio de 2009

Abel da Silva

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 24 DE MARÇO DE 1995)



O segundo escalabitano que aqui evoco, tem para mim um significado muito especial. Teria cinco anos quando o conheci e aos seis fui ao seu funeral que se realizou há cinquenta anos.

Fiz grande birra pois queria ir com o meu pai mas naturalmente que ele não me queria levar. Acabei por vencer e lá fui pela mão do meu progenitor. Lembro-me que havia muita, muita gente! E a figura de Abel da Silva, até hoje, nunca desapareceu da minha retina, se fosse possível voltar a vê-lo, re-conhecia-o de imediato.

Não sei se alguma vez o Correio do Ribatejo este bom filho de Santarém, não me lembro de tal, pelo menos nos últimos anos, mas é natural que a minha memória tenha falhado.

Conheço contudo dois escritos sobre Abel da Silva, insertos em dois números especiais da “Vida Ribatejana”, um de 1940 e o outro de 1966, que me deram tópicos para a organização deste apontamento biográfico.

O número de 1966, escrito vinte e dois anos após a sua morte, intitula-se “Abel da Silva – Um devotado escalabitano que ainda não recebeu as homenagens devidas da terra onde nasceu e que tanto amou. O escrito é assinado por R.C. um velho amigo há muito desaparecido.

Abel da Silva nasceu na freguesia de Salvador, da cidade de Santarém, no dia 25 de Outubro de 1892.

Era filho de José da Silva, que foi considerado industrial na cidade e de D. Mariana da Graça Silva.

Concluiu o 7º ano do Curso Complementar de Ciências no Liceu de Santarém, matriculando-se no Instituto Superior de Agronomia, curso que se viu forçado a interromper por razão alheias à sua vontade.

Em 15 de Fevereiro de 1917, ainda um jovem de vinte e cinco anos, é nomeado chefe da secretaria da Junta Geral do Distrito de Santarém, transitando para idêntico lugar quando em 1937 foi extinto aquele organismo e criada em seu lugar a Junta de Província do Ribatejo.

Foi Governador Civil do Distrito desde 5 de Janeiro a 26 de Julho de 1924, Administrador do Concelho de Santarém e Delegado dos Abastecimentos e Transportes.
Devotado regionalista, dedicou sempre o maior interesse e entusiasmo pela obra administrativa do distrito e da província, trabalhando para a criação da Província do Ribatejo.

Foi uma personalidade de relevo no regime republicano, todo ele idealismo e tolerância.

Nutria grande paixão pela sua terra, nunca negando a valiosa colaboração e o seu entusiasmo as todas as iniciativas que visassem o engrandecimento da cidade de Santarém.

Colaborou na Exposição Feira Distrital do ano de 1936 e nas Comemorações Centenárias (1940).

Mas de tudo o que Abel da Silva fez em prol da região e da cidade que o viu nascer, realça-se o seu papel de Director e Editor dos boletins da Junta Geral do Distrito de Santarém que culminou com o nº de 1936 que gerou grande procura por parte das Universidades dos mais cultos países da América e da Europa. Nomes como Erneste Fleury, Ferreira Campos, Mendes Corrêa, Amorim Girão, Orlando Ribeiro e outros, assinaram valiosos trabalhos.

Com a extinção das Juntas Gerais e criadas as Juntas de Província, entregou-se mais uma vez e inteiramente à tarefa árdua de elaborar a edição monumental do Boletim nº 1 (1937/40) que acabou por ser o único da Junta de Província do Ribatejo.

Obra de grande valor que nunca pode deixar de ser consultada por quantos se interessem por esta ubérrima região do Ribatejo.

Composta por 871 páginas, apresenta artigos assinados por considerados especialistas em várias matérias que abrangem um vasto campo.

Todos os concelhos da Província” são apresentados nos seus aspectos económicos mais salientes, sendo importante a referência a todas as freguesias com resposta a um questionário tipo.

Ainda recentemente lemos neste jornal um anúncio, durante várias semanas, em que se procurava adquirir estas obras que pensamos não ser fácil obter.
Abel da Silva faleceu a 24 de Abril de 1944 e o seu nome continua sem constar de uma placa toponímica da cidade que o viu nascer, que tanto amou e honrou.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Jogos infantis

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 22.01.1993)

O nosso segundo escrito intitulou-se de “BRINQUEDOS” e nele referimos o que de momento nos veio à memória, confessamos que com muita saudade.

O assunto não ficou esgotado e hoje iremos continuá-lo mas com o sentido de jogo, para o que guardámos alguns brinquedos.

O PIÃO – brinquedo maravilhoso que nos obrigava a um certo exercício físico e onde a destreza se impunha.



Com que saudade recordo os meus piões, alguns dos quais ainda existem como símbolo da dedicação que lhes concedi.

Na altura, os piões eram feitos de azinho (os melhores) e de figueira, os mais baratos. Havia de vários tamanhos, aos mais pequenos, chamávamos-lhe pianinha e aos maiores, monas. Aos meus piões era sempre tirado o bico que traziam e que o meu pai substituía por um de aço. Foi ele que me ensinou a dançar o pião e jogava comigo.
Aos cordéis com que os enrolávamos, chamávamos fieiras, a minha era de algodão para se apertar bem e não se desmanchar.

O jogo rei do pião era o da “Roda Bota Fora”. Desenhava-se no chão, com o auxílio do pião e da fieira, que servia de raio, uma roda (círculo).

“Eu sou o último”, era a frase que todos procuravam pronunciar primeiro e assim se estabelecia a ordem dos jogadores que podiam ser todos quantos quisessem.

A frase só se repetiria quando não existisse nenhum pião dentro da roda.

O pião era jogado para dentro da roda e quando não dançasse “amochava”, isto é, era posto no meio para que os outros pudessem jogar sobre ele.

O jogador tinha normalmente mais de um pião que utilizava conforme as circunstâncias.
Sempre que o pião ao acabar de dançar não saísse da roda, também “amochava”.

Os jogadores procuravam acertar nos piões dos adversários que estivessem rodando ou “amochando” no sentido de os rachar (o que nunca vi fazer) a não ser em circunstâncias muito especiais e noutro tipo de jogo. Agora fortes bicadas, sim, o que chegava a provocar as lágrimas ao seu possuidor e gáudio ao “picador”.

Quando se jogava o pião e ao rodar saía da roda, o jogador aparava-o, isto é, com o movimento de dois dedos transferia-o a rodar, do chão para a mão. Se tinha algum a “amochar” procurava com uma pancada, com o que estava rodando, atirá-lo para fora da roda, livrando-o assim do jogo dos adversários. Estes, procuravam precisamente o contrário.

Era um jogo muito movimentado onde a destreza e a habilidade se impunham.

Outro jogo de pião era o “nôco”, ainda que o fim fosse o mesmo, só havia um perdedor e tinha um mecanismo totalmente diferente.

Fazia-se uma cova do tamanho de um pião médio e a que nós chamávamos “covicha”. A uma determinada distância, que era variável, conforme o gosto dos jogadores, lançava-se um pingo de cuspo sobre o qual se jogavam os piões. O que ficasse mais afastado do ponto de referência, o custo, “amochava”, isto é, colocava o pião sobre o cuspo. Os outros jogadores iam lançando os seus piões, aparavam-nos e com pancadas dadas no que “amochava”, procuravam levá-lo para o “nôco”, isto é, a “covicha”. Sempre que o jogador lançasse o pião e ele não rodasse, era o seu que substituía o outro, amochando. É preciso dizer que o que tinha o pião em perigo, dançava outro para o defender pelo mesmo sistema, isto é, afastando-o do “nôco”.

Uma vez caído na cova havia que cumprir o que se havia previamente combinado, a aplicação por parte de todos de determinado número de bicadas e então sim, rachavam muitos, principalmente os de figueira.

As bicadas eram dadas no nôco com a mão e os jogadores tinham piões próprios para isso, apetrechados de grandes bicos!

Além destes dois jogos a rapaziada ia inventando outros dos quais chegou a ser muito usado o das balizas, inspirado no futebol. Duas pedras a marcarem cada baliza, o traçado do rectângulo de jogo, uma bola de madeira surripiada num jogo de “bonecos”. A finalidade era introduzir a bola nas balizas do adversário com pancadas dadas com os piões. Mudava aos cinco e acabava aos dez.

O BERLINDE – para a rapaziada do meu tempo simplesmente o bilres, era outro brinquedo que proporcionava jogos interessantes.

Como todos sabem os berlindes são de forma esférica e de vidro. Havia de vários tamanhos e de cores variadas. O terror eram os “abafadores”, berlindes de maior tamanho e variadíssimas cores que tinha o condão de ao tocar nos outros os “abafarem”, isto é, chamarem-lhes seus. Não tinham qualquer outra utilidade!
Regra geral guardávamos os bilres em pequenos sacos de riscado que as nossas mães ou outros familiares nos faziam.

Vamos ao jogo. Fazia-se uma pequena cova. A ordem para jogar era determinada pela aproximação ao “cuspinho”. A distância igual, o berlinde era lançado para entrar na cova ou ficar o mais próximo possível. Cada vez que entrava na cova marcava um tento e repetia o lançamento.

A astúcia do jogador, quando via o adversário em boa posição, difícil de destronar, levava-o a colocar o berlinde distante para evitar que o adversário fizesse quatro tentos, quase certos no caso de dois jogadores.

Havia miúdos exímios jogadores de berlinde “matando” a distâncias consideráveis com bastante frequência!

***
Falámos de jogos proporcionados por A partida terminava aos vinte e quatro tentos mas rebentava-se aos vinte e três, pelo que tinha sempre de existir o “mate”.
Cada vez que se ia à “covicha” fazia-se um tento e quando de acertava no berlinde do adversário, dois. Havia muitas vezes a preocupação de ficar na “engorda”, isto é, próximo da cova, para ir marcando tentos. Ao fazerem-se os vinte e quatro, agarrava-se imediatamente o berlinde do adversário a que se tinha direito, como prémio.
Durante o jogo era importante não permitir “altos e alvíssaras” para que as dificuldades fossem maiores.

Acontecia muitas vezes chegarem os dois jogadores aos vinte e dois e então era interessante o duelo pois além de haver a preocupação de acertar não se poder ficar “à morte”.

Outro jogo que fazíamos era o da volta a Portugal e consistia em visitar por ordem um certo número de covichas colocadas a alguma distância, terminando o jogo quando se voltava à primeira encovada.

Falámos de jogos proporcionados por brinquedos adquiridos expressamente para esse fim. Agora iremos referir outros jogos feitos com objectos que os miúdos iam buscar ao uso quotidiano.

O BOTÃO – também era um saco que os guardava. Nunca tive necessidade dos arrancar do vestuário como acontecia a alguns colegas de jogatanas, pois a minha mãe disse-me sempre e cumpriu, que me dava botões para jogar, quando eu quisesse.

Um velho amigo, resolvia bem o problema pois o pai era viajante do ramo e então “arranjava” caixas inteiras, estou a vê-las, de papelão, forradas de papel azul com um botão fixado para amostra. Era o abastecedor da rapaziada pois não era muito habilidoso no jogo, ainda que tivesse um palmo avantajado.

Era muito interessante o jogo do botão que as crianças de agora desconhecem totalmente e pelo qual não teriam qualquer interesse.

Quando se desafiava um colega para o jogo e antes que o outro o dissesse, dizíamos: - eu sou o último.

Os botões eram batidos contra as paredes e consequentemente saltavam. Quem batesse a seguir procurava que o seu botão, ao fixar-se, ficasse pelo menos a um seu palmo de distância da posição do adversário. Quando assim acontecia, ganhava-se um botão à escola do perdedor, tomando em consideração que os “furados” (de buracos partidos) não valiam e atiravam-se para cima do telhado mais próximo, para não enganar ninguém, praticando-se assim a “lei”.

Os botões não podiam ficar a menos de um palmo da parede onde se batiam. Quando assim acontecia, repetia-se a jogada. A jogada não era considerada válida quando o botão batia em alguém.

Os jogadores possuíam botões de vários tipos que utilizavam conforme as circunstâncias do jogo. Para bater longe, havia os botões das ceroulas, a que chamávamos fugitivos. Para bater perto, havia as patas chocas.

Quando o adversário batia para longe, por vezes não se batia com a mesma intensidade, designando a nossa atitude como desafiar passarinhos! Obrigávamo-lo a bater perto e assim ganharia o mais habilidoso.

Também neste jogo havia excelentes executantes que levavam os adversários a perder tudo e quando assim acontecia, dizíamos:- Já fui à bufa!


[Beco da Rua Frei Gaspar do Casal, muito utilizado para estes jogos por falta de trânsido]
A CAIXA – hoje, mesmo que os rapazes quisessem jogar à caixa não podiam pois as caixas que agora existem são de papelão e por isso não serviam para o jogo.

Estamo-nos a referir às caixas de fósforos que na minha meninice eram feitas de lâminas de madeira, forradas de papel e a que se lhe punha um rótulo com a marca e características do produto que continham – amorfos.

Desmanchávamos a caixa de que só aproveitávamos o tampo que partíamos conforme o jogador considerasse melhor para o jogo. Este consistia em atirar (jogar) a tampa da caixa para junto da parede, de uma maneira geral, ajoelhados no lancil do passeio.
Como na maioria dos jogos, a antecipação regulava a ordem inicial do jogo.

Combinávamos em primeiro lugar a quantos íamos jogar. Ganhava a primeira fase do jogo quem conseguisse colocar a caixa mais perto da parede. Ficando “esquinada” (empinada à parede) repetia-se a jogada dessa carta.

Podiam ser vários os jogadores.

As caixas grandes, os caixotes (lembro-me da marca “Club” (ou Clube) em que figurava um homem vestido de preto, fumando sentado num grande sofá e cujo fundo era amarelo, se a memória não me atraiçoa, valia 20 pontos, as de tamanho médio, onde pontificavam as “Quinas”, 10 e as mais pequenas de que a “Joaninha” era um exemplo, 5.
Depois de todos jogarem, o que colocasse uma das caixas mais perto da parede, juntava-as todas em maço, viradas para o mesmo lado e batia-as na parede, ganhando todas as que ficassem de caras para cima. Às que assim não acontecia eram juntas pelo que tivesse ficado em segundo lugar que as batia do mesmo modo e assim sucessivamente até não haver caixas da jogada.

Os bons jogadores batiam de tal maneira que era raro ficar alguma de costas e quando assim acontecia, dizia – deixei-te a semente!

As caixas de vinte eram utilizadas quando na jogada já se tinha uma caixa bem posicionada, difícil de ser tirada pelos adversários.

Havia quem antes de jogar a caixa a levasse perto da boca e a abafasse e outros, quando batiam o molho na parede, beijavam a de cima para lhes dar sorte.
Que singelo e interessante jogo!

O escrito já vai longo. Temos de terminar mas afirmando que voltaremos ao assunto.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Os Santos Populares

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 15.01.1993)




Santo António, São João e São Pedro que se festejam respectivamente a 13, 24 e 29 de Junho, constituem três figuras gradas da hagiologia e que o povo português conhece como os três santos populares.

Santo António, o maior santo português, revelou-se como grande pregador e teólogo. O número de milagres que lhe são atribuídos é o suficiente para fazer dele um grande taumaturgo. Um ano depois da morte, era já canonizado pela Igreja.

São João Baptista, o precursor de Cristo que foi santificado ainda no ventre da mãe. O profeta hirsuto, queimado pelo sol, enrijado pelos frios. Estava a baptizar crentes no Jordão, quando Jesus se fez baptizar por ele. Logo o reconheceu como Cordeiro de Deus, o Messias anunciado pelo Profeta.

São Pedro, Apóstolo, o maior dos Apóstolos. Era natural da Galileia e pescador em Cafarnaum. Juntamente com seu irmão André, foram os primeiros por Jesus Cristo para o seguirem. Acompanha Jesus em toda a Sua Vida, até à agonia no Monte das Oliveiras. Foge no momento da prisão e volta para saber o que sucedeu a Jesus Cristo. Nega Cristo três vezes. Foi para Roma tendo sido o primeiro Bispo. Preso e crucificado de cabeça para baixo (64 d.C) a mandado de Nero.

Estas três figuras da Igreja de santidade tão austera, aparecem na boca do povo como galhofeiros, entrando na velhacaria para não dizer na imoralidade.

Santo António é o frade que vai espreitar as moças à fonte para lhe partir a cantarinha e depois, consertando-a, metendo conversa e a partir daqui cada qual arranja o que lhe apetece.

É casamenteiro e fazem-se as mais variadas “sortes” sobre a sua protecção para se saber do casamento, desde o enfiar o dedo na fechadura da capela até ao espigar da alcachofra queimada na fogueira feita em sua honra.

São João aparece armado em conquistador... se as moças
não vão à fonte, São João todo se mata, diz a quadra popular.

São Pedro surge transformado em casamenteiro das viúvas e a dar com uma moca, à porta do Céu, nas virgens que lá apareçam.

É natural que as festas profanas com o decorrer dos tempos se tivessem misturado com as religiosas e que aflorem ainda resquícios de paganismo. Mas quem sou eu para o dizer!

***

Depois deste pequeno intróito ao assunto que se pretende abordar e que consideramos de interesse, iremos então ver como se festejavam os Santos Populares no MEU BAIRRO.
Nos anos cinquenta ainda era notório em toda a cidade o festejo dos Santos Populares com locais engalanados com bandeirinhas de papel, balões e outras artes e onde a fogueira de rosmaninho e carrasco, com cheiros de alecrim, era rainha de quantos gravitavam à sua volta.

Se o maior número se espalhava pelos arrabaldes, lembro-me bem de nos becos do velho burgo haver festa rija.

Os “mirones” percorriam a cidade para ver onde a festa era mais animada e muitos acabavam por se fixar na minha rua.

Nesses tempos e que fosse do meu conhecimento, dois locais marcavam na cidade, a minha rua e a rua de José Paulo, numa velha e popular zona da cidade.
A razão deste facto estava no número e qualidade dos jovens e nos familiares que conseguiam mobilizar.

Para se festejar os santos, uma coisa era indispensável, a queima de arbustos aromáticos. Então, as minhas irmãs e mais raparigas vizinhas, começavam a seringar à volta de meu pai no sentido de conseguirem a sua adesão ao projecto, o que se tornava indispensável. Não demoravam muito a ouvir o sim, afirmando sempre que era o último ano!

Fervoroso caçador, conhecia muitíssimo bem as redondezas e os proprietários locais, alguns deles espalhados por casalecos de que ainda retenho o nome de alguns.

Na altura não se podia pensar em alugar qualquer transporte que era escasso e mesmo que fosse encontrado seria a preços que as bolsas não comportavam. Assim, só havia uma maneira, transportar a matéria-prima às costas.

No dia aprazado, juntavam-se à minha porta os rapazes e raparigas das redondezas, tudo gente bem conhecida. Todos tinham obtido a devida autorização pois os pais sabiam como as coisas decorriam.

Era normal aparecerem os “papo-secos”, rapazes que não eram dali mas que pelos moços ou moças sabiam do “passeio” Aconselhados a isso, lá iam pedir ao meu pai para fazer parte do grupo. Parece que o estou a ver. Mirava-os de cima a baixo dando o seu consentimento, afirmando que eram precisos braços para trazer o rosmaninho.

É claro que alguns dos “desconhecidos” catrapiscavam ou pretendiam catrapiscar alguma moça lá do bairro.

A jornada era sempre à tarde, depois de se sair do emprego.

Nos primeiros anos eu era tão pequeno que ia pela mão de meu pai que na outra levava uma enxada rasa para cortar o mato. A minha mãe, sempre que podia, também nos acompanhava.

O pessoal ia sempre à frente e nunca se podia afastar muito porque se o fizesse, ouvia-se uma voz reclamando nesse sentido.

Passávamos junto à horta do Manuel Serralha, onde havia grande tanque, junto ao qual existia vetusta nogueira, provocando acolhedora sombra e da casa da Ti Joaquina, bebia-se na velha fonte do Pingo-Pingo (1618) hoje considerada imprópria para consumo, e metíamos depois pela estrada (!), pouco mais que um caminho, da Carreira de Tiro. Logo no lado direito havia um casal, à curva, onde me lembro, e já era crescidote, ter sido festejado um 1º de Maio pelos tipógrafos escalabitanos e quase clandestinamente.

Continuando a caminhada e onde a cantoria não faltava, passávamos pelas instalações da Carreira de Tiro, na altura chefiada por um oficial já velhote que morava no MEU BAIRRO. Ia e vinha todos os dias num carro cujo tipo era utilizado pelo exército, puxado por dois cavalos e lembro-me muito bem de no Verão se proteger com um chapéu-de-sol.

Havia um pequeno pontão sobre um ribeiro em cujas guardas (muros), nos costumávamos sentar, descansando da caminhada. Depois, era o entrar pela mata, sobreiros, azinheiras e pinheiros, conforme a zona. Lembro-me bem que o terreno era pobre, areento. Era lá que se encontrava o desejado rosmaninho, na época, ainda florido.
Começa a tarefa árdua do meu progenitor que o ia cortando e a rapaziada juntando em montes. O fazer os molhos era outra tarefa que não delegava em ninguém – tinha grande prazer em despachar os “papo-secos” a quem destinava molhos de pequeno volume mas quanto ao peso (estavam bem apertados) de se lhe tirar o chapéu! Era a “taxa” que pagavam por acompanhar as meninas do MEU BAIRRO.

Quando a minha mãe ia, havia então a tentativa de minorar a situação, procurando que os molhos fossem mais pequenos, o que por vezes conseguia.

Os “papo-secos” não queriam dar parte de fracos e lá “alombavam” com os molhos. A rapaziada mais miúda do bairro chegava a fazer padiola para transporte.

Lá vinha tudo cantando a caminho do bairro e que na parte final tinha grande subida a vencer – era o maior obstáculo.

O meu pai seguia no fim do grupo com a enxada às costas e as mãos cheias de bolhas devido ao seu manejo a que não estava habituado e, nunca trouxe um ramo de rosmaninho. Ia apreciando o derrear dos “papo-secos” que, em casos extremos, eram obrigados a dar à barra, havendo necessidade de reduzir o molho... a metade!

Chegava tudo estafado mas contente!

As raparigas, além do rosmaninho, traziam as alcachofras que disputavam ardorosamente a fim de proceder às “sortes adivinhas”.

A carga era toda bem guardada num quintal.

Entretanto havia que embelezar o local. Fazia-se o peditório na vizinhança pelas raparigas que afinal eram as dinamizadoras de toda a acção.

Compravam-se balões (poucos que eram caros) e papel de seda para fazer bandeirinhas que colocadas em fios se atavam às árvores e davam um ambiente festivo ao local, já que as árvores da minha rua a isso possibilitavam.

Não me esqueço que para fazer a fogueira era necessário despejar uns baldes de areia (que se iam buscar ao areeiro que ficava muito próximo) sobre o alcatrão da rua para que este não se derretesse! Procurava o meu pai junto da P.S.P. a permissão para um pouco para além da meia-noite o que normalmente era concedido no máximo de uma hora e desde que não houvesse reclamações que nunca apareciam e dependendo muito do guarda de serviço.

Terminando cedo, tinha de começar cedo. Era o saltar contínuo à fogueira, sós ou acompanhados mas num sentido apenas para evitar choques e quedas no braseiro.

A fragrância do rosmaninho que os pulmões bebiam, fazia dispor bem. Não faltavam os bailes de roda onde velhos e novos entravam.

Às doze badaladas era a euforia com a queima da boneca que nossa mãe pacientemente fazia com paus de vassoura e canas, bem vestida de papel, exteriormente de seda e de cores vivas.

Na armação eram atadas com arame delgado, bombinhas e bichas de rabiar e na cabeça umas bombas de morteiro.

A marafona era colocada ao fundo da avenida, nessa altura era o fim da rua e um pequeno largo térreo e sem casas nas proximidades, metida numa barrica com areia para se segurar de pé.

À medida que as bombas iam rebentando, era uma alegria, atingindo o auge quando o morteiro rebentava.

Os rapazolas entretinham-se com as bombinhas e as bichas de rabiar que por vezes criavam situações caricatas.

As raparigas não dispensavam queimar as alcachofras floridas, pensando no desejado. Espetavam-nas num vaso no quintal e se na manhã seguinte voltassem a florir, acreditavam que iam casar com o rapaz que traziam no pensamento!

No fim da festa os vizinhos aproveitavam o brasido para assar meia dúzia de sardinhas (pelo S. João, pingam no pão, diz o povo) e beber um copo.

Eram assim festejados os Santos Populares no MEU BAIRRO e na minha rua.
Quem se lembra?

Os bailarecos com músicos, apareceram muito mais tarde mas ainda no meu tempo.
Como os tempos são diferentes!

Hoje “festejam-se” em discotecas e bares!

Nem os jovens conhecem rosmaninho ou alcachofras.
O Mundo não pode parar!

domingo, 17 de maio de 2009

A toponímia

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 31.12.1992)

O assunto que hoje iremos abordar, é um pouco diferente dos anteriores.
Qual o nome das artérias do MEU BAIRRO e porquê.

O sempre recordado e saudoso Dr. Virgílio Arruda, abordou este tema várias vezes no semanário que tantos anos dirigiu, umas, em casos esporádicos e outras, mais intensamente como aconteceu em 1986/87 que titulou de “Toponímia Scalabitana”.

Ainda que tivessem sido abordados muitos topónimos, pensamos que ficaram bastantes por tratar, o que alguém fará certamente, um dia.

Os topónimos têm várias origens, predominando circunstâncias locais que acabam por ficar como lembrança de tal modo que muitas vezes lhe mudam oficialmente o nome mas continua a manter-se na gíria popular – Rua de S. Nicolau, Rua Direita, Largo das Amoreiras, são alguns exemplos, mas isto acontece em todas as terras.

Depois do homem ter denominado alguns locais onde vive e circula, pelo nome de outro homem que por qualquer circunstância o identificava (riqueza, posição social, profissão, defeito ou qualquer outra) começou a sentir a necessidade de se preocupar em homenagear figuras e factos nacionais e também os seus filhos ou aqueles que pela sua dedicação, pretendem memoráveis.

O MEU BAIRRO, que segundo o excelente livro Santarém Medieval (M. Ângela V. Rocha Beirante) ocupou a zona rústica do Rego de Manços (não sei se tem qualquer relação mas em miúdos íamos brincar para o Regueirão) não teve naturalmente tradições toponímicas ou pelo menos não as conheço, é um bairro que germinou nos anos quarenta dos nossos dias, presidindo à Câmara Municipal, António de Bastos.

Só a rua principal, a avenida, tinha nome, as outras ruas eram designadas, como é hábito no período inicial, por letras, pelo menos lembro-me de assim ser em relação à Rua Almeida Garrett, que era a Rua B, que nós miúdos e não só, chamávamos rua “De Trás”.

Considero o MEU BAIRRO formado por dez arruamentos que constituem uma teia de ruas rectilíneas, paralelas e perpendiculares.

Lembro-me muitíssimo bem de ser dado o nome às ruas e da colocação das placas toponímicas, em azulejos com interessante cercadura.

Estes nove topónimos, não contando com o da artéria principal, invocam, homenageando, figuras nacionais ligadas à cidade por qualquer circunstância, ou de seus ilustre filhos.

Para que isto acontecesse, contribuiu o Dr. José Henriques Barata que, apesar de não ter nascido em Santarém lhe dedicou todo o interesse publicando vários trabalhos sobre a história de Santarém, de que os “Fastos de Santarém” são, segundo pensamos, o maior expoente. Foi ele que a pedido do então Presidente da Câmara Municipal, António de Bastos, apresentou um parecer nesse sentido que foi sancionado quase na sua totalidade.

Iremos agora referir o nome das ruas e, segundo a nossa concepção, o seu justificativo.

AVENIDA DOS COMBATENTES

Foi o nome dado à artéria principal daquilo a que se convencionou chamar o Bairro dos Combatentes (vide por exemplo “Vida Ribatejana”, nº Especial de 1950, pág.6).
Trata-se de homenagear todos aqueles que se bateram pela Pátria.

A grande maioria das cidades e vilas do país possuem uma rua, avenida, largo ou praça com este nome que se aguentou a vários “saneamentos políticos”.

RUA ALMEIDA GARRETT



Quem entra no Bairro vindo do antigo hospital da cidade, tem à esquerda e paralela à avenida atrás referida, esta rua que antes de ser baptizada, era oficialmente designada por Rua B e para nós a Rua “De Trás”, como já referimos.

Por ser figura nacional bastante conhecida, pouco referiremos deste portuense nascido em 1799 e falecido em 1854.

Liberal activo, tomou parte na guerra civil.

Romancista, poeta, dramaturgo e político, fundou o Teatro e o Conservatório Nacionais.

Aceita o título de Visconde e foi Ministro dos Negócios Estrangeiros em 1852.

É o introdutor do “romantismo” em Portugal e criador do nosso teatro contemporâneo.
Parlamentar insigne, alguns dos seus discursos ficaram célebres.

A indicação do seu nome para figurar na toponímia escalabitana está no facto das referências que fez a Santarém na sua obra. Entre muitos, Mário Ventura Henriques diz que “O poeta pôs a descoberto toda a beleza que encerra as margens do Tejo” e José Henriques Barata “o celebrado autor das Viagens na Minha Terra em cujas páginas nos descreve amorosamente Santarém”.

RUA 2º VISCONDE DE SANTARÉM

Esta rua é paralela à Almeida Garrett, ficando à sua esquerda.

O Dr. Virgílio Arruda referiu-a na Toponímia Scalabitana, transcrevendo do seu trabalho Santarém no Tempo, o perfil do homenageado.

Chamava-se Manuel Francisco Mesquita de Macedo Leitão e Carvalhosa, nasceu em Lisboa em 1791 e faleceu em Paris em 1856.

O seu pai, o 1º Visconde é que era natural de Santarém.

O 2º Visconde acompanhou a corte de D. João VI quando o rei decidiu passar ao Brasil.
Foi diplomata, historiador, político e geógrafo. Ministro do Reino e da Marinha sob a regência da Infanta D. Isabel Maria (1827) e dos Estrangeiros sob o governo de D. Miguel (1829) que o demitiu do cargo em 1833.

Após Évora-Monte, retirou-se para Paris consagrando-se a uma vida de estudo e onde faleceu.

Nos seus trabalhos históricos avultam os consagrados aos “Descobrimentos” e à “Diplomacia Portuguesa”.

RUA PRIOR DO CRATO

Situa-se esta rua também paralelamente à anterior e igualmente à esquerda.
Aqui já não havia prédios de um só piso a não ser, se a memória não me falha, o que fazia esquina com a Rua de Sousa Coutinho, que era pintado de amarelo (ocre).

Havia acesso a esta rua por umas escadinhas onde gostava de brincar.

A rua tinha a particularidade de só ter prédios de um lado, visto o outro dar para a Calçada das Padeiras, E.N. 3, de acesso a Lisboa.

Quando por qualquer motivo faltava água nas torneiras, recorria-se à Fonte das Padeiras que nesta “calçada” se situava, tinha um bom caudal e era tida como de boa qualidade. Hoje é considerada imprópria para consumo. Nessas alturas, a que me estou reportando, era ponto de passagem de quem ia aos jogos de futebol do extinto S.G.U. Operária, que se realizavam no seu campo, o Chã das Padeiras.

Mas o que pretendia era dizer alguma coisa sobre a figura nacional que deu nome a esta rua.

D. António nasceu em Lisboa em 1531 e faleceu em Paris aos sessenta e quatro anos.
Já Prior do Crato e com as ordens de diácono, recusa a ordenação de presbítero e comporta-se como pessoa secular. Por esse motivo, o seu tio, Cardeal D. Henrique, manifesta-lhe um ódio declarado, o que o leva a exilar-se em várias ocasiões.

Foi Governador de Tânger. Toma parte na batalha de Alcácer Quibir e é feito prisioneiro. Resgatado, regressa a Lisboa para se opor à candidatura de Filipe II ao trono de Portugal.

Depois destes dados recolhidos no Dicionário da História de Portugal, dirigido por Joel Serrão, fecharemos com as palavras do Dr. José Henriques Barata, in Fastos de Santarém – Aclamações Reais – Coimbra Editora, 1947.

D. António, o filho querido dos amores e do casamento clandestino do Infante D. Luís e da bela Violante Gomes, a Pelicana, está indissoluvelmente ligado à história de Santarém. Com o povo da vila, D. António escreveu aqui uma página em que há o mesmo lampejo de glória que realçámos na descrição dos tumultos sucedidos havia quase dois séculos.

É que a 19 de Junho de 1580 na ermida dos Apóstolos, a São Bento, António Baracho solta o grito desejado: Real, Real, por D. António, rei de Portugal!

D. António é levado em triunfo pelas ruas da vila e na Câmara fazem-se “assentos e protestos”.

Como vedes, bem merece figurar na toponímia escalabitana este nobre sem sorte.

RUA LUÍS MONTEZ MATOSO



Referimos as ruas paralelas e à esquerda da Avenida dos Combatentes, agora ocupar-nos-emos das situadas à direita.

A primeira que encontramos tem a particularidade de ser a única do bairro que foge à esquadria e isto devido ao edifício da P.S.P., antigo regimento de Artilharia 6 e de outras unidades militares e onde se situou o Convento das Donas.

Foi nesta rua que se instalou primitivamente, segundo pensamos, a estação emissora Rádio Ribatejo que foi muito querida da cidade e dos arredores que servia. Também nesta rua se situava a garagem e oficinas da Empresa de Viação “A Scalabitana”, vulgo Vinagre.

Luís Matoso teve em Virgílio Arruda, segundo pensamos, o seu maior biógrafo.
Escalabitano pelo nascimento pois aqui viu a luz do dia em 1791, tendo falecido aos quarenta e nove anos.

Historiador e jornalista, uma das mais curiosas figuras da nossa história cultural da primeira metade do século XVIII, como refere o Senhor Professor Veríssimo Serrão, dedicou grande parte da sua obra, a maioria inédita, a Santarém.

A “Santarém Ilustrada” (1738) continua inédita e o manuscrito na Biblioteca de Évora, ainda que exista uma cópia na de Santarém.

RUA P. INÁCIO DA PIEDADE E VASCONCELOS



Paralela à rua antes referida, com excepção do troço contíguo ao antigo Convento das Donas, situa-se esta artéria, levemente inclinada.

O Padre Inácio da Piedade e Vasconcelos, filho de Santarém onde nasceu em 1676, é, como o seu contemporâneo Luís Matoso, um dos monógrafos de Santarém, publicando em 1740 a “Santarém Edificada”, que já tivemos o prazer de consultar, tal como a “Santarém Ilustrada”, na Biblioteca Municipal de Santarém.

Mais velho do que Luís Matoso vinte e cinco anos, admite Virgílio Arruda que pudesse “ter tirado proveito” do espantoso labor deste.

Não se conhecem quais seriam as relações entre os dois investigadores e porque não pertenceu O Padre Inácio à Academia Scalabitana e dos Aventureiros, do que o Padre Matoso foi o primeiro presidente e isto voltando a citar o Dr. Virgílio Arruda.

Em jovem, ouvia a pessoa conhecida fazer alusão a um Padre Inácio sempre com a mesma frase. Perguntava quem era, não me sabia responder, tinha aprendido aquela frase com familiares.

Não seria este o Padre Inácio que referia? Acho provável.

RUA FERNÃO TELES DE MENESES



Depois de termos referido todas as ruas paralelas à minha rua, iremos agora fazê-lo em relação às que ficam perpendicularmente, iniciando a caminhada no sentido ex-hospital – Escola Primária.

A primeira que encontramos fica à nossa direita, é bastante íngreme e foi-lhe dado o nome de Fernão Teles de Meneses, 1º Conde de Unhão que, não sendo de Santarém, aqui viveu e ficou sepultado.

Ficou para sempre ligado a Santarém pois levantou o grito da revolta contra a dominação filipina, sendo o arauto da Revolução e a alma da aclamação de D. João IV.
No dia 5 de Dezembro foi à Câmara e dela saiu com o guião acompanhado da nobreza e do povo, aclamando D. João IV com incríveis júbilos de alegria e contentamento de todos.

O palácio do Conde de Unhão situava-se onde hoje se encontra o edifício dos Bombeiros Voluntários e tinha frentes para o Campo Fora de Vila e para a actual Rua Eng. António Antunes Júnior e que ainda conheci como a Rua do Conde.

RUA LOPO DE SOUSA COUTINHO

A perpendicular que se segue fica à esquerda e só tem casas de um lado, já que o outro é ocupado por alto muro da cerca do antigo Hospital de Jesus Cristo.

Lopo de Sousa Coutinho aqui nasceu em 1515 e faleceu em 1577 na terra que o viu nascer, cansado de uma vida dedicada ao serviço da Pátria.

Foi guerreiro ardoroso, combatendo no cerco de Diu. Governador do Castelo da Mina.

Escritor e homem culto, publicou trabalhos de história. Poesia e matemática.

Recolheu-se nos últimos anos da vida à sua terra natal, tendo sido sepultado na desaparecida igreja de S. Salvador que se situava no actual Largo do Padre Chiquito.
Foi pai de Manuel de Sousa Coutinho (Frei Luís de Sousa).

RUA FERNÃO LOPES DE CASTANHEDA

É a artéria que se segue e atravessa além da Avenida dos Combatentes, a Rua Almeida Garrett, a 2º Visconde e termina numas escadinhas que dão para a Prior do Crato. No cruzamento com a Avenida, situava-se um marco do correio já desaparecido e encostado ao qual passei muitas horas.

O homenageado é também escalabitano tendo nascido em 1500.

Embarcou com o pai, Lopo Fernandes de Castanheda, para a Índia, indo na armada que levou a Goa o novo Governador, Nuno da Cunha.

Nos dez anos que lá esteve, leu todos os documentos possíveis e interrogou testemunhas que pudessem informá-lo dos feitos dos portugueses por aquelas paragens pois tencionava escrever a primeira história da expansão portuguesa no Oriente, o que veio a fazer, intitulando-a de “História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses” que abrangia dez livros.

O seu trabalho foi traduzido em várias línguas.

O rigor que utilizou, valeu-lhe a animosidade de muitas famílias influentes.
Fernão Lopes de Castanheda honra a historiografia quinhentista

RUA FREI GASPAR DO CASAL

A última rua também se destinou a homenagear um santareno ilustre.
Contemporâneo do anterior, nasceu em 1510 e ingressou com catorze anos no Ordem de Sto. Agostinho.

Frequenta a Universidade de Coimbra onde se doutorou em teologia e foi lente.
Bispo do Funchal, tomou parte no Concílio de Trento onde deu mostras de grande cultura.

Foi Bispo de Leiria e de Coimbra, onde faleceu a 9 de Agosto de 1584.

____________________________

Bibliografia
Arruda, Virgílio. Santarém no Tempo, Edição da Comissão Municipal de Turismo de Santarém, 1971; Luís Montês Matoso, Historiador e Jornalista, 1980

Barata, José Henriques – Fastos de Santarém, Aclamações Reais, 2ª Edição, Coimbra, 1947; “Lembranças de Santarém”, in Vida Ribatejana, nº Especial de 1955

Boletim da Junta de Província do Ribatejo, Anos 1937-40, Junta de Província do Ribatejo, 1940

Cidade, Hernâni e Selvagem, Carlos – Cultura Portuguesa, Vol. 5 e 7, Editorial Notícias, 1971

terça-feira, 12 de maio de 2009

Os pátios

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 23.12.1992)

Os primeiros compradores de terrenos da minha rua, assim ouvia dizer aos adultos há dezenas de anos, eram gente de poucos recursos e adquiriam terreno para fazer uma casita com um quintalão que arborizavam e onde faziam um pequeno hortejo, para auxílio da casa.

Raramente construíam a habitação com a fachada principal junto da rua. Optavam por fazê-la ao fundo ou ao meio da propriedade. Um estreito carreiro que foi evoluindo até chegar à passadeira cimentada, levava-os à frente da propriedade que dava para a rua, era murada e tinha portão de madeira. Ainda hoje existe, pelo menos, uma situação destas.

Conheci muitos destes quintalões onde brinquei muitas horas. Neles desenvolviam-se árvores de fruto e lembro-me de figueiras, macieiras, ameixeiras e pessegueiros. De todas conheci o gosto dos seus frutos e tenho mais presente o de umas belas maçãs, cujas árvores, segundo me informou recentemente o seu proprietário, quase nonagenário, já não existem.

Couves, favas, alfaces, alhos, tomateiros e outros produtos hortícolas, eram vulgares nos quintalões onde tinham lugar demarcado.

Ainda recentemente (1991) a sensibilidade da minha prima Anel que cresceu e vive na minha rua se encheu de amores com “A flor do Pessegueiro” de um dos tais quintalões, agora mais reduzido.


[Pátio Jose Gomes]

Diz então:

Oh! Flor do pessegueiro,
Agarra-te bem à haste
Não venha o vento brejeiro
E, que dela te afaste.

Que cor linda é a tua,
Quando se avista da rua
(Tu, não me leves a mal)
Que eu fique deslumbrada,
Alguns minutos, parada,
Junto ao portão do quintal.

E quando o fruto crescer,
Até, pode acontecer,
Que não consiga prová-lo,
Acredita... podes crer,
Se ninguém m`o oferecer,
Eu, vou lá dentro roubá-lo.

Oh! Flor do pessegueiro,
Agarra-te bem à haste,
Não venha o vento brejeiro,
E, que dela te afaste.

Este retrato poético da minha prima, ajuda talvez a compreender a minha descrição.

***
O aumento da população com a consequente procura de habitação, levou os proprietários dos quintalões a torná-los mais rendíveis. Os alugueres compensavam mais que as couves e então vá de construir à frente dos terrenos que dão para a rua, uma habitação, deixando contudo um corredor para o quintal onde construíram casas mais modestas formando pequenos pátios que começaram a ser conhecidos pelo nome do seu proprietário. Não foi este, muitas vezes que o baptizou mas sim os seus inquilinos.


[Patio Frazão]

Mas também havia pátios onde caía bem esta designação. Eram deste tipo, o Pátio Frazão, com terreiro amplo, circundado de pequenas e modestas moradias e ao fundo, se não me engano, a do proprietário, de dois pisos, moderna para a época e em cujo rés-do-chão foi morar, uma das minhas irmãs, quando casou.

Era neste pátio que vivia um artesão de gelados, na altura, se bem me lembro, o único da cidade.

Tinha uns tantos carrinhos, pintados com motivos alusivos e accionados por roda de bicicleta que o vendedor pedalava.

Passava o calor e era a altura dos barquilhos (espécie de bolacha de forma cónica e oca, armazenada num cilindro de folha de flandres cuja tampa possuía um ponteiro que girava em volta de um eixo. O círculo (tampa) dividia-se por sectores marcados por quantidades. No meu tempo, por cada volta que custava vinte centavos, o jogador tinha direito ao número de barquilhos que o ponteiro marcava.

O cilindro (caixa) tinha uma tira de cabedal para o vendedor transportá-lo ao ombro.

Fins de Outubro, princípios de Novembro, começava a castanha assada, os carrinhos eram do mesmo tipo do dos gelados, tinham naturalmente um grande assador de barro ligado por arames para no caso de estalar, o que acabava por sempre acontecer, continuar ligado e a poder servir.

Havia no MEU BAIRRO outro pátio muito típico mas que tinha dois nomes pois pertencia a pessoas diferentes. Pensamos que primitivamente teria pertencido a uma única pessoa.

Amplo recinto. De um lado, o Pátio de Júlio dos Cónegos, do outro, o pátio das Comadres.


[Pátio das Comadres]

Ao meio, havia uma cisterna que penso seria comum.
Era aqui que o Victor Arsénio, da minha idade e recentemente falecido, fazia as suas sessões de cinema, pagas a tostão. Os espectadores, sentados em pedras, viam passar o filme, um rolo constituído pela colagem de recortes do “Mosquito”, “Cavaleiro Andante” ou “Pim, Pam, Pum”, numa caixa de sapatos na qual se tinha aberto o ecrã e implantado as manivelas de arame.

Neste pátio e depois de eu ter deixado o MEU BAIRRO, acabaram por ocupar a entrada com um edifício. Informam-me que as casitas antigas ainda existem mas houve grandes transformações.

Outro pátio que ainda existe na minha rua, é o de Augusto Manuel. Também este foi barrado, há muitos anos, por um edifício de 1º andar, o primeiro ou dos primeiros que se construiu na minha rua. Com isso, existiram várias questões, havendo mesmo a necessidade de recorrer ao poder Judicial.

Também este pátio me traz muitas saudades pois familiares chegados viveram lá muitos anos. Muito mais de cinquenta! Enquanto puderam!

Dois pátios típicos e de gente modesta, eram o do Matafome, onde nunca entrei, e o do Parente, onde se encontra hoje um estabelecimento comercial.

Mais três pequenos pátios vi construir, Frade, Prestes e Leonel.

Ainda que existissem um ou outro nas outras ruas do MEU BAIRRO, a minha rua, a principal, é que possuía o maior número.

Aqui ficam meia dúzia de palavras despretensiosas que recordam uma época da nossa vida.

domingo, 10 de maio de 2009

A Escola

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 18.12.1992)


[A minha turma da 4ª classe]

Sempre que vou a Santarém e posso, percorro a minha rua devagarinho, para tudo observar. São muitas as recordações e até saudades. A minha rua não pode ser a mesma. Tudo mais velho – pessoas, árvores e habitações. Árvores secas, pessoas que vão desaparecendo, casas para substituir. Mesmo assim, ainda é possível acarinhar uma ou outra velhota que se delicia com a nossa presença, recordando por vezes factos passados, quando as mentes ainda funcionam bem.

Passei lá a minha infância, entrei e avancei na adolescência que pouco faltou para lá concluir.

***
Quando cheguei aos sete anos, iniciei a escolaridade, tendo sido matriculado na Escola do Pereiro, para onde iam os rapazes do MEU BAIRRO.

A escola ficava distante, era preciso atravessar o Largo das Amoreiras, recinto em frente ao antigo Hospital de Jesus Cristo, onde se encontravam algumas árvores (lembro-me bem das bagueiras) a maioria já caduca e se espalhavam alguns bancos simples, compostos por duas peças de ferro forjado que se fixavam cada uma à sua pedra. O assento e o recosto eram constituídos por duas fortes tábuas que se uniam às duas peças de ferro, por grossos parafusos.

Sempre ouvi dizer que numa entrada de toiros, do ganadeiro Caroça, de passagem, arrancaram todos os que lhe apareceram pela frente!

Depois, era a Fonte do Boneco, mesmo à curva da estrada para Lisboa, onde se abasteciam os necessitados das redondezas e bebíamos mesmo sem sede, só pelo prazer de abrir a torneira e entornar a água!

A partir daí, havia vários caminhos, uns iam pela Rua de João Afonso e cortavam ao Canto da Cruz, outros pela parte mais periférica, pela Av. António dos Santos.

Era longo o trajecto para miúdos também pequenos.

Nos primeiros dias a minha irmã acompanhava-me, depois aprendi o caminho e ia com os colegas do MEU BAIRRO.

O meu bairro crescia, novos arruamentos e edifícios iam aparecendo e estes já com mais de um piso, nalguns casos.

O número de alunos naturalmente que começou a aumentar e houve necessidade de construir um edifício escolar para o bairro, o que se fez ao fundo da minha rua, no meio de um olival. De quatro salas em dois pisos e amplo recreio.

Fui um dos alunos que a inaugurou, frequentando a 3ª classe, penso que em 1947/48.
Agora, os rapazes do MEU BAIRRO já tinham escola perto, mas as meninas continuavam a ir para a do Pereiro ou do Salvador, já que nessa altura e até aos nossos dias, eram impossíveis as escolas mistas!

Mas nem todas as crianças que a frequentavam estavam perto. Havia quem vivesse bastante distante, a quilómetros, como era o caso do meu colega Vicente que morava num casal, muito para lá da Carreira de Tiro. Outros moravam no então Bairro Salazar, cujo acesso a distanciava. Falar da minha escola é principalmente falar do meu professor e dos meus colegas. A fotografia que possuo da minha 4ª classe, possibilita-me recordá-los a todos, já que o professor, esse nunca esqueceria.


[A escola dos Combatentes depois de ter sido aumentada]
Conto quarenta e quatro na foto mas tenho a certeza que faltam pelo menos dois, o José Joaquim e o Rogério – seria pelo menos uma 4ª classe de quarenta e seis alunos!
Hoje dava para dois professores, ainda que não haja qualquer paralelismo de programas, como é natural.

Não estou a dizer que era pior ou melhor no meu tempo, estou a afirmar que era diferente.

Um professor de ensino primário ganhava muitíssimo mal. Valia-lhes a circunstância de a maioria serem casados com colegas.

Quem não conhecia na época a figura do meu professor, o Prof. Agnelo, de seu nome completo, Agnelo da Silva Lázaro, mas que os seus alunos conheciam por Bintóito devido à sua pronúncia de beirão, pois era natural de Celorico da Beira, Beira Alta!
Era alto e forte, de feições gradas, testa alta, cabelo liso para trás, com largas entradas – um homenzarrão. Sempre o conheci arrastando um pouco uma das pernas, ou por qualquer deficiência motora ou por tique.

Tinha uma voz em consonância com o corpo e um pouco atrapalhada. Tratava todos os seus alunos por “rapaz”.

Ninguém se lembra do Prof. Agnelo faltar à Escola ou chegar atrasado! Os seus alunos entravam sempre mais cedo e saíam sempre mais tarde e não havia recreio! De princípio custava, mas depois entrava no hábito.

Aos sábados, era altura para outras actividades. O Prof. Agnelo então não fazia ditados, exercícios de aritmética, explicação da História de Portugal ou de qualquer outra matéria do programa, mas não ia com os seus alunos para o recreio fazê-los marchar e “saudar” de braço estendido.

O meu professor aproveitava para nos ler alguns trechos de autores portugueses que pudéssemos compreender e fundamentalmente conversar com os seus rapazes e contar muito da sua vida. Foi assim que soubemos da sua terra natal, que tinha ficado órfão de pai muito novo, que a mãe dedicava-se à agricultura, trabalhando de dia e de noite, que fez o curso na Escola do Magistério Primário da Guarda com 19 valores, indo a sua predilecção para a Matemática.

As palestras tinham sempre um cunho educativo com realce para a honestidade, altruísmo, coragem, abnegação e outras qualidades que devem ser apanágio do Homem. A dignidade e igualdade do Homem, esteve sempre no seu horizonte.

Na minha 4ª Classe, dos pelo menos quarenta e seis alunos, só treze (cerca de 28 %) foram opositores ao exame de admissão ao liceu.

O Prof. Agnelo deu a estes ainda (se possível) uma melhor preparação.
Depois de sairmos já tarde da escola, passávamos por casa para merendar (o que fazíamos por vezes pelo caminho) e lá íamos para a sua casa que ficava mesmo ao fundo das Escadinhas do Milagre.

Já viram treze crianças entre os dez e os doze anos numa divisão que eu penso ser a casa de jantar do agregado familiar? Era lá que fazíamos os pontos (alguns já muito gastos) das colecções que o professor tinha para ganharmos prática. Tudo era por ele corrigido.

Por essa altura era hábito cobrar por este trabalho, por cada aluno, entre 120$00 e 150$00 mensais. Pois o Prof. Agnelo, que vivia exclusivamente do seu trabalho de funcionário público e tinha uma das filhas na Universidade, não cobrava a ninguém um tostão!

Foi assim na minha 4ª classe, penso que procedeu sempre da mesma maneira.

Rejeitou enquanto pôde o lugar de director da escola. É evidente que também não havia interesse em que ele exercesse o cargo. É que o Prof. Agnelo era um democrata.
Por alturas das eleições presidenciais de 1949 e onde pontificava como opositor ao regime, O General Norton de Matos, o Prof. Agnelo foi apoquentado pela PIDE. Lembro-me muito bem do que se passou na sala de aula, pelo que é natural que os meus colegas também se lembrem.

Não sei quantos anos leccionou em Santarém, mas muitos foram – várias gerações lhe passaram pelas mãos – tem ex-alunos a desempenharem as mais variadas profissões, uns continuando na sua cidade, outros espalhados pelo país fora.

O Prof. Agnelo, após a aposentação, regressou ao seu torrão natal onde terá passado os últimos anos de vida. Depois da sua saída, ainda obtive notícias dele uma vez.

Ainda se chegou a esboçar um movimento para homenagear o professor por parte dos seus alunos mas infelizmente não passou disso.

Se há professores do ensino primário que merecem essa distinção por parte dos seus alunos, ninguém mais do que o Prof. Agnelo o merecia – igual sim, mais, não.

É uma dívida de gratidão que o seu volumoso número de alunos lhe deve e que, apesar de tanto tempo passado, ainda lhe podem prestar esse tributo – mais vale tarde que nunca – diz o aforismo popular.

Apesar de não ser natural de Santarém, tenho visto nomes em placas toponímicas da cidade que ficam muito aquém do valor do seu.

AGNELO DA SILVA LÁZARO – Prof. do Ensino Primário, era segundo a nossa opinião, um nome que devia figurar na toponímia escalabitana.

Não será preciso dizer que o Prof. Agnelo era duro, como a época e as circunstâncias impunham, mas nunca foi selvagem. O Prof. Agnelo castigava como um pai, nunca espancou ninguém.

(1) – Tentativa de identificação dos alunos:- 1º plano, da esquerda para a direita: Braga, Hernâni Cardoso, Adelino, N.N. João, Neto, Zé António Lázaro (fal.), Carlos (Carró Velho) e Cadima; 2º plano: Manuel João, Pacheco, Mário Leal, N.N. Joaquim José, Pescador, António Trindade, António Miguel, Virgílio Cardoso, José Torgal(fal.), António Minderico e um pouco mais acima, Vicente; 3º plano (de pé) : Capelo, Serralha, Orlando Carvalho, Júlio Leal, Vale., Carlos Mariano(fal.), Emídio, Cascalheira, Gaivoto, Francisco, 4º e último plano : N.N., N.N., Lúcio (fal.)(o meu parceiro) Fernando Trindade, José, Romão, Renato, Victor Vasconcelos, Júlio Manuel, Silas(fal.) N.N., Faustino e Figueiredo.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Gomes do Avelar

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 17 DE MARÇO DE 1995)


É certo que esta figura é bem mais conhecida no Algarve do que no Ribatejo, já que foi naquela região que a sua acção mais se fez sentir.

Nasceu a 17 de Janeiro de 1739 no sítio do Mato, freguesia de Calhandriz, então termo da vila de Alhandra, hoje concelho de Vila Franca de Xira e faleceu em Faro a 16 de Dezembro de 1816.

Sendo os pais pessoas de parcos haveres, cedo come-çou a trabalhar na agricultura. Já cresci-do, um tio, o Padre Inocêncio, leva-o para Lisboa onde acabou por entrar na Con-gregação dos Padres do Oratório, organis-mo fundado em Itália por S. Filipe de Nery, em meados do século XVI e introduzido em Portugal no tempo de D. João IV. Ordenou-se presbítero em 1763.

Em 1784 é recebido com muita simpatia pelo papa Pio VI. Aproveitou a viagem a Roma para desenvolver os seus conhecimentos sobre obras de arte.

Em 3 de Setembro de 1788, regressa a Lisboa dando entrada no Colégio dos Congregados.
Falecendo o confessor da Rainha D. Maria I, é chamado para o substituir, o bispo do Algarve, D. José Maria de Melo. Para o lugar deixado vago, e indicado este ribatejano que tenta dissuadir os responsáveis de tal nomeação. Não o conseguindo, acaba por ser sagrado em Lisboa no dia 26 de Abril de 1789, por isso com cinquenta anos. Despido de vaidades, entra na Diocese com a simplicidade que lhe era peculiar.
Foi encontrar os confrades eclesiásticos em regime de quero, posso e mando, mas o novo bispo cedo os meteu na ordem. Havia padre que apresentava conta de tantas missas que, na verdade, a hora devia ter mais de 600 minutos!

Apesar de caminhos horríveis, Francisco Gomos do Avelar visitou diversas igrejas para conhecer os seus problemas, o que fez mais de uma vez.

As igrejas de Albufeira, Santa Maria do Castelo (Tavira), Aljezur, São Brás de Alportel, Estói, Cacela e São Luís (Faro), foram construídas de novo ou quase, sob a sua ordem e vigilância e mesmo nalguns casos, de risco.

Por sua iniciativa foi inaugurado em 8 de Janeiro de 1797 o seminário de Faro.
A austeridade que possuía só encontrava rival na bondade que punha em todos os seus actos.

Foi no seu tempo que se criaram mais ou menos por toda a Diocese, censitários públicos, pondo termo à prática, até então ainda usada, dos enterramentos nas igrejas.

Mas não foi só com assuntos eclesiásticos que o prelado se preocupou. Interessou-se por tudo o que pudesse engrandecer o Algarve.

Mereceram-lhe a melhor atenção a conservação de estradas, caminhos e pontes. Foram construídas, entre outras, as pontes de Ludo, Marim, Cacela e Marchil.

As termas das Caldas de Monchique, igualmente beneficiaram da sua acção, mandando fazer novas acomodações e reparar o hospital destinado a pobres.

Também no seu tempo se construiu o chamado Arco da Vila, um monumento representativo da cidade de Faro, com a estátua de São Tomás de Aquino e erguido em substituição de uma das arruinadas portas da antiga muralha. Para a realização deste e outros monumentos, fez vir de Roma o arquitecto Xavier Fabri que se hospedou no Paço até à sua retirada para Lisboa onde continuou a trabalhar.

Após a expulsão dos franceses, em 1808 e em que muito se empenhou, foi presidente da Junta Provisional então instituída e, tempo depois, vice-presidente do Conselho de Regência e encarregado do Governo das Armas da Província, função que desempenhou com elevado critério.

Pio VII em 1816, a pedido do Governo, concedeu-lhe o título pessoal de Arcebispo.
A agricultura algarvia também mereceu o seu cuidado, recomendando e ensinando os melhores e mais modernos sistemas, em conversas que mantinha com a gente do campo, onde se deslocava com frequência, no desejo de difundir os conhecimentos que obtinha com a leitura de obras de autores consagrados.

Os amendoais aumentaram e a qualidade melhorou. Aconselhou a enxertia de zambujeiros em oliveiras, publicou uma pastoral explicando como se deviam preparar os figos e dizem que foi o introdutor do cultivo da batata no Algarve.

D. Francisco Gomes do Avelar publicou livros de âmbito muito diverso.

A cidade de Faro erigiu-lhe no Largo da Sé um monumento em 1940, o que foi feito incluído nas Comemorações Centenárias.

Em 1969 a Junta de Freguesia de Calhandriz fez erguer um busto do seu filho ilustre no arruamento principal da povoação.

Esta figura tão marcante da vida do Algarve, tem merecido o interesse de muita gente que sobre a sua figura se tem debruçado.
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Algarviana – Subsídios para uma bibliografia do Algarve e de autores algarvios, Mário Lyster Franco Vol.I, 1982
Corografia do Algarve, João Baptista da Silva Lopes, Ed. 1982
“D. Francisco Gomes do Avelar – De guardador de suínos na Calhandriz a Bispo do Algarve”, Genoveva R. Coelho em Vida Ribatejana, nº Comemorativo do 8º Centenário da Conquista do Ribatejo e da Estremadura aos Mouros, 1947

terça-feira, 5 de maio de 2009

"Cavalos de vários tipos"

(PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 11.12.1992)

Dos jogos infantis, como seguimento do escrito anterior e que estiveram no nosso pensamento para a abordagem de hoje, foram relegados para outra ocasião, a fim de se conseguir uma diversificação desejável para que os assuntos não enfadem.

A nossa memória de hoje, irá para um campo que nada tem a ver com o anterior.
A minha rua e enquanto lá vivi, cerca de vinte anos, não tinha saída, era um beco, tal como todas as outras que lhe eram paralelas.

A seguir à minha rua eram as “ribanceiras” , os olivais (que se enquadravam nos célebres olivais de Santarém) do Louro e do Arrais, como lhe chamávamos, invocando o nome dos seus proprietários, cujas figuras ainda permanecem na minha memória, ambos homens de meia idade, baixos e entroncados, o segundo que eu via sempre de fato macaco (eu não queria dizer esta última palavra!) devido à sua profissão e que corria com a rapaziada com grande autoridade.

Além dos olivais há a referir as hortas do Manuel Serralha, figura simpática que não dispensava o barrete preto, característico da zona do Bairro e que tinha um filho que era meu condiscípulo na escola primária e que nunca mais vi, da Ti Joaquina, uma velhota que morava numas casitas à curva antes da Fonte do Pingo Pingo e do Manuel Café, mais perto da minha rua e que vivia numa “casita” próxima da escola. Homem alto, calça à boca de sino, um pouco já curvado e que também usava barrete preto.

Lembro-me de ir muitas vezes à sua horta com o meu pai, que ficava ao fundo da sua pequena propriedade (não sabemos se era arrendada) comprar couves, favas, ervilhas, cebolas e o mais que por lá havia e vê-lo de enxada de bicos às costas.

Por estes arrabaldes do MEU BAIRRO, saltitávamos e brincávamos, vivíamos na cidade e no campo.

Este meu gosto de divagar antes de entrar no assunto de hoje!
Afinal, o que terão a ver os cavalos com a minha rua?
Se fizermos um esforço e procurarmos bem no fundo da nossa memória, alguma coisa iremos encontrar.

De quando em quando os nossos ouvidos eram alertados para o matraquear do casco de solípedes no alcatrão. Lá vinham ao longe, mais ou menos em formatura os “magalas” de Cavalaria 4 para mais uma aula prática.

Passavam pela minha rua e dirigiam-se, pensamos, para a Carreira de Tiro. Nas “ribanceiras” faziam normalmente alguns exercícios que muito nos excitavam.

Por vezes vinha também um oficial, figura bem conhecida da cidade, homem já entrado na idade, baixo, gordo de tal maneira que a barriga lhe caía sobre a sela. O seu vozeirão não deixava de chamar a atenção para o defeito dos recrutas.

Quando tudo isto acontecia o rapazio alvoroçava-se, deixando tudo para poder observar e apreciar estas movimentações que nos causavam gáudio.

Como ficou na minha lembrança algumas peripécias com aquelas gentes!
Híbridos provenientes de cavalos e éguas, também os haviam no MEU BAIRRO. Machos e mulas eram utilizados como animais de tracção. Lembro-me de um negociante de aves que tinha duas ou três carroças que percorriam as aldeias vizinhas onde compravam a olho o que aparecia e de um transportador de encomendas de e para a estação dos Caminhos-de-ferro. Ainda nos nossos dias este último, evoluindo, mudou de meio de transporte.
***
Passemos agora para outro tipo de cavalo, a unidade de força, representada nos veículos automóveis.

Hoje, na minha rua, não existe um buraco para estacionar. No meu tempo, nem meia dúzia de automóveis havia! – Talvez ainda hoje os contasse.

Eram, de uma maneira geral, modos de vida e não sinais exteriores de riqueza.

Mas na minha rua e o MEU BAIRRO, na altura, por constituírem a parte nova (popular) da cidade, com pouco movimento, eram procurados pelos instrutores de condução de veículos automóveis para lições práticas.

Não esqueço o entretenimento que a garotada tinha de fazer piruetas na frente dos veículos!
Quando qualquer aluno não buzinava à curva, era certo e sabido que havia banzé. Por vezes os nervos apoderavam-se dos instruendos e era um problema para pôr o motor a trabalhar. Assim, tinha de se utilizar a manivela para que o carro pegasse.



E o gozo que nos dava os alunos suando por todos os poros e ouvindo os ralhos do instrutor a quem a paciência tinha acabado!
E quando aparecia no velho Ford, Austin ou Fiat (Balila) a placa oval de latão, presa por correntes e com a palavra EXAME?

Então, era andar perto do veículo pois também nós fazíamos de examinadores!

Discutíamos uns com os outros quanto ao resultado do exame – eu digo que fica bem e eu digo que fica mel e cada um lá arranjava os seus argumentos.

Também os militares utilizavam o local para os mesmos fins, mas aqui assistia-se por vezes a situações esquisitas que os adultos do MEU BAIRRO comentavam com justiça. Era a tropa.

E de cavalos, fiquemo-nos por aqui.

domingo, 3 de maio de 2009

As Festas em Honra de Sto. António, em Vilgateira (Algumas considerações no tempo)

(Publicado no Correio do Ribatejo de 8 de Março de 1991)


(Publicado no Correio do Ribatejo de 8 de Março de 1991)

Depois de aqui termos feito algumas referências ao passado da Capela de Santo António, procurando também chegar aos nossos dias, talvez não seja descabido referir algo que compilámos e algumas considerações sobre as festas em honra do padroeiro do lugar.

A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira informa-nos que a Capela de Santo António tem (teve) romaria.

Pinho Leal ao referir-se à Capela de Santo António de Lisboa”no logar de Villa-Gateira” escreve:- “É objecto de grande devoção dos habitantes d´este logar, que no dia próprio (13 de Junho) lhe fazem uma explêndida festa”. (1)

Também o Boletim da Junta de Província do Ribatejo (2) refere que a Festa de Santo António tem lugar em Santo António da Várzea (Vilgateira), no dia 13 de Junho.

Em prospectos que anunciavam os festejos em devoção pelo maior Santo Português, indicam-se os dias 15, 16 e 17 de Agosto de 1937 e 14, 15 e 16 de Agosto de 1938. (3)

Não ficamos por aqui já que a Junta de Freguesia na década de sessenta informa a Comissão Municipal de Turismo que no mês de Setembro, durante três dias, era costume realizarem-se as tradicionais festas de Santo António, no lugar de Vilgateira, sede da freguesia.

Como se vê, existem diferenças acentuadas em relação à época da sua realização.

Talvez a romaria tivesse lugar em 13 de Junho, em tempos distantes, mas com o “desaparecimento” dos romeiros, a romaria teria dado lugar a festejos mais limitados à aldeia e freguesia.



Como teria passado para meados de Agosto? Não sabemos mas parece-nos que o facto se deve ao grande restauro que sofreu em 1880, com a reabertura do templo ao culto em 14 de Agosto.

Após a bênção, a imagem de Santo António foi trazida processionalmente da igreja matriz e colocada no seu altar.

Os festejos continuaram nos dias 15 e 16 com missas cantadas e sermões, música de igreja e de arraial pela Banda de Rio Maior e na tarde dos dois últimos dias as célebres cavalhadas, enlevo dos povos destes sítios.

Como já vimos, a mudança não ficou por aqui e aparece com realização no mês de Setembro.

Porquê nova mudança?

Tratando-se de uma região essencialmente agrícola, não escandaliza pensar ter havido a procura de uma data, após as colheitas, para assim se dispor de tempo e dinheiro, sempre necessário para mordomos, festeiros e povo em geral.

Em abono deste ponto de vista está a informação da Junta de Freguesia que diz “já não se realizarem desde 1952, em virtude dos mais anos agrícolas que têm surgido ultimamente”.

Além das cerimónias religiosas, missas cantadas com sermão, procissões, normalmente três, os festejos constavam de música de arraial, quermesse, cavalhadas, bailes, além do peditório pelas principais povoações da freguesia.

Os andores eram enfeitados com flores, principalmente rosas, ramagens e fitas de seda, oferecidas pelos devotos.

Bandeirinhas de papel de seda de várias cores e outros enfeites do mesmo papel, ramagens com destaque para as folhas de palmeira, davam o aspecto festivo indispensável.

O leilão de fogaças, muito do agrado deste povo, proporcionava boa receita pelo despique que originava entre os mais endinheirados.

Em 1917, “Há que tempo se não fazia a Festa de Santo António?” (4) até houve duas, com as situações e problemas que naturalmente ocorreram que são fáceis de calcular. Tempos da 1ª República!

Para quando o recomeço desta festa? Santo António continua a ser venerado como provam os painéis de azulejos existentes em muitas casas da freguesia.

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NOTAS

(1) – Portugal Antigo e Moderno, 1873/1890.
(2) - Anos de 1937/1940
(3) – A edição dos 1 000 exemplares deste ano foi realizada nas oficinas do “Correio da Extremadura”, em 19.07.1938.
(4) – Jornal “O Debate” de 21 e 28 de Junho de 1917.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Carlos Reis

(Publicado no Correio do Ribatejo de 10 de Março de 1995)



Pintor, notabilizou-se como paisagista e autor de excelentes retratos.

Carlos António Rodrigues dos Reis nasceu em Torres Novas, freguesia de S. Tiago, no dia 21 de Fevereiro de 1863, sendo baptizado em 9 de Março imediato.

Era filho do médico municipal, Dr. João Rodrigues dos Reis e de sua esposa, D. Maria de Jesus Nazaré dos Reis, também eles naturais do concelho de Torres Novas.

Após a instrução primária, frequentou o Colégio do P. Joaquim Correia da Silva onde se ministravam português, francês, latim, matemática e desenho. Contudo, o jovem Carlos não tinha inclinação para as letras e para os números pelo que seu pai se viu obrigado a destiná-lo à vida comercial e assim envia-o para Lisboa onde se emprega na tabacaria de um parente, situado no Rossio.

Sempre que tinha um momento livre no seu trabalho, ocupava-o em desenhar figuras e esboços. Este facto não passou despercebido a vários fregueses que junto do patrão começaram a insistir no sentido do pequeno artista fosse matriculado na escola adequada.

O pai, ainda insatisfeito não aceitou com facilidade a ideia, mas devido às insistências, acabou por aceder, sendo Carlos Reis matriculado na Escola de Belas Artes em 1881.

Entre os vários professores contam-se Silva Porto de quem veio a ser discípulo dilecto.

Pelo seu talento, conseguiu a amizade de El-rei D. Carlos.

Constando ao então príncipe que o artista se via obrigado a abandonar a Escola de Belas Artes, por motivos monetários, resolveu auxiliá-lo, tendo-lhe sido concedido um subsídio mensal de cinco libras que se mantém até 1889, já com o curso concluído.

Carlos Reis vai para Paris como pensionista do Estado, donde regressa em 1896.

É colocado por concurso como professor da Escola de Belas Artes, onde formou uma plêiade de artistas.

Foi o grande animador do grupo de artistas que levou a efeito a construção do edifício onde está instalada a Sociedade Nacional de Belas Artes, na Rua Barata Salgueiro em Lisboa.

Foi Director do Museu de Arte Antiga e do Museu de Arte Contemporânea.
Dos seus principais trabalhos que figuraram em imensas exposições, tanto no País, como no estrangeiro, destacam-se: -“Uma Feira em Torres Novas”, “Um canto da alameda”, “Cantigas de Amor”, “As Moleiras”, “Bezerros”, “Descanso do Modelo”, “A Feira”, “A moleirinha dos Pisões”, “Mercado” e os retratos de El-rei D. Carlos e da Rainha D. Amélia.

Em 22 de Maio de 1925 é-lhe prestada homenagem, inaugurando-se uma exposição das suas melhores obras. Atinge o limite de idade em 1933

O grande artista veio a falecer em 21 de Julho de 1940. Pouco antes fora-lhe conferida a Grã-Cruz de S. Tiago.

A sua terra natal presta-lhe homenagem inaugurando um seu busto num dos recantos mais poéticos da então vila, saldando assim uma dívida de gratidão.
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Vida Ribatejana, Edição Especial Comemorativa do 8º Centenário da Conquista do Ribatejo e da Estremadura aos Mouros, Julho de 1947
LELLO UNIVERSAL, Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro
Boletim da Junta de Província do Ribatejo, 1937/40